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segunda-feira, 27 de junho de 2022

Barraco no museu - Revista Oeste

 Guilherme Fiuza

O confronto entre Suplicy e Mercadante é o fato mais marcante da nação desde o assassinato de Odete Roitman 

O debate entre Aloísio Mercadante e Eduardo Suplicy tirou o Brasil do marasmo. Até que enfim alguma coisa relevante na política brasileira. Ninguém aguentava mais essa oposição xexelenta de dorias, leites, moros, randolfes e companhia limitada, limitadíssima. 
Chegou finalmente a hora da verdade: o confronto entre Suplicy e Mercadante é o fato mais marcante da nação desde o assassinato de Odete Roitman.
Eduardo Suplicy interrompe reunião da chapa Lula-Alckmin na terça-feira 21 | Foto: Reprodução
Eduardo Suplicy interrompe reunião da chapa Lula-Alckmin na terça-feira 21 -  Foto: Reprodução
 
Tudo começou com mais um evento fechado de bajulação a Lula, o ladrão honesto que trocou o xadrez pelo cárcere itinerante em que se transformou sua vida. 
Em qualquer lugar onde não tenha povo ele pode estar. 
A qualquer lugar onde não tenha gente livre e trabalhadora ele pode ir. 
De claque em claque, de cenário em cenário, de gaiola chique em gaiola chique, de chiqueiro de luxo em chiqueiro de luxo, de confraria 171 em confraria 171vai o herói dos cínicos, com a desenvoltura dos que se casaram em comunhão de bens com a mentira. Aí apareceu o invasor.
 
Mas não fez tanto sucesso assim. Invadir um evento de aclamação da picaretagem com uma câmera de celular para chamar Lula de corrupto não chega a ser uma apoteose. Esse invasor foi logo contido. 
Apoteótica mesmo foi a aparição inesperada de outro invasor — Eduardo Suplicy, que surgiu como um raio em câmera lenta desafiando Aloísio Mercadante. Isso muda o mundo.

Era um evento de lançamento de um suposto programa de governo de mentira, claro, como tudo que vem do PT. Mas aí surgiu a verdade. Com Mercadante presidindo os trabalhos numa grande mesa em “U” — ou seja, um filme de época (ruim) —, Suplicy se insinuou no espaço vazio, se projetou como elemento surpresa no vão central do “U” e se postou de pé diante de um Mercadante sentado e perplexo. Aí se impôs, gloriosa e inexorável, a verdade.

Suplicy emergindo do nada como um monstro do Lago Ness para esculhambar Mercadante não tem preço

Basicamente, numa tradução livre do falatório, Suplicy acusou Mercadante de só pensar nele, e Mercadante replicou acusando Suplicy de só pensar nele. Até que enfim, a verdade! Não foi bem isso que eles disseram, mas foi. Suplicy protestou contra a exclusão da sua proposta de renda básica na formulação do programa petista e reclamou da arrogância de Mercadante, afirmando que sequer foi convidado para o evento. Mercadante tratou Suplicy como um intruso personalista, dizendo que o evento tinha convidados demais e a lista não era problema dele.

Ou seja: o embate foi um resumo do fisiologismo petista — cada um acusando o outro de só olhar para o seu umbigo, ambos repletos de razão.

Visitar o museu da impostura não deixa de ser pedagógico. Voltar a ver um Mercadante, a estátua do economista de papelão, associado a todas as teses esdrúxulas, obtusas, anacrônicas e estúpidas que subsidiaram tudo que deu errado na economia nacional é como ter a chance de estar diante de um dinossauro extinto pelo meteoro da Lava Jato. E, como diria Dilma Rousseff (se lhe dessem a chance), o que está extinto já se extinguiu. Se reaparece, é assombração.

Mas, por incrível que pareça, mesmo uma assombração pode passar despercebida — e é por isso que Mercadante deve tudo a Suplicy. O tal sujeito detido pelos seguranças petistas por chamar Lula de corrupto não daria uma fração da repercussão que o evento obteve. Suplicy emergindo do nada como um monstro do Lago Ness para esculhambar Mercadante — com sua famosa fala modorrenta e interminável — não tem preço e não se encontra em museu nenhum de Paris ou Nova York.

Se é para avacalhar a eleição presidencial e fingir que o futuro está condenado ao passado, pelo menos tragam os fantasmas mais divertidos.

Leia também “Vocação para o engano”

Guilherme Fiuza, colunista - Revista Oeste


sábado, 15 de julho de 2017

Temer e Lula, os irmãos camaradas


Lula acha Temer inocente. Ambos se acham vítimas de perseguição política e judiciária. Ambos sonham com 2018

“Você meu amigo de fé, meu irmão camarada (...)/Me lembro de todas as lutas, meu bom companheiro/Você tantas vezes provou que é um grande guerreiro/O seu coração é uma casa de portas abertas/Amigo, você é o mais certo das horas incertas/Às vezes em certos momentos difíceis da vida/Em que precisamos de alguém pra ajudar na saída/A sua palavra de força, de fé e de carinho/Me dá a certeza de que eu nunca estive sozinho.”

