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terça-feira, 7 de novembro de 2023

O ENEM, a redação do ENEM, os valores do ENEM e… Ludmilla - VOZES

Paulo Polzonoff Jr. - Gazeta do Povo

"Ensina-me, Senhor, a ser ninguém./ Que minha pequenez nem seja minha". João Filho.

"O vira do Piranga"

 ENEM Ludmilla

Ludmilla se fantasiou de Whitney Huston para passar vergonha esquecendo a letra do Hino Nacional. Será tão difícil assim?| Foto: Reprodução/ Twitter

1. O ENEM nasceu como Exame Nacional do Ensino Médio, mas essa historinha para boi dormir não engana mais ninguém – se é que enganou algum dia. 
Hoje, o ENEM se tornou símbolo do fracasso que é a transmissão de conhecimento no Brasil e virou Exame Nacional do Energúmeno Médio. Ou, para usar a definição quase perfeita de um amigo, Exame Nacional da Estupidez Militante.

2. O ENEM é o ápice da educação planificada. É uma abominação. É uma confissão de derrota nascida da preguiça de uma sociedade que relegou ao Estado, na figura sentimentaloide dos professores, a educação de sua prole. O ENEM é o apogeu da doutrinação – mas isso é o de menos. O ENEM é o sacrifício anual da vocação para a excelência no altar de um supostíssimo sucesso profissional.

Questão de lógica
3. Está com tempo? Ótimo. Então vamos ler juntos a questão sobre o agronegócio. Vamos ler com calma. “No cerrado, o conhecimento local está sendo cada vez mais subordinado à lógica do agronegócio”, começa o enunciado da questão. Que lógica é essa? Os autores dessa burrice-com-selo-do-MEC parecem pressupor que é a lógica do lucro a qualquer custo. E não é porque Marx ensinou, não. É porque essa gente se olha no espelho e sabe que está disposta a tudo, que paga qualquer preço para se manter no poder. E não consegue conceber um mundo habitado por pessoas que tenham valores menos corrompidos.

4. Adiante, a questão diz que “de um lado, o capital impõe os conhecimentos biotecnológicos”, blá, blá, blá, ”e de outro [que na verdade é o mesmo], o modelo capitalista subordina”, mó, mó, mó, mó [LER COM A VOZ DA PROFESSORA DO CHARLIE BROWN] homens e mulheres à lógica do mercado. Olha ela aí de novo, a tal da lógica como inimiga. Não é à toa. Eles sabem que, para impor o comunismo, é preciso substituir a lógica, qualquer lógica, pela força. Afinal, ironicamente essa é a “lógica” do comunismo: o triunfo da vontade de uns poucos sobre os demais.

5. “Assim, as águas, as sementes, os minerais, as terras (bens comuns) tornam-se propriedade privada”, continua a questão. E, dessa forma, ficamos sabendo que o aluno do ENEM tem de demonizar a propriedade privada simplesmente porque alguém decidiu que as águas, as sementes, os minerais e a terras são “bens comuns”. Provavelmente destinados à exploração sustentável por uma casta de iluminados imunes a qualquer tipo de pecado. E tem gente que ainda acredita nisso.

6. E finalizam a questão com uma lista de outros “fatores negativos”. Fatores negativos de um setor que só tem gerado riqueza e alimentado o mundo. Um setor sem o qual seríamos hoje ainda mais miseráveis do que somos. Um setor que, a despeito da propaganda suja, contribui muito mais para a proteção do que para a devastação do meio ambiente. Um setor cujo pecado é ser bem-sucedido.

7. Mas quais seriam esses fatores negativos? A eles, pois: “a mecanização pesada [é para voltarmos ao tempo do carro de boi? ], a ‘pragatização’ [ãhn?] dos seres humanos e não-humanos [é piada, né? diz que sim, por favor], a violência simbólica [ai!], a superexploração [do quê?], as chuvas de veneno [poesia numa hora dessas?] e a violência contra a pessoa [que pessoa?]”.

Visibilidade
8. Aí teve a redação. O tema era
“Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”. Fiquei pensando, pensando, pensando. E cheguei à conclusão de que provavelmente tiraria ZERO na redação do ENEM porque, para começo de conversa, desde quando “invisibilidade” é um problema? Diria mais. Diria que, no meu mundo ideal, na utopiazinha que também trago comigo, a invisibilidade deveria ser um objetivo – e não só entre as mulheres que cuidam de idosos, crianças e doentes.

9. Insuportavelmente contemporânea é essa obsessão pela visibilidade. Como se só existissem aqueles que são visíveis nas redes sociais ou nas manchetes de jornal ou nos gabinetes da vida. Como se só fossem dignos aqueles que fazem sucesso. Algum tipo de sucesso. O que vai totalmente na contramão de valores como a humildade e a modéstia – duas palavras que os corretores da redação provavelmente desconhecem.

10. Mas suponho que se no meu texto eu propusesse um, sei lá, Only Fans para cuidadoras, enfermeiras e babás, uma plataforma que desse a elas a tão sonhada (e inútil) visibilidade, minhas chances de tirar uma nota alta a fim de continuar meu processo de doutrinação na universidade pública aumentaria bastante, né? Que lástima!

Ludmilla
11. A especialista em lacração e dublê de cantora Ludmilla foi a escolhida para interpretar o Hino Nacional
antes do Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1. Mas teria sido melhor se ela tivesse tentado cantar o hino durante a corrida. 
Assim pelo menos o tal do ronco dos motores teria abafado o vexame do episódio
Porque Ludmilla simplesmente se esqueceu da letra. 
Nem o embromation básico ela conseguiu entoar.

12. Ludmilla que, se calhar, vira tema de redação do ENEM ano que vem. “Desafios para o enfrentamento da tirania do conhecimento e do talento a que são submetidas as cantoras de funk no Brasil”. Ou qualquer outra balela do tipo. Duvida?


quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Pedofilia em alta no Planalto - Posse de ministra da Mulher tem homenagem à autora que defendia pedófilos

Ninguém nasce mulher, torna-se mulher. A fala é da francesa Simone de Beuvoir, uma das principais teóricas da segunda onda do feminismo. Na terça-feira 3, a citação da feminista aconteceu durante a cerimônia de posse da nova ministra da Mulher do governo Lula, Aparecida Gonçalves. Na ocasião, a cantora Myrla Muniz bradou a frase de Simone antes de começar a cantar o Hino Nacional. Cida, por sua vez, foi uma das poucas pessoas do palco que bateu palmas para a citação.

 Simone provou que jamais teve nenhum tipo de compaixão pelas mulheres

Simone provou que jamais teve nenhum tipo de compaixão pelas mulheres -  Foto: Reprodução/Pinterest 

Segundo o livro Uma Relação Perigosa, da historiadora Carole Seymour-Jones, Simone venerada pelas feministas deste século — defendia pedófilos condenados ao lado de seu companheiro, o filósofo Jean-Paul Sartre. Ambos já assinaram uma carta pedindo a revogação de uma lei que classificava como estupro os atos sexuais cometidos com menores de 15 anos. Na opinião da feminista, crianças de 11 anos já eram sexuais.

