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quarta-feira, 7 de junho de 2023

Tenho amigos que se omitiram em 2022 - Percival Puggina

        Algumas pessoas que me leem e conversam comigo preferiram omitir-se nas eleições de outubro. Desde 2019, expressavam desgosto em relação ao presidente Bolsonaro. 
Ele não correspondia ao seu perfil de estadista conservador, ele procurava casca de banana para escorregar, ele se expressava de modo grosseiro e, muitas vezes era simplesmente grosso. 
Faltavam-lhe recursos oratórios e não tinha bom desempenho em debates e entrevistas. 
Tudo verdadeiro, mas, convenhamos, nas circunstâncias políticas nacionais, irrelevante.

Nos primeiros dois anos do mandato presidencial, ou um pouco mais, essas pessoas buscavam “alguém” para substitui-lo em 2022, mas nunca foram além de Sérgio Moro, um nome racionalmente inviável para a corrida presidencial porque suscitava animosidade tanto pela direita quanto pela esquerda: condenara Lula e rompera com Bolsonaro.

Quando Lula, ao cabo de uma ação entre amigos, foi realinhado no partidor da corrida presidencial, eu imaginei que eles fossem entender o óbvio estampado nos fatos: no final da campanha, restariam dois para o segundo turno: um seria Bolsonaro e o outro, Lula. 
Nessa escolha, o voto em branco ou nulo, a omissão, poderiam redundar numa calamidade nacional. Favoreceriam o sucesso dos que, durante quatro anos, treinaram o país para a instalação de uma democracia de narrativa, que é o outro nome de uma ditadura efetiva (mídia militante, PT, esquerda, STF, etc.).

Tudo isso eu lhes disse, em tom privado, ou em artigos e vídeos nos quais tratei de tais temas. Mas foi em vão!

Qual crianças amuadas, comportaram-se como se o futuro não lhes dissesse respeito. Lavaram as mãos. Hoje, criticam a omissão do senador Rodrigo Pacheco, sem perceber que ele é imagem refletida de suas próprias omissões. 
Expressam preocupação com as ameaças, as ilegalidades, as inconstitucionalidades, as inseguranças jurídicas, a corrupção dos costumes políticos, como se isso não houvesse estado na memória, na história, debaixo dos olhos e diante do nariz, o tempo todo. 
 
A cereja do bolo dos argumentos com que tentam se evadir de suas responsabilidades morais pelo que está acontecendo é dizer que a eleição de 2022 se travou entre dois populistas. 
Logo, populista por populista, não fazia diferença votar num ou noutro. 
Aí já é demais! 
Sim, eram dois populistas, mas isso nada diz, na prática, quando um dos candidatos ansiava por vingança, querendo beber sangue dos derrotados, pronto para destruir a direita, oficializar a censura, ampliar sua quota de amigos no STF, unir-se à escória do esquerdismo mundial e percorrer todo o abecedário do atraso, do estatismo, das narrativas, da mistificação, da elevação do gasto público e da carga tributária.

Imploro a esses amigos que, finalmente, abram os olhos para o que está acontecendo no país e que, antes de 2026, compreendam as consequências do que fizeram. Que o Senhor nos livre do mal. Amém.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Marxismo e água benta - Percival Puggina

          Quem condena a riqueza, dissemina a pobreza. Sem riqueza não há poupança e sem poupança não há investimento. 
Sem investimento, consomem-se os capitais produtivos preexistentes, surge uma economia de subsistência, vive-se da mão para a boca, aumenta o número de bocas e diminui o número de mãos. 
Quem defende o socialismo sustenta que a ideia é exatamente essa e que assim não há competição ou meritocracia, nem desigualdade 
E como diz Lula criticando a classe média, ninguém precisa de dois televisores...

Quando o Leste Europeu estava na primeira fase, consumindo os bens produtivos preexistentes, surgiu a teologia da libertação (TL), preparada pelos comunistas para seduzir os cristãos.  
A receita - uma solução instável, como diriam os químicos, de marxismo e água benta - se preserva ainda hoje. Vendeu mais livros do que Paulo Coelho. Em muitos seminários religiosos, teve mais leitores do que as Sagradas Escrituras.  
Aninhou-se, como cusco em pelego, nos gabinetes da CNBB
Perante a questão da pobreza, a TL realiza o terrível malabarismo de apresentar o problema como solução e a solução como problema. Assustador? Pois é. Deus nos proteja desse mal. Amém.       
 
