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domingo, 15 de fevereiro de 2015

Os países da União Europeia precisam deixar claro que não aceitam imigrantes e não fazer concessões, ainda que eventuais. Com isso evitará o morticinio cruel e absurdo

Uma tragédia que se repete no Mediterrâneo

A morte em naufrágios de centenas de imigrantes que tentam entrar na UE revela uma crise humanitária que requer maior atenção das autoridades europeias

Mais de 300 imigrantes oriundos do Mali e do Senegal morreram afogados ou em consequência de hipotermia em pelo menos quatro naufrágios na semana passada, quando atravessavam o Mar Mediterrâneo rumo à ilha italiana de Lampedusa, uma das portas de entrada para a Europa. As embarcações partiram da Líbia no último dia 7 e foram a pique devido ao mar revolto e à superlotação. A guarda costeira italiana conseguiu resgatar várias pessoas, das quais pelo menos 29 morreram de hipotermia. 

Este ano, até 11 de fevereiro, segundo a Organização Internacional para a Imigração, já morreram 375 pessoas nessas travessias. De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, só no ano passado 218 mil refugiados e imigrantes provenientes do Oriente Médio e da África cruzaram o Mediterrâneo em barcos clandestinos e inseguros. Na busca por uma oportunidade de prosperidade na Europa, cerca de 3.500 pessoas morreram nessas travessias ilegais, inclusive crianças. Em janeiro de 2015, o número de imigrantes dessas regiões que chegaram à Itália subiu 62,5%, para 3.528 pessoas, frente ao mesmo mês do ano passado. 

No total, segundo a agência europeia Frontex, em 2014 cruzaram as fronteiras do bloco 278 mil imigrantes ilegais, número duas vezes e meia maior que o do ano anterior (107 mil). A Frontex afirma que a maior contribuição ao fluxo migratório ilegal vem de áreas de conflito, como a região da ofensiva do Estado Islâmico na Síria e no Iraque, que gerou massas de refugiados. A agência cita ainda que as detenções nas fronteiras alcançaram em dezembro passado o número recorde de 12 mil imigrantes ilegais. 

A localização geográfica de Itália e Espanha faz dessas nações os destinos principais de imigrantes oriundos do Oriente Médio e da África, em fuga de guerras, fome e perseguições religiosas. A situação piorou a partir de outubro de 2014, depois que a Itália decidiu suspender seu programa de patrulhamento no Mediterrâneo, o Mare Nostrum, reclamando da falta de apoio da UE. A vigilância da costa agora é feita pela Comissão Europeia, mas sem a mesma abrangência. “A Europa me diz tudo sobre como devo pescar o peixe-espada, mas não me ajuda a salvar crianças no Mediterrâneo”, reclamou ao jornal espanhol “El País” o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi.

Em 2014, o premier britânico, David Cameron, e a chanceler alemã, Angela Merkel, divergiram publicamente sobre a adoção de medidas para reprimir a imigração e minimizar o impacto nas políticas sociais europeias. Ao mesmo tempo, a UE debate formas de conter a chamada islamização do continente e vê crescer os movimentos xenófobos e anti-imigração. Todos esses elementos revelam a complexidade da situação, mas não justificam fechar os olhos a um drama humanitário de grandes proporções, uma tragédia que se repete com tanta frequência que a perda de vidas vem se tornando um fato tristemente banal.


Fonte: Editorial - O Globo