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quinta-feira, 18 de junho de 2020

Marca é acusada de racismo por lançar esponja de aço com nome ''Krespinha''

Marca é acusada de racismo por lançar esponja de aço com nome ''Krespinha''


Internautas afirmam que o nome se assemelha ao cabelo crespo, que há anos é associado de forma pejorativa às esponjas de aço da marca

A marca de produtos de limpeza Bombril está sendo acusada de racismo nas redes sociais por causa do lançamento da esponja de aço inox com o nome “Krespinha”. Os internautas afirmam que o nome se assemelha ao cabelo crespo, que há anos é associado de forma pejorativa às esponjas de aço da marca.


No site da Bombril, a esponja “Krespinha” é descrita como “perfeita para a limpeza pesada. Remove sujeiras e gorduras de um jeito rápido e eficaz, sem esforço. Resistente e não enferruja”. O Correio procurou a empresa e pediu um posicionamento e questionou quando o produto foi lançado, mas não recebeu nenhum retorno até o momento.

ONU decide se vai apurar crimes contra afro-americanos; Brasil é contra

Brasil opõe-se a projeto de resolução do Conselho de Direitos Humanos da ONU para criar comissão internacional de inquérito sobre crimes contra afro-americanos. Votação final deve ocorrer hoje, em Genebra, e pode minar imagem do país. EUA pressionaram aliados.  A afinidade ideológica com o presidente norte-americano, Donald Trump,  pode transformar o Brasil em pária na luta global contra o racismo e a violência policial. Na véspera da votação de um projeto de resolução, por parte do Conselho de Direitos Humanos da ONU, com a proposta de estabelecimento de uma comissão internacional e independente para investigar o abuso policial e o racismo contra a população negra nos Estados Unidos, a diplomacia brasileira se opôs ao documento, após pressão dos norte-americanos. [cabe só atentar que sendo os EUA uma nação independente, soberana, não tem sentido ser submetida a uma investigação por fatos ocorridos em seu território.
Afinal, a ONU não é um exemplo de isenção e imparcialidade.]

Washington instou os aliados a retirarem a menção aos EUA na versão final do texto. Segundo a agência France-Presse, o novo rascunho a ser apresentado hoje, limita-se a pedir à alta comissária da ONU  para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, que “estabeleça os fatos e as circunstâncias relativas ao racismo sistêmico, às supostas violações do direito internacional em termos de direitos humanos e aos maus-tratos contra os africanos e as pessoas de origem africana”.

Ao discursar na tribuna, a embaixadora Maria Nazareh Farani Azêvedo — representante permanente do Brasil junto às Nações Unidas em Genebra — tratou de desvincular o racismo da imagem dos Estados Unidos. Ela classificou o racismo de “chaga enraizada em diferentes regiões do mundo” e afirmou que nenhuma nação deve ser singularizado no que diz respeito a isso. Apesar de ponderar que o preconceito racial em operações policiais não pode ser tolerado em nenhum país, Maria Nazareth sublinhou o papel “indispensável” da polícia na garantia do direito à segurança pública e na proteção aos direitos.

A eurodeputada alemã Pierrette Herzberger-Fofana, 71 anos, causou surpresa ao denunciar. no Parlamento Europeu, que foi vítima de violência policial na Bélgica, na véspera de um debate sobre o racismo. A versão da eurodeputada, negra, foi rebatida pela polícia belga. Nascida em Bamako, capital do Mali, a ambientalista contou que estava nos arredores da Estação do Norte de Bruxelas quando viu nove policiais “intimidarem dois jovens negros” e decidiu filmar a cena com o celular.

 Segundo o relato de Pierrette, os policiais dirigiram-se até ela, tomaram seu telefone e quatro deles a empurraram “brutalmente contra um muro”, com as pernas separadas, antes de fazerem uma revista. “Fui tratada de forma humilhante. Quando disse que era eurodeputada, não acreditaram. Isso porque eu estava com meus dois passaportes: o do Parlamento Europeu e o alemão”, assinalou. Audrey Dereymaeker, porta-voz da polícia, rebateu o relato, mas confirmou que a deputada passou por um controle de identidade e disse que ela seria investigada por insultar os oficiais. 

Correio Braziliense - saber mais


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Aborto = um dos atos mais covardes que uma mulher pode praticar = assassinato de um SER HUMANO INOCENTE e INDEFESO - qual a diferença entre uma mãe que pratica o aborto e um executor do Estado Islâmico?