Juntos, Simone e Sartre mantinham relações com diversas alunas menores de idade. Segundo o livro, era Simone quem atraía as meninas, pois a aparência do filósofo causava repulsa nas jovens. Olga Kosackiewicz, a primeira vítima, chegou a se auto-mutilar com queimaduras e cortes na pele, pois se recusava a manter relações sexuais como Satre. No entanto, ela e Simone mantinham. 
Na obra Memórias de Uma Moça Malcomportada, a filha de refugiados judeus Bianca Lamblin contou tudo o que passou nas mãos do casal. Bianca foi a terceira vítima de ambos, sendo que a própria Simone a apresentou para o companheiro “distrair-se”.

Diferentemente de Olga, Bianca, que também era menor de idade, teve relações sexuais com Sartre. “A camareira do hotel vai ficar surpresa, pois ontem mesmo tirei a virgindade de outra menina”, disse o filósofo para Bianca antes de sua primeira relação sexual com ele. Com o passar do tempo, Bianca, Olga e tantas outras meninas foram descartadas pelo casal. Em suas memórias, Bianca contou: “A perversidade foi cuidadosamente escondida debaixo do exterior manso de Sartre e da suave aparência séria e austera de Beuvoir”.

Conforme escreveu a deputada Ana Caroline Campagnolo (PL-SC) no livro Feminismo: Perversão e Subversão, Simone provou que jamais teve nenhum tipo de compaixão pelas mulheres e que nunca mediu esforços para agradar os desejos de Sartre. Ao que parece, essa feminista é o ideal de mulher defendido e cuidado pelo Ministério da Mulher do governo Lula.

 
Redação - Revista Oeste

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Em última propaganda, Bolsonaro exalta pátria brasileira

No vídeo, o Hino Nacional é recitado por pessoas que representam a diversidade brasileira 

O presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), durante seu último programa eleitoral | Foto: Reprodução

O presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), durante seu último programa eleitoral | Foto: Reprodução 

Na última propaganda eleitoral das eleições de 2022, o presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), exaltou a pátria brasileira e a gestão econômica durante a pandemia de covid-19. O programa foi exibido nesta sexta-feira, 28. “No tocante à economia, fizemos o que era necessário”, declarou o chefe do Executivo. “Criamos programas e planos para que milhões de empregos não fossem destruídos. Também criamos o auxílio emergencial de R$ 600. Nós ainda conseguimos colocar o preço dos combustíveis lá em baixo.”

O presidente ainda destacou que “fala palavrão, mas não é ladrão”, desculpou-se pelo seu “jeitão” e atacou Lula (PT), candidato à Presidência. “O outro candidato fala manso, mas enrola o povo”, disse a locutora da campanha. “Ele foi condenado, preso e nunca vimos ele pedir desculpas. Ao contrário, ele diz que é a alma mais honesta do país.”

As estrelas brasileiras também não ficaram de fora do último programa de Bolsonaro. Famosos como o cantor Gusttavo Lima; Bruno (da dupla Bruno&Marrone); e o jogador de futebol Neymar Jr apareceram em apoio ao presidente.

“O nosso hino é o mais belo do mundo”, afirmou Bolsonaro. “Ele une a todos nós nos momentos de alegria, em que devemos lutar pela nossa pátria. A nossa liberdade acima de tudo.”

Em seguida, o Hino Nacional é recitado por pessoas que representam a diversidade brasileira. Cidadãos comuns que possuem orgulho da sua pátria. “A esperança nos move. A fé nos une. Muito obrigada a todos vocês. Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, conclui o presidente da República, Jair Messias Bolsonaro.


quarta-feira, 27 de julho de 2022

Bandeira é nosso símbolo maior. Pisoteá-la é uma agressão a todos - Alexandre Garcia

Os símbolos são importantes. As pessoas os têm, as famílias, as empresas, as religiões, os clubes esportivos. E o nosso símbolo maior é a bandeira, como é a constituição, como lei maior. Pisotear uma e outra são agressões a todos nós 

A juíza gaúcha que ameaçou proibir a Bandeira Nacional e a cantora brasileira, [deveria ser punida no mínimo com cassação da nacionalidade brasileira,se tornando uma apátrida.] num palco californiano, pisoteou a bandeira de seu próprio país, levaram para o topo as atenções nas redes sociais o nosso símbolo nacional. 
Ainda menino, via meu avô hastear a bandeira na fachada de casa em todos os feriados nacionais e durante a Semana da Pátria
no grupo escolar, ainda nos anos 40, hasteávamos e arriávamos a bandeira todos os sábados, cantando o Hino Nacional e o Hino à Bandeira — que tem letra de Olavo Bilac. Eu ainda não tinha 2 anos de idade, e Sílvio Caldas gravava Fibra de herói, com simples e bela letra do poeta Theófilo Barros Filho e  música do consagrado maestro Guerra Peixe.
 
Hoje, os quartéis adotaram a vibrante Fibra de herói, que tem por estribilho Bandeira do Brasil/Ninguém te manchará/Teu povo varonil/Isso não permitirá.  
Na época, o mundo estava em guerra, mas o Brasil ainda não, embora naquele ano tenha sido afundado o primeiro mercante brasileiro. Hoje há uma quase guerra por causa da eleição de outubro, e ações contra a bandeira têm causado indignação ou indiferença. Eu me senti pisoteado. 
Cheguei a tuitar que a cantora pisoteava meus avós, meus pais, meus filhos — todos simbolizados pelo auriverde pendão da esperança, do poema de Castro Alves. Porque ela simboliza todos nós, brasileiros — os vivos, os mortos e os que vão nascer. Li que a cantora fora beneficiada com R$ 1,9 milhão da Lei Rouanet em 2011, quando a tia dela era ministra da Cultura. Assim, ela não pisoteava a bandeira, mas esperneava sobre o símbolo do Brasil. [não tínhamos conhecimento da existência da tal cantora, até desconhecíamos o nome da infeliz que tão grave ofensa causou a milhões e milhões de brasileiros; desejamos que  não retorne ao Brasil e passe a residir na Coréia do Norte.]
 
A juíza gaúcha, coitada, recebeu um chega-pra-lá do TRE; a cantora alega que se arrependeu no momento seguinte, passando atestado de ciclotimia grave. Elas não têm noção sobre os valores da nacionalidade, as raízes que nos unem num país. 
Os símbolos são importantes. As pessoas os têm, as famílias, as empresas, as religiões, os clubes esportivos. 
E o nosso símbolo maior é a bandeira, como é a Constituição, como lei maior. Pisotear uma e outra são agressões a todos nós. 
São amálgamas, que nos unem, numa época em que parece haver no Ocidente um movimento que visa à separação, ao apartheid, quem sabe para nos enfraquecer. Divide et impera
Ou seja, fracciona uma nação, separando seus nacionais, para facilitar a tomada do poder e impor a vontade do conquistador.
 
