Fábio Prieto, ex-presidente do TRF3, afirma: “A pior, e mais perigosa, demagogia foi operada com o assembleísmo corporativo vestindo a pele da democracia. Algumas associações assumiram discurso de sindicato. Há presidentes de associações dando palpite sobre tudo. Ora, é proibido ter sindicalização de juiz”, diz desembargador
Há quase tantas associações de juízes no
Brasil como queijos na França. E olhem que lá existem regras para
“controlar a origem” do produto. Por aqui, nem isso. As associação têm
caráter obviamente sindical, embora juízes não possam se sindicalizar.
Sempre que juízes se manifestam por meio de um “coletivo”, não consigo
evitar o choque mental: ora, se é magistrado, tem de estar pautado apenas pela letra da lei.
Como base nela, faz o que dita a sua consciência, sem ceder ao alarido.|
Desembargador Fábio Prieto: dizendo a coisa certa sobre a Justiça
O Estadão de hoje traz um excelente
editorial intitulado
http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,com-o-dedo-na-ferida,70001954175
“Com o dedo na ferida”. Dá visibilidade ao discurso de posse do
desembargador federal Fábio Prieto, ex-presidente do TRF da 3ª Região,
como juiz efetivo do Tribunal Regional Eleitoral, em São Paulo. Conheço o desembargador Prieto há alguns
anos. É um juiz consciencioso, culto e capaz. E tem a grande virtude de
não falar nem atuar como membro de uma corporação de ofício. Leiam o
editorial.
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Na sexta-feira passada, houve no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) uma sessão um tanto incomum. Ao tomar posse como juiz efetivo do tribunal eleitoral, o desembargador federal Fábio Prieto, ex-presidente do Tribunal Regional Federal (TRF) da 3.ª Região, proferiu um discurso forte contra a sindicalização da magistratura, um tema considerado tabu dentro do Judiciário. Depois, em entrevista ao Estado, o desembargador voltou a falar na necessidade de “superar o modelo corporativo-sindical de Justiça no Brasil”.
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Na sexta-feira passada, houve no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) uma sessão um tanto incomum. Ao tomar posse como juiz efetivo do tribunal eleitoral, o desembargador federal Fábio Prieto, ex-presidente do Tribunal Regional Federal (TRF) da 3.ª Região, proferiu um discurso forte contra a sindicalização da magistratura, um tema considerado tabu dentro do Judiciário. Depois, em entrevista ao Estado, o desembargador voltou a falar na necessidade de “superar o modelo corporativo-sindical de Justiça no Brasil”.
Segundo Fábio Prieto, faz-se necessária
uma reforma da reforma do Judiciário. Apesar da boa-fé de quem promoveu a
reforma de 2004, ela não apenas foi incapaz de vencer os males do
patrimonialismo, do clientelismo, do assembleísmo corporativo e da
burocratização, como “contribuiu muito para reforçá-los”, disse o novo
juiz do TRE. A título de exemplo, o desembargador citou a estrutura de
controle do Judiciário, com seus quatro conselhos – Conselho Nacional de
Justiça (CNJ), Conselho da Justiça Federal (CJF), Conselho Superior da
Justiça do Trabalho (CSJT) e Conselho Nacional do Ministério Público
(CNMP). “O modelo com quatro conselhos é desperdício de dinheiro
público”, disse.
“Somados os quatro conselhos de Justiça,
o Brasil deve ter um dos maiores e mais caros sistemas de controle e
fiscalização judiciária do mundo. Com tal fragmentação, os órgãos são
necessariamente disfuncionais, com decisões contraditórias e
inconciliáveis”, afirmou Fábio Prieto. O resultado é claro: “Passados 13
anos, com custos econômicos astronômicos, estes conselhos não zelaram,
sequer, pela fixação do teto salarial”, disse o ex-presidente do TRF da
3.ª Região. Para desfazer qualquer dúvida sobre a origem do problema,
acrescentou: “A composição dos conselhos é vulnerável ao
corporativismo”.
Além da estrutura de controle cara e
disfuncional, Fábio Prieto denunciou a prática da sindicalização da
magistratura, “um vício novo e extremamente perigoso para a sociedade
brasileira”. “A Reforma de 2004 reproduziu, no Judiciário, o modelo
sindical brasileiro, cartorial e indutor de lideranças medíocres,
incapazes de formular uma proposta séria e aceitável de sistema de
justiça.” Raro nas altas esferas do Judiciário, o diagnóstico é também
preciso, mostrando os efeitos perversos desse mal que tanto avançou na
última década sobre a magistratura.
“A pior, e mais perigosa, demagogia foi
operada com o assembleísmo corporativo vestindo a pele da democracia”,
afirmou o desembargador. “Algumas associações assumiram discurso de
sindicato. Há presidentes de associações dando palpite sobre tudo. Ora, é
proibido ter sindicalização de juiz”, disse Fábio Prieto ao Estado. “O
juiz não pode estar gritando sobre o que o deputado está fazendo, sobre o
que o empresário está fazendo, sobre o que o jornalista está fazendo.
Esse não é o nosso papel.”
É cada vez mais rara essa consciência
sobre os diferentes papéis institucionais numa sociedade democrática.
Tornou-se habitual confundir democracia com ativismo e indiferença aos
limites institucionais, sem atinar para o fato de que um Estado
Democrático de Direito exige estrito respeito às esferas de atuação de
cada instituição. “O juiz tem de fazer sentença, e o desembargador tem
de fazer voto. É essa a nossa função”, disse Fábio Prieto na entrevista.
No entanto, “há juízes que não fazem uma sentença há cinco, dez anos.
Vivem de sinecura em sinecura”.
Longe de proteger a democracia, o
corporativismo dos juízes é um perigo para o bom funcionamento das
instituições. “O Judiciário e as Forças Armadas são as chamadas
instituições garantidoras de última instância do próprio sistema
democrático. É por isto que não há democracia interna nos tribunais e
nos quartéis. (…) É grave e distinta a responsabilidade social, com a
democracia, destes profissionais públicos”, disse o novo juiz do TRE.
Corajoso, esse bom senso anda fazendo
falta ao País e à magistratura, cuja expressiva maioria de juízes sérios
e trabalhadores não é representada pelo corporativismo espalhafatoso de
algumas associações.
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo
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