Sobre o aborto
Quem sabe agora, diante do desastre e da gritaria, tomem vergonha e tenência
A epidemia de zika e o aumento explosivo do número de casos de microcefalia puseram na ordem do dia o debate sobre a descriminalização do aborto. Da escuridão, às vezes, nasce a luz: tenho a impressão de que, em menos de um mês, foram publicados mais artigos e entrevistas sobre o assunto do que nos dez anos anteriores.
Amaldiçoado com uma das classes políticas mais cínicas e calhordas do mundo, que foge de qualquer tema que possa desagradar aos religiosos, o Brasil está se devendo essa discussão há tempos — mas a simples menção da palavra “aborto” basta para que os nossos legisladores, salvo raras e heroicas exceções, virem para o lado e façam cara de paisagem. Pouco importam, para eles, as vítimas da sua covardia. Quem sabe agora, diante do desastre e da gritaria, tomem vergonha e tenência. [a alegada covardia dos legisladores, citada neste texto,  é a forma mais eficaz para o combate da mais covarde das covardias, aquela que uma mãe comete quando concorda em assassinar um filho que ainda está no seu ventre, totalmente inocente, indefeso e dependente.]

Interromper uma gravidez, em qualquer situação, é prerrogativa da mulher. A maioria dos países do Primeiro Mundo — aqueles que melhor resolveram as suas desigualdades econômicas e sociais — já reconheceu isso. [quer dizer que um país ao se tornar país do primeiro mundo, também   se torna DONO do direito de assassinar covardemente os que não podem se defender;
Se os países do primeiro mundo assassinam crianças NÃO NASCIDAS e são tomados como exemplo de competência na resolução de suas desigualdades, fica difícil de entender que as barbaridades cometidas pelo Estado Islâmico (repudiamos aquele estado e as barbaridades que pratica)  sejam repudiadas pelos mesmos países.
Ou será que a ilustre articulista considera menos covarde, menos cruel, assassinar uma criança ainda no VENTRE MATERNO do que assassinar um adulto que caiu nas mãos daquele bárbaro estado?
Se não é reprovável aos países do primeiro mundo assassinar crianças – assassinar crianças é reprovável em qualquer circunstância e mais ainda quando se trata de crianças ainda não nascidas -  , não tem sentido considerar reprovável que o Estado Islâmico, quarto ou quinto mundo, assassine adultos.] O aborto é legal, sem restrições, em toda a América do Norte, na Europa (com as significativas exceções da Polônia e da Irlanda), na Austrália e numa boa parte da Ásia, para não falar em países que nem são tão desenvolvidos assim, mas que têm feito um esforço nesse sentido, como nosso vizinho Uruguai ou a África do Sul.

Em outros, como Índia, Japão ou Islândia, foram estabelecidos limites de tempo para a interrupção da gravidez, mas mesmo esses limites podem ser flexibilizados em casos de doença grave da mãe ou do feto, ou circunstâncias socioeconômicas adversas. Eles entendem que a maternidade é um compromisso para a vida inteira, e que um aborto é muito menos traumático, individual e coletivamente, do que uma criança indesejada.

O Brasil, porém, está alinhado com o Afeganistão, a Somália, a Líbia, o Sudão, o Mali, o Burundi, o Iêmen ou o Haiti, países onde a vida humana, caracteristicamente, vale muito pouco. Até Paquistão e Arábia Saudita, que tratam as suas mulheres feito lixo, têm leis melhores do que as nossas, para não falar numa quantidade de países da África subsaariana, como Zâmbia, Namíbia ou Quênia.

Digo que o Brasil precisa discutir o aborto, mas eu mesma, pessoalmente, não tenho mais ânimo para isso. Sei que existem pessoas boas genuinamente angustiadas com a sorte dos fetos alheios, para além de dogmas religiosos e falsos moralismos, mas essas pessoas têm sido minoria nas discussões acaloradas da internet.

Nessas discussões, as pessoas que mais se dizem horrorizadas com as mortes de fetos — chamando-os de “crianças” para maior efeito dramático, fingindo desconhecer o fato de que “crianças”, ao contrário de embriões, conseguem sobreviver fora do corpo da mãe — são estranhamente insensíveis às mortes das mulheres obrigadas a abortar em condições sub-humanas. [obrigadas? Elas abortam por opção, por falta do instinto materno, por crueldade, até mesmo por prazer e por não possuírem qualquer resquício de piedade. Para elas, a vida de uma criança, ainda no ventre materno – que deveria ser um abrigo seguro – não tem o valor de um pedaço de carne. Pode ser descartada.]  Para elas, a vida, tão preciosa dentro do útero, deixa de ter valor do lado de fora. Defendem a inviolabilidade da vida, e sustentam que a legislação brasileira, retrógrada ao extremo, basta para qualquer mulher; não veem contradição nenhuma em defender o aborto em casos de estupro e em gritar que toda vida é sagrada. Mas, se é, que diferença há entre os fetos gerados por estupro e os fetos gerados por amor? As “crianças” não são todas iguais? Hipocrisia é o nome do jogo.

