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quinta-feira, 7 de junho de 2018

17 Perguntas para Alberto Fraga

O deputado Alberto Fraga (DEM-DF), de 62 anos, é o líder da bancada da bala na Câmara. Ele defende a posse de armas para “legítima defesa” e conta o que sentiu ao matar, quando era policial militar

Para ele, “bandido bom é bandido fora de circulação” 

1. O que é ser o líder da bancada da bala?
Essa coisa de bancada da bala virou um rótulo carregado de preconceito. Mas prefiro ser da bancada da bala do que da bancada da mala.


2. Qual é a afinidade entre a bancada da bala, a da Bíblia e a do boi?
Somos muito unidos. Sou do boi e da bala. Gostaria muito de ser BBB. Gostaria da coroa tríplice, mas não sou evangélico. Só sou BB, boi e bala.


3. Por que as pessoas devem ter direito a ter armas?
É um direito de escolha. É legítima defesa. Se a legítima defesa é uma excludente de crime, por que não permitir que o cidadão tenha o direito de escolher se quer ou não se defender, já que o Estado não proporciona uma segurança pública de qualidade ao cidadão brasileiro?


4. O senhor acha que todo mundo que quer comprar uma arma está capacitado a usá-la?
Um cidadão honesto, trabalhador, sem antecedentes criminais está preparado, sim. Ele tem de fazer o curso de tiro. Estou falando de posse de arma, para ele ter uma arma em casa para proteger a família. Há muita gente que diz: mas e a briga de trânsito? Isso é porte de arma, não tem nada a ver com a posse. A posse é para você ter uma arma em casa com sua família e ter condições de reagir, dar um tiro para o alto se alguém estiver se aproximando. Porque hoje o bandido tem certeza de que dentro de nossas casas não há arma de fogo. É esse o grande problema.


5. O senhor tem quantas armas?
Tenho mais de 35 armas. Sou colecionador, atirador e coronel da Polícia Militar. Gostaria de ter armas mais modernas, mas infelizmente as autorizações que o Exército concede demoram muito, então você não consegue comprar e acaba desistindo.


6. Qual é sua preferida?
Gosto de uma pistola .45, modelo do FBI.


7. O senhor já atirou em alguém?
Já.


8. E acertou?
Com certeza.


9. Já matou alguém?
No exercício de minha profissão, já tive vários embates com marginais. Infelizmente, nesses embates houve mortes. Jamais usei minha arma na rua, no trânsito, numa discussão.


10. Como o senhor se sentiu depois de tirar a vida de uma pessoa?
Como estava no exercício de minha profissão, acho que cumpri com meu dever.


11. Bandido bom é bandido morto?
Sempre defendi que bandido bom é bandido fora de circulação. É muito duro você falar isso, que bandido bom é bandido morto. Nos tempos atuais, não dá nem para assumir uma frase dessa. Mas, se essa frase se tornasse uma realidade, o povo brasileiro hoje estaria muito mais sossegado. O Rio de Janeiro não estaria no ponto em que está.


12. Qual deve ser a reação de uma pessoa armada que é abordada por um bandido também armado?
Se você consegue se antecipar à ação do marginal, sua arma vai servir de defesa. Mas, se o bandido o pega de surpresa, aí realmente não há como reagir. Não defendo o confronto. Só quero que pelo menos o marginal saiba que você tem uma arma para se defender. Os números americanos mostram isso: há pouquíssimos casos de invasão de domicílio.


13. Mas nos Estados Unidos há também muitos casos de massacres que são atribuídos à facilidade com que se pode comprar armas lá.
São casos isolados. São psicopatas. Já tivemos no Brasil um jovem estudante de medicina que pegou uma metralhadora, foi ao cinema e metralhou as pessoas. Como você impede isso em qualquer parte do mundo? Você não consegue.


14. Por que os produtores rurais devem receber fuzis?
Essa frase é do Bolsonaro. Não defendo isso. Fuzil é uma arma de guerra. Defendo que o fazendeiro, o morador do campo, tenha uma arma, mas uma arma de um calibre permitido. Que ele possa ter uma espingarda, uma carabinazinha .22 ou .38, uma coisa assim, não um fuzil. No meio do mato, não tem 190, não tem presença do Estado. O marginal precisa saber que lá na casa do morador do campo vai ter resistência. Todo bandido tem medo de tomar um tiro.


15. O senhor recebeu uma doação da empresa Forjas Taurus, fabricante de armas, para sua última campanha eleitoral. Há alguma relação entre essa doação e a defesa que o senhor faz do armamentismo?
Só defendo o armamento pela minha experiência de 28 anos na Polícia Militar. Não estou falando em teoria, estou falando de prática. Comecei a fazer essa defesa em 1998, em meu primeiro mandato. E o que é uma doação de R$ 40 mil, R$ 60 mil, dada por essas empresas para alguns deputados que ajudam aqui? Quanto é que você acha que custa uma campanha de deputado? Você acha que sou bancado pela indústria bélica? Faça-me o favor, não é? É até brincadeira alguém falar uma coisa dessa.


16. Como o senhor vê os indícios de participação de ex-policiais militares milicianos no assassinato da vereadora Marielle Franco, no Rio de Janeiro?
Disse desde o início que aquilo foi uma execução, uma morte trágica. Mas achei que houve muito sensacionalismo. É claro que qualquer morte precisa ter a devida apuração. Agora, quantas pessoas morreram depois da Marielle e a imprensa não deu o mesmo significado?


17. Não acha que a morte dela, por ser negra, política e defensora dos direitos humanos, teve um simbolismo grande?
​Quem era Marielle Franco? Ninguém sabia. Quando acontece um caso com alguém da esquerda, a mobilização é muito maior. Esse é o problema. A direita não tem esse tipo de coisa. Jamais iria para uma praça pública fazer o que esse pessoal fica fazendo. Exigiria a apuração. Os policiais estão sendo caçados. Pena de morte para o policial é o que existe no Brasil. E cadê a comoção? A vida da Marielle vale mais do que a dos 52 policiais militares que foram assassinados no Rio de Janeiro por bandidos? Por que não houve a mesma comoção com relação aos policiais? Ou os policiais são apenas um número? Não estou dizendo que a morte dela não tem importância, claro que tem. Agora, são dois pesos e duas medidas.


Revista Época