A bandeira tem quatro cores. As cores dos brasileiros têm todos os tons de pele, numa mistura genética que formou uma gente bonita, graciosa, bondosa, muito especial, a ocupar este país-continente tropical. 
Quando estudávamos nossos heróis, no grupo escolar, Marcílio Dias me impressionava, porque defendeu a bandeira que os inimigos queriam arrancar do mastro de seu navio
E morreu misturando seu sangue com as cores do pavilhão sagrado, verde-e-amarelo. 
A juíza e a cantora que atacaram a bandeira servem para sacudir nossas consciências a lembrar que somos todos guarda-bandeiras e que a indiferença de muitos mostra que o nosso símbolo maior — que nos une na união que faz a força — está esquecido nas escolas e, talvez, em nossas casas.

 Alexandre Garcia, colunista - Correio Braziliense

 

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Os brasileiros saíram da caverna - Ana Paula Henkel

Revista Oeste

Aqueles que vivem na ignorância resistem à verdade. Mas não tem jeito, muita gente já descobriu que as sombras refletidas na parede não eram reais 

Desde o começo de 2020, quando a pandemia assustou o mundo, uma nova rotina de viagens e protocolos draconianos foram instaurados, e eu não consegui mais ir ao Brasil. Depois de quase dois anos sem pisar na terra que habita o meu coração, finalmente pude passar três semanas entre os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, além de uma rápida ida a Brasília. E que três semanas!
 
Foto: Shutterstock
 
Foto: Shutterstock

Logo nos primeiros dias, participei da edição brasileira do CPAC (Conservative Political Action Conference) em Brasília. 
O CPAC nos Estados Unidos, agora levando suas franquias por vários países do mundo, é uma conferência política anual com a presença de ativistas conservadores, políticos de todo os Estados Unidos e de outros lugares, e é organizado pela American Conservative Union (ACU). Fundado em 1974, o CPAC tem servido como um barômetro para o movimento conservador norte-americano — e agora mundial. Ronald Reagan, o 40º presidente norte-americano, discursou na cerimônia de estreia e, com 13 aparições, foi o presidente que mais participou do evento.

Já em Brasília, percebi que alguma coisa está transformando o brasileiro em um apaixonado por política. Política mesmo, com todo o pacote histórico global. Talvez a eleição de 2018 tenha contribuído com essa percepção, mas creio que há algo maior nesse “despertar”. Percebi que não havia uma idade média dos participantes nesta edição do CPAC, e isso foi muito marcante para mim. Tive a chance de bater bons papos com pessoas de 15, 20, 40 e até 75 anos! Adolescentes contando que haviam feito trabalhos na escola sobre o legado de Reagan, Winston Churchill, Margaret Thatcher e até sobre o brilhante pensador contemporâneo Thomas Sowell. Nem em meus mais profundos sonhos imaginei estar discutindo Reagan, que aprendi a admirar ouvindo histórias com o meu pai, com adolescentes no Brasil. Em Brasília, discutimos liberdade, responsabilidade, Constituição, perseverança para mudar os ares políticos no Brasil e planos, muitos planos. Saí da capital federal com o coração transbordando esperança e caí no histórico 7 de Setembro de 2021 na Avenida Paulista.

Ainda tento encontrar palavras para descrever o que vi e senti naquele dia. Como todos sabem, não foi um 7 de Setembro comum. Havia muito em jogo. Havia uma mensagem a ser entregue. 
Havia uma ferramenta de freios e contrapesos em nossa Constituição para ser usada entre os Poderes da República que foi ignorada. 
E há o povo, com seu poder supremo. E que povo! 
Quarteirões e quarteirões de povo. Não, não li na outrora relevante imprensa sobre o evento com “pouco mais de 100 mil pessoas”. Eu estava lá. E andei… e andei… e andei por muitos quarteirões lotados de gente de todas as idades até conseguir entrar na Avenida Paulista. 
As ruas pareciam o auditório do CPAC em Brasília elevado a sei lá que potência. Muita gente pequena, gente grande, gente jovem e idosos, negros, brancos, gays, héteros, pobres e ricos. Todos de verde e amarelo. Nunca havia visto nada igual.
 
Não consegui evitar que passasse pela cabeça um longo filme de 24 anos como atleta profissional.  
Todas aquelas viagens pelo mundo, todas elas com um uniforme verde e amarelo que transbordava orgulho da mala.  
Nosso Hino Nacional tocava em alguns carros espalhados pela Paulista, e o filme olímpico com nosso hino nos pódios insistia em voltar para trazer algumas lágrimas que tentei esconder. Estava em uma grande — na verdade, gigantesca — delegação olímpica pelo Brasil. A maior e mais bonita delas. E não havia lixo jogado nas ruas, baderna, vandalismo, brigas e discussões. Havia um grande senso de civilidade e responsabilidade, tão forte que poderia quase ser tocado no ar. Havia uma paixão profunda encrustada nos rostos das pessoas. Elas tinham o mesmo semblante de quando tirávamos da mala nossos uniformes novos com a bandeira do Brasil bordada na manga, como as que os soldados usam em seus uniformes nas guerras.

Às vezes, a cabeça ficava vazia, sem pensamentos. Eu apenas entrava em estado de transe diante de tantas imagens de que jamais esquecerei, tantas nuances de verde e amarelo, tantos sorrisos. Sim, sorrisos apesar de tudo que estamos vivendo no Brasil. Todas as incongruências dos parlamentares, as canetadas nada republicanas do STF com todo o seu descaso com a nossa Constituição. E, tentando decifrar aquela avalanche de informações em forma de imagens sobre a nova realidade do brasileiro e sua paixão pelo país e pelas ferramentas que podem transformá-lo em nação, lembrei de uma passagem da obra-prima do filósofo grego Platão, A República.

A “Alegoria da Caverna” é provavelmente uma das histórias mais conhecidas de Platão, e sua colocação em A República é significativa. A República é a peça central da filosofia de Platão, preocupada principalmente em como as pessoas adquirem conhecimento sobre beleza, justiça e o bem. A “Alegoria da Caverna” (ou Mito da Caverna) usa a metáfora dos prisioneiros acorrentados no escuro para explicar as dificuldades de alcançar e manter um espírito justo e intelectual.

A subida para fora da caverna é a jornada da alma na região do inteligível

A alegoria é apresentada em um diálogo entre Sócrates e seu discípulo Glauco. Sócrates diz a Glauco para imaginar pessoas vivendo em uma grande caverna subterrânea, que só é aberta para o exterior no fim de uma subida íngreme e difícil. 
A maioria das pessoas na caverna é de prisioneiros acorrentados de frente para a parede posterior, de modo que não podem se mover nem virar a cabeça. Uma grande fogueira queima atrás deles, e tudo o que os prisioneiros podem ver são as sombras brincando na parede à sua frente. Eles foram acorrentados nessa posição durante toda a vida, desde a infância. Há outras pessoas ali dentro carregando objetos, mas tudo que os prisioneiros podem ver são suas sombras. Alguns deles falam, mas há ecos que tornam difícil para os prisioneiros entenderem quem está dizendo o quê.

