Nem o balé Bolshoi consegue montar uma cenografia tão perfeita e coordenar seus elementos tão sincronicamente quanto o conjunto formado pela militância do STF e o mau jornalismo dos grandes grupos de comunicação. Funcionam tão bem que já há quem fale em união estável.
O Portal Alta Definição transcreveu o seguinte trecho da entrevista que o ministro concedeu à Globo News no último dia 16:
“O mau perdedor não reconhecer a vitória do vencedor pode ocorrer em qualquer parte do mundo, como aliás, ocorreu nos EUA, o presidente Trump jamais admitiu a derrota mesmo perdendo por muitos votos de delegados e teve 7 milhões de votos a menos que o presidente Biden. Ele não aceitou a derrota e ficou por isso mesmo, ele continuou não aceitando e o presidente vencedor tomou posse. O mesmo se passará aqui. Não há remédio na farmacologia jurídica contra maus perdedores”.
O TSE é formado por sete membros, sendo três do STF. Mesmo com a saída do ministro Barroso, cujo mandato se encerra dia 22 vindouro, a animosidade em relação ao governo como se sabe, não se altera com o ingresso do ministro Lewandowski. O atual colegiado do Supremo não vê as consequências junto à sociedade das decisões que toma, nem mesmo quando há uma eleição nacional em disputa. Para a democracia, o real desalinhamento da balança é mais ameaçador que uma imaginária linha de canhões.
Nesse sentido, a aprovação, o aplauso e a conivência dos grandes grupos de comunicação e do jornalismo militante muito contribuem para que se aprofunde a tirania. Não se deixe seduzir pela aparência benigna e generosa com que tais condutas costumam fantasiar todas as suas manifestações na História.
Aliás, falam mais e com mais liberdade do que concedem a quem deles diverge. Mantêm, para estes, um inquérito permanente, um inquérito topa tudo, tamanho único, finis mundi (como o denominou o ex-ministro Marco Aurélio), com mil e uma utilidades, a exemplo do velho e prestativo Bombril.
Enquanto falam como falam e agem como agem, reclamam de polarização, do clima da eleição e conclamam à pacificação! Existem espelhos nesses gabinetes?
Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.