Algumas pessoas que me leem e conversam comigo preferiram omitir-se nas
eleições de outubro. Desde 2019, expressavam desgosto em relação ao
presidente Bolsonaro.
Ele não correspondia ao seu perfil de estadista
conservador, ele procurava casca de banana para escorregar, ele se
expressava de modo grosseiro e, muitas vezes era simplesmente grosso.
Faltavam-lhe recursos oratórios e não tinha bom desempenho em debates e
entrevistas.
Tudo verdadeiro, mas, convenhamos, nas circunstâncias
políticas nacionais, irrelevante.
Nos
primeiros dois anos do mandato presidencial, ou um pouco mais, essas
pessoas buscavam “alguém” para substitui-lo em 2022, mas nunca foram
além de Sérgio Moro, um nome racionalmente inviável para a corrida
presidencial porque suscitava animosidade tanto pela direita quanto pela
esquerda: condenara Lula e rompera com Bolsonaro.
Quando
Lula, ao cabo de uma ação entre amigos, foi realinhado no partidor da
corrida presidencial, eu imaginei que eles fossem entender o óbvio
estampado nos fatos: no final da campanha, restariam dois para o segundo
turno: um seria Bolsonaro e o outro, Lula.
Nessa escolha, o voto em
branco ou nulo, a omissão, poderiam redundar numa calamidade nacional.
Favoreceriam o sucesso dos que, durante quatro anos, treinaram o país
para a instalação de uma democracia de narrativa, que é o outro nome de
uma ditadura efetiva (mídia militante, PT, esquerda, STF, etc.).
Tudo isso eu lhes disse, em tom privado, ou em artigos e vídeos nos quais tratei de tais temas. Mas foi em vão!
Qual
crianças amuadas, comportaram-se como se o futuro não lhes dissesse
respeito. Lavaram as mãos. Hoje, criticam a omissão do senador Rodrigo
Pacheco, sem perceber que ele é imagem refletida de suas próprias
omissões.
Expressam preocupação com as ameaças, as ilegalidades, as
inconstitucionalidades, as inseguranças jurídicas, a corrupção dos
costumes políticos, como se isso não houvesse estado na memória, na
história, debaixo dos olhos e diante do nariz, o tempo todo.
A cereja do
bolo dos argumentos com que tentam se evadir de suas responsabilidades
morais pelo que está acontecendo é dizer que a eleição de 2022 se travou
entre dois populistas.
Logo, populista por populista, não fazia
diferença votar num ou noutro.
Aí já é demais!
Sim, eram dois
populistas, mas isso nada diz, na prática, quando um dos candidatos
ansiava por vingança, querendo beber sangue dos derrotados, pronto para
destruir a direita, oficializar a censura, ampliar sua quota de amigos
no STF, unir-se à escória do esquerdismo mundial e percorrer todo o
abecedário do atraso, do estatismo, das narrativas, da mistificação, da
elevação do gasto público e da carga tributária.
Imploro a
esses amigos que, finalmente, abram os olhos para o que está acontecendo
no país e que, antes de 2026, compreendam as consequências do que
fizeram. Que o Senhor nos livre do mal. Amém.
Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores
(www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país.
Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia;
Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.