Defender a criminalização do aborto é fechar os olhos para o fato de que quase um milhão de abortos são realizados anualmente no Brasil, com cerca de 200 mil internações decorrentes de procedimentos mal feitos; é ignorar as estatísticas mundiais que mostram que o número de abortos se mantém estável quando a legislação muda a favor da mulher; é contribuir para a desigualdade social, porque mulheres ricas continuarão fazendo aborto sempre que necessário. [a tese das malditas abortistas é que as crianças com microcefalia dão trabalho, causam incômodos durante a vida; a se consolidar este raciocínio, se pergunta: E quando vão passar a assassinar crianças com Síndrome de DOWN? Elas também dão trabalho, incomodam.]

Mas defender a criminalização do aborto é, acima de tudo, um ato de inacreditável soberba, que põe todos os “juízes” acima da mulher que optou por interromper a gravidez. Ora, fazer aborto não é uma decisão fácil ou leviana; nenhuma mulher faz aborto por esporte. Qualquer uma que chega a essa decisão já pensou muito, e já pesou, dentro da sua capacidade, os prós e contras da questão — mas os senhores e senhoras que a condenam acham que conhecem melhor as suas condições e os seus sentimentos do que ela mesma, e se acreditam no direito de castigá-la.

Quem pede a legalização do aborto não pede a ninguém que aborte ou seja “a favor do aborto”; pede apenas que seja dado às mulheres o direito de decidirem o seu futuro por si mesmas, sem correr riscos de saúde desnecessários, e sem que Estado ou Igreja se metam onde não são chamados.

Este assunto me tira do sério muito mais do que qualquer outro (ou, vá lá, quase qualquer outro) porque nele vejo, além da hipocrisia, muita maldade, falta de compaixão e todo o tipo de chicana moral e religiosa para continuar mantendo as mulheres na posição de submissão em que foram mantidas ao longo dos séculos.

A verdade é simples: a criminalização do aborto é um crime contra a mulher.
[E o aborto é um crime contra uma criança indefesa, inocente e ainda no ventre materno.]

Fonte: Artigo escrito por Cora Ronai, em sua Coluna mantida em O Globo, em 4/2/16.
Pedimos vênia pela transcrição; quanto a opção por replicar ponto a ponto é devido nossa veemente discordância aos que querem usar uma epidemia – a ZIKA – para defender o aborto.
Notícias mais recentes já deixam espaço para outras formas de atuação do vírus em sua capacidade de causar doenças, inclusive de ordem sexual.
Caso se comprove que o vírus ZIKA causa diversas outras doenças, sem nenhuma relação com a gravidez, as mulheres e homens que o contraírem também serão mortos?  


domingo, 22 de novembro de 2015

O mundo encolheu


À parte as vítimas e os estragos que espalha pelo caminho, o terrorismo produz uma mensagem


Bamako não tem Torre Eiffel nem Louvre, Arco do Triunfo ou Praça da Bastilha. As luzes que funcionam na capital do Mali em nada evocam a joie de vivre associada à antiga metrópole. Um dos cartões-postais da cidade africana é um massudo Monumento da Paz — horrendo arco branco estilizado em forma de duas mãos que seguram um globo terrestre.

Na manhã desta sexta feira, uma semana após os atentados múltiplos em Paris, a enorme pomba branca que encima o monumento turístico de Bamako voltou a falhar. Com a irrupção armada de terroristas no hotel cosmopolita Radisson Blu de Bamako, o mundo pareceu ter encolhido ainda mais. Fossem outros os tempos, é possível, senão provável, que esse último atentado ficasse relegado ao noticiário menos nobre. Com pouco mais de cem mil visitantes estrangeiros por ano, o Mali tem presença quase clandestina em folhetos turísticos populares, enquanto a França, campeoníssima mundial no quesito, registra quase 85 milhões de visitantes/ano.

