Hélio Schwartsman
Campanha eleitoral é o lugar em que podemos cortar custos sem dor de consciência.
Em termos de princípios, não há muito o que discutir. Uma vez que o STF
proibiu as doações empresariais para campanhas políticas, e nós,
brasileiros, ainda não desenvolvemos uma cultura de dar como pessoas
físicas dinheiro a candidatos, não parece haver muita alternativa que
não assegurar algum tipo de financiamento público para o processo
eleitoral, que, de resto, sempre ocorreu. A democracia tem custos, e a
eleição é só um deles. [os gastos com eleições não são mais importantes que os gastos com a Saúde e a Educação;
ao contrário, são gastos que podem, e devem ser reduzidos ao mínimo do mínimo.] Nenhum princípio, porém, exige que os nacos do Orçamento que serão
destinados às campanhas sejam grandes. Muito pelo contrário, essa é uma
rubrica que, numa análise racional, pede para ser cortada até o mínimo
que não comprometa a realização do pleito.
Nem todos os cortes são iguais. Se você tira dinheiro da saúde, pessoas
cujas vidas dependem de uma medicação ou de uma cirurgia podem morrer.
Se tira das bolsas de pós-graduação, cria descontinuidades em projetos
científicos que poderiam ser importantes para o país. Se deixa de dar
aumento para alguma categoria de servidores, afeta negativamente sua
qualidade de vida, ainda que não os mate.
Cortes no financiamento eleitoral são diferentes porque, até onde a
vista alcança, não geram nenhum tipo de impacto negativo. Com efeito,
quer destinemos às campanhas do próximo ano R$ 4 bilhões, quer R$ 500
milhões, o mesmíssimo número de prefeitos e vereadores será eleito. Não
há relação conhecida entre o volume de recursos investido e a qualidade
dos políticos eleitos. O que talvez exista é uma correlação entre o volume de propaganda e as
taxas de renovação nas câmaras e prefeituras, mas nada capaz de alterar
mais do que milimetricamente a enorme vantagem de que gozam aqueles que
já estão no poder. Trocando em miúdos, precisamos pôr dinheiro público nas campanhas para
garantir a realização de pleitos competitivos, mas esse também é o lugar
em que podemos cortar sem dor de consciência.