É preciso ficar atento ao que não está evidente nos levantamentos em andamento por esses dias e o que eles deixam de oferecer em um período ainda pré-eleitoral.
O mais sensato a observar é que as principais
variáveis que desenham um quadro sucessório real ainda seguem fora do
jogo. A citar, por exemplo, tempo de exposição na TV, o desenrolar da
campanha, a rede de apoios locais e nacionais, as alianças partidárias, a
qualidade dos programas apresentados, a empatia dos candidatos. Há
muitos fatores que pesam quando o confronto de fato toma corpo. Daí a
concluir que os candidatos hoje na dianteira levarão a melhor vai um
redondo engano. Pesquisas de opinião nessa etapa miram o retrovisor, o
“recall” dos nomes apresentados e eventuais tendências futuras de
comportamento do eleitor. Para a elaboração de um cenário seguro são
poucos ou ralos os ingredientes disponíveis no momento. Como será a
pegada da campanha?
Pró-moralização, de discursos extremos ou
conciliatórios? De debates polarizados ou difusos? E a reação dos
eleitores a eventuais denúncias, ao grau de empatia dos postulantes, às
declarações fora de hora ou politicamente incorretas? Não existe
efetivamente massa crítica nesse sentido que consolide as preferências
ou resistências. Nada está posto e definitivamente ninguém está
garantido ou descartado para a reta final do segundo turno – caso ele
aconteça. Colocado assim, é possível discorrer sobre o que essas
pesquisas preliminares trazem de sinal. E até mesmo interpretar certas
“surpresas” que aparecem com elas. Sobre o sinal, latente e inegável:
não é de hoje, e tem avançado a cada nova consulta, a intenção do
eleitorado de pender para “o novo”, para a figura do “outsider”,
quaisquer que sejam suas vertentes ideológicas. Bolsonaro está nessa
categoria, Alvaro Dias idem e agora até o ex-ministro do STF, Joaquim
Barbosa, pode ser enquadrado no parâmetro de opções fora do quadrado
previsível das grandes agremiações partidárias que no último par de
décadas dominou a disputa. [devemos ter presente que o fato do pré candidato estar entre os primeiros colocados não implica necessariamente que ele vai cair mais adiante;
ninguém pode garantir que 2018 não será o ano em que o pré candidato vira candidato na liderança e leva a eleição no primeiro turno;
absurdo é alguém considerar o Álvaro Dias um candidato viável e capaz de, se fosse eleito, realizar um bom governo;
Joaquim Barbosa não tem a menor chance, caso seja candidato - nem ele sabe se será.]
O caso de Barbosa é sintomático de outro
desejo que prevalece entre os que irão às urnas. O anseio por Justiça,
moralidade e ética na política. O ex-ministro, sem nem sequer ter
apresentado seu nome formalmente ou oficializado a chapa presidencial do
partido pelo qual pretende concorrer, já partiu com quase 10% nas
diversas hipóteses formuladas na consulta da Folha de S. Paulo. Mais que
surpreendente, é revelador. Barbosa encarna, não apenas na trajetória
humilde e no currículo de conduta sem máculas, um ideal moralizante. [saiba mais sobre Joaquim Barbosa e seu apartamento em Miami e sua firma cujo endereço no Brasil era o apartamento funcional de Joaquim Barbosa.] Ele
é o próprio representante da lei na corrida, digamos assim.
O sonho
dourado que de fato tomou mentes e corações dos brasileiros atende pelo
nome de Sergio Moro. Mas tal juiz está fora da parada. Declinou e nem
tem planos nessa direção. Barbosa, ao contrário, afastou-se
estrategicamente de suas funções como magistrado há algum tempo,
preparou-se e flertou com a política em diversas de suas declarações. É a
opção talhada para o anseio que se apresenta a varejo. Nem por isso
terá vida fácil. Seu pouco traquejo com o meio e a postura um tanto
quanto destemperada que mostrou em várias ocasiões pode prejudicá-lo na
hora de colocar a cara a bater junto ao grande público.
Surpreendentemente, persiste uma quantidade em escala industrial de
candidatos à presidência. No posto de saída largam quase 20 entre os
mais conhecidos – número semelhante ao verificado nas eleições de 1989,
que trouxe um amplo leque de 23 postulantes, de Brizola e Ulysses a
Collor e Lula, uma festa para todos os gostos e colorações partidárias.
Decorre daí, dessa diversidade de opções, um certo nanismo dos índices de pontuação de cada um até aqui – boa parte marcando menos de 5% ou até traço, a maioria com 1% a 2% de média. Prova irrefutável da indefinição, tanto de quem vota quanto dos nomes que efetivamente estarão na urna e nos santinhos na hora que a corrida começar de fato. Os indicadores ainda estão verdes, o quadro é prematuro e muitos dos contendores ainda seguem desconhecidos. As peças do tabuleiro mudarão muito mais adiante. As convenções da maioria das siglas estão para acontecer. De um fato é possível ter certeza: tucanos e petistas só irão, de novo, polarizar as atenções caso consigam arrebatar para suas hostes as peças historicamente aliadas, mas que até aqui parecem almejar voo solo na próxima disputa. O MDB segue como fiel da balança. Lançou a reeleição do presidente Temer como alternativa, trabalha no plano “B” com o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, mas pode na hora final dar um cavalo de pau e retornar ao seu papel tradicional de base de sustentação da chapa vencedora.
