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quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Levy debocha dos brasileiros ao propor enquete sobre a CPMF

A gracinha autoritária de Levy sobre a CPMF

Ministro sugere uma falsa enquete em que os que se opõem ao novo imposto também se opõem ao bem... Acho que não vai dar certo!

O ministro Joaquim Levy tem lá o seu viés cômico. Os humoristas, como sempre, percebem primeiro. O genial Márvio Lúcio, o Carioca do “Pânico”, faz uma excelente imitação: a língua meio presa, a fala pra dentro, o ar meio tímido, o olhar de quem mais espia do que vê, a fala com acento tecnocrático, uma certa ingenuidade de quem acha que também em política dois mais dois são quatro…

O ministro participou nesta terça de uma solenidade no Itamaraty e depois foi para o Congresso. E resolveu sugerir, ora vejam, uma espécie de enquete sobre a CPMF. É claro que ele estava apelando, vamos dizer assim, a certo humor de sotaque britânico. Em conversa com jornalistas, sugeriu, segundo informa a Folha: “Os jornais poderiam fazer uma enquete. Perguntar assim: o que você não gosta da CPMF? Você não gosta porque ela é transparente? Você não gosta porque ela é fácil de recolher? Você não gosta porque ela alcança todo mundo? Ou porque é mais um imposto?”

Eita!
Fiquei aqui a imaginar Levy como diretor do Datafolha ou do Ibope. Pergunta para testar o humor dos brasileiros: “Você não gosta do governo Dilma por causa do Bolsa Família, do ProUni ou do Minha Casa Minha Vida?”.

A coisa tem lá a sua graça, mas também traduz um viés autoritário do ministro. Por quê? Observem que ele acha que só é possível recusar a CPMF por maus motivos: ou o sujeito é contra a transparência, a funcionalidade ou a universalidade do imposto ou, então, é favorável. Ou por outra ainda: gente que defende aqueles princípios apoia necessariamente a cobrança. Aí Levy perde a graça desengonçada. E sobra apenas o desengonço.

Notem que ele faz uma indagação descolada do paradigma das perguntas marotas: “Ou [você é contra a CPMF] porque é mais um imposto?”.

Esta poderia ser, obviamente, a resposta de milhões de pessoas: sim, somos contra porque é mais um imposto. Mas não só isso! É que achamos que já pagamos impostos demais; é que avaliamos que o governo gasta mal o dinheiro que arrecada; é que não queremos financiar ainda mais a farra; é que não aceitamos mais esse estelionato eleitoral — já que a candidata Dilma afirmou que não haveria CPMF.

Diante dessa resposta, talvez Levy, então, lembrasse que, sem o imposto, tudo pode ser pior; as agências de classificação de risco rebaixarão o país etc. Ou por outra: a cobrança se transformou em programa de governo. E um governo que conta com o ovo na barriga da galinha. Nesta segunda, Dyogo Oliveira, o número 2 do Ministério do Planejamento, afirmou o seguinte à Folha: “A gente conta com um conjunto de medidas de receitas, entre as quais a CPMF, para fechar o superávit de 2016. Sem essas receitas, realmente não há como ter um resultado muito bom em termos fiscais em 2016. Tem que aprovar a CPMF”.

Ok. Então Dilma que tenha a coragem de falar com a sociedade. Na base da piadinha sem graça, nada vai passar.

Fonte: Reinaldo Azevedo - Blog na Revista VEJA
 

 

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Nem os petistas acreditam que a CPMF seja aprovada


Parlamentares ouvidos pelo site de VEJA duvidam que governo consiga articular um acordo para aprovar pacote, ainda mais com a iminência da reforma ministerial

A presidente Dilma Rousseff convocou senadores da base aliada para discutir o novo plano de ajustes - que consolida um pacote de medidas impopulares cuja cereja do bolo é a ressurreição da CPMF, o imposto do cheque. Depois de discutir o novo imposto com governadores de 19 Estados na noite de segunda-feira, e com deputados da base na manhã desta terça, à tarde a presidente tentou convencer o presidente do Senado, Renan Calheiros, da necessidade da aprovação do pacote que eleva impostos e corta gastos. Renan acenou com a possibilidade de apoio, mas deixou claro que a aprovação não será fácil e que o Congresso cobrará "metas, resultados e eficiência" do setor público. Dois pontos são vistos com extrema animosidade por aliados: além da ressurreição da CPMF, o uso de emendas parlamentares para suprir os cortes no Minha Casa Minha Vida. Parlamentares petistas ouvidos pelo site de VEJA afirmaram, nos bastidores, que duvidam que o governo consiga articular um acordo para amarrar a aprovação do pacote, ainda mais com a iminência da reforma ministerial, que deve sacrificar cargos, em especial de aliados como o PSD de Gilberto Kassab e o PMDB.

