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domingo, 26 de março de 2023

Pfizer gasta bilhões por empresa que promete vencer o câncer com “mísseis guiados” moleculares - Eli Vieira

Ideias - Gazeta do Povo 

Esperança oncológica

 Representação molecular do conjugado anticorpo-droga.
 O anticorpo é a grande molécula em formato de Y. Os pontos vermelhos são moléculas da droga que age contra o câncer (citotóxica). Em verde, a ligação ou ponte entre o anticorpo e cada molécula da droga. O fundo representa o tecido canceroso (fora de escala). - Foto: Bioconjugator / Eli Vieira com Midjourney
 
A gigante dos medicamentos Pfizer anunciou na semana passada (13) a aquisição da empresa Seagen, especializada no tratamento de câncer, pelo valor de US$ 229 por ação, 32% mais que seu valor de mercado. 
O valor total da compra é de 43 bilhões de dólares, o que equivale a 226,5 bilhões de reais na cotação atual. 
Desde então, o valor das ações da Pfizer caiu levemente, 5,2%, enquanto a Seagen viu um aumento imediato de 32,2%. 
Com a desaceleração das vendas de tratamento para Covid (Comirnaty e Paxlovid), a Pfizer precisa de novas fontes de renda. 
A compra representa uma vitória sobre a farmacêutica Merck, que também tinha interesse de comprar a Seagen.
 
Mas a principal razão do interesse da Pfizer na Seagen, empresa de biotecnologia fundada em 1998 em Seattle, EUA, é que a última desenvolveu um novo método de combate ao câncer que o diretor executivo da Pfizer, Albert Bourla, compara a um “míssil guiado”. O nome oficial da tecnologia é “conjugados anticorpo-droga” (ADCs, na sigla em inglês). 
Na quimioterapia normal, todo o corpo sofre para combater o câncer. 
As células cancerosas agem como um parasita sobre o organismo, reproduzindo-se de forma “egoísta” até afetar de forma irreversível órgãos e provocar a morte. 
Os ADCs, simplificando, atuam diretamente contra o tumor, sem que o resto do organismo precise “pagar o pato”.

“A Pfizer está empregando seus recursos financeiros para avançar na batalha contra o câncer, uma das principais causas de morte no mundo todo”, disse Bourla em nota à imprensa. Em entrevista ao canal CNBC, ele estimou que uma a cada três pessoas tem câncer em algum momento da vida, e opinou que os ADCs podem ser tão importantes para o câncer quanto a tecnologia de mRNA foi para as vacinas.

Como funcionam os ADCs
A primeira fase na produção dos conjugados anticorpo-droga é a identificação de proteínas que são específicas da superfície das células cancerosas. Essas proteínas são apresentadas para o organismo de animais de laboratório, cujos sistemas de defesa produzem anticorpos monoclonais contra elas, como é normal que aconteça quando o organismo é exposto a uma nova ameaça.

Cada anticorpo específico contra câncer é então ligado e aqui está a inovação mais importante da Seagen a uma droga que atingirá especificamente as células cancerígenas, em vez de ser aplicada em grandes doses para o organismo inteiro.

A aplicação dos anticorpos no tratamento do câncer não é novidade. No livro “Malignant” (2020, sem tradução para o português), o especialista Vinayak “Vinay” Prasad estimou que até 2016 havia 20 drogas diferentes baseadas em anticorpos em 803 ensaios clínicos, com um total de mais de 150 mil pacientes

Uma dessas drogas é o Bevacizumab, que tem como alvo uma molécula que estimula o crescimento de vasos sanguíneos para os tumores, dando a eles nutrição e oxigênio. O medicamento já foi submetido a 48 estudos randomizados (em que pacientes são distribuídos ao acaso entre o grupo que recebe e o que não recebe). Desses, 64% relataram progressão sem piora e 15% relataram melhoria na sobrevivência geral dos pacientes. Contudo, levando todos em conta, e considerando que “alguns desses podem ter sido significativos por puro acaso”, 
Prasad estima que somente 45% realmente valem para progressão sem piora e só 2% (um único estudo) vale para melhoria na sobrevivência em geral.
 
