Acostumados a deixar Brasília já no fim da manhã de quinta-feira, os deputados foram informados de que haverá votação à tarde também nesse dia da semana
A primeira semana de presidência de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na Câmara dos Deputados deixou muitos dos 513 parlamentares da Casa em alerta. Em sua estreia, o presidente eleito há sete dias já deixou claro o ritmo que pretende imprimir aos trabalhos da Câmara: pontualidade no início das sessões, punição a deputados faltosos, votações nas tardes de quinta-feira e nada de pronunciamentos desnecessários.Cunha chega cedo, por volta das 8 horas, e segura a sessão até que a pauta que estabeleceu seja esgotada. A primeira sessão que presidiu, na terça-feira, terminou pouco depois das 23 horas. "Acabou cedo. Achei que ia até umas 3 horas", brincou com os jornalistas, após encerrar a discussão em que conseguiu aprovar a admissibilidade da proposta de reforma política, contrariando o governo e o PT. O presidente disse que, em sua gestão, ninguém morrerá de tédio.
Em três dias de trabalho, reuniu-se com líderes partidários e com a presidente Dilma Rousseff, autorizou a criação de uma CPI para investigar corrupção na Petrobras e aprovou medida provisória que adia a entrada em vigor das regras de relacionamento entre organizações da sociedade civil e diferentes esferas de governo.
Cunha só não pôs em votação a proposta que torna obrigatória a execução de emendas parlamentares por parte da União, o chamado Orçamento Impositivo, porque o PT não aceitou acordo e exigiu o cumprimento do intervalo de cinco sessões entre a primeira e a segunda votação do texto. Foi uma das poucas boas notícias para o Palácio do Planalto na semana. [conforme informado em POST anterior Cunha já colocou em votação, e aprovou, o chamado Orçamento Impositivo, impondo mais uma derrota ao desgoverno Dilma e ao PT.]
Expediente – Acostumados a deixar Brasília já no fim da manhã de quinta-feira, os deputados foram informados de que haverá votação à tarde também nesse dia da semana. Faltas só serão abonadas em caso de licença médica ou de viagem em missão oficial da Câmara. Cunha disse que justificativas feitas pelas lideranças partidárias sob alegação de missão político-partidária não serão mais consideradas. "Ele está protagonizando. É um presidente à la Roberto Carlos: com muitas emoções", afirmou o líder do DEM, deputado Mendonça Filho (PE), fazendo alusão a uma das mais famosas músicas do cantor. Um peemedebista ironizou o correligionário, dizendo que a Câmara elegeu um "bedel". Informado sobre a ironia do colega de partido, Cunha retrucou: "Deixa ele. Quem não quiser trabalhar não dispute mandato".
Essa postura mais rígida no expediente serve como uma maneira rápida e eficiente de tentar melhorar a imagem do Legislativo, tradicionalmente visto pela sociedade como pouco produtivo. Ao mesmo tempo, também serve de antídoto para Cunha, ao longo de sua gestão, cumprir promessas corporativistas feitas aos deputados, como a construção de um prédio anexo e equiparação dos salários dos parlamentares ao de um ministro do Supremo, teto do funcionalismo público.
Sem show – Ao contrário de seu antecessor, o ex-deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), Cunha não permitiu que seus colegas arrastassem discussões e tentassem atrapalhar votações. "Não vou te dar a palavra. (...) Vossa Excelência não vai fazer show aqui, não", afirmou o presidente da Câmara ao interromper o deputado Sílvio Costa (PSC-PE), na sessão de terça-feira.
Apartes feitos pelos congressistas só foram autorizados quando fundamentados, como ficou evidente em discussão com o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), na quarta-feira, 4:
- Questão de ordem, sr. presidente, disse o petista.
- Questão de ordem com base em que artigo, deputado Paulo Teixeira?, questionou Cunha.
- Artigo 95, sr. presidente.
- Não existe artigo 95.
Interesses próprios – Cunha também foi alvo de críticas em sua primeira semana no novo cargo. Na sessão em que se discutiu a reforma política, o peemedebista foi acusado de defender interesses próprios. "O presidente defende o financiamento privado (de campanha) e escolhe no primeiro dia pautar essa PEC (Proposta de Emenda Constitucional)", afirmou o deputado Henrique Fontana (PT-RS), que deixou a liderança do governo na Casa por pressão, entre outros, de Eduardo Cunha.
Em seu 11º mandato, o deputado Miro Teixeira (PROS-RJ), diz acreditar que o peemedebista "foi bem" em sua primeira semana. "Se ele seguir nesse ritmo, pode fazer uma boa presidência. É preciso criar uma cultura de recuperação do conceito do parlamento", afirmou o deputado mais longevo na Casa.
O “Plano Cohen” do PT golpista, mas moribundo. Será que é por isso que Lula já pensa em criar um novo partido?
O
PT ainda não percebeu seu estado de penúria e acredita que pode fazer o
seu próprio “Plano Cohen”. Os leitores certamente farão uma pesquisa
rápida, mas sintetizo. Forças de extrema direita do entorno do já
ditador Getúlio Vargas anunciaram, em 1937, a descoberta de um suposto
plano comunista para tomar o poder, sintetizado num documento — que era,
obviamente, uma farsa — chamado “Plano Cohen”. Vargas, o farsante,
levou a denúncia à “Hora do Brasil” — hoje “Voz do Brasil” —, fez
aprovar o estado de guerra e deu o golpe do Estado Novo no dia 10 de
novembro de 1937. Governou como ditador até 1945. Matou a rodo.
