Antipetismo impede mudança no quadro. Eles veem acerto na estratégia do PSL de evitar debates
Na reta final da eleição, a cautela nas campanhas de Fernando
Haddad, do PT, e de Jair Bolsonaro, do PSL, se intensificará.
Especialistas explicam, no entanto, que o cuidado deve ser maior por
parte do capitão reformado, já que lidera as pesquisas. Só que o
antipetismo se mantém forte e o pouco tempo de campanha que resta tende a
ser insuficiente para o petista reverter o quadro. Na
avaliação do professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing
(ESPM) Victor Trujillo, a estratégia de Bolsonaro, para esta reta final,
deve continuar a mesma até o resultado do pleito. Ele explica que a
decisão do presidenciável de deixar de ir aos debates é o correto a se
fazer, do ponto de vista da campanha. “Há pouco tempo e a ausência dos
debates criou uma trincheira para o Bolsonaro”, diz.
Essa
barreira se formou a partir do fortalecimento da militância e do
isolamento do candidato na dianteira das pesquisas. É por meio das redes
sociais que Bolsonaro se comunica com o público. Desfere ataques em uma
live, com ambiente controlado e sem contraditório, esclarece o
professor. “No momento em que ele vai ao debate, se torna apenas um
candidato, menor do que uma parcela dos eleitores o idealizaram”,
acredita.
Segundo o pesquisador, o Bolsonaro em que parcela do eleitorado
está votando é um candidato “idealizado”, fortalecido pelo imaginário da
população. Não ir aos debates se torna importante nesse aspecto, já
que, ao comparecer, se tornaria de “carne e osso”. É
no debate que o eleitor vai ver o presidenciável cometer erros e se
mostrar mais humano. Por enquanto, o professor avalia que ele tem sido
visto como um “super-homem”. “Ele se entrincheirou, está no buraco, e
como é que o Haddad vai fazer para tirar ele de lá? Está cada vez mais
difícil trazer esse ‘mito’ para a realidade”, avalia.
Esperar
um fato novo que prejudique o capitão reformado é a única chance de
Haddad na disputa, defende o acadêmico. Para ele, Bolsonaro está em uma
situação de conforto, acomodado e com quase 60% dos votos. Mas, para
virar o jogo, não bastará uma estratégia “milagrosa” do petista.
“Depende mais de um erro do Bolsonaro do que de uma estratégia
mirabolante do PT”.
Victor Trujillo ressalta
que a estratégia petista foi eficiente até certo ponto, mas chegou ao
teto. Segundo ele, Haddad tem hoje nas pesquisas — em torno de 41% das
intenções de voto —, pouco mais do que o ex-presidente Lula apresentava
antes de ser retirado da disputa — 39%. “O risco de Haddad se distanciar
de Lula e do PT é justamente perder o que ele já tem. Quando se muda
muito a campanha, você muda com o objetivo de conquistar os eleitores
que ainda não votam em você. Mas há o risco de perder o eleitorado já
obtido”, lembra.
Paulo Calmon, diretor do
Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (Ipol/UnB)
lembra que o ex-militar possui um “grande percentual” do eleitorado
comprometido com ele. Assim, o número de eleitores que possam vir a
mudar de voto talvez não seja expressivo ao ponto de mudar o rumo da
eleição. “O antipetismo é um fenômeno com múltiplas causas”, enfatiza.
Várias
são as razões dessa rejeição ao PT, conta o professor. A primeira se
deu pelos erros políticos cometidos pela legenda. Outro fator importante
é o marketing político digital, impulsionado pelas novas tecnologias, e
que ajudaram a “demonizar” o partido. A
desilusão popular com o sistema político, que reforçou o desejo de
mudança e criou um ambiente contra Haddad, também é uma causa ressaltada
pelo pesquisador. “O Estado passou a ser percebido como um inimigo do
povo, e não um agente que promove o bem-estar e o desenvolvimento. Isso
privilegia quem promete mudanças e assume posturas mais populistas”,
acredita.
“O Estado passou a ser
percebido como um inimigo do povo, e não um agente que promove o
bem-estar e o desenvolvimento. Isso privilegia quem promete mudanças e
assume posturas mais populistas”
Paulo Calmon, cientista político da UnB