A estratégia é bem simples. A TL vê o “pobre” do Evangelho, sorri para ele, deseja-lhe boa sorte, saúde, vida longa e passa a tratá-lo como “oprimido”
Alguns não percebem, mas a palavra “oprimido” designa o sujeito passivo da ação de opressão. 
O mesmo se passa quando o vocábulo empregado na metamorfose é “excluído”, sujeito passivo da exclusão. 
E fica sutilmente introduzida a assertiva de que o carente foi posto para fora porque quem está dentro não o quer por perto.  
Então ele ganha R$ 50 para ficar na esquina agitando bandeira de algum partido vermelho, por fora ou por dentro.
 
A TL proporciona a mais bem sucedida aula de marxismo em ambiente cristão. Aula matreira, que, mediante a substituição de vocábulos acima descrita, introduz a luta de classes como conteúdo evangélico, produzindo o inconfundível e insuperável fanatismo dos cristãos comunistas. 
Fé religiosa fusionada com militância política! 
Dentro da Igreja, resulta em alquimia explosiva e corrosiva; vira uma espécie de 11º mandamento temporão, dever moral perante a história e farol para a ordem econômica. 
É irrelevante o conhecimento prévio de que essa ordem econômica anula as possibilidades de superar o drama da pobreza. 
A TL substitui o amor ao pobre pelo ódio ao rico e acrescenta a essa perversão o inevitável congelamento dos potenciais produtivos das sociedades. 
 
Todos sabem que Frei Betto é um dos expoentes da teologia da libertação. Em O Paraíso Perdido (1993), ele discorre sobre suas muitas conversas com Fidel Castro. 
Numa delas, narrada à página 166, a TL era o assunto. Estavam presentes Fidel, o frei e o “comissário do povo”, D. Pedro Casaldáliga, que foi uma espécie de Pablo Neruda em São Félix do Araguaia.  
Em dado momento, o bispo versejador comentou a resistência de João Paulo II à TL dizendo: “Para a direita, é mais importante ter o Papa contra a teologia da libertação do que Fidel a favor”. E Fidel respondeu: “A teologia da libertação é mais importante que o marxismo para a revolução latino-americana”.       

Haverá maior e melhor evidência de que teologia da libertação e comunismo são a mesma coisa?

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

domingo, 3 de julho de 2022

Marcha para Jesus une religião e polícia e confirma respaldo à Bolsonaro

Expoentes do bolsonarismo também participaram do evento, entre eles o ex-ministro da Casa Civil Onyx Lorenzoni

(crédito: Victor Correia/CB/D.A Press)

 (crédito: Victor Correia/CB/D.A Press)

A Marcha para Jesus, realizada ontem, em Brasília, tornou-se um evento de apoio a Jair Bolsonaro (PL) — que, na mesma hora, faziam uma motociata em Salvador. O presidente não compareceu nem mandou um vídeo aos presentes, mas foi representado pela primeira-dama Michelle Bolsonaro, que manteve o tom antipetista.

“Nenhuma armadilha prosperará contra a nossa nação. Amém?”, indagou a primeira-dama. E prosseguiu: “Nós declaramos que esta nação é santa, edificada, liberta, curada pelo sangue precioso de Jesus. E as portas do inferno não prevalecerão contra a nossa família. Que o reino do Senhor se estabeleça sobre o Executivo, o Judiciário e o Legislativo”, exortou.

No discurso para os participantes da marcha, Michelle disse que estava ali em nome do marido. “Hoje, o nosso presidente não pôde estar presente, está com agenda. Mas nós estamos aqui para representá-lo. Vocês estão aqui para representá-lo. E esse é um dia profético para nossa nação”, disse.