Em seguida, Sócrates descreve as dificuldades que um prisioneiro pode ter para se adaptar à libertação quando ela acontece. Quando vê que há objetos sólidos na caverna, e não apenas sombras, fica confuso. Os instrutores podem dizer a ele que o que viu antes era uma ilusão, mas, a princípio, ele presumirá que sua vida sombria era a realidade. Eventualmente, será arrastado para fora e ficará dolorosamente deslumbrado pelo brilho do sol e atordoado pela beleza da lua e das estrelas. Assim que se acostumar com a luz, terá pena das pessoas no interior da caverna e desejará ficar fora e longe delas, não pensando mais nelas e em seu próprio passado.

No capítulo seguinte de A República, Sócrates explica o que quis dizer, que a caverna representa o mundo, a região da vida que nos é revelada apenas pelo sentido da visão. A subida para fora da caverna é a jornada da alma na região do inteligível. O caminho para o esclarecimento é doloroso e árduo, diz Platão, e exige que façamos quatro estágios em nosso desenvolvimento: a prisão na caverna (o mundo imaginário, aquele que nos foi vendido como a única opção desde cedo), a libertação das correntes (a entrada no mundo real), a subida para fora da caverna (o mundo das ideias) e o caminho de volta para ajudar nossos companheiros.

Nessa passagem da obra-prima A República, creio que seja pertinente observarmos que a educação é dolorosa. Por mais confinado que seja o mundo lá embaixo diante da parede, ninguém sai da caverna feliz. O processo de aprendizagem envolveu o reconhecimento do homem de que tudo o que ele aprendeu ou ouviu na vida e tudo o que ele pensava ser verdade eram uma ilusão — nada além de sombras de coisas reais. Pode ser doloroso ser levado à verdade. Por muitas vezes, ela é acompanhada pela desconfortável compreensão de nossa própria ignorância e pelo fato de que muitas de nossas crenças e suposições mais queridas e mais íntimas eram falsas. O processo de aprendizagem muitas vezes envolve desafios, suas pressuposições fundamentais e, em última análise, desistir do que era caro para cada um de nós. E esse processo pode ser perturbador.

Na obra como na vida real, quando o prisioneiro é libertado e arrastado para fora da caverna, ele está cego e confuso pela luz, e pode resistir a ser levado para fora. No entanto, eventualmente, seus olhos se ajustam para que ele possa ver as coisas ao seu redor, e até mesmo o próprio sol. Quando o homem volta para a caverna é ridicularizado e até ameaçado de violência. As pessoas na caverna dizem que não querem sair, que querem ficar com o que é familiar, sem correr o risco de pensar em desistir de algo maior. Muitos podem até responder com ódio ou violência se empurrados para a verdade.

E fica cada dia mais claro. Aqueles que vivem na ignorância, na militância ou na prostituição intelectual resistem à verdade. Mas não tem jeito. Milhões de brasileiros saíram da caverna e descobriram que as sombras refletidas na parede não eram reais, que fomos manipulados e empurrados por tempo demais para que não chegássemos à superfície para apreciar o sol. O último 7 de Setembro mostrou que o Brasil não vai mais voltar para a escuridão.

Leia também “A história como liderança”


Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste


quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Dilma tentou assassinar Nelson Rodrigues com requintes de crueldade

Augusto Nunes

O gênio sobreviveu à nulidade

O genial Nelson Rodrigues protagonizou tantos e tão admiráveis assombros que sobreviveu à morte física: seu último dia de vida foi também o da estreia na eternidade. O Nelson dramaturgo inventou o teatro com diálogos em português do Brasil. O ficcionista devassou o universo habitado por aquela que muitos anos depois seria batizada de “nova classe média”. O cronista que via a vida como ela é criou metáforas luminosas, frases imortais, imagens sublimes, personagens que resumem não o que os nativos gostariam de ser, mas o que efetivamente são. E o apaixonado por futebol descobriu, por exemplo, que “a mais sórdida pelada é de uma complexidade shakespeariana”. Fora o resto.

Quem usa a cabeça para pensar sabe que alguém assim talvez não caiba num livro com a espessura da Bíblia. O cérebro baldio de Dilma Rousseff achou possível espremer Nelson Rodrigues num parágrafo que irrompeu, sempre caindo de bêbado, no meio de qualquer discurseira sem pé nem cabeça. Por algum motivo misterioso, em setembro de 2012 ela deu de exumar, para tratar invariavelmente a pauladas, o escritor que teve a sorte de partir sem conhecer a doutora em nada. Dilma precisou de dois ou três palavrórios para deixar claro que nunca leu Nelson Rodrigues. Ou passou os olhos e não entendeu nada.

Em março de 2013, por exemplo, a presidente descobriu uma frase famosa de Nelson: “O escrete é a pátria em chuteiras”, reiterava o cronista quando se referia à Seleção Brasileira. [Registro: a Seleção Brasileira referenciada na frase do genial Nelson era a seleção do século passado e não o timinho ridículo de hoje. 
A diferença entre àquela SELEÇÃO e o timinho do Tite, é que aquela tinha craques e a de hoje tem pernas de pau, vendidos...nós, flamenguistas, agradecemos quando os nossos jogadores não são convocados para estragar a imagem e a moral no timinho.] Na gíria do futebol, escrete é sinônimo de time. Na cabeça avariada da inventora do dilmês, a pátria em chuteiras virou “a pátria de chuteiras”. Um mês mais tarde, Dilma fundiu a expressão mutilada e uma teoria celebrizada pelo cronista para incluir a maluquice na selva de vogais e consoantes que tentava louvar a Copa de 2014 e a seleção de Luiz Felipe Scolari. Reproduzido sem retoques nem correções pelo Portal do Planalto, o discurso improvisado por Dilma assassinou com requintes de selvageria Nelson Rodrigues, o raciocínio lógico e a língua portuguesa. Trecho:

“Uma outra coisa importantíssima surgiu no Brasil, importantíssima. E eu vou falar o que é. Ela está ligada, de uma certa forma, a uma crônica feita por um senhor que se tivesse nascido em qualquer lugar de língua inglesa seria considerada gênio lá. Ele fez uma crônica ─ ele chamava Nelson Rodrigues, ele era muito engraçado ─ ele fez uma crônica que chamava “Complexo de Vira-lata”. Ele dizia que ─ isso foi na época, se eu não me engano, do jogo com a Suécia, final com a Suécia, não tenho certeza, mas foi na final, um pouco antes da final com a Suécia ─ ele fez uma crônica que ele dizia o seguinte: que o Brasil tinha complexo de vira-lata e que ele não podia ter complexo de vira-lata, e que a equipe era boa, tanto que a equipe era boa que ela era boa tecnicamente, taticamente, fisicamente, artisticamente. Tanto é que nós dessa vez ganhamos a Copa. Mas ele sempre falava desse complexo de vira-lata que pode… a gente pode traduzir como um pessimismo, aquela pessoa que sempre acha que tudo vai dar errado, que ela é menor que os outros. E ele dizia uma coisa, e eu queria dizer isso para vocês. Ele dizia que se uma equipe entra… eu não vou citar literalmente, não, mas se uma equipe entra para jogar com o nome Brasil, se ela entra para jogar com o fundo musical do Hino Nacional, então ela é a pátria de chuteiras”.

