A pregação
de Bolsonaro não teria prosperado se não se conectasse com o sentimento
de milhões de pessoas que repudiam as ações do PT no poder, não é
mesmo? Sim, dá para perguntar por que, então, esse eleitorado
antipetista não escolheu opções, digamos, menos carnívoras do terreno da
oposição, e elas existiam. Bem, a resposta é mais ou menos simples:
a) porque dois desses candidatos, Gerado
Alckmin e Henrique Meirelles, foram colocados na cota de “políticos
tradicionais”, com partidos na mira da Lava Jato;
b) porque não se acreditava que a outra opção antipetista, João Amoêdo, pudesse vencer um candidato do PT;
c) porque Bolsonaro estava fazendo sua
pregação nas redes contra a política tradicional e contra as esquerdas
já fazia tempo. Sua postulação se traduziu numa guerra de valores: ele
lidera o bem, em contraste com os adversários, o PT em particular, que
simbolizam o mal.
Vemos
agora uma corrida mais ou menos desesperada de Haddad, com o endosso do
partido, para fazer um mea-culpa, ainda que leve, e para retirar da
campanha as propostas mais espinhosas — outro erro cometido foi supor
que um discurso mais radicalizado à esquerda seria eficaz. Era tudo o
que Bolsonaro queria e esperava. Sim, senadora Gleisi: a guerra virtual
teve papel importante.
Mas o que definiu mesmo o resultado foi o PT não
ter feito precocemente a autocrítica pra valer: hipótese em que poderia
ter apoiado Ciro, por exemplo. Nada garante que fosse bem-sucedido em
face da organização da tropa de Bolsonaro nas redes. Mas as chances,
claro!, seriam muito maiores.
O PT tem
de admitir ainda outra coisa: o rancor contra o partido é muito maior do
que os companheiros imaginavam. E só vai arrefecer se Bolsonaro fizer
um governo inepto.
Blog do Reinaldo Azevedo