Fragilizado politicamente tanto pela denúncia como pela forma como negociou sua rejeição na Câmara, governo sinaliza derrota no ajuste das contas
A inevitável fatura do apoio ao presidente Michel Temer, no caso da rejeição da denúncia do Ministério Público Federal por corrupção passiva, está sendo cobrada. Não bastaram os bilhões liberados em emendas aos deputados, antes da votação do pedido para o envio da acusação ao Supremo. Entre os 263 que votaram em favor do presidente há muitos que desejam mais recompensas. O chamado centrão, aquele conjunto de partidos que se acostumaram a praticar o fisiologismo nos governos Lula e Dilma, cobra do Planalto, por exemplo, mais espaço na máquina administrativa.O PP, PR, PSD, PTB, PROS, PSC, PTN, entre outros, lançam olhares cobiçosos para cargos de primeiro escalão ocupados pelo PSDB. Usam um argumento tirado da cartilha do fisiologismo: “nós votamos em bloco por Temer, enquanto eles se dividiram”. Os problemas do Planalto, derivados dos entendimentos e promessas feitos com partidos e parlamentares para salvar Temer, vão além da disputa em torno de cargos. Enfraquecido devido a estas barganhas, Temer, como previsto, tem dificuldades para cumprir promessas numa área estratégica, a do ajuste fiscal. O noticiário no decorrer do dia de ontem de que as metas fiscais deste e do próximo ano deverão mesmo ser revistas sinaliza a incapacidade política do governo para conseguir fazer o dever de casa de que se esperava dele.
Pode ser que na segunda-feira seja anunciado que o objetivo de um déficit de R$ 139 bilhões para este ano seja elevado para R$ 159 bilhões, R$ 20 bilhões a mais de gastos. Enquanto, para o ano que vem, a meta de R$ 129 bilhões de déficit poderá se elevada para R$ 149 bilhões. Outros R$ 20 bilhões de folga. A confiança no governo fica abalada. Não é para menos, porque conclui-se que o Planalto não consegue fazer o ajuste. Afinal, a União continua acumulando déficits anuais bem acima dos R$ 100 bilhões. A nova meta deste ano, se confirmada, significará um retorno a 2016, quando Temer assumiu.