O cidadão Eduardo Villas Bôas poderia
compartilhar suas preocupações, mas não em nome do Exército, tampouco às vésperas
do julgamento de habeas corpus impetrado pelo ex-presidente Lula
[O cidadão que veste farda, general
Eduardo Villas Boas, por não ser um cidadão de segunda classe, tem
direito a expressar suas opiniões. Pode falar em nome do Exército, por ser o
Comandante da Força Terrestre. Seria sem noção ele fazer comentários que
possam dar a impressão de tratar de determinado acontecimento, dias após o
transcurso do evento.]
O cidadão
Eduardo Villas Bôas poderia compartilhar suas dúvidas sobre quem pensa "no bem do país e das
gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais". Mas o general Eduardo Villas
Bôas, comandante do Exército, não deveria.
Eduardo
Villas Bôas poderia compartilhar "o anseio de todos os cidadãos de bem
de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição", mas não em nome
do Exército, tampouco às vésperas do julgamento de habeas corpus impetrado pelo
ex-presidente Lula.
O general
avançou o sinal da Constituição, mesmo que isso tenha acontecido impulsionado
por reais preocupações com desdobramentos decorrentes da concessão do habeas corpus pelo Supremo, numa quebra
injustificável da jurisprudência da Corte, de que sairá
vitoriosa a impunidade.
As
instituições republicanas estão suficientemente fortes para, por meio da
Constituição, contornar-se qualquer recuo na luta contra a corrupção. A
mesma Carta a que estão submetidas as Forças Armadas, sob comando do poder
civil. Não cabe a um chefe militar opinar sobre questões políticas ou
judiciais.
Quaisquer
que fossem suas intenções, a manifestação foi inadequada.
O
Globo