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terça-feira, 17 de dezembro de 2019

A Rio-2016 não acabou - O Globo

 José Casado

Ninguém sabe quanto exatamente custou ou vai custar a Olimpíada

Faltam seis meses para os Jogos Olímpicos de Tóquio e, até hoje, o Brasil ainda não conseguiu encerrar a Rio-2016. Pior: ninguém sabe quanto exatamente custou ou vai custar. Estimam-se gastos de R$ 44 bilhões. A conta final, porém, talvez ainda leve anos para aparecer.  Ela depende da conclusão de uma série de ações judiciais, das obras de infraestrutura inacabadas e de pelo menos mil e um reparos considerados essenciais para que as estruturas na Barra da Tijuca não desabem, não sejam alagadas ou incendiadas.

Nesse legado carioca tem-se a síntese de uma antiga história de amor urbano por grandes obras que unem políticos, empreiteiros e especuladores imobiliários. No epílogo, predomina o caos no Rio pós-olímpico.  Entre responsáveis destacam-se o PT, o PMDB, o PCdoB e o PRB (atual Republicanos). Juntaram-se para injetar 80% dos recursos públicos num bairro, a Barra da Tijuca, onde vivem apenas 5% da população.

Alguns enriqueceram, como o ex-governador Sérgio Cabral. Empreiteiras e empresas de ônibus lucraram dançando quadrilha à direita, ao centro e à esquerda. Especuladores imobiliários embolsaram cerca de R$ 4 bilhões em negócios no eixo Barra-Recreio. E a burocracia partidária ampliou empregos bem remunerados na miríade de órgãos estatais.  No jardim das ilusões olímpicas, parcerias público-privadas foram anunciadas como responsáveis por 60% dos gastos totais. Empresas privadas bancariam quase metade do orçamento do legado olímpico. Chegariam a 80% dos investimentos no prodígio de marketing político-imobiliário do Porto Maravilha.

Restou um túmulo financeiro à beira-mar, onde está enterrado um tesouro em papéis da Caixa e do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Mas a morte nem sempre é o fim, e a história prossegue na briga pelo espólio estatal.  O governo Bolsonaro acaba de se juntar à confusão com o recém-criado Escritório de Governança do Legado Olímpico. Ele substitui a extinta Autoridade Olímpica, com 15 antigos oficiais militares a bordo. Por decreto, o Escritório fecha as portas em junho do ano que vem, antes da abertura dos Jogos de Tóquio. A Rio-2016 vai continuar.

José Casado, colunista - O Globo




quarta-feira, 6 de março de 2019

Crivella quer o Porto Jogatina

Cariocas são obrigados a suportar fantasias e empulhações do prefeito do Rio

Num mesmo dia, o prefeito Marcelo Crivella disse que "o Rio de Janeiro é o epicentro da corrupção" e anunciou um futuro radiante para o projeto do Porto Maravilha. Prometeu R$ 10 bilhões em investimentos com a construção de duas torres de hotéis, um centro de convenções e... um cassino. O prefeito do "epicentro da corrupção" defende a legalização da jogatina para salvar um projeto megalomaníaco atolado na zona portuária da cidade. Isso num estado que tem dois governadores presos, e foram apanhados em roubalheiraa dezenas de deputados, secretários do governo e conselheiros do Tribunal de Contas. Dois cardeais da sacrossanta Arquidiocese de d. Eugênio Salles viram suas atividades tisnadas por malfeitos de pessoas que lhes eram próximas. Tudo isso sem que o jogo seja legalizado.
Um policial militar que trabalhou com a família Bolsonaro e orgulhou-se de "fazer dinheiro" ainda não ofereceu uma versão consistente para explicar suas movimentações financeiras. Um capitão da tropa de elite da PM teve a mãe e a mulher empregadas no gabinete do filho do presidente. Alcunhado "Caveira", o oficial foi expulso da corporação e está foragido. Ele era donatário de uma milícia da cidade. [Bolsonaro é o único empregador que é responsável pelo que seus empregados (dele ou de seus familiares) fazem após deixar o emprego.]
O Rio de Janeiro elegeu um juiz para o governo do estado. Outro policial, que se apresentava como seu consultor para assuntos de segurança, está na cadeia, acusado de extorsão. Na última eleição esse policial foi candidato a deputado federal pelo partido do governador. O filho do presidente homenageou-o numa sessão da Assembleia Legislativa. Sem cassinos, o Rio já está assim. Nenhuma pessoa de boa-fé pode acreditar que alguma coisa melhorará com estímulos à jogatina e a abertura de lavanderias de dinheiro. Ao crime organizado Crivella que juntar o jogo legalizado. O prefeito não joga, não fuma, não bebe e sabe que está apenas criando uma nova miragem para uma cidade ludibriada por fantasias como as da Copa do Mundo e da Olimpíada. De miragem em miragem o Rio vive uma eterna Quarta-Feira de Cinzas. Crivella sabe que a reabertura dos cassinos depende da aprovação de uma lei pelo Congresso. Conhecendo a tessitura do crime organizado na cidade, dificilmente Jair Bolsonaro perfilhará a legalização do jogo.
No mundo real, a única pessoa tenuemente interessada nas torres e no cassino prometidos por Crivella é o bilionário americano Sheldon Adelson, que tem complexos de turismo e jogo em Las Vegas, Macau e Singapura. Ele começou a trabalhar aos 12 anos (tem 85) e já juntou US$ 33,3 bilhões (R$ 125,7 bilhões). É um campeão da causa de Israel e a ele se atribui a abertura dos cofres de muitos republicanos para Donald Trump. É também um protetor do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu. Dele viriam os R$ 10 bilhões imaginados por Crivella.
O Porto Maravilha de Eduardo Paes atolou porque era um projeto demófobo. O Rio da zona portuária nunca poderia ter sido o que é o Puerto Madero argentino, como a Barra da Tijuca nunca será uma Miami. Aquela área está num bairro popular e centenário. Quem quiser conferir, que ande pelas ruas da Gamboa e de São Cristóvão. A megalomania imobiliária encalhou porque foram poucos os interessados em levar suas empresas para lá. Ali, o povo do Rio sempre viveu em casas modestas. Miami é em outro lugar.
Na região do Porto Maravilha construíram-se dois novos museus. A poucos quilômetros dali, pegou fogo o Museu Nacional. (Quarenta anos antes, incendiou-se o museu de Arte Moderna. Ganha um fim de semana em Caracas quem souber de outra cidade com semelhante desempenho.)
 