Apesar de já ter sido berço orgulhoso de uma civilização antiga, o Mali e suas 26 etnias foram tantas vezes atacados, conquistados, abandonados e reconquistados que incautos costumam passar ao largo. O último grande solavanco ocorrera em 2013, quando rebeldes tuaregues e radicais islâmicos afiliados à al-Qaeda assumiram o controle da metade norte do país. Batizaram de Azaad o território conquistado, declararam-no Estado independente e impuseram obediência absoluta à lei da sharia, banindo da vida a música, a televisão e outras infidelidades ocidentais. Só não estabeleceram o primeiro poder terrorista no coração da África porque o governo de Bamako pediu ajuda a Paris, e tropas francesas enxotaram os rebeldes.

Enxotaram, porém não eliminaram, e a revanche ficou na incubadora — é vasto o vivedouro de bandidagem, terrorismo e tráfico de armas em que se transformou a região do Sahel desde a derrubada do ditador líbio Muamar Kadafi. A mera listagem dos grupos terroristas em atividade na região e dos subgrupos com capacidade operacional e lideranças conhecidas ocuparia parte deste espaço. Ademais, as filiações dessa miríade de células com organizações de porte como o Estado Islâmico (EI), al-Qaeda ou Boko Haram são cambiantes. Daí ser temerário apontar desde já uma lógica entre os atentados dos últimos dias.

Para os serviços de inteligência mundiais, ainda mais arriscado é distinguir bazófia de perigo real nas recentes ameaças terroristas disseminadas nas redes sociais. O poder do terror reside justamente nisso: fazer crer que ele é capaz do impossível. Como já se escreveu aqui em ocasião anterior, ao contrário de outros “ismos” como marxismo, budismo ou nacionalismo, o terrorismo não está atrelado a um corpo de crenças ou sistema de ideias. Definido como ato de violência organizada contra civis, cabe a pergunta paralela: ele é da família dos meios ou dos fins?

Para o pesquisador francês François-Bernard Huyghe, o terrorismo é a exceção e o exemplo. À parte as vítimas e os estragos que espalha pelo caminho, o terrorismo produz uma mensagem. É a propaganda através do ato, ou a pedagogia através do assassinato. No fundo, a bomba caseira que explodiu na ruela medieval por onde passava Napoleão no Natal de 1800 tinha elementos semelhantes aos de um atentado de hoje numa rua de Paris ou Bamako. A diferença abissal é que lá atrás não havia mídia. Hoje há mídia social. E como já prenunciara Marshall McLuhan, o guru fashion dos anos 60, depois de acompanhar a primeira cobertura mundial de um atentado (o massacre de atletas israelenses nos Jogos de Munique em 1972), “o satélite vai espalhar a paranoia terrorista mundo afora e aperfeiçoar os atos de violência”.

Desde o atentado às Torres Gêmeas em 2001, a paranoia está instalada. Deixou de ser paranoia. É pânico, medo. “Temos medo de entrar num avião. Temos medo de determinados países. Determinadas religiões. Temos medo de navios cargueiros, cartas e pacotes, comidas importadas. No fundo, temos medo de tudo que está à nossa volta”, já constatara tempos atrás o primeiro-ministro da Malásia, Mahathir bin Mohamad.

Hoje, por força da situação de alto risco, governos colaboram involuntariamente com o terror ao fabricarem o medo preventivo. A fronteira entre criar pânico e proteger a população é crítica e complexa. Em 2003, o Ministério do Interior britânico teve de recolher às pressas um documento de 35 páginas, meia hora após sua distribuição, pois o alerta falava em agentes da al-Qaeda se infiltrando em cidades da Inglaterra através de botes e trens, com armas nucleares caseiras e gás venenoso. Outro documento divulgado pelo governo da época mencionava planos terroristas de ataque aéreo contra o Castelo de Windsor, da rainha da Inglaterra. Nos Estados Unidos, o ar de túneis e galerias de metrô já chegou a ser testado para detectar eventual contaminação. O leite e alimentos frescos, também.

A irlandesa Louise Richardson, ex- professora de Harvard e recém-indicada vice-presidente da Universidade de Oxford, deu uma contribuição relevante ao debate com o estudo “O que querem os terroristas: compreendendo o inimigo, contendo a ameaça”, publicado em 2006. Rejeitando a noção generalizada de que “compreender e explicar o terrorismo significa simpatizar com sua causa”, ela trabalhou em cima de um leque de características que atribui ao terrorismo. Algumas delas:
— ter inspiração política e visar à população civil;
— ter por imperativo a violência física (o ciberterrorismo seria apenas acessório);
— suas vítimas não serem as mesmas que a audiência pretendida;
— ter por propósito a disseminação da mensagem, não a derrota do inimigo;
— terroristas são mais fracos do que seus inimigos, por isso recorrem ao terror;
— exceções à parte, atentados são praticados por grupos, não por estados.