Se a oposição já foi taxativa ao negar a possibilidade de encampar o novo imposto, aliados e até mesmo partidários da presidente argumentam nos corredores do Congresso que o governo não tem uma estratégia bem definida para conseguir votos suficientes para aprovar a medida, cujo objetivo é render mais de 30 bilhões de reais aos cofres públicos. 

Como se trata de uma proposta de emenda à Constituição (PEC), o governo precisa angariar ao menos 60% dos votos de senadores e deputados para conseguir aprovar a volta do imposto do cheque. Isso significa pelo menos 308 dos 513 votos na Câmara e 49 dos 81 no Senado. Contudo, o ponto mais delicado, apontam parlamentares, é a falta de um articulador. Ao convocar reuniões com governadores, deputados e senadores, a própria Dilma tomou a frente da articulação, deixando o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, em segundo plano. Diante da falta de traquejo político da governante - e de seu ministro -, a expectativa entre aliados é de que o embate se agrave, minando ainda mais a credibilidade fiscal do país.[o pacote exige a aprovação de 2 PEC - tem que ser aprovada a da recriação da CPMF e a outra da extinção do abono permanência para o servidor público.Clique aqui e saiba mais sobre a extinção do abono.]

PMDB - Depois da ruidosa saída do vice Michel Temer da articulação política e dos rumores cada vez mais fortes de rompimento político com o PT, o PMDB se afastou do varejo de cargos - e caciques do partido têm ventilado que não há qualquer possibilidade de recuo. A tal ponto que não há nem sequer um peemedebista em movimentação para assumir o posto. O mais cotado entre os petistas para assumir a articulação da volta da CPMF é o ministro da Defesa, Jaques Wagner - que também vem a ser o nome defendido por Lula. O problema da indicação, segundo assessores próximos às negociações, é que a presidente vê dificuldades em definir um substituto petista para Wagner no Ministério da Defesa. Com o início da construção, ainda este ano, dos caças que o Brasil comprou da sueca Saab, o Palácio do Planalto não está disposto a abdicar da pasta em favor de outro partido.

O deputado petista Delcídio Amaral, líder do governo no Senado, falou que o Palácio do Planalto tem noção das dificuldades, mas que haverá "trabalho duro" para conseguir viabilizar as propostas. "Eu tenho experiência em CPMF. Participei em 2007, quando o caiu a CPMF no Senado. É uma questão que exige muito diálogo, muita conversa, muita capacidade de convencimento, mas todos nós temos ciência. Se falássemos que seria fácil, não estaríamos dizendo a verdade. Nós temos a noção nítida das dificuldades que temos de enfrentar", afirmou. [aliás o Delcídio tem também boa experiência em derrotas fragorosas. Recentemente Dilma perdeu uma votação no Senado por 62 a 0 e os senadores aliados do governo estavam sob a liderança do Delcídio - que também votou, o que diz tudo sobre o quanto é vantajoso para Dilma ter seu governo sob uma liderança desse tipo.]

Já o senador petista Humberto Costa, líder do partido na Casa, avaliou que a medida de repatriação de recursos, que deve ser votada no Senado em breve, poderia neutralizar a necessidade de criação da CPMF. "Esta é uma posição que eu particularmente defendo, que nós deveríamos aprovar o repatriamento. Esse deveria ser o nosso plano A", disse. "Quando o governo está bem, com uma base social forte, uma base parlamentar forte, já é difícil aprovar uma medida como essa. Imagina num momento como este que estamos passando por algumas dificuldades. Mas vamos trabalhar e vamos ver", disse. Na noite desta terça-feira, os senadores petistas Delcídio Amaral e Walter Pinheiro se reuniram com o ministro Levy para trabalhar pontos da articulação com o Congresso.

Já a oposição vem afirmando nos bastidores que a receptividade da CPMF entre o empresariado, ao contrário do que prega o ministro Joaquim Levy, foi péssima - e que o principal temor do setor produtivo é o aumento dos custos devido ao efeito cascata, caso a nova tributação seja aprovada. Segundo o senador tucano Aécio Neves, o governo foi desleal ao tentar repartir o ônus político do novo imposto com governadores, ao sugerir o direcionamento uma fatia da CPMF aos estados. Na segunda-feira, Aécio disse que o novo imposto era "inaceitável".

Fonte: Revista VEJA