O Palácio do Planalto, ontem, viveu dois tempos bem diferentes. Um pela manhã quando a presidente Dilma ainda exercia o cargo até ser comunicada oficialmente sobre seu afastamento para ser processada pelo Senado. O segundo no final da tarde quando o presidente Michel Temer deu posse aos novos ministros.
Dilma estava de mau humor – Temer, feliz. Dilma estava apressada – Temer sem pressa alguma. Dilma tentava disfarçar seu constrangimento – Temer demonstrava sentir-se à vontade. Ao discursar, Dilma posou de vítima de um golpe, criticou Temer e afirmou que ele acabaria com os programas sociais. Temer manifestou seu respeito por Dilma e garantiu que os programas sociais serão preservados.
A plateia de Dilma era de ex-ministros abatidos e de representantes de movimentos sociais inconformados com o que assistiam. A de Temer, de ministros sorridentes, dispostos a aplaudi-lo, e de políticos dos onze partidos que se dispõem a apoiá-lo. Parte deles jamais pôs os pés ali nos últimos 14 anos.
O que Dilma mais queria era sair logo. Havia retirado previamente seus objetos pessoais e documentos. Os retratos dela nas paredes do palácio começaram a ser retirados à noite. Temer queria ficar. E certamente teria ficado durante mais tempo se não tivesse outro compromisso.
Os dois haviam sido convidados para a posse do ministro Gilmar Mendes na presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Dilma não foi, e nada mais natural que não tivesse ido. Temer foi. E a cerimônia de posse de Gilmar acabou transformando-se de fato na cerimônia de posse de Temer na presidência da República.
Toda a liturgia do poder foi respeitada ao longo da cerimônia. Temer sentou-se à esquerda do ministro Dias Toffoli, que transferiria a presidência do TSE a Gilmar.
Toffoli saudou, primeiro, as demais autoridades, todas elas em trajes formais. Deixou para saudar Temer por último, e ao fazê-lo, chamou-o de professor, lembrou que fora seu aluno na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo, e destacou que ele era o novo presidente da República legitimado pelos votos que o elegeram e a Dilma.
Em seguida, Toffoli pediu que todos se pusessem de pé para ouvir a banda da Marinha tocar a versão completa do Hino Nacional. Após a execução do hino, Gilmar assinou o termo de posse e discursou já na condição de presidente do tribunal. Sustentou que o modelo político eleitoral brasileiro está esgotado, e que “não é produtivo nem atuável, com a criação em série de partidos políticos e de coligações ilegítimas vinculadas e dirigidas não por afinidade programática”. Segundo ele, “esses conchavos, antes de assegurar apoio a qualquer dos atores políticos, corroem a legitimidade e a representatividade popular. Estimulam crimes como a corrupção desenfreada, a falsidade ideológica, a lavagem de dinheiro e a formação de quadrilhas”. E bateu duro naqueles que por desatino “patrocinaram o desconcerto atual”.
Manda o protocolo que os participantes de uma solenidade onde o presidente da República esteja presente só saiam depois que ele for embora. O protocolo foi respeitado.
Fonte: Blog do Noblat