Em
entrevista ao Estadão, o procurador-geral, na
verdade, fornece argumentação favorável ao projeto
Nada como um dia
depois do outro, com o bom senso triunfando ao fim. Escrevi vários posts aqui defendendo
o projeto de lei que pune abuso de autoridade. Leia a íntegra da proposta que
tramita no Senado. Em razão de uma leitura deformada do texto e de um lobby
infeliz do Ministério Público Federal, o texto, que é bom, está sendo visto
como uma ação contra a Lava-Jato. Ora, isso é simplesmente mentira.
Pois é…
Num dos artigos que escrevi a
respeito, lembrei o que segue em azul:
“Aliás, o Brasil também tem a sua, a 4.898, de 9 de dezembro de 1965, uma herança da ditadura, quando abuso de autoridade não chegava a ser um problema. O ato aconteceu em frente ao Fórum Pedro Lessa, na Avenida Paulista.”
“Aliás, o Brasil também tem a sua, a 4.898, de 9 de dezembro de 1965, uma herança da ditadura, quando abuso de autoridade não chegava a ser um problema. O ato aconteceu em frente ao Fórum Pedro Lessa, na Avenida Paulista.”
E, acreditem, levei pancada de alguns apressadinhos. Afirmaram que eu estava
apoiando uma lei que seria contrária à Lava-Jato, o que é papo-furado.
Em entrevista ao Estadão, sabem quem defendeu uma
nova lei? Ninguém menos do que Rodrigo Janot. E ele afirmou o seguinte:
“Nossa atual Lei de Abuso de Autoridade data de 1965 e está em vigor há mais de 50 anos. Essa norma foi concebida sob a égide de um estado de exceção autoritário e antidemocrático. É absolutamente imprescindível que o Congresso Nacional estabeleça um novo marco normativo que regule os limites do exercício legítimo da autoridade estatal em defesa das liberdades públicas e dos direitos de cidadania.”
“Nossa atual Lei de Abuso de Autoridade data de 1965 e está em vigor há mais de 50 anos. Essa norma foi concebida sob a égide de um estado de exceção autoritário e antidemocrático. É absolutamente imprescindível que o Congresso Nacional estabeleça um novo marco normativo que regule os limites do exercício legítimo da autoridade estatal em defesa das liberdades públicas e dos direitos de cidadania.”
Acho que já li essa
argumentação. Os que me criticaram vão agora atacar Janot? Mas calma! Ele também se mostrou
crítico do texto que está em tramitação, agora no Senado — lembrando sempre que
a proposta é de 2009, bem antes da lava-Jato, e traz a assinatura do então
deputado Raul Jungmann (PPS-PE), hoje ministro da Defesa. O projeto, que ele
assinou, foi elaborado por uma comissão de notáveis.
Janot faz duas críticas
à proposta em curso no Senado:
1: o texto é omisso
porque não pune a famosa “carteirada”;
2: segundo o
procurador-geral, a proposta “traz uma
sequência de tipos penais abertos, de constitucionalidade duvidosa, que podem
sim inibir indevidamente a atuação das autoridades no combate à corrupção e à
criminalidade crescente.”
A primeira questão é
fácil de resolver. Basta emendar.
Quanto à segunda… Bem, então ele tem
de dizer onde está essa ambiguidade, o que ele não faz. Li e reli a proposta.
Não encontrei nela nada que não seja essencial num regime democrático.
Janot vai além. Diz ser preciso “não estigmatizar a meritória iniciativa de
revisar a Lei de Abuso de Autoridade com a pecha de tentativa de obstrução do
trabalho sério e legítimo que o Ministério Público, juntamente com outros
órgãos, vem desenvolvendo no combate à corrupção.”
Eu concordo com ele. E quem deve começar
por não criar esse estigma é o Ministério Público e as associações de juízes.
Afinal, esses órgãos estão fazendo carga contra a lei sem dizer, afinal de
contas, o que é ruim nela. O argumento mais forte contra o texto é que ele
conta com o apoio de Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado.
E daí? O fato de
Renan apoiar um texto não o torna automaticamente mau, não é mesmo? Se Renan afirmar que acredita, sim, na Lei da Gravidade, não me
obrigarei a ser um cético a respeito do assunto, ora bolas! As associações
de juízes, Sérgio Moro, os procuradores e agora o próprio Janot tiveram a
chance de dizer o que há de errado com o projeto de lei e não o fazer.
Desconfio que isso se
deva a uma única razão: não há nada de errado com ele.
Fonte: Blog do Reinaldo
Azevedo - VEJA