Futuro
presidente e governadores precisam construir uma aliança parlamentar sólida e
majoritária a partir de fragmentos políticos
Nesta
segunda-feira, a realidade bate à porta de Jair Bolsonaro e dos 14
governadores estaduais eleitos no domingo. Eles vão descobrir que o eleitorado
entregou o governo, mas sonegou-lhes o poder. São coisas diferentes,
interdependentes. Agora, precisam batalhar para conquistá-lo. Para
começar, precisam negociar maiorias no Legislativo, porque sem elas não
governam. E o problema é que o eleitorado usou o voto para implodir o sistema
partidário. Levou 30 partidos para a Câmara, plantou 21 no Senado e 31 nas
assembleias estaduais.
O
resultado foi o fracionamento do poder político. Exemplo: é do PT a maior
bancada na Câmara, com 56 deputados que detêm apenas 11% dos votos num plenário
de 513 parlamentares. No Senado, o MDB ganhou a primazia com 12 vagas, o
equivalente a 15% do 81 senadores. Essa
lógica se reproduziu nos estados e no Distrito Federal, onde foram eleitos
1.059 deputados. Os resultados dos partidos, individualmente, são modestos.
O MDB
ficou com o maior agrupamento parlamentar estadual: 93 deputados, ou 8,7% do
total — sua maior bancada está Santa Catarina (22,5% do plenário).
Já o PT
ficou em segundo lugar na disputa pelos legislativos estaduais, com 85
deputados, ou 8% do total nacional. Seu melhor desempenho foi na Bahia, onde
conseguiu uma fatia de 16% da assembleia. Sem
construir uma aliança parlamentar sólida e majoritária a partir desses
fragmentos políticos, o futuro presidente e os governadores se arriscam a uma
rápida erosão da legitimidade alentada nas urnas. Bolsonaro,
ontem, deixou entrever sua inquietação: “Todos os compromissos assumidos serão
cumpridos com as mais variadas bancadas” — fez questão de dizer no primeiro
discurso da vitória. Ele saiu das urnas com 57,6 milhões de votos a favor. Foi
rejeitado por 46,8 milhões de eleitores. [a democracia tem dessas coisas, permite a rejeição - tanto que foi devido a falhas da democracia que coisas como Lula e Dilma tiveram oportunidade de conspurcar o cargo de presidente da República (e tiveram êxito);
a democracia não aceita a unanimidade, só em alguns regimes comunistas - com destaque para a Coréia do Norte - é que as eleições apresentam resultado unânime para o presidente.]
A partir de 1º de janeiro, presidente e governadores estarão diante de outra fase da vida real, mais dura, porque apoio eleitoral não é perene e precisa ser revalidado a cada decisão. Ao governante que perder o rumo, principalmente na recuperação da economia, só restará a alternativa de um telefonema aos ex-presidentes Fernando Collor e Dilma Rousseff, para perguntar: “Onde foi que vocês erraram?”
José Casado, jornalista - O Globo