Semanas depois, ao festejar em Brasília a reabertura do Estádio Mané Garrincha, Dilma emocionou-se com o monumento à ladroagem e espantou a plateia com uma triangulação envolvendo a oradora, o cronista e o artista do drible. Confira: “O Garrincha, na sua simplicidade, era um jogador que demonstrou que o Brasil não era de maneira alguma, nem tinha por que, era um vencedor, e não tinha porque ter esse arraigado complexo de vira-lata que o nosso cronista esportivo Nelson Rodrigues, um dos maiores teatrólogos do nosso país, nas vésperas da Copa do Mundo, da Copa da Suécia, denunciou a existência pela quantidade de gente que previa um fracasso”.

 Eis aí uma cretina fundamental!, teria exclamado Nelson se confrontado com a deformação delirante do que escreveu em 1958 — meses antes do início da Copa da Suécia, não às vésperas da final. O complexo de vira-lata se limitou ao País do Futebol. Surgido em 1950, quando a derrota na final contra o Uruguai transformou o brasileiro no último dos torcedores, o fenômeno foi revogado dez anos depois pelo triunfo na Copa da Suécia. Na Era PT, o que assolou estes trêfegos trópicos foi o oposto do complexo de vira-lata. Foi a síndrome do Brasil Maravilha, uma disfunção produzida por ilusionistas de picadeiro que induziu os muito malandros e os imbecis de nascença a enxergar um jovem ricaço no pobretão que trajava um fraque puído nos fundilhos.

Farsas desse gênero vicejam mais facilmente em terrenos adubados por velhas crendices. O brasileiro aprende ainda no útero que nossa bandeira é a mais bonita do mundo, embora ninguém se atreva a sair por aí combinando uma camisa azul e uma calça verde com o paletó amarelo. Aprende no berço que nosso hino é o mais bonito do mundo, muitos sustenidos e bemóis acima da Marselhesa. Aprende no jardim da infância que Deus é brasileiro, e portanto deve-se aguardar dormindo em berço esplêndido a chegada do futuro. Não é surpreendente que, no auge da popularidade de Lula, apenas 4% dos nativos tenham continuado a ver as coisas como as coisas são e a contar o caso como o caso foi.

Esses teimosos 4% seguiram vendo o Brasil em que metade da população estava excluída da rede de coleta de esgotos e distribuição de água tratada. Continuaram a enxergar a incompetência dos governantes, a inépcia dos oposicionistas, a corrupção endêmica, as fraturas do sistema de saúde, o sistema de ensino em frangalhos, os mais de 14 milhões de brasileiros incapazes de ler ou escrever, os incontáveis analfabetos funcionais, a economia à deriva, os morros sem lei, as fronteiras desguarnecidas, as organizações criminosas em expansão, a demasia de horrores a combater e tumores a extirpar. O rebanho seguiu balindo o mantra: se melhorar, estraga. O padrinho de Dilma fez de conta que todos os pobres tinham sido promovidos a gente de classe média. A afilhada de Lula fingiu ter erradicado a miséria. E os dois recitavam que só quem tinha complexo de vira-lata não conseguia contemplar a edição melhorada de Pasárgada parida pelo presidente que nunca leu um livro e aperfeiçoada pela presidente que jamais pronunciou uma frase com começo, meio e fim. Só poderia dar no que deu.

A síndrome do Brasil Maravilha apressou o parto da política externa da canalhice, fruto do cruzamento da soberba com a ignorância. Lula não viu diferenças entre os ódios milenares que separam árabes e judeus e a troca de desaforos numa briga de casal em Sapopemba. Por nunca ter folheado um livro de História nem dado as caras numa aula de Geografia, informou na Jordânia que, aos olhos dos brasileiros, “árabe é tudo turco”. Salvou-o o intérprete que certamente sabia o que ocorreu durante o Império Otomano. Por escassez de neurônios, Dilma Rousseff baixou por lá recomendando o diálogo com os psicopatas do Estado Islâmico. Gentis, os anfitriões evitaram sugerir-lhe que fizesse o primeiro contato. Entre nós: para uma Dilma, a perda da cabeça não faz falta alguma.

Gente que pensa há séculos se aflige com três enigmas: 
quem somos?; de onde viemos?; para onde vamos? 
Se tais perguntas forem formuladas num botequim do Brasil deste estranho 2020, ao menos uma resposta estará na ponta da língua de todos os frequentadores. Eles decerto ignoram quem somos e para onde vamos. Mas todos já sabem de onde viemos: do imenso buraco negro escavado durante 13 anos por um corrupto irrecuperável, uma nulidade insolente e um bando de comparsas vigaristas.

Daqui a 500 anos, como a maior parte da obra de Shakespeare, não estarão grisalhos os melhores momentos de 17 peças, 9 romances, 7 livros de contos e crônicas e milhares de artigos em jornais escritos por Nelson Rodrigues. O legado impede a morte de um gênio. A criatura que não sabe juntar sujeito e predicado logo estará enterrada, ao lado do criador, na vala comum das velhacarias históricas. Para Nelson Rodrigues, a seleção era a pátria em chuteiras, a dar botinadas em todas as direções. Dilma e Lula são a pátria de ferraduras. De ferraduras e pisoteando com ferocidade todas as formas de vida inteligente.

Revista Oeste - Augusto Nunes, jornalista  

 

 

domingo, 6 de setembro de 2020

De retrocesso em retrocesso - Eliane Cantanhêde

O Estado de S.Paulo

Sem Lava Jato e com ‘fiscais do Messias’, logo chegaremos a 1980. Viva o Centrão!
Além da pandemia, que parece arrefecer, mas já matou mais de 125 mil brasileiros, o Brasil convive neste momento com ameaças a vários alvos bem definidos: Lava Jato, reforma administrativa, ministro Paulo Guedes e liberalismo do governo, vacinação em massa contra a covid-19 e preços de alimentos. Pairando sobre tudo isso, um mesmo fantasma que insiste em rondar o País: retrocesso.

[talvez por uma falha 'neuronal', lemos no subtítulo "1980" como  'setembro 1964', ou 'dezembro 1968' = datas em que medidas corretivas sérias foram adotadas no Brasil, que muitos, erroneamente e mal orientados - emprenhados pelos ouvidos -  consideram retrocesso.
ENGANO!