Na
sexta-feira, o PT assinou uma resolução, que veio a público nesta terça,
em que inventa o “Plano Cohen da Direita”. Assim como Getúlio tinha
propósitos golpistas ao dar curso àquela farsa, os petistas têm
propósitos golpistas ao dar curso a esta. Só que há uma diferença: o
ditador, em 1937, infelizmente, estava forte. O PT, felizmente, não
consegue enfrentar nem seus adversários da base aliada no Congresso.
Ao ler a resolução,
senti o desconforto que sinto diante das coisas ridículas, pequenas,
cretinas… Ao ler o texto, senti a ojeriza que em mim provocam os
farsantes, os tolos, os vigaristas. Ao ler o texto, senti a preguiça a
que me conduzem a ignorância, a mentira e a arrogância sem lastro. Que
ocaso patético vive esse partido!
O Diretório Nacional do PT decidiu, segundo o documento, “condenar
a ofensiva e denunciar as tentativas daqueles que investem contra a
Petrobrás, pois, a pretexto de denunciar a corrupção que sempre
combatemos, pretendem, na verdade, revogar o regime de partilha no
pré-sal, destruir a política de conteúdo nacional e, inclusive,
privatizar a empresa. É nosso dever fortalecer a Petrobrás e valorizar
seus trabalhadores. É nossa tarefa também defender a democracia e as
conquistas do povo, denunciar as tentativas de desqualificar a atividade
política e de criminalizar o PT.”
Como? O PT
sempre combateu a corrupção? Inclusive nos 12 anos em que a quadrilha
operou na Petrobras? A propósito: além do Reinaldo Azevedo, quem mais
está querendo privatizar a estatal? Estou enganado, ou os petistas estão
tentando arrastar os trabalhadores da Petrobras em sua pantomima?
Como estaria em curso um golpe de direita, então os petistas pregam a resistência. Como? Dizem ser preciso “conclamar
a militância a contribuir para a criação de uma articulação permanente
de partidos, organizações, entidades – uma força política capaz de
ampliar nossa governabilidade para além do Parlamento e de criar
condições para realizar reformas estruturais no País”. Entendi. Querem também “reforçar as campanhas pela reforma política e pela democratização da mídia”. Como se vê, eles não abrem mão da censura à imprensa.
E vão adiante: “Frente
ao permanente flerte com o golpismo daquelas elites que não conseguem
vencer e nem convencer pelas ideias, o PT deve tomar a iniciativa de
propor a unificação das propostas democráticas pela reforma política e
construir uma ampla mobilização social para formar em torno da reforma
política democrática uma vontade majoritária na sociedade. Partindo da
proibição do financiamento empresarial e da garantia do financiamento
público, buscaremos construir uma plataforma unitária na qual seja
incorporada o voto em lista preordenada e paritária em termos de gênero.
Além disso, o DN apoia a declaração de inconstitucionalidade do
financiamento empresarial às campanhas eleitorais em curso no Supremo
Tribunal Federal”.
Esse é o
partido que conseguiu reunir 136 dos 513 votos possíveis na disputa pela
presidência da Câmara e que, nesta terça, sofreu duas derrotas
humilhantes na Casa. O que vai acima, se pensarem bem, é um plano de
resistência a Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara e uma das
principais lideranças do maior partido aliado ao governo. Partido cujas
pernas o PT pretendia quebrar, antes de quebrar a cara. A
propósito: o PT não deixa claro se entre as elites que não prestam estão
os empreiteiros que repassavam dinheiro a operadores de partidos que
estavam incrustados na Petrobras — inclusive o do PT. Que coisa
asquerosa!
O
Diretório Nacional recomenda ainda a Dilma uma guinada à esquerda como
saída para o governo. Uau! E, claro!, como não poderia deixar de ser, o
texto chega ao fim com esta pérola:
“Por fim, no curso desta
celebração histórica do nosso 35o aniversário, saudamos o heroísmo do
povo cubano que, por sua resistência, começa a quebrar o bloqueio
imposto durante décadas pelo imperialismo. Saudamos também a vitória do
novo primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, do Syriza, derrotando a
política de austeridade fiscal, a quem desejamos êxito em sua batalha
contra as políticas neoliberais que vêm revogando direitos e promovendo
recessão e desemprego na Europa. Congratulamo-nos, ainda, com o
presidente da Bolívia, Evo Morales, que há pouco iniciou seu novo
mandato presidencial – conosco irmanado na luta internacionalista,
especialmente na integração latino-americana e caribenha.”
Se o PT não concluísse um documento exaltando um ditador, um maluco e um populista mixuruca, não seria o PT.
Vai ver é
por isso que até Lula anda pensando em criar um novo partido… Mas falo
disso outra hora. Deixo aqui apenas a semente da curiosidade.
Fonte: Estadão Conteúdo e Blog do Reinaldo Azevedo