Outros expoentes do bolsonarismo também participaram do evento, que percorreu o Eixo Monumental. Entre eles estavam o ex-ministro da Casa Civil Onyx Lorenzoni, pré-candidato do PL ao governo do Rio Grande do Sul; a ex-ministra da Mulher e dos Direitos Humanos Damares Alves (Republicanos), que pleiteia uma das vagas do Distrito Federal no Senado; e os deputados federais Júlio César Ribeiro (Republicanos-DF), João Campos (Republicanos-GO) e Celina Leão (PP-DF).

50 mil
A Marcha para Jesus em Brasília foi realizada pelo Conselho de Pastores Evangélicos do Distrito Federal (Copev). A organização esperava, inicialmente, um público de 50 mil pessoas e garantiu que desde o início do evento, às 9h, passaram pelo evento aproximadamente 25 mil pessoas. Procurada, a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) afirmou que não fez a contagem de pessoas.

O trajeto original da marcha era da Praça do Buriti até a Praça dos Três Poderes. Mas a concentração final foi realizada na Esplanada dos Ministérios, pouco antes do Congresso. Por volta das 13h30, os participantes do evento tinham se dispersado. Discursando nos trios elétricos, pastores que organizaram a Marcha defenderam que “daqui para outubro é o vale da decisão” e que “estão em guerra”. Grande parte do público usava camisetas com o rosto de Bolsonaro, além de roupas verdes e amarelas, e carregavam bandeiras do Brasil.

Política - Correio Braziliense
 

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Harmonia forçada e “párias” irritados - Vozes

Rodrigo Constantino

O presidente da França, Emmanuel Macron, causou controvérsia ao falar sobre a estratégia do seu governo para a vacinação contra a Covid-19 usando um termo grosseiro para dizer que pretende "irritar" os não vacinados.

Em entrevista a um grupo de leitores do jornal Le Parisien na terça-feira, Macron disse: "Eu não quero irritar os franceses. Mas com relação aos não vacinados, eu realmente quero irritá-los. E vamos continuar a fazer isso, até o final. Essa é a estratégia".

O termo usado por Macron ("emmerder", de "merde") é considerado vulgar e provocou reação imediata de seus opositores e críticas em redes sociais. "Um presidente não deveria dizer isso. Emmanuel Macron é indigno de seu cargo", tuitou a líder de direita Marine Le Pen, acrescentando que Macron estava "transformando os não vacinados em cidadãos de segunda classe".

Já está muito claro que os "especialistas" que monopolizam a fala em nome da ciência querem culpar os não totalmente vacinados - conceito móvel que, agora, já inclui quem não tomou a dose de reforço - por todos os males do planeta, inclusive a permanência da pandemia.

É sobre controle social, não sobre vidas. Querem segregar as pessoas entre os do clubinho da "ciência" e os "negacionistas". E, para tanto, é preciso transformar esses "tontos" em párias da sociedade, em idiotas que precisam do "empurrão" do estado clarividente para proteger sua própria saúde e a dos outros, não importa que vacinados também peguem e espalhem a doença.

A página Quebrando o Tabu, que faz campanha pela legalização das drogas, chegou a enaltecer o regime ditatorial comunista da China, alegando que o Ocidente não o compreende bem, mas que uma "harmonia forçada" pode ser algo maravilhoso. Em seguida, pela repercussão negativa ao escancarar sua essência comunista totalitária, o movimento "pediu desculpas" pela postagem: "Foi mal demais a thread que postamos sobre a China. Queremos pedir desculpas e contar que reformularemos aquele conteúdo para trazê-lo de volta com a versão correta dos fatos".

Leandro Ruschel, porém, não perdoou, pois está evidente qual postagem realmente expressa a visão de mundo desses esquerdistas: "Havia um cara com bigodinho ridículo que também tinha um projeto de gerar harmonia à força, no mundo inteiro, eliminando quem não concordasse com ele. Quem somos nós para julgar?"

Tatiana Roque, coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, escreveu: "As universidades qualificadas precisam criar estruturas de combate ao negacionismo em seus quadros. Isso é urgente diante da crescente weaponização da ciência. Não devem ser permitidas palestras tentando travestir de 'polêmica' posições bem estabelecidas na comunidade científica". Leonardo Coutinho comentou: "Ainda bem que Galileu viveu no Século XVI".