- Apesar do acerto do apresentado na segunda frase do penúltimo parágrafo, o subtítulo se refere a 1980 = Sarney, o 'criador' do engodo "fiscais do Sarney", foi presidente de 85 a 90 (surgindo no seu governo a  famigerada Nova República), assim perde sentido envolver o presidente Bolsonaro com aquela malfadada atividade de fiscalização exercida por alguns cidadãos nos tempos do Plano Cruzado;

- Considerar que a segunda turma do STF é pró-réu, também não parece acertado - aquela turma tem dois ministros que costumam votar a favor dos réus e dois que votam diferente, o que produz um empate levando a uma situação comum em julgamentos = o empate favorece o réu.
Situação que ocorre por falha no RISTF, que poderia estabelecer que  quando uma turma - em função de afastamento temporário de um dos seus integrantes,  devido a razões de saúde - passasse a julgar com número par de excelências,  um outro ministro do STF ou do STJ fosse convocado.
O silêncio regimental leva a que seja seguido o principio: 'empate favorece o réu';
- o Centrão entra de graça na matéria, talvez mais para uma 'malhada' no presidente Bolsonaro = algo tipo um estertor dos derrotados.] 

O cerco à Lava Jato une a esquerda de Lula à direita de Bolsonaro, PGR, ministros do Supremo, cúpula e líderes do Congresso e parte da mídia, com tudo caminhando para um gran finale de efeitos explosivos: o julgamento sobre a suspeição do ex-ministro Sérgio Moro nas condenações do ex-presidente Lula, que passaria de réu a vítima e de preso a candidato. O aperitivo foi quando a Segunda Turma do STF, por empate, que é pró-réu, anulou as condenações do Banestado e depois sustou ação penal contra o ministro do TCU Vital do Rêgo. A sobremesa, em cascata, será quando os advogados entrarem aos montes com recursos (que já devem estar prontos) pedindo “isonomia” para os seus presos e condenados.

“Se estava tudo tão errado assim na Lava Jato, vamos ter de soltar o Sérgio Cabral e devolver o dinheiro, mansões, lanchas, joias e diamantes do Sérgio Cabral?”, adverte um ministro do próprio Supremo, refletindo um temor que cresce na opinião pública na mesma rapidez com que caem os instrumentos e agentes da Lava Jato.

Já a reforma administrativa, que nove entre dez autoridades reconhecem como “fundamental”, mas só de boca para fora, está sem pai e sem mãe. O presidente Jair Bolsonaro, que trancou a proposta por dez meses, não quer e vai querer cada vez menos mexer com o funcionalismo – ou qualquer coisa que possa ameaçar sua reeleição em 2022. E Paulo Guedes e Rodrigo Maia, ambos fortemente a favor da reforma, romperam bem na hora decisiva.

Ex-Posto Ipiranga e ex-superministro, Guedes promete muito, entrega pouco, perdeu as graças do presidente, rompeu com a ala forte do governo e agora se mete numa briga juvenil com o homem-chave das reformas e do seu futuro no governo. E de um jeito ridículo. Proibir seus secretários de conversar com o presidente da Câmara?! Bem, Maia apresentou uma reforma da própria Câmara e foi cuidar da reforma tributária. Guedes que se vire. Com quem? Não se sabe.

E que tal ter na Presidência alguém que usa o cargo para fazer propaganda de um medicamento sem comprovação científica em nenhuma parte do mundo e para desestimular o uso obrigatório da vacina para livrar o País da maldição da covid-19? Por quê? Porque ele governa o Brasil misturando seus achismos com conselhos de terraplanistas que apostavam em no máximo 2.100 mortos. Já chegam a 125 mil, mas Bolsonaro continua firme com eles.

A última do presidente é apelar para o “patriotismo” dos donos de supermercados para segurar os preços. 
É evidente que a disparada dos preços já começou, em função de pandemia, dólar, estoques da China. 
E que o governo não tem ideia do que fazer. Além de apelar a empresários, talvez seja hora de orar. Milhões de pessoas sem emprego, com alta de preços de arroz, feijão e óleo... Boa coisa isso não dá.

Como alertou o colega José Fucs, é a volta aos anos 1980. A polícia (ou o Exército?) laçando bois no pasto, “fiscais do Messias” prendendo gerentes nos supermercados ao som do Hino Nacional. Nada com liberalismo, tudo com populismo e perfeitamente de acordo com cegueira ideológica, meio ambiente, Educação, saúde, política externa, cultura, inclusão, respeito à divergência, combate à corrupção e... censura quando se trata de Flávio Bolsonaro. De retrocesso em retrocesso, logo chegaremos a 1980. E viva o Centrão. 

Eliane Cantanhêde, colunista - O Estado de S. Paulo



segunda-feira, 6 de abril de 2020

O risco de não entender - Fernando Gabeira

Em Blog


sábado, 4 de abril de 2020

Carreata na Esplanada em apoio a Bolsonaro pede reabertura do comércio - CB


Com buzinaço, os carros seguiam um carro de som que bradava palavras de luta pelo direito de voltarem aos trabalhos e, em paradas, tocava o hino nacional

Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro saíram às ruas e foram para a Esplanada dos Ministérios em carreata, na manhã deste sábado (4/4) para pedir o fim do isolamento social e a reabertura dos comércios locais. Com buzinaço, os carros seguiam um carro de som que bradava palavras de luta pelo direito de voltarem aos trabalhos e, em paradas, tocava o hino nacional.

foto: Divulgação/PMDF

[presidente Bolsonaro, por favor, esqueça a oposição, esqueça o Maia e demais opositores - eles são fracos e não merecem atenção agora.
O INIMIGO DE AGORA é o coronavírus e a Covid-19.
Vamos focar no combate ao vírus, no controle da pandemia, vamos  evitar o maior número possível de mortes, controlar os prejuízos na economia e quando conseguirmos isto - com as bençãos de DEUS conseguiremos - então se ainda houver oposição, vamos enfrentá-los.
Agora é desprezá-los - NADA FARÃO contra nós enquanto houver a pandemia.]

Também está marcado outro ato para este domingo (5/4), organizado pelo Movimento Nas Ruas. Publicações no Twitter criticam os decretos estaduais de combate ao coronavírus, por ferirem o “direito de ir e vir”, direito ao comércio, direito à educação e o direito ao culto. No mesmo dia, Bolsonaro convocou a população para um jejum religioso. Na quinta-feira (2/4), o chefe do Executivo havia mencionado a intenção ao dizer que a penitência seria um ato contra o novo coronavírus, “para que o Brasil fique livre deste mal o mais rápido possível”.

Bolsonaro tem sido o maior defensor da reabertura de comércios e da 'volta à normalidade', na contramão do que dizem as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do próprio Ministério da Saúde, pasta sob sua guarda. Nessa sexta-feira (3/4), o presidente voltou a dizer que, caso o país continue seguindo restrição de governadores, com comércios fechados, ‘vai quebrar tudo’.

“É uma decisão do governador [Ibaneis]. Acabei de ver um vídeo dele fazendo um churrasquinho em casa”, afirmou Bolsonaro sobre um vídeo do dia 21 de março, em que o governador de Brasília faz um almoço para família após ter dispensado empregados na residência. “Vocês sabem meu posicionamento. Não pode fechar dessa maneira que atrás disso vem desemprego em massa, vem miséria, vem violência”, apontou.