Até hoje um dos paradoxos clássicos do terror consistia em proliferar em todos os cantos, não triunfar em lugar algum e renascer sempre. Nem mesmo a autoproclamação física e territorial do Estado Islâmico e seu corolário de matanças em escala planetária altera esse paradoxo. Apenas o exacerbam.

Como ficou patente no atentado de Bamako, é mais fácil enxotar terroristas de um território conquistado do que eliminar suas raízes.

Por: Dorrit Harazim,  jornalista - O Globo

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Forças do Mali invadem hotel e libertam cerca de 80 reféns - três pessoas morreram

Forças especiais entram em hotel no Mali e libertam reféns

Grupo armado invadiu estabelecimento de luxo na manhã desta sexta-feira. Autoridades de segurança acreditam se tratar de um ataque terrorista

Forças especiais de segurança entraram no hotel Radisson Blu, em Bamako, capital do Mali, e começaram a libertar reféns do grupo que abriu fogo contra o estabelecimento nesta sexta-feira. Às 7h no horário local (5h no Brasil), homens armados invadiram o hotel de luxo e fizeram reféns pelo menos 150 pessoas, entre hóspedes e empregados. Foram confirmadas ao menos três mortes. Segundo a imprensa local, às 10h no horário local, cerca de 80 indivíduos já haviam sido retirados do local.

O hotel Radisson Blu fica na região Oeste da cidade de Bamako e próximo da sede de ministérios e embaixadas. Segundo a rede britânica BBC, os agressores entraram no estabelecimento mascarados e em um veículo com placa diplomática. Ainda não há confirmação sobre o número de atiradores. As agências de notícias informam que o grupo atacou principalmente o sétimo andar e teria gritado "Allahu Akbar", que significa "Alá é grande" em árabe. Autoridades de segurança acreditam que trata-se de um ato terrorista, mas nenhum grupo reivindicou a autoria da ação e a identidade dos agressores ainda é desconhecida.

De acordo com a agência de notícias Reuters, algumas pessoas conseguiram sair do hotel após recitarem versos do Alcorão. Essa informação, porém, ainda não foram confirmadas oficialmente.

Reféns - A Turkish Airlines confirmou que cinco funcionários da companhia aérea - dois pilotos, dois comissários de bordo e um chefe de estação - estavam no hotel no momento do ataque e já foram libertados. Outros 12 membros da Air France também foram retirados do local com segurança. De acordo com a agência de notícias Xinhua, havia pelo menos sete chineses no hotel quando o estabelecimento foi invadido. O governo da Índia afirmou que havia 20 indianos entre os reféns do estabelecimento.

Autoridades - O presidente do Mali, Ibrahim Boubacar Keita, estava no Chade, no Norte da África, e está retornado ao seu país para acompanhar as investigações. Já o presidente francês, François Hollande, afirmou que fará tudo o que puder para libertar os reféns. De acordo com o jornal Le Monde, 40 homens da Guarda Nacional e dez membros do instituto criminal da mesma instituição preparam-se para deixar Paris rumo a Bamako.

O Mali é uma antiga colônia francesa. Forças da França intervieram em Mali há dois anos para tentar expulsar terroristas islâmicos que tomaram conta do norte do país. Cerca de 3.000 soldados foram enviados ao país em janeiro de 2013 para participar da missão de estabilização e auxiliar os militantes locais. Apesar disso, ainda há casos esporádicos de violência na região. De acordo com o exército francês, não há tropas do país atualmente no Mali.

No dia 13 de novembro, ataques terroristas reivindicados pelo Estado Islâmico (EI) deixaram 129 mortos em Paris. Após os atentados, o grupo vem divulgando vídeos nos quais ameaçam novos atos terroristas não só na França, mas também em países como Estados Unidos, Itália e Bélgica.

