Quando ex-presidente vive rotina semelhante à de um marechal usurpador, alguma coisa está errada
Passará o
tempo e o regime carcerário imposto a Lula deixará um travo amargo na memória
nacional. Algo semelhante ao que resultou do embarque da família imperial para
o exílio no meio de uma noite chuvosa, ou a ordem para que o caixão com o corpo
de João Goulart percorresse os 180 quilômetros da fronteira argentina a São
Borja, sem paradas no caminho. Lula é um
ex-presidente da República. [lembrando sempre que antes de tudo é um malfeitor condenado por NOVE JUÍZES e encarcerado com o aval de SEIS ministros do STF.] Está sozinho numa sala com cama, mesinha e
banheiro. Não pode deixá-la e para se comunicar com os carcereiros deve bater
na porta. À primeira vista deram-lhe uma regalia, pois está muito melhor que os
detentos do sistema penal brasileiro.
As
condições da solitária-light de Lula assemelham-se ao regime imposto na França
de 1945 ao marechal Philippe Pétain. Ele traíra seu país e presidira uma
ditadura pró-nazista. Foi condenado à morte, teve a sentença comutada e morreu
no cárcere, em 1951.
Indo-se
para um exemplo brasileiro, Lula está num regime muito pior que aquele vivido
em 1969 por Darcy Ribeiro, ex-chefe da Casa Civil de João Goulart. Ele ficou
preso no Batalhão de Comando do Corpo de Fuzileiros Navais, no Rio. Darcy
ficava num quarto iluminado e espaçoso. Fazia suas refeições e via a novela
“Nino, o Italianinho" com os oficiais. Podia conviver com outros presos e,
depois do expediente, circulava no pavilhão onde estava seu alojamento. Pelas
paixões da época, Darcy era detestado, uma espécie de José Dirceu de Jango.
A prisão
de Darcy havia sido ordenada pelo auditor Oswaldo Lima Rodrigues, que mandou-o
para o Corpo de Fuzileiros Navais, comandado pelo almirante Heitor Lopes de
Souza, um militar duro e direto a ponto de ter ganho o apelido de “Cabo
Heitor”. Suas simpatias pelos janguistas, a quem chamava de “gregórios”, eram
nulas. Não havia
emoções políticas no tratamento dado a Darcy, apenas uma espécie de
cavalheirismo. Nessa época, a poucos quilômetros de distância, a Marinha
institucionalizara a tortura de presos, massacrando jovens do MR-8. Lula
passa os dias só, trancado. Sem muito esforço, a Polícia Federal, o Ministério
Público e o juiz Sergio Moro podem redesenhar esse regime carcerário, sem
estimular um circo petista.
Moro
seguiu o manual. Em 1889 não existia protocolo para o embarque de um imperador
deposto e em 1976 improvisou-se uma regra para o transporte de um ex-presidente
morto. Nos dois casos os donos do poder fizeram o que achavam certo para a
hora, sem perceber que estavam numa esquina da História. Lula é um
ex-presidente da República, levado ao poder pelo voto popular. Quando ele vive
numa rotina semelhante à de um marechal usurpador e colaboracionista, alguma
coisa está errada.
A PROVA
HOROSCÓPICA DE RODRIGO JANOT
Uma
amostra do grau da insanidade que foi injetada nas denúncias do
ex-procurador-geral Rodrigo Janot.
Em 2015 a
presidente Dilma Rousseff e a marqueteira Mônica Moura passaram a se comunicar
por meio de um dissimulado sistema de mensagens eletrônicas dentro do endereço
2606iolanda@gmail.com.
Segundo
Janot, “2606” é uma referência “à data de 26 de junho de 1968, em que o grupo
Vanguarda Popular Revolucionária, integrado por Dilma Rousseff, praticou um
atentado com carro-bomba em um quartel em São Paulo, durante a ditadura
militar”.
Em junho
de 1968 Dilma Rousseff não era militante da VPR. Ela estava no Comando de
Libertação Nacional, o Colina. A prova horoscópica de Janot relacionou o “2606”
ao atentado em que um grupo de terroristas matou o soldado Mário Kozel Filho em
São Paulo. Tudo bem, mas naquele mesmo dia realizou-se no Rio a “Passeata dos
Cem Mil”. Janot também poderia dizer que era uma homenagem a Gilberto Gil, pois
é a data de seu nascimento.
Depois do
realismo mágico, Janot expôs a prova mágica.
.(...)
LULA E A
VERDADE
Quem se
der ao trabalho de ler a íntegra do discurso de Lula antes de se entregar à
Polícia Federal verá que pela primeira vez ele reconheceu publicamente a
derrota da greve que comandou em 1980.
Nas suas
palavras:
“Ninguém
aguentou 41 dias porque na prática o companheiro tinha que pagar leite, tinha
que pagar a conta de luz, tinha que pagar gás, a mulher começou a cobrar o
dinheiro do pão, ele então começou a sofrer pressão e não aguentou. Mas é
engraçado porque na derrota a gente ganhou muito mais sem ganhar economicamente
do que quando a gente ganhou economicamente. Significa que não é dinheiro que
resolve o problema de uma greve, não é 5%, não é 10%, é o que está embutido de
teoria política de conhecimento político e de tese política numa greve.
Agora,
nós estamos quase que na mesma situação. Quase que na mesma situação.”
Tradução:
Lula acha que transformará a derrota da condenação numa vitória. A ver.
(...)
A
CARAVANA
Lula tem
todo o direito de dizer que não é mais um ser humano, pois se transformou numa
ideia, mas foi Temer quem zerou a fila do Bolsa Família, que chegou a ter 6
milhões de pessoas na espera e reajustou o benefício acima da inflação. Hoje o
programa atende 14,3 milhões de famílias, 160 mil acima do recorde de 2014.
Elio Gaspari, jornalista