Essa letra de Roberto Carlos, composta há 40 anos em homenagem a Erasmo Carlos, me lembrou a camaradagem recente e de ocasião entre Lula e Temer. No fim de junho, Lula defendeu Temer para uma rádio do Acre: “Se o procurador-geral da República tem uma denúncia contra o presidente da República, ele primeiro precisa provar. Tem de ter provas materiais. Falo isso porque já cansei de ser achincalhado sem ninguém apresentar nenhuma prova. Não adianta dizer que a pessoa cometeu um erro. Até agora Temer é inocente. O Janot não provou nada”.

O ex-presidente Lula acaba de ser condenado por corrupção passiva a nove anos e meio de prisão e vai recorrer. O atual presidente Temer acaba de comandar manobras imorais na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para tentar se livrar da investigação mais grave já aberta contra um governante na história do Brasil. Ambos se consideram vítimas inocentes de delações ilícitas e mentirosas. Ambos se sentem vítimas de conspirações políticas e judiciárias, sem provas materiais.

Os brasileiros, no íntimo, não acreditam que a condenação de Lula pelo tríplex do Guarujá ou futuramente pelo sítio de Atibaia acabe resultando em prisão, mesmo que ele seja impedido de, como réu, se candidatar em 2018. Nem o juiz Sergio Moro ousou decretar prisão preventiva. E Lula já se prepara para sair em caravana no Nordeste. Os documentos sobre o tríplex e o sítio continuam a ser pouca coisa diante da corrupção na Petrobras e da escandalosa promiscuidade com empreiteiras como a Odebrecht e a OAS, envolvendo valores muito mais altos.

Os brasileiros, no íntimo, também não acreditam que o plenário da Câmara, no dia 2 de agosto, contrarie a CCJ e acabe mandando a denúncia contra Temer para o Supremo Tribunal Federal. É que, no íntimo, não se acredita mais em nada. São necessários 342 votos de deputados a favor de ao menos se investigar Temer. Ignorar a delação de Joesley Batista e tudo que circundou esse encontro – de malas de dinheiro a favores – desmoraliza a Lava Jato. Mas nossos representantes nem estão aí.

A camaradagem entre o PT e Temer já havia sido selada por Dilma Rousseff, quando o peemedebista foi escolhido para vice em 2014. Vale a pena ver de novo os vídeos de Dilma no palanque: “Eu tenho um companheiro de chapa, um vice que é uma pessoa experiente, séria (abraços, sorrisos, aplausos de todos e de Lula), que tem uma tradição política, que eu tenho certeza que saberá somar e me substituir à altura quando nós tivermos de viajar para fora do Brasil. O meu vice não caiu do céu, não é um vice improvisado. É uma pessoa competente e um homem capaz”. Lula ergue o punho, Temer também, junto com Dilma. “Um homem capaz de dialogar, de fazer consenso, sobretudo um homem leal, um grande brasileiro. Agradeço a meu parceiro de todas as horas, meu vice Michel Temer.”

Quem estava colado a Lula nesse palanque? Sérgio Cabral, outro amigo de fé e irmão camarada, rindo e fazendo coraçãozinho para a plateia. O mesmo que, agora, preso, enfrenta mais uma acusação, de chegar a ter US$ 120 milhões numa conta no exterior. Em depoimento formal à Justiça, chamou de “uma maluquice essa história de 5%” de comissão em cima de obras no Rio de Janeiro.

O “perseguido” Cabral disse ao juiz Marcelo Bretas, em tom de deboche: “Eu não matei Odete Roitman”. Uma alusão à novela da TV Globo Vale tudo, que conquistou o Brasil em 1988 e 1989. A morte de Odete Roitman (a vilã interpretada por Beatriz Segall) registrou 81 pontos no Ibope. A trama abordou “até que ponto valia ser honesto no Brasil”, disse um de seus autores, Gilberto Braga. Continua valendo tudo, menos ser honesto.

Todos os personagens do nosso presidencialismo de cooptação – e que se incluam aí Aécio Neves, seu relator de estimação da CCJ Abi-Ackel e o resto dos tucanos, bichos em extinção em cima do muro –, amigos de fé, irmãos camaradas, todos eles mataram Odete Roitman.  Mataram nossa crença em algum resquício de ética política. Se a Justiça, com suas instâncias e seus braços, da Procuradoria ao Supremo, não punir de verdade os ladrões de verba pública, que as urnas façam a limpeza em 2018. Que espanem a velha política do conchavo e da propina institucionalizada. Que a camaradagem passe a ser do bem.

Fonte: Ruth de Aquino - Revista Época