Guilherme Fiuza
O confronto entre Suplicy e Mercadante é o fato mais marcante da nação desde o assassinato de Odete Roitman
Era um evento de lançamento de um suposto programa de governo — de mentira, claro, como tudo que vem do PT. Mas aí surgiu a verdade. Com Mercadante presidindo os trabalhos numa grande mesa em “U” — ou seja, um filme de época (ruim) —, Suplicy se insinuou no espaço vazio, se projetou como elemento surpresa no vão central do “U” e se postou de pé diante de um Mercadante sentado e perplexo. Aí se impôs, gloriosa e inexorável, a verdade.
Suplicy emergindo do nada como um monstro do Lago Ness para esculhambar Mercadante não tem preço
Basicamente, numa tradução livre do falatório, Suplicy acusou Mercadante de só pensar nele, e Mercadante replicou acusando Suplicy de só pensar nele. Até que enfim, a verdade! Não foi bem isso que eles disseram, mas foi. Suplicy protestou contra a exclusão da sua proposta de renda básica na formulação do programa petista e reclamou da arrogância de Mercadante, afirmando que sequer foi convidado para o evento. Mercadante tratou Suplicy como um intruso personalista, dizendo que o evento tinha convidados demais e a lista não era problema dele.
Ou seja: o embate foi um resumo do fisiologismo petista — cada um acusando o outro de só olhar para o seu umbigo, ambos repletos de razão.
Visitar o museu da impostura não deixa de ser pedagógico. Voltar a ver um Mercadante, a estátua do economista de papelão, associado a todas as teses esdrúxulas, obtusas, anacrônicas e estúpidas que subsidiaram tudo que deu errado na economia nacional é como ter a chance de estar diante de um dinossauro extinto pelo meteoro da Lava Jato. E, como diria Dilma Rousseff (se lhe dessem a chance), o que está extinto já se extinguiu. Se reaparece, é assombração.
Mas, por incrível que pareça, mesmo uma assombração pode passar despercebida — e é por isso que Mercadante deve tudo a Suplicy. O tal sujeito detido pelos seguranças petistas por chamar Lula de corrupto não daria uma fração da repercussão que o evento obteve. Suplicy emergindo do nada como um monstro do Lago Ness para esculhambar Mercadante — com sua famosa fala modorrenta e interminável — não tem preço e não se encontra em museu nenhum de Paris ou Nova York.
Se é para avacalhar a eleição presidencial e fingir que o futuro está condenado ao passado, pelo menos tragam os fantasmas mais divertidos.
Leia também “Vocação para o engano”
Guilherme Fiuza, colunista - Revista Oeste