Bolsonaro disse ainda que parte dos governadores faz ‘demagogia’ com a crise e que há uma ‘disputa entre as autoridades de quem está mais preocupado com a vida de vocês [população]’. No mesmo dia, ao ouvir o apelo de apoiadores na porta do Alvorada para a reabertura de comércios, Bolsonaro disse: “A opinião pública aos poucos está vindo para o nosso lado. O político tem que ouvir o povo. Sabemos que vai ter mortes, ninguém nega isso. Mas morrem de gripe comum, morrem de H1N1”.

Um outro apoiador presente no local disse a Bolsonaro: “Estamos esperando sua voz presidente”. E o chefe do Executivo respondeu: “Vai chegar a hora certa”. Bolsonaro se referiu a um decreto que está sob sua mesa para reduzir o isolamento social. Em entrevista a uma rádio, Bolsonaro reconheceu que ainda não tem o apoio social que gostaria para assinar a medida, mas afirmou que será forçado a "tomar alguma decisão" se "até semana que vem não voltar o trabalho, pelo menos gradativo". 

"Eu tenho um projeto de decreto pronto na minha frente para ser assinado, se preciso for. Considera as atividades essenciais toda aquela exercida pelo homem ou pela mulher e através da qual seja indispensável para levar o pão para casa. Se tiver que chegar esse momento eu vou assinar", afirmou à rádio.

Correio Braziliense


quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Bolsonaro deve estudar seus recuos - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo 

Presidente repetindo bobagens ciclópicas de ministros é coisa rara

A ideia de deixar brasileiros numa área de risco era bobagem em estado puro

Bolsonaro deve estudar seus recuos

Precipitação e insônia os males de Bolsonaro são. Basta que se congelem duas situações irracionais nas quais teve que recuar. Primeiro, a nomeação do peripatético Vicente Santini, demitido depois de seu voo de Davos para Nova Déli e novamente defenestrado. Depois, a declaração de que não poderia resgatar os brasileiros confinados em áreas de risco da China: “Custa caro um voo desses”, disse o capitão depois ter ouvido quatro ministros. Novamente, recuou e fez o certo.  as quais ouviria pessoas em quem confia. No segundo (o dos brasileiros que estão na China), bastaria ficar calado, pedindo aos çábios que lhe sugeriram a omissão que pusessem a cara na vitrine. [o capitão não resistiu ao desejo incontrolável de enfatizar sua firme intenção de evitar desperdicio do dinheiro público e falou sobre custos;

seria mais adequado e realmente correto que considerasse o fato dos brasileiros retidos na China, caso manifestem o vírus, com certeza terão melhor tratamento do que aqui no Brasil

Nosso sistema público de Saúde -  DF e Rio de Janeiro disputando qual consegue ser pior em termos de Saúde Pública - é péssimo e a vinda de suspeitos de serem portadores do coronavírus,vai sobrecarregar mais ainda o já precário atendimento.]
Sempre houve ministros prontos para repetir bobagens ditas por presidentes. Apanham, mas colhem prestígio palaciano. Presidente repetindo bobagens ciclópicas de ministros é coisa rara. Esse foi o caso do “custa caro um voo desses”. A ideia de deixar brasileiros numa área de risco era bobagem em estado puro, e o presidente foi jogado aos leões por um infeliz palpiteiro (ou por felizes palpiteiros que preferiram ficar calados). Bolsonaro mexeu com a relevância do cargo que ocupa.

Não se pode pedir que ele siga os melhores exemplos de seus antecessores, mas pode-se lembrar a conduta de Dom Pedro II numa situação inversa, na qual ele poderia ser suspeito de trazer um micróbio indesejável. Em 1871 o imperador viajava para a Europa como Pedro de Alcântara, um cidadão qualquer, e seu navio aportou em Lisboa. Passageiros vindos do Brasil tinham que se submeter a uma quarentena, indo para o Lazareto. Ofereceram-lhe um passe livre e, em voz alta, ele o recusou, submetendo-se a uma quarentena de que durou oito dias. Escreveria: “Estou no Lazareto, uff!”

Dom Pedro passou para a História escondendo suas opiniões. Bolsonaro quer entrar nela, disparando-as como se fossem rojões de réveillon. Sabe-se que ele padece de um sono irregular. Em março passado, intitulou-se recordista brasileiro de apneia, com 89 interrupções do sono a cada hora. Tomara que resolva esse problema, pois ele mesmo reconhece que fica “saturado”, a ponto de não querer ouvir o que houve no Enem. Uma anomalia do sono pode explicar suas saturações, mas não consegue justificá-las, até mesmo porque, dando-se conta do erro, às vezes dá meia volta.

O exercício de uma presidência espetaculosa é um direito de seu titular e em algumas ocasiões funciona. Tendo nomeado Regina Duarte para a Secretaria da Cultura, Bolsonaro colocou-a debaixo dos holofotes. Por enquanto, a presença da atriz no governo é uma reaparição da Viúva Porcina, da novela “Roque Santeiro”, num cenário vetusto. Como Porcina agradou a uma geração, nada impede que ache um nicho na Secretaria de Cultura. Se não achar, o problema será dela, nem tanto dele. Seu êxtase durante a execução do Hino Nacional numa cerimônia militar em que tinha ao lado o doutor Paulo Skaf pode ter refletido a fé patriótica de uma nova dramaturgia. Bolsonaro pode continuar fazendo o que acha melhor, mas evitará as cascas de banana que sai espalhando pelos lugares onde pretende pisar se tomar uma simples providência: diga o que quiser, mas espere entre seis e 12 horas.

Folha de S. Paulo e O Globo - Elio Gaspari, colunista

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Manifestantes pedem impeachment de ministros do STF - Estadão Conteúdo

Cidades brasileiras registraram atos contra a decisão do Supremo de derrubar a prisão em segunda instância



Manifestantes reunidos em diversas cidades do país pediram o impeachment dos ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, neste domingo, 17. Em São Paulo, o ato fechou quarteirões da Avenida Paulista.
Os protestos foram convocados após a decisão do STF de derrubar a prisão em segunda instância. Na capital paulista, os manifestantes se reuniram aos gritos de “Fora Gilmar”, carregando bandeiras do Brasil e vestindo verde e amarelo.  O senador Major Olímpio participou do ato e discursou em um carro de som. “Só vai acontecer um impeachment de um ministro do Supremo Tribunal Federal se houver mobilização e muita pressão”, disse.

No Rio, a manifestação pedindo o impeachment do ministro Gilmar Mendes ocorreu pela manhã, na praia de Copacabana, na altura do Posto 6. Organizado pelo Movimento Nas Ruas, Movimento Conservador e Movimento Brasil Conservador, o evento contou com dois carros de som e conseguiu reunir algumas dezenas de pessoas, que ocuparam menos de um quarteirão da praia.