 

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Os países da União Europeia precisam deixar claro que não aceitam imigrantes e não fazer concessões, ainda que eventuais. Com isso evitará o morticinio cruel e absurdo

Uma tragédia que se repete no Mediterrâneo

A morte em naufrágios de centenas de imigrantes que tentam entrar na UE revela uma crise humanitária que requer maior atenção das autoridades europeias

Mais de 300 imigrantes oriundos do Mali e do Senegal morreram afogados ou em consequência de hipotermia em pelo menos quatro naufrágios na semana passada, quando atravessavam o Mar Mediterrâneo rumo à ilha italiana de Lampedusa, uma das portas de entrada para a Europa. As embarcações partiram da Líbia no último dia 7 e foram a pique devido ao mar revolto e à superlotação. A guarda costeira italiana conseguiu resgatar várias pessoas, das quais pelo menos 29 morreram de hipotermia. 

Este ano, até 11 de fevereiro, segundo a Organização Internacional para a Imigração, já morreram 375 pessoas nessas travessias. De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, só no ano passado 218 mil refugiados e imigrantes provenientes do Oriente Médio e da África cruzaram o Mediterrâneo em barcos clandestinos e inseguros. Na busca por uma oportunidade de prosperidade na Europa, cerca de 3.500 pessoas morreram nessas travessias ilegais, inclusive crianças. Em janeiro de 2015, o número de imigrantes dessas regiões que chegaram à Itália subiu 62,5%, para 3.528 pessoas, frente ao mesmo mês do ano passado. 

No total, segundo a agência europeia Frontex, em 2014 cruzaram as fronteiras do bloco 278 mil imigrantes ilegais, número duas vezes e meia maior que o do ano anterior (107 mil). A Frontex afirma que a maior contribuição ao fluxo migratório ilegal vem de áreas de conflito, como a região da ofensiva do Estado Islâmico na Síria e no Iraque, que gerou massas de refugiados. A agência cita ainda que as detenções nas fronteiras alcançaram em dezembro passado o número recorde de 12 mil imigrantes ilegais. 

A localização geográfica de Itália e Espanha faz dessas nações os destinos principais de imigrantes oriundos do Oriente Médio e da África, em fuga de guerras, fome e perseguições religiosas. A situação piorou a partir de outubro de 2014, depois que a Itália decidiu suspender seu programa de patrulhamento no Mediterrâneo, o Mare Nostrum, reclamando da falta de apoio da UE. A vigilância da costa agora é feita pela Comissão Europeia, mas sem a mesma abrangência. “A Europa me diz tudo sobre como devo pescar o peixe-espada, mas não me ajuda a salvar crianças no Mediterrâneo”, reclamou ao jornal espanhol “El País” o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi.

Em 2014, o premier britânico, David Cameron, e a chanceler alemã, Angela Merkel, divergiram publicamente sobre a adoção de medidas para reprimir a imigração e minimizar o impacto nas políticas sociais europeias. Ao mesmo tempo, a UE debate formas de conter a chamada islamização do continente e vê crescer os movimentos xenófobos e anti-imigração. Todos esses elementos revelam a complexidade da situação, mas não justificam fechar os olhos a um drama humanitário de grandes proporções, uma tragédia que se repete com tanta frequência que a perda de vidas vem se tornando um fato tristemente banal.


Fonte: Editorial - O Globo


domingo, 25 de janeiro de 2015

Quanto vale uma vida humana?

De uns tempos para cá, o valor do ser humano tem tido sua cotação inflacionada por um agente novo, o Estado Islâmico

Gostamos de pensar que a vida humana não tem preço. Que ela não pode ter valor quantificável nem ser comparada a nada, além dela mesma. E que a única justificativa para não impedirmos uma morte é quando esse ato impedir a perda de um número de vidas ainda maior. Foi o alemão Kant quem nos ensinou que seres humanos têm dignidade, não têm preço — até porque o que tem preço pode ser substituído por outra coisa, equivalente.

Também gostamos de pensar que todas as vidas humanas têm valor igual. Fora do âmbito da poesia e da filosofia, contudo, não é bem assim. A todo momento temos etiquetas de preço espetadas em nossas vidas por uma infinidade de agentes — de governos com políticas sociais a economistas forenses, de seguradoras a advogados da bioética, a lista é longa. As cifras, é claro, também oscilam de acordo com os interesses e as circunstâncias — ora valemos mais, ora menos.

Tomem-se como exemplo algumas cotações feitas pelo governo dos Estados Unidos. Em média, as famílias das 2.280 vítimas do atentado do 11 de setembro de 2001 receberam uma indenização de US$ 2 milhões. Seis anos mais tarde, a indenização governamental concedida às famílias das 32 vítimas da fuzilaria na Universidade Virginia Tech foi de US$ 180 mil por cabeça. No caso das Torres Gêmeas, o valor derivara de uma decisão essencialmente emocional por parte do Congresso.

