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segunda-feira, 28 de maio de 2018

Vitória total do locaute, com apoio de setores da sociedade, indica que teremos, sim, um longo período de instabilidade pela frente. Veremos!

Os ditos “caminhoneiros” levaram tudo o que queriam. Estivesse na pauta de reivindicações a reentronização da hipótese geocêntrica, e, para todos os efeitos, no Brasil ao menos, ficaria valendo que o Sol gira em torno da Terra, não o contrário. Isso a que estamos assistindo é só a manifestação concreta, monetizada, decorrente da depredação da política, dos políticos e das instituições. Trata-se de outra consequência, para ser ainda mais específico, do cerco que foi armado contra a gestão Michel Temer, que o relega a uma impopularidade absolutamente incompatível com seus feitos nestes dois anos. Se vocês pensam que bastará esse governo chegar ao fim para que se restaure a normalidade, podem tirar o cavalo da chuva. Teremos pela frente um longo ciclo de instabilidade, qualquer que seja o presidente eleito em outubro. [as indecisões de Temer apagam tudo de bom que ele fez nestes dois anos - sua indecisão é mais prejudicial ao Brasil do que as acusações de corrupção.] 
 
A esta altura, vocês já conhecem as concessões feitas pelo governo federal, já publicadas em edição extra do “Diário Oficial”, que os grevistas chamarão “conquistas”. O custo da redução R$ 0,46 no litro de diesel na bomba, o congelamento por 60 dias desse combustível e o reajuste mensal a partir de então custarão a bagatela de R$ 13 bilhões. O argumento de que R$ 4 bilhões desse total serão repostos pena reoneração da folha de pagamentos não vale porque a dita-cuja virá, quando vier, justamente para diminuir o rombo fiscal. Se a receita decorrente desse processo estava na expectativa das contas, mas a despesa extra não, então e evidente que não cabe fazer essa subtração. O custo da patuscada será de R$ 13 bilhões e pronto!

Houve hesitação do governo? A resposta óbvia é esta: houve. Quando a movimentação começou e fica uma lição para futuros governos —, as forças federais deveriam ter entrado em ação. Não se fecham estradas numa democracia e ponto final. A sociedade não pode ser chantageada por categoria nenhuma, ainda que esta tenha razão e que ela, a sociedade, apoie a chantagem. Tanto pior quando as evidências de locaute são escandalosas. Uma das ditas “conquistas” é a exclusão do setor de transporte de cargas da reoneração da folha de pagamentos. A reivindicação interessa a empresários, não a caminhoneiros. Custos adicionais ainda não estão computados, como a isenção de pedágio para caminhões sem carga, com o tal “eixo suspenso”. Nesse caso, o espeto será redistribuído também aos Estados. Como o governo não faz dinheiro e como o dito-cujo não cai do céu, a conta será paga pelo conjunto dos brasileiros, principalmente na forma de dívida pública. E, por óbvio, a elevação do frete, que, na prática, também está no pacote, irá parar nos preços.

Por que as coisas se deram desse modo? Porque é a política que está contra a parede. Além dos transtornos evidentes que o locaute criou, com a virtual paralisia do país, o governo teve de enfrentar outra urgência: a simpatia que o movimento granjeou na sociedade, embora seja ela própria a pagar o preço; embora a falta de alimentos, de ônibus, de segurança pública, de remédios seja a consequência imediata de um locaute, de uma greve de patrões.  E por que parcela expressiva da sociedade ficou com os caminhoneiros? O analista preguiçoso diria: “Porque o governo Temer é ruim demais, e tudo o que vem dele será rejeitado”. Só que isso é mentira. Bastaria listar as conquistas dessa gestão em dois anos para concluir que, dados o descalabro herdado por Temer e o ponto a que se chegou, o governo, por incrível que pareça, é bom. Mas quem se interessa por essa tal “avaliação objetiva”? A resposta: quase ninguém. [o mais assustador é se o braço sindical do PT - federação única dos petroleiros = FUP - conseguir parar a Petrobras e o Temer ficar no seu vai e vem e se ajoelhar diante dos grevista;
logo outras categorias se sentirão estimuladas a fazer o mesmo e o governo acaba.
O mais trágico, assustador mesmo, não é o governo Temer acabar e sim quem, constitucionalmente,   o substituirá: RODRIGO MAIA.]

O futuro presidente, qualquer que seja, presidirá uma nação rachada, dividida, que duvida de qualquer ação oficial, que não confia nas instituições e que acredita que só a caça aos corruptos nos conduzirá ao paraíso. Enquanto a Lava Jato não passar a ser apenas uma obrigação de entes do Estado, exercida nos limites da lei e sem alarde, estaremos sujeitos às chantagens as mais diversas.
Tudo o mais constante, aguardem para ver.

Blog do Reinaldo Azevedo