A carta dos governadores e a decisão da ministra Rosa Weber mostram o conflito federativo que Bolsonaro criou e mantém há um ano. Além do problema que esta postura provoca para a população, também é crime de responsabilidade: pela Constituição, o presidente tem que trabalhar para unir a federação.
Leu esta análise? Um ano depois, a dúvida é sobre nós
Na carta, os governadores contestam a maneira com que o governo trata a liberação de recursos, como uma grande generosidade do governo federal. Segundo eles, o presidente misturou transferências diretas com suspensão e renegociação da dívida. O dinheiro da suspensão não pode ser contado como doação porque vai continuar sendo devido e algum dia será pago. Além disso, não foi uma concessão do governo federal porque ele já estava perdendo todas as ações impetradas por estados no Supremo. Era uma questão de tempo.
Há uma mistura também sobre repasses obrigatórios. O fundo de participação dos estados e municípios são transferências obrigatórias e constitucionais. Há várias outras confusões e por isso os governadores reclamam que o governo federal está usando sua estrutura de comunicação para espalhar informações distorcidas.
Segundo a carta, a população pagou de impostos federais R$ 1 ,5
trilhão e o governo repassou, juntando tudo, R$ 837 bilhões para os
estados das mais variadas formas. Sobrou dinheiro na mão do governo
federal. O governador Eduardo Leite fez uma conta: os gaúchos pagaram R$
70 bilhões e receberam 40 bilhões de volta. O governo federal é o coordenador deste dinheiro e transfere para os
estados: menos para quem tem mais, e mais para quem tem menos. Assim se
dá a organização da federação. Só que o presidente Bolsonaro confunde
esta transferência com doação dele e distorce o seu papel.
É a prova mais eloquente que não faltam leitos e que o número de pacientes é inferior ao número de UTI disponível na rede pública. São números, não comportam manipulação e provam o equivoco de generalizar necessidades diversas.]
No Maranhão, por exemplo, foram 216 leitos desabilitados para UTI em dezembro. O governo federal achava que a pandemia estava acabando. É inacreditável o que acontece no Brasil diariamente. [qualquer erro sempre apontam um culpado: o capitão.Outra falha decorrente da generalização = generalizar dispensa pensar.
A propósito: os que não aprovam os critérios utilizados pelo União,mudem a Constituição - não esperem que o capitão vá desobedecer a CF.]
Míriam Leitão, colunista - O Globo