O principal problema ético-político do PT é que o pedaço da sociedade
que se desiludiu com o partido é incapaz de reconhecer nele disposição para
evoluir. E a legenda é incapaz de demonstrá-la. Surgiram no final de semana
duas novas evidências de que a rotina do PT virou um pesadelo do qual a direção
partidária já não faz muita questão de acordar. O PT emitiu nota oficial para
rebater entrevista na qual o governador petista da Bahia, Rui Costa, ousou
expor à revista Veja uma raridade no petismo: bom senso. De resto, o PT
celebrou entrevista de Lula ao jornal argentino Página 12. Nela, o mártir
petista recobriu-se de autoelogios. Enalteceu seus feitos no poder como se não
houvesse roubalheira e Dilma Rousseff.
Rui Costa
disse, entre outras coisas:
1) que o PT deveria apresentar "propostas
concretas" em vez de "ficar só na negativa";
2) que a adesão ao
"Lula Livre" não deveria ser condição para a formação de uma frente
oposicionista;
3) que o apoio incondicional ao regime bolivariano da Venezuela
é "um problema". O partido não deu o braço a torcer. Lula declarou:
"Gerei 22 milhões de empregos, aumentei o salário mínimo em 75%.
Disponibilizei 52 milhões de hectares de terra para fazer a reforma agrária.
Fiz o maior programa social em toda história do Brasil. […]. Esse foi o crime
que eu cometi."
O PT
bateu bumbo como se confundisse memória fraca com consciência limpa. Apagou da
lembrança horrores como o mensalão, o petrolão, a gestão empregocida de Dilma.
Tudo isso está vinculado a Lula. Os escândalos têm raízes fincadas nos dois
mandatos da divindade petista. É de autoria de Lula a lenda segundo a qual
Dilma seria uma supergerente. Embora o petismo ainda não tenha notado, o PT
perde espaço na preferência do eleitorado há uma década. Lula prevaleceu em
2002 e 2006 com 61% dos votos válidos. Em 2010, Dilma foi enviada ao Planalto
com 56%. Em 2014, Dilma amealhou 52%.
Na
disputa de 2018, Fernando Haddad obteve 44,87% dos votos válidos. A derrota
para Bolsonaro atrasou o relógio do PT para 1989, quando Lula amealhara 47% dos
votos, perdendo para Fernando Collor, com 53%. O eleitorado cobra do PT, em
prestações, a fatura dos seus descalabros. Ainda que Haddad tivesse vencido, o
partido precisaria parar de arrastar as correntes de Lula. Com a derrota, a
legenda deveria se dedicar a uma fisioterapia política que lhe permitisse andar
sem a sua muleta. Mas o petismo parece não ter aprendido nada com os seus
fracassos.
Blog do Josias - Josias de Souza, jornalista - UOL