Trago apenas alguns exemplos para repetir, uma vez mais e quantas forem necessárias, que estamos diante do maior avanço totalitário em décadas, tudo em nome da "ciência". A pandemia foi um presente para esses totalitários, que querem calar os dissidentes "hereges", interditar o debate, impor sua visão estreita de mundo, "irritar" os "imbecis" até que eles sucumbam e digam "amém" para a seita predominante.

Se depender desses "liberais", o Ocidente vai mesmo ter de se acostumar com uma "harmonia forçada" ao estilo chinês. Mas tudo em nome da ciência e de nossa própria saúde, claro...

Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo, VOZES


quarta-feira, 3 de março de 2021

Devemos submissão às leis feitas por bandidos? - Sérgio Alves de Oliveira

Numa época já bem distante e muito diferente de hoje, em que as leis, os políticos e as instituições públicas, ainda conseguiam angariar um certo respeito e confiança da sociedade brasileira, a minha turma de formandos na Faculdade de Direito, no finalzinho da década de 60,optou por adotar um “lema de formatura” que naquela época de certa ingenuidade política chegou a me impressionar : “PARA SERMOS LIVRES DEVEMOS SER ESCRAVOS DA LEI”.

Peguei o meu “suado” diploma e sai correndo para me inscrever na Ordem dos Advogados do Brasil - OAB,a fim de poder começar a trabalhar na profissão que eu havia escolhido, nem sei bem mais hoje se, ”felizmente”, ou “infelizmente”, tamanhas as frustrações profissionais com que me deparei através dos anos.  Para receber o “amém” da OAB e poder trabalhar, a mais um “juramento” tive que me submeter,além daquele da formatura, mas dessa vez para o estatuto e demais normas obrigatórias da OAB.

Mas com o tempo fui me dando conta que os “juramentos” a que fui submetido a fazer para exercício da minha profissão,na faculdade e na OAB, tinham alguma coisa de de muito errado. Não bem explicado. Ora,a explicação hoje se me afigura bastante simples.  Numa “democracia representativa”, como é o caso do Brasil, em que as leis morais são, errôneamente, confundidas, e ao mesmo tempo, substituídas pelas leis “jurídicas”, a moral acaba cedendo o seu lugar, indevidamente, à chamada “legalidade”, à “ordem legal”.

Nessas condições, os mandatos “eletivos” conferidos aos candidatos “eleitos” nas eleições periódicas, tanto para o Poder Executivo, quanto para o Poder Legislativo, fixados atualmente em 4 (quatro) anos, outorgam a esses políticos eleitos um poder muito assemelhado ao que se pode entender por “ditadura”, apesar de “temporária”. Ou seja, com base na “representatividade” que lhes foi conferida pelos eleitores, os eleitos fazem o que bem entendem, sem consultar ninguém, aprovando leis nem sempre do interesse coletivo.

Portanto, o perfil moral dos parlamentares e dos governantes é que acabará dando as diretrizes básicas das leis e demais normas jurídicas que aprovarem, de maneira geral bem distante dos mais altos interesses não só dos seus próprios eleitores, porém do povo, viciando a democracia de tal modo que ela acaba se transformando em OCLOCRACIA, que resumidamente pode ser entendida como a democracia degenerada,  deturpada, corrompida, ”às avessas”, onde eleitores manipulados e equivocados conduzem ao poder político grande parte da pior escória da sociedade.

Mas a obra suja desses lacaios da política acaba encontrando uma matilha de cães-de-guarda adestrados, com formação jurídica, os chamados “operadores” do direito”, dentre os quais advogados, juízes, delegados de polícia, ministros e desembargadores de tribunais diversos, procuradores, promotores de justiça, dentre outros, para defenderem com “unhas e dentes”, como se obras “divinas” fossem, as “canalhices” que editaram e a que deram o nome de ”leis”. E é justamente ao conjunto dessa espúria “obra” que convencionaram chamar de “Estado-Democrático-de-Direito”. 
[sendo lacônico: o absurdo, insuportável,é que após todas as dúvidas sobre o acerto, conveniência, daquela lei, ainda temos que considerar que uma simples interpretação, especialmente se 'suprema', pode alterar todo o sentido do texto promulgado por nossos representantes, transformando o SIM em NÃO e vice-versa.
Sem esquecer que a preservação da democracia, o respeito à  constituição são  corriqueiramente usados para suprimir direitos que os dois entes garantem.
E a preservação do 'estado democrático de direito' é usada, quando conveniente, para justificar o emprego de tudo que não é democrático nem  direito.
Agora interpretem e respondam: fomos lacônicos ou loquazes?]

