A saga de Eike Batista, o empreendedor que sonhou em ser o homem mais rico do mundo fazendo negócios escusos em parceria com o ex-governador Sérgio Cabral
>> Trecho da reportagem de capa de ÉPOCA desta semana
Até quatro anos atrás, quando começou a desmoronar o império financeiro de Eike Batista, o empresário era visto como um caso raro de bilionário generoso no Brasil. Com aparente desprendimento, destinava parte de sua fortuna a causas ecológicas, hospitais e atrações culturais. Assim, ganhou fama de benevolente e passou a receber uma avalanche de pedidos das mais diversas ordens. Eike, mineiro de Governador Valadares, era particularmente mão-aberta em relação ao Rio de Janeiro, lugar que escolheu para morar. No total, desembolsou quase R$ 60 milhões na campanha para a cidade sediar a Olimpíada, no programa de despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas e no projeto das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). A fama de empreendedor bem-sucedido de Eike já havia caído.
Agora, o pedido de sua prisão, feito na quinta-feira, dia 26, pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, fez com que caísse também a máscara de benfeitor desapegado. Como mostra a Operação Eficiência, um dos desdobramentos da Lava Jato cuja etapa anterior levou à prisão o ex-governador Sérgio Cabral e alguns de seus colaboradores, por trás do altruísmo de Eike havia um pesado jogo de interesses e ilicitudes. Ele adulava o Poder Executivo para obter vantagens – e vice-versa. Eike é um dos nove nomes cuja prisão preventiva foi determinada pelo juiz Bretas.
Na verdade, a relação estreita entre o empresário e o ex-governador do
Rio era um espúrio toma lá, dá cá. No depoimento dado ao Ministério
Público Federal (MPF) pelos irmãos doleiros Renato e Marcelo Chebar, que
tiveram Cabral como cliente, Eike está envolvido nos crimes de
corrupção ativa e lavagem de dinheiro. Na delação premiada dos irmãos
Chebar, sai de cena o empreendedor dinâmico e emerge o operador de
propina. Segundo Renato, há sete anos ele foi procurado por Carlos
Miranda, homem de confiança do ex-governador, e pelo ex-secretário
Wilson Carlos – ambos presos pela Lava Jato – para viabilizar o
pagamento de US$ 16,5 milhões (R$ 52 milhões) de Eike para Cabral. Os
delatores relatam com detalhes a manobra engendrada para a lavagem do
dinheiro. Numa reunião na sede da EBX, holding do magnata, Flávio
Godinho, àquela altura executivo da empresa de Eike e hoje
vice-presidente de futebol do Flamengo, sugeriu que fosse feito um
contrato de fachada para intermediação da compra de uma mina de ouro
entre uma empresa de Eike e outra pertencente ao delator. Concluída a
operação, o dinheiro pousou numa conta de Cabral no exterior.