José Casado
Governadores têm aprovação até 30 pontos acima do presidente
A sociedade se move. De Manaus a Porto Alegre, incontáveis voluntários, líderes religiosos, comunitários e empresariais multiplicam a coleta de alimentos e de kits de higiene para áreas onde o poder público não alcança, porque delas sempre se manteve distante — salvo nas ações de repressão policial.
[Sempre bom ter presente que pesquisas e panelaços possuem algum valor - pesquisas quando acertam - em época de eleições e os panelaços quando um presidente está sendo julgado por impeachment.
Até 2022, muita coisa vai mudar.
As pesquisas realizadas no final de 2019 e inicio de 2020 não expressaram as profundas mudanças que a pandemia já causou, está causando e ainda vai causar.
A desmoralizar os panelaços, as imagens veiculadas quando são noticiados são sempre dos mesmos locais.]
A maioria reage, mostram pesquisas recebidas no Planalto. Indicam um presidente em derretimento na própria base. O Datafolha (20/3) confirma: entre aqueles que assumem ter votado em Bolsonaro, 15% declararam-se arrependidos. Não é irreversível, mas é a fotografia eleitoral mais recente. Isso equivale à perda potencial de 8 milhões de votos sobre os 57 milhões de 2018. [Vencido o coronavírus, o presidente Bolsonaro terá fôlego mais que suficiente para reverter este quadro.
Tem mais: ainda que tirasse dos quase 58.000.000 de votos esses oito milhões, o presidente Bolsonaro ficaria um pouco a frente do poste petista.
Ninguém em sã consciência vai considerar que todos os votos 'perdidos' seriam herdados pelo candidato segundo colocado.
Imperioso perceber que agora, no apogeu da pandemia, tudo conspira contra o presidente, cessando a praga...]
A corrosão é visível nos estados, onde governadores têm aprovação até 30 pontos acima do presidente. [governador ter 30%, ou 50%, nada significa para o presidente Bolsonaro - são patamares diferentes, os governadores ínfimos diante do capitão.] Na raiz está a imprevidência. Um mês atrás (20/2), Bolsonaro insuflava protestos contra o Congresso e o Supremo, atacava governadores ameaçados por motins de PMs e calculava eventuais prejuízos à reeleição com avanço do PIB a 2% no ano.
Convenhamos que comparar a Alemanha com o Brasil herdado pelo presidente Bolsonaro é forçar a barra.]
José Casado, jornalista - O Globo