A mensagem do livro, embora ele não cubra os ADCs, é de cautela. Outro imunoterápico usado para câncer de pulmão, Nivolumab, foi julgado mais pela capacidade de encolhimento de tumores do que pela sobrevivência e qualidade de vida dos pacientes, concluiu o autor. Para Prasad, muitas drogas contra o câncer são aprovadas e vendidas com base em “hype”, interesses econômicos e viés, em vez de evidências e real benefício. 
A dura realidade é que muitos pacientes com câncer são expostos a falsas promessas. 
O tempo dirá se os ADCs são diferentes.
I
Impacto financeiro
A Seagen estima que conseguirá faturar cerca de US$ 2,2 bilhões (R$ 11,59 bilhões) este ano, o que representaria um crescimento de 12% em relação ao ano anterior. Ainda não chega perto dos US$ 12,1 (R$ 63,75) bilhões que a Pfizer ganhou no ano passado com seus atuais tratamentos para câncer, mas a compradora estima que a Seagen contribuirá com US$ 10 bilhões (R$ 52,65 bilhões) anuais a partir de 2030.

A Seagen tem quatro drogas de quimioterapia para câncer aprovadas pelo governo americano. Três delas são ADCs: Adcetris, Padcev e Tivdak. A quarta, Tukysa, é uma molécula menor aplicada em um tipo específico de câncer de mama. 

Segundo a empresa, o Adcetris foi aprovado para quatro indicações em mais de 70 países para tratar linfomas, que são cânceres que afetam o sistema linfático, parte do sistema imunológico. O Padcev foi aprovado para câncer de bexiga avançado e já em metástase. O terceiro ADC aprovado, o Tivdak, também é para câncer avançado e em metástase, mas que afeta o colo do útero. Os três ADCs geraram um faturamento de US$ 1,3 bilhão (R$ 6,84 bilhões) em 2022 para a Seagen, mas ela fechou um ano no vermelho, com perda de US$ 674,5 milhões (R$ 3,5 bilhões).

Segundo o site de notícias científicas Stat News,
a Seagen no momento tem 11 linhas de pesquisa diferentes com alvo em doenças como câncer de pulmão e de mama — o foco principal são os cânceres que formam tumores sólidos. 

A estratégia de mercado da Pfizer, que espera ver uma queda do faturamento pós-pandemia, tem sido comprar empresas menores do setor, como fez a Disney no entretenimento. 
No ano passado, a farmacêutica comprou a Global Blood Therapeutics, com interesse no mercado de tratamento de anemia falciforme, e a Biohaven Pharmaceuticals, que atua no tratamento de enxaqueca. 
Em 2022, a Pfizer faturou US$ 100,33 bilhões e lucrou US$ 31,4 bilhões. Em 2019, antes da pandemia, faturara US$ 40,9 bilhões e lucrara US$ 9,2 bilhões.
 
Eli Vieira, colunista - Gazeta do Povo - Ideias
 
 

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Prazo para explicações do presidente: a farsa que o STF encena junto com senadores - Gazeta do Povo

 J. R. Guzzo

Jogada midiática

Tornou-se um vício na política brasileira. Um senadorzinho de algum cafundó que se elege com meia dúzia de votos, um dos partidos nanicos que vivem às custas do pagador de imposto ou um desocupado qualquer, desde que tenha carteirinha de “esquerda”, pedem ao Supremo Tribunal Federal que dê “48 horas” de prazo para o presidente da República responder porque agiu, ou não agiu, assim ou assado. 
O STF atende correndo, todas as vezes, e lá vai alguém no Palácio do Planalto ocupar o seu expediente arrumando uma resposta qualquer, que nunca se fica sabendo qual foi. É uma palhaçada. [temos notado que os supremos ministros do STF além de validarem resposta que o Guzzo chama de "uma resposta qualquer"(que deixa a impressão do atendimento da imposição suprema) também começam a flexibilizar estendendo o prazo
A ministra Rosa Weber flexibilizou, em meses,  o prazo de alguns dias inicialmente imposto à Câmara sobre as emendas de relator; o ministro Lewandowski aceitou estender o prazo para o Governo Federal prestar esclarecimentos sobre a vacinação de crianças = que vencia antes do Natal e agora vence após o Dia dos Reis.
É bom. Acalma os ânimos e deixa claro o que todos tem presente: o que fazer se o prazo não for cumprido? prender o ministro retardatário? prender o presidente da República???] 


Estátua da Justiça, na frente do prédio do STF. - Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

É também uma nova comprovação da descida do STF na militância política mais barata que se poderia encontrar. As explicações exigidas em “48 horas” são, invariavelmente, disparates em estado puro, sem uma molécula de relevância para o interesse público. O autor do pedido não está interessado em esclarecer nada – quer apenas agredir o governo com política de baixa qualidade e aparecer por um instante no noticiário. Os ministros agem como seus cúmplices.

O STF nunca exigiu, nos governos anteriores, explicação nenhuma, sobre nenhum assunto, de presidente nenhum – e só Deus sabe quanta coisa haveria para explicar. Com Jair Bolsonaro, de repente, o PT e seus serviçais descobriram que os ministros aceitam qualquer coisa para mostrar que