Há quem prefira esta Dilma que se elegeu aliada a Temer ao Michel Temer que se elegeu ao lado de Dilma. Há quem lute contra Renan, ministro de Fernando Henrique, para derrubar Renan, homem-forte de Lula. Ou faça questão do Lula que combateu Collor, repudiando o Lula que se uniu a Collor.
Outros
preferem o governo Dilma da “faxina
ética” à administração Dilma que
comprou a tal refinaria, aquela. Há quem mate e
morra para desmoralizar o Delcídio delator, que se atreve a contar o que
sabe sobre seus antigos aliados e, digamos, colegas de trabalhos no Parlamento.
Existe até quem seja favorável à
demissão de Kátia Abreu, só porque era ruralista, virou ministra de Dilma e
hoje é sua amiga de infância. Outros exigem a queda
de Nelson Barbosa, substituto de Guido Mantega e seu eterno reserva no Ministério
da Fazenda, porque preferem, surpreendam-se, o titular.
E os que querem a pele da Marina
Silva que foi ministra de Lula para evitar que a Marina Silva que sugeriu o
voto em Serra chegue forte às eleições? Isso não quer dizer que tanto faz
escolher um lado ou outro do impeachment. Não, nada disso: a queda do governo que paralisou a economia e dividiu o país
em “Nós” e “Eles” é essencial para a retomada do diálogo entre os
adversários e a volta ao desenvolvimento. Ou não, desde que o governo, se vitorioso,
retome as boas negociações. Não será fácil, mas é essencial.
É
preciso fazer com que até políticos hoje nocivos voltem a trabalhar pelo país.
Cuidado
com os Magos
Michel Temer é um homem educadíssimo, de uma
cultura impressionante, grande conhecedor de política. Mas sempre que foi testado,
digamos, não mostrou grandes resultados. Em São Paulo, Orestes Quércia mandou
no PMDB à vontade sem lhe dar a menor atenção. Temer chegou a ser o deputado
eleito menos votado do estado.
É claro
que uma pessoa educada, habituada ao diálogo, é muito melhor que uma grosseira que trata os subordinados a palavrões.
Mas não esperem milagres de Temer. Ele é sem dúvida melhor do que a maioria
dos que existem por aí. Mas vamos combinar que isto não é grande vantagem.
Não
fui eu
Michel Temer garante que a mensagem que mandou ao
PMDB, e que é
uma mensagem de presidente da República, vazou por causa de alguém sem
cuidados. Michel Temer é um sujeito que não fala nem
boa noite para alguém sem antes pensar três vezes e aí se decidir que é muito
perigoso, e não fala – o sujeito
mais precavido do mundo.
De
repente, as coisas vazam e aparecem com essa facilidade toda. Coisas que ele
queria dizer para o público que faria como presidente, mas sem dizer
diretamente que era isso que estava fazendo. Ele garante que foi mesmo sem querer. Então, tá.
Honra
e verdade
Como
na obra de Júlio César, Temer é um homem honrado, tão honrado quanto Brutus que
era praticamente filho de César, mas foi quem lhe deu a primeira facada – em defesa,
claro, das instituições republicanas e contra o golpe.
Temer disse que não é candidato a
presidente da República. Se ele, que é um homem honrado, diz que não é candidato, é porque não
é. Não é assim que as coisas ocorrem na política?
Unha
e carne
Um detalhe do ex-senador Gim Argello, que foi preso na nova fase da
Operação Lava Jato, acusado de receber propinas das obras da Petrobras, está
passando despercebido. É preciso lembrar que até há muito pouco tempo ele era o
homem forte da Dilma Rousseff no Senado Federal, com privilégios que
quase o levaram até ao Tribunal de Contas da União.
Argello foi um dos homens mais fortes da presidente
Dilma Rousseff no Congresso Nacional. Ele a defendia com todo o vigor e atacava quem
tomasse qualquer medida contra ela, com todo o furor, com a violência de quem
busca um prato de dinheiro.
Observando
à distância
Alguém
terá visto a UGT, União Geral dos Trabalhadores, ligadíssima ao ministro Gilberto
Kassab, nas manifestações pró-Dilma?
Publicado
na coluna de Carlos Brickmann