Para propor uma série de medidas visando reduzir a poluição do ar no país, a Agência Ambiental dos Estados Unidos estabeleceu o valor de US$ 9,1 milhão para cada vida. Já a Food and Drug Administration, agência americana com funções similares às da Anvisa, calculou esse valor em US$ 7,9 milhões para emplacar a obrigatoriedade de avisos antifumo em maços de cigarros. O Ministério dos Transportes, por sua vez, fixou em US$ 6,1 milhões o preço de uma vida ao apresentar a exigência de tetos de resistência dupla para automóveis.

No fundo trata-se apenas de uma equação matemática a mais para governos decidirem quanto querem gastar em programas destinados a diminuir perdas desnecessárias de vidas. Nada a ver, portanto, com a endêmica desigualdade das sociedades humanas, ilustrada de forma acachapante por estudo divulgado semana passada. Segundo dados da Oxfam, as fortunas dos 80 bilionários mais ricos do mundo equivalem ao que possuem os 3,5 bilhões de bípedes mais pobres do planeta. Quatro anos atrás, ainda era preciso somar a riqueza de 388 bilionários para o resultado ser o mesmo de hoje.

De uns tempos para cá, o valor do ser humano tem tido sua cotação inflacionada por um agente novo, o Estado Islâmico. O aquecimento do mercado de sequestros é estrondoso.
Embora pedidos de resgate sejam tão velhos quanto bandidagem, sequestros e dinheiro, o caso dos dois cidadãos japoneses capturados na Síria não tem precedente. Através de um vídeo postado na terça-feira, o Estado Islâmico ameaçou decapitar Kenji Goto e Haruna Yukawa se o Japão não pagasse 200 milhões de dólares em 72 horas.

Goto, jornalista freelancer de 45 anos, fora capturado em outubro, dois meses depois de o segurança privado Yukawa cair em mãos dos jihadistas. Ambos foram exibidos ao mundo em coreografia idêntica à que antecedeu às decapitações de quatro reféns ocidentais no ano passado. A novidade está no valor pedido e na natureza pública da exigência. Se uma década atrás os pedidos de resgate giravam em torno de US$ 200 mil, numa segunda fase o negócio pulara para outro patamar — entre US$ 2 milhões e US$ 4 milhões por uma vida humana. Nada, portanto, que se compare aos US$ 200 milhões agora exigidos em troca dos japoneses. Já no caso do jornalista americano James Foley, primeiro decapitado pelo Estado Islâmico, os jihadistas haviam negociado um valor de US$ 135 milhões com a família do refém. Porém em surdina.

Embora governos evitem admitir que negociam com sequestradores, uma investigação do “New York Times" publicada em julho apontou a França como sendo o país que mais desembolsa para ter seus cidadãos libertados: US$ 54 milhões desde 2008. No mesmo período, a Suíça teria pago US$ 12 milhões, a Espanha um pouco menos, a Áustria, US$ 3 milhões. Seriam, em média 12 transações por ano com a al-Qaeda e suas afiliadas.

Uma das negociações mais assombrosas ocorreu em 2003, quando um agente alemão desembarcou de um avião militar quase vazio na capital do Mali. Trazia 5 milhões de euros divididos em três malas e encontrou-se secretamente com o presidente africano. Listado como ajuda humanitária, o dinheiro se destinava a libertar 32 reféns europeus capturados por um grupo jihadista afiliado à al-Qaeda. As malas atravessaram meio país a bordo de uma caminhonete. Ao receberem o butim, os terroristas conferiram os bilhetes em cima de um cobertor estendido na areia.

O espetaculoso valor do atual resgate-ostentação, no entanto, visa sinalizar ao mundo que o Estado Islâmico tem agenda própria e deve ser temido. O Japão talvez sequer precise pagar essa montanha de dinheiro. Pouco antes de o vídeo terrorista ser exibido, o governo do primeiro-ministro Shinzo Abe prometera uma ajuda não militar de US$ 200 milhões para o combate aos jihadistas. Talvez baste que ele desista desse aporte (*).
A demonstração de quem venceu terá sido feita.

Vale lembrar o teor de um comunicado dos países do G-8, assinado também pelo Japão dois anos atrás: “Rejeitamos, inequivocamente, pagar resgate a terroristas e apelamos a todas as nações e empresas do mundo para que sigam nossa diretriz de erradicar essa prática”.

