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segunda-feira, 11 de abril de 2016

Fé religiosa - alternativas de combate à crise

Qualquer política pública definida e executada com alta dosagem de ideologia já nasce a um passo do insucesso. Porque é quase impossível que seus idealizadores admitam alguma falha de formulação. E, sem isso, demoram a executar, ou simplesmente não fazem, as devidas correções de rumo. Como ideologia cega, a política não funciona por falha da realidade, não por erro intrínseco a ela. Daí a insistência quase religiosa em tentar executar algo que não funciona.

O país acompanha, e infelizmente sua população principalmente os mais pobres — paga elevado preço, o equívoco que tem sido a obsessão do lulopetismo com o modelo do “novo marco macroeconômico”, cujo primeiro receituário começou a ser adotado a partir de 2009, ainda no segundo governo Lula, quando a explosão da crise financeira das hipotecas imobiliárias nos Estados Unidos mostrou todo seu efeito destrutivo.

Naquele momento, o governo aplicou uma terapia anticíclica, de aumento de gastos e expansão creditícia, para se contrapor ao impacto recessivo que veio da economia internacional. A reação era correta, mas Lula, com Dilma na Casa Civil, imaginou que era o momento de desengavetar o velho projeto econômico do PT: intervencionismo, muitos subsídios, nada de prudência nas contas públicas.

Sabem todos os desfecho da aventura. Para ganhar a reeleição a presidente Dilma, com seu marqueteiro João Santana hoje preso em Curitiba —, cometeu um estelionato eleitoral, oferecendo um futuro inexistente.  Hoje, o lulopetismo, enquanto luta para evitar o impeachment de Dilma pelo Congresso, tenta reequilibrar uma economia que vai para o segundo ano com recessão acima de 3%, inflação elevada, desemprego nos dois dígitos. Só o setor externo vai bem, mais muito devido à recessão que cortou de maneira drástica as importações.

Guiada por convicções ideológicas, Dilma, dedicada exclusivamente a se salvar do impedimento, trouxe Lula para perto e, com isso, o governo dela não fará mais qualquer ajuste fiscal. Assim, não melhorarão as percepções dos mercados em relação ao Brasil. A crise continua.


A ideia é que o Estado conduzirá o país para a porta de saída. É dentro desta visão que se enquadra a proposta de usar parte das reservas externas para alavancar investimentos. Trata-se de um desatino porque, mesmo estando em mais de US$ 350 bilhões, não é o momento de usá-las, em qualquer proporção, porque são uma defesa do país no caso de qualquer maior fuga de capitais. O momento brasileiro é ruim, e por isso mesmo não se deve baixar a guarda.

O certo é arrumar as contas públicas para dar confiança às empresas privadas e ao capital externo a voltarem a investir. Com isso, as engrenagens da produção funcionarão mais uma vez, sem os artificialismos que não garantem um crescimento sustentado. Mas a fé ideológica impede que o lulopetismo perceba que, com déficits públicos de 10% do PIB, o país, na melhor hipótese, ficará estagnado longos anos, com todos os devidos desdobramento negativos políticos e sociais.

Fonte: Editorial - O Globo