Se ficar firme na decisão de lançar nome próprio pode rachar a argamassa que liga o centro. Nessa hipótese o imponderável tomará conta. A disputa presidencial de 2018 é decerto a maior incógnita eleitoral das últimas décadas. E parece confirmar a distância abissal que existe entre o que o público eleitor almeja e o que as variadas siglas oferecem. Se tucanos e petistas tivessem trabalhado novas lideranças provavelmente não se encontrariam no impasse verificado atualmente e estariam em condições mais competitivas. Hoje o PSDB teme o rescaldo do escândalo do mensalão mineiro e o pouco entusiasmo que o nome Alckmin desperta na maioria. O PT, aprisionado na figura de seu líder absoluto, condenado, ficha-suja e preso Lula, pode chegar lá na frente sem ter o que fazer para postular o Planalto. A brecha que se abriu entre os dois polos é estrategicamente ocupada, na largada, por Joaquim Barbosa.
Em um país conflagrado pelo extremismo, crescem também as chances de um candidato de direita ultraconservadora, como Jair Bolsonaro – mesmo trazendo um discurso radical e ofensivo e não testado pra valer nas ruas. [o que importa ao eleitor é que as propostas de Bolsonaro para o combate ao crime, permitir que pessoas de BEM portem armas - hoje apenas bandidos e policiais podem portar/possuir armas - recuperar valores caros à MORAL e aos BONS COSTUMES, são medidas viáveis e bem-vindas.] O ex-militar está praticamente se cacifando a um lugar no segundo turno. [se houver segundo turno; Bolsonaro pode ganhar já no primeiro.] Por enquanto, perde para quase todos no mano a mano, caso realmente alcance essa etapa. Terá uma forte alternativa de esquerda a contrapô-lo? E quanto ao centro? Marchará com uma opção de consenso, sem a qual dificilmente irá para as cabeças do páreo? As dúvidas prevalecem. As pesquisas ainda não são capazes de decifrá-las.
IstoÉ - Carlos José Marques, diretor editorial da Editora Três
Decorre daí, dessa diversidade de opções, um certo nanismo dos índices de pontuação de cada um até aqui – boa parte marcando menos de 5% ou até traço, a maioria com 1% a 2% de média. Prova irrefutável da indefinição, tanto de quem vota quanto dos nomes que efetivamente estarão na urna e nos santinhos na hora que a corrida começar de fato. Os indicadores ainda estão verdes, o quadro é prematuro e muitos dos contendores ainda seguem desconhecidos. As peças do tabuleiro mudarão muito mais adiante. As convenções da maioria das siglas estão para acontecer. De um fato é possível ter certeza: tucanos e petistas só irão, de novo, polarizar as atenções caso consigam arrebatar para suas hostes as peças historicamente aliadas, mas que até aqui parecem almejar voo solo na próxima disputa. O MDB segue como fiel da balança. Lançou a reeleição do presidente Temer como alternativa, trabalha no plano “B” com o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, mas pode na hora final dar um cavalo de pau e retornar ao seu papel tradicional de base de sustentação da chapa vencedora.
Se ficar firme na decisão de lançar nome próprio pode rachar a argamassa que liga o centro. Nessa hipótese o imponderável tomará conta. A disputa presidencial de 2018 é decerto a maior incógnita eleitoral das últimas décadas. E parece confirmar a distância abissal que existe entre o que o público eleitor almeja e o que as variadas siglas oferecem. Se tucanos e petistas tivessem trabalhado novas lideranças provavelmente não se encontrariam no impasse verificado atualmente e estariam em condições mais competitivas. Hoje o PSDB teme o rescaldo do escândalo do mensalão mineiro e o pouco entusiasmo que o nome Alckmin desperta na maioria. O PT, aprisionado na figura de seu líder absoluto, condenado, ficha-suja e preso Lula, pode chegar lá na frente sem ter o que fazer para postular o Planalto. A brecha que se abriu entre os dois polos é estrategicamente ocupada, na largada, por Joaquim Barbosa.
Em um país conflagrado pelo extremismo, crescem também as chances de um candidato de direita ultraconservadora, como Jair Bolsonaro – mesmo trazendo um discurso radical e ofensivo e não testado pra valer nas ruas. [o que importa ao eleitor é que as propostas de Bolsonaro para o combate ao crime, permitir que pessoas de BEM portem armas - hoje apenas bandidos e policiais podem portar/possuir armas - recuperar valores caros à MORAL e aos BONS COSTUMES, são medidas viáveis e bem-vindas.] O ex-militar está praticamente se cacifando a um lugar no segundo turno. [se houver segundo turno; Bolsonaro pode ganhar já no primeiro.] Por enquanto, perde para quase todos no mano a mano, caso realmente alcance essa etapa. Terá uma forte alternativa de esquerda a contrapô-lo? E quanto ao centro? Marchará com uma opção de consenso, sem a qual dificilmente irá para as cabeças do páreo? As dúvidas prevalecem. As pesquisas ainda não são capazes de decifrá-las.
IstoÉ - Carlos José Marques, diretor editorial da Editora Três