“Estado-Democrático-de-Direito”???

Sérgio Alves de Oliveira/Advogado e Sociólogo

 

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Celso de Mello deve autorizar divulgação de vídeo sigiloso - VEJA - Blog do Noblat

No entendimento da maioria deles, a possível decisão de Mello nesse sentido foi reforçada com a publicação, ontem, pela Folha de São Paulo, do relato que o empresário carioca Paulo Marinho diz que ouviu do senador Flávio Bolsonaro sobre uma operação da Polícia Federal que seria deflagrada entre o primeiro e o segundo turno da eleição de 2018. A operação foi adiada para não prejudicar seu pai.

O desembargador Abel Gomes, presidente do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, enrolou-se para explicar por que a operação ficou para depois do segundo turno. Primeiro negou o adiamento. Depois disse que ela ficara “para um momento mais oportuno”. Motivo: não para “favorecer quem quer que seja”, mas para evitar “a falsa percepção de que tinha “motivações políticas”. Taokey?

Um dos desembargadores do tribunal admitiu em sessão do ano passado que informações sobre a operação vazaram de fato. E não só para Flávio que, juntamente com Fabrício Queiroz, seu faz tudo, seria um dos alvos. Vazou também para outros políticos. A diferença é que emissários de Flávio ouviram de um delegado da Polícia Federal que a operação seria adiada para não ameaçar a eleição do seu pai. “Eu sugiro que vocês tomem providências. Eu sou eleitor, adepto, simpatizante da campanha [de Bolsonaro], e nós vamos segurar essa operação para não detoná-la agora, durante o segundo turno, porque isso pode atrapalhar o resultado da eleição”, afirmou o delegado à época. Orientado pelo pai, demitiu Queiroz. O pai demitiu a filha de Queiroz que era funcionária do seu gabinete em Brasília.

[a estória desse Marinho está parecendo, é o que uma amiga aqui acaba de dizer, com uma novela em que o marido de uma mulher que está fazendo inseminação artificial - sêmen e óvulos de doadores desconhecidos - vai ter um bebê que não é filho dela, de pai e mãe desconhecidos =filho de ninguém.]

A Polícia Federal abriu inquérito para apurar a veracidade da história que Marinho contou ter escutado de Flávio. A Procuradoria-Geral da República pediu à Polícia Federal que ouça Marinho no inquérito sobre a tentativa de Bolsonaro, o pai, de intervir no que não deveria. A oposição no Congresso reúne assinaturas para instalar a “CPI do Queiroz”. A temperatura política do país subiu mais ainda.

Se ao cabo do inquérito, Aras preferir arquivá-lo, que é o que pretende fazer, o conteúdo do inquérito servirá para alimentar outros pedidos de impeachment contra Bolsonaro. Impeachment, como observou o ex-presidente americano Gerald Ford, é tudo aquilo que a Câmara, pelo voto de dois terços dos deputados, diz que é. Richard Nixon, o antecessor de Ford, renunciou para não ser cassado.

Como deputado federal, Bolsonaro assistiu a dois processos de impeachment (Fernando Collor e Dilma Rousseff) e a duas tentativas frustradas de abertura de processos de impeachment contra o presidente Michel Temer. Entende do riscado. É por isso que abriu o cofre público e as portas do governo para atender aos desejos de deputados que poderão salvá-lo de perder o mandato. Grupo que reúne os políticos mais fisiológicos do Congresso, o Centrão está de boca aberta à espera das iguarias que Bolsonaro lhe prometeu. Quanto mais se complica a situação do presidente e dos seus filhos, mais o Centrão saliva e escancara a boca. Venha a nós o vosso reino, amém.


Blog do Noblat - Ricardo Noblat, jornalista - VEJA