Em tempo: O menino Asafe Costa de Ibrahim, de 9 anos, e a carioquinha Larissa de Carvalho, de 4, são as duas vítimas fatais de uma semana de balas perdidas no Rio. Não cresceram o bastante para se perguntar sobre o sentido das coisas. Mas viveram o suficiente para retratar o quão pouco vale a vida humana quando a violência faz parte da rotina da sociedade.


Por: Dorrit Harazim é jornalista - O Globo

Atualizando: Os terroristas divulgaram vídeo no qual mostram que cumpriram parcialmente a ameaça ao decapitar Haruna Yukawa 




Em vídeo não comprovado, Kenji Goto exibe possível imagem de colega decapitado - Reprodução


domingo, 4 de janeiro de 2015

Estado Islâmico se transforma em um movimento extremista transnacional

Facções radicais de vários países juram lealdade grupo.  

Especialistas veem uma organização mais letal, preparada e rica do que a rede Al-Qaeda, de Osama bin Laden

O sonho de instituir um califado islâmico no Oriente Médio o primeiro passo para a consolidação da Umma (“a grande nação muçulmana”) tem seduzido facções extremistas da Ásia e da África e colocado o terrorismo, mais uma vez, no topo da agenda mundial. Militantes radicais da Nigéria, do Mali, do Egito, da Índia e do Paquistão juraram lealdade aos mujahedine (guerrilheiros) do Estado Islâmico (EI), grupo que ganhou notoriedade por decapitar prisioneiros e por promover execuções em massa. 
 O grupo extremista ganhou força militar
 
Em Mombasa, na costa do Quênia, bandeiras do EI foram apreendidas em duas mesquitas. Na Líbia e na Península do Sinai, os jihadistas foram além e declararam a fundação de uma nação obediente a Abu Bakr Al-Baghdadi. Ao menos 15 mil mujahedine de 80 países, 2 mil deles do Ocidente, se uniram ao EI. O retorno às nações de origem é visto como um pesadelo para os governos, que temem atentados.
O francês Jean-Pierre Filiu, especialista em Oriente Médio pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences Po), alerta que o Estado Islâmico já é muito mais perigoso do que a rede terrorista Al-Qaeda em seu auge, pouco antes de 11 de setembro de 2001. “Osama bin Laden tinha cerca de mil simpatizantes armados. O EI possui 30 vezes mais, a maioria deles com experiência em combate e em treinamento militar. A receita dos atentados de 11 de setembro era de US$ 500 mil. O EI tem US$ 1 bilhão”, afirmou ao Correio, por e-mail. De acordo com ele, se a Al-Qaeda operava no Afeganistão, uma espécie de “beco sem saída”, os jihadistas de Al-Baghdadi atuam na Síria e no Iraque e ameaçam a Turquia, um dos portões da Europa. “O acréscimo mais perigoso tem sido a recente aliança do Ansar Beit Al-Maqdis (“Os Partidários de Jerusalém”), a principal facção jihadista que opera do Sinai até o Vale do Rio Nilo".

“Uma analogia seria comparar o EI a uma nave-mãe, pois o grupo declarou um califado e atiçou a imaginação de muitos muçulmanos”, observa Magnus Ranstorp, especialista em terrorismo pelo Colégio de Defesa Nacional da Suécia. “Os outros sistemas de apoio fervilham em direção à nave; são auto-organizados, mas mantêm mesmo foco.” Para o sueco, a facção ganhou características de grupo de terror transnacional. Ele vê a evolução do EI como a metáfora de um arquipélago jihadista em expansão, no qual existem ilhas em processo de liberação. “São o caso da Líbia e do Sinai.”

O australiano Clive Williams, professor do Centro para Policiamento, Inteligência e Contraterrorismo da Universidade de Macquarie (em Sydney), admite que o Estado Islâmico foi bem-sucedido em desenvolver uma rede de facções afiliadas na maioria dos países muçulmanos e conta com simpatizantes no Ocidente. No entanto, ele nega que o EI exerça um controle nos moldes do que era aplicado pela Al-Qaeda. “O Estado Islâmico encoraja os simpatizantes a realizarem atentados e depois os reivindica, mas não toma parte na organização dos ataques. Apesar de ter influência transnacional, trata-se, primariamente, de um grupo do Oriente Médio”, explicou, por e-mail. Ele prevê que a maior parte das operações do EI no Ocidente será encampada pelos chamados “lobos solitários”, mais difíceis de serem detectados pelas agências de inteligência. Nesse sentido, os países que integram a coalizão americana na Síria e no Iraque seriam os mais vulneráveis. 
 
Fonte: Correio Braziliense