Os ditos
“caminhoneiros” levaram tudo o que queriam. Estivesse na pauta de
reivindicações a reentronização da hipótese geocêntrica, e, para todos
os efeitos, no Brasil ao menos, ficaria valendo que o Sol gira em torno
da Terra, não o contrário. Isso a que estamos assistindo é só a
manifestação concreta, monetizada, decorrente da depredação da política,
dos políticos e das instituições. Trata-se de outra consequência, para
ser ainda mais específico, do cerco que foi armado contra a gestão
Michel Temer, que o relega a uma impopularidade absolutamente
incompatível com seus feitos nestes dois anos. Se vocês pensam que
bastará esse governo chegar ao fim para que se restaure a normalidade,
podem tirar o cavalo da chuva. Teremos pela frente um longo ciclo de
instabilidade, qualquer que seja o presidente eleito em outubro. [as indecisões de Temer apagam tudo de bom que ele fez nestes dois anos - sua indecisão é mais prejudicial ao Brasil do que as acusações de corrupção.]
A esta
altura, vocês já conhecem as concessões feitas pelo governo federal, já
publicadas em edição extra do “Diário Oficial”, que os grevistas
chamarão “conquistas”. O custo da redução R$ 0,46 no litro de diesel na
bomba, o congelamento por 60 dias desse combustível e o reajuste mensal a
partir de então custarão a bagatela de R$ 13 bilhões. O argumento de
que R$ 4 bilhões desse total serão repostos pena reoneração da folha de
pagamentos não vale porque a dita-cuja virá, quando vier, justamente
para diminuir o rombo fiscal. Se a receita decorrente desse processo
estava na expectativa das contas, mas a despesa extra não, então e
evidente que não cabe fazer essa subtração. O custo da patuscada será de
R$ 13 bilhões e pronto!
Houve
hesitação do governo? A resposta óbvia é esta: houve. Quando a
movimentação começou — e fica uma lição para futuros governos —, as
forças federais deveriam ter entrado em ação. Não se fecham estradas
numa democracia e ponto final. A sociedade não pode ser chantageada por
categoria nenhuma, ainda que esta tenha razão e que ela, a sociedade,
apoie a chantagem. Tanto pior quando as evidências de locaute são
escandalosas. Uma das ditas “conquistas” é a exclusão do setor de
transporte de cargas da reoneração da folha de pagamentos. A
reivindicação interessa a empresários, não a caminhoneiros. Custos
adicionais ainda não estão computados, como a isenção de pedágio para
caminhões sem carga, com o tal “eixo suspenso”. Nesse caso, o espeto
será redistribuído também aos Estados. Como o governo não faz dinheiro e
como o dito-cujo não cai do céu, a conta será paga pelo conjunto dos
brasileiros, principalmente na forma de dívida pública. E, por óbvio, a
elevação do frete, que, na prática, também está no pacote, irá parar nos
preços.
Por que as
coisas se deram desse modo? Porque é a política que está contra a
parede. Além dos transtornos evidentes que o locaute criou, com a
virtual paralisia do país, o governo teve de enfrentar outra urgência: a
simpatia que o movimento granjeou na sociedade, embora seja ela própria
a pagar o preço; embora a falta de alimentos, de ônibus, de segurança
pública, de remédios seja a consequência imediata de um locaute, de uma
greve de patrões. E por que
parcela expressiva da sociedade ficou com os caminhoneiros? O analista
preguiçoso diria: “Porque o governo Temer é ruim demais, e tudo o que
vem dele será rejeitado”. Só que isso é mentira. Bastaria listar as
conquistas dessa gestão em dois anos para concluir que, dados o
descalabro herdado por Temer e o ponto a que se chegou, o governo, por
incrível que pareça, é bom. Mas quem se interessa por essa tal
“avaliação objetiva”? A resposta: quase ninguém. [o mais assustador é se o braço sindical do PT - federação única dos petroleiros = FUP - conseguir parar a Petrobras e o Temer ficar no seu vai e vem e se ajoelhar diante dos grevista;
logo outras categorias se sentirão estimuladas a fazer o mesmo e o governo acaba.
O mais trágico, assustador mesmo, não é o governo Temer acabar e sim quem, constitucionalmente, o substituirá: RODRIGO MAIA.]
O futuro
presidente, qualquer que seja, presidirá uma nação rachada, dividida,
que duvida de qualquer ação oficial, que não confia nas instituições e
que acredita que só a caça aos corruptos nos conduzirá ao paraíso.
Enquanto a Lava Jato não passar a ser apenas uma obrigação de entes do
Estado, exercida nos limites da lei e sem alarde, estaremos sujeitos às
chantagens as mais diversas.
Tudo o mais constante, aguardem para ver.
Blog do Reinaldo Azevedo