José Casado
Ninguém sabe quanto exatamente custou ou vai custar a Olimpíada
Faltam seis meses para os Jogos Olímpicos de Tóquio e, até hoje, o
Brasil ainda não conseguiu encerrar a Rio-2016. Pior: ninguém sabe
quanto exatamente custou ou vai custar. Estimam-se gastos de R$ 44
bilhões. A conta final, porém, talvez ainda leve anos para aparecer. Ela depende da conclusão de uma série de ações judiciais, das obras de
infraestrutura inacabadas e de pelo menos mil e um reparos considerados
essenciais para que as estruturas na Barra da Tijuca não desabem, não
sejam alagadas ou incendiadas.
Nesse legado carioca tem-se a síntese de uma antiga história de amor
urbano por grandes obras que unem políticos, empreiteiros e
especuladores imobiliários. No epílogo, predomina o caos no Rio
pós-olímpico. Entre responsáveis destacam-se o PT, o PMDB, o PCdoB e o PRB (atual
Republicanos). Juntaram-se para injetar 80% dos recursos públicos num
bairro, a Barra da Tijuca, onde vivem apenas 5% da população.
Alguns enriqueceram, como o ex-governador Sérgio Cabral. Empreiteiras e
empresas de ônibus lucraram dançando quadrilha à direita, ao centro e à
esquerda. Especuladores imobiliários embolsaram cerca de R$ 4 bilhões em
negócios no eixo Barra-Recreio. E a burocracia partidária ampliou
empregos bem remunerados na miríade de órgãos estatais. No jardim das ilusões olímpicas, parcerias público-privadas foram
anunciadas como responsáveis por 60% dos gastos totais. Empresas
privadas bancariam quase metade do orçamento do legado olímpico.
Chegariam a 80% dos investimentos no prodígio de marketing
político-imobiliário do Porto Maravilha.
Restou um túmulo financeiro à beira-mar, onde está enterrado um tesouro
em papéis da Caixa e do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
Mas a morte nem sempre é o fim, e a história prossegue na briga pelo
espólio estatal. O governo Bolsonaro acaba de se juntar à confusão com o recém-criado
Escritório de Governança do Legado Olímpico. Ele substitui a extinta
Autoridade Olímpica, com 15 antigos oficiais militares a bordo. Por
decreto, o Escritório fecha as portas em junho do ano que vem, antes da
abertura dos Jogos de Tóquio. A Rio-2016 vai continuar.
José Casado, colunista - O Globo