 

sábado, 14 de março de 2015

Será o PORTÃO MARAVILHÃO um novo PETROLÃO - PT? ou um novo MENSALÃO - PT?

As chances de que os questionamentos, pertinentes, apresentados na matéria adiante, possam ser respondidos com a simples e lógica dedução que as escolhas questionadas tiverem como único objetivo criar obras - bancadas pela Caixa Economica Federal, portanto, com recursos públicos - para movimentar a corrupção institucionalizada no Brasil, nos moldes do MENSALÃO - PT e PETROLÃO - PT.

Sabe-se que a Caixa Economica Federal já está sendo  alvo do TCU por criar uma Empresa para Propósito Específico, o que equivale, por baixo dos panos, em bom português: a Caixa criou uma empresa que permite evitar licitações.

Com a corrupção que assola o País, institucionalizada desde 2003, é perfeitamente normal que o Porto Maravilha seja na realidade o PORTÃO MARAVILHOSÃO para acesso ao mundo maravilhoso com  mais fontes de corrupção.

Deu no O Globo:

Luiz Fernando Janot

O jogo jogado

Na contramão da tendência mundial, o Rio optou por concentrar na Barra da Tijuca a maioria dos seus equipamentos olímpicos

Desde as grandes obras realizadas no Rio durante os governos Carlos Lacerda e Negrão de Lima, na década de 1960, não se assistia a tantas intervenções urbanas acontecendo ao mesmo tempo. O fato de a cidade ter sido eleita para sediar as Olimpíadas de 2016 foi fundamental para alavancar esse conjunto de realizações. Não obstante o otimismo quanto ao sucesso a ser alcançado por ocasião do evento, paira no ar uma expectativa em relação ao legado que essas obras deixarão para a cidade e para a sua população. Este aspecto poderia ter sido contemplado previamente se o projeto da nossa candidatura tivesse a transparência desejada. Infelizmente, o caráter sigiloso que pautou a formulação da proposta impediu que as soluções apresentadas fossem amplamente discutidas e avaliadas, sobretudo pelo viés urbanístico. 

Se os equipamentos olímpicos ficassem concentrados na região portuária, certamente, os benefícios para a cidade, para a Região Metropolitana e para o grande contingente de pessoas que se desloca diariamente dos subúrbios e municípios vizinhos para o Centro teriam sido bem mais proveitosos. Bastava concentrar investimentos na melhoria da rede ferroviária e na sua integração com o metrô. Mas, para aquela área já havia sido prevista uma operação urbana consorciada concedendo a um consórcio de empreiteiras a responsabilidade pela sua reurbanização e gestão por um período de 15 anos, com recursos repassados pela Caixa Econômica Federal.

Independentemente dos bons resultados que as obras do “Porto Maravilha” começam a apresentar, não há como deixar de manifestar certa preocupação com o impacto que os megaempreendimentos imobiliários planejados para aquela localidade irão provocar no restante da área central da cidade. Haverá demanda suficiente para absorver a imensa oferta de imóveis comerciais e empresariais idealizados para o local? Ou, para compensar, será estimulada a transferência de instituições e empresas instaladas no antigo Centro, como é o caso do Banco Central e de algumas empresas privadas?

Vemos ainda, como agravante, a possibilidade de esvaziamento de alguns prédios na área central da cidade que são hoje ocupados pela Petrobras e por empresas coligadas em virtude da crise recessiva em que ela se encontra. Acrescente-se a este fato a notícia divulgada recentemente na imprensa de que a Vale estaria transferindo alguns dos seus setores para a Barra da Tijuca.  Fica então a pergunta: será que, em meio à atual perspectiva de recessão, teremos investidores nacionais e estrangeiros interessados em ocupar os megaempreendimentos imobiliários previstos no projeto do Porto Maravilha? Ou será que, no final das contas, veremos a Caixa Econômica segurando o mico até que a situação econômica melhore? 

Continuar lendo ................................  Luiz Fernando Janot é arquiteto e urbanista

 lfjanot@superig.com.br