Os manifestantes que compareceram estavam, em sua maioria, vestidos de verde e amarelo, enrolados em bandeiras do Brasil. “Gilmar Mendes vai cair” e “Fora Gilmar Mendes” eram os slogans mais repetidos pelos participantes, na manhã deste domingo que amanheceu parcialmente nublado.

O juiz do STF foi chamado também de “inimigo número um do Brasil”. Um boneco inflável gigante do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com os dizeres “cafetão de Gilmar” também marcou presença no evento.

A hashtag #BrasilContraGilmarMendes esteve entre os Topic Trendings, como são chamadas as postagens mais populares no Twitter, durante toda a manhã deste domingo. Havia quase 500.000 tuítes sobre o tema até pouco antes das 14h.
Em Brasília, um grupo de cerca de 1.000 pessoas se concentrou em frente ao Congresso Nacional e caminhou até o STF. Os manifestantes rezaram o “Pai Nosso”, cantaram o hino nacional e carregaram uma bandeira gigante com as cores verde e amarela.


Transcrito de VEJA - Estadão Conteúdo


domingo, 30 de junho de 2019

Bolsonaro conheceu a verdade! Ela o libertará?



Quando confrontado com um problema, Jair Bolsonaro pode não ter a solução. Mas ele tem sempre à mão um versículo multiuso que extraiu do Evangelho de João: "Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." Às vésperas do aniversário de seis meses do seu governo, celebrado neste domingo (30), Bolsonaro conheceu a verdade. Descobriu que pode ser conservador sem ser arcaico. Essa verdade tem potencial libertador. Mas para se livrar dos grilhões do arcaísmo, o presidente teria de se manter fiel à racionalidade que levou ao fechamento do histórico acordo entre Mercosul e União Europeia. O bom senso ensina que dois espetáculos não cabem ao mesmo tempo num só palco. Ou num único governo. Dividida entre um e outro, a plateia não dá atenção a nenhum dos dois. Ou, por outra, acaba privilegiando o mais exótico. Estão aí em cartaz, faz um semestre, duas apresentações. Uma é aquela que o general e ex-ministro Santos Cruz chamou de "Show de besteiras". Outra é a coreografia encenada pelo pedaço da Esplanada que tenta provar que o governo não está sob o domínio da Lei de Murphy, segundo a qual quando algo pode dar errado, dará.  
[O 'show de besteiras' foi consequência da forma informal adotada por Bolsonaro ao  assumir o governo.
Além da sua propensão a informalidade, a autenticidade, Bolsonaro teve contra ele, três ações:
- o 'assessoramento' dos filhos, do aiatolá de Virgínia e de outros aspones do tipo;  
- a opção do Congresso Nacional, especialmente dos presidentes das duas Casas, em desprestigiar o presidente Bolsonaro, preparando-o como vítima até mesmo de um 'impeachment', da mesma forma como foi feito com Fernando Collor - não tiveram êxito, devido principalmente a que contra Collor tinham, também, acusações de corrupção (das quais Collor foi absolvido, posteriormente, pelo Supremo) e já Bolsonaro só tinham a sua independência em relação aos desejos do Poder Legislativo; e,
- a manifesta má vontade de grande parte da Imprensa, que desde a consolidação da candidatura Bolsonaro, tem sempre procurado dar destaque aos aspectos negativos do seu governo, maximizando eventuais erros e tudo que não é favorável à imagem do presidente e minimizando os acertos e pontos favoráveis.

Agora com a assinatura do acordo MERCOSUL  - UNIÃO EUROPEIA, Bolsonaro deixou seus adversários, especialmente a turma do 'quanto pior, melhor' com as calças nas mãos.

Admitimos que teve momentos de grande dificuldade para defender o nosso presidente e foi preciso assumir a postura que ainda mantemos - os eleitores de Bolsonaro o escolheram para presidente da República, não para monarca - especialmente por ser o Brasil uma REPÚBLICA e nas repúblicas não há espaço para familiares do presidente governarem, nem também para filósofos de araque, verdadeiros aiatolás', nem para aspones.
Isso posto, temos convicção de que no governo Bolsonaro, que começou ontem, a Lei de Murphy também não terá espaço.]

Desde que assumiu o trono, Bolsonaro tenta conciliar duas exigências conflitantes: ser Bolsonaro e exibir o bom senso que a Presidência requer. Ao desembarcar no Japão, para a reunião do G20, o capitão sentia-se cheio de tambores, metais e cornetas. Reagiu a uma cobrança da premiê alemã Angela Merkel sobre meio ambiente como se fosse o próprio Hino Nacional. Murphy o espreitava. O presidente francês Emmanuel Macron ecoou Merkel. Vão procurar a sua turma, bateu o general e ministro palaciano Augusto Heleno. Em vez de acalmar o amigo, Heleno revelou-se uma espécie de Murphy em dose dupla. Bolsonaro e seu séquito tinham todo o direito —e até o dever— de responder a Merkel e Macron. O problema é que, considerando-se o timbre, pareciam tomar o partido não do Brasil, mas do pedaço mais atrasado do país, feito de desmatadores  vorazes, trogloditas rurais e toupeiras climáticas. O interesse do moderno agronegócio brasileiro estava longe, em Bruxelas, na reunião em que se discutiam os termos do acordo entre Mercosul e União Europeia. Ali, sabia-se que a insensatez ambiental levaria à frustração do acordo comercial ambicionado há duas décadas.

Súbito, o Evangelho de João iluminou os caminhos do capitão, apaziguando-lhe a alma. Num par de reuniões bilaterais, Bolsonaro soou conservador sem fazer concessões ao atraso. Falou de uma certa "psicose ambiental" que fez Merkel arregalar os olhinhos. Mas declarou que o Brasil não cogita deixar o Acordo de Paris, dissolvendo as resistências de Macron. As palavras de Bolsonaro desanuviaram a atmosfera na sala de reuniões de Bruxelas. Por um instante, o "show de besteiras" saiu de cartaz. [esperamos que este  instante tenha a duração mínima de oito anos - sem implicar em que os valores conservadores, a valorização da família, o combate sem tréguas ao que seja imoral e represente os mais costumes continue e seja exitoso, mas, sem concessões ao atraso.]  E a sensatez pariu um acordo. 

Bolsonaro faria um enorme favor a si mesmo e ao país se aproveitasse o embalo para enganchar nas celebrações do aniversário de seis meses a estreia de um espetáculo novo. Nele, o Planalto deixaria de ser uma trincheira. O presidente trocaria o recrutamento de súditos pela busca de aliados. [aliados confiáveis...]  A ala familiar seria desligada da tomada. O guru de Virgínia perderia sua cota na Esplanada. Ministros cítricos e tóxicos seriam substituídos por gente técnica e limpinha. O problema é que esse conjunto de modificações depende de uma mudança de chave no cérebro do próprio Bolsonaro. Algo que parece condicionado a um milagre. Não basta conhecer a verdade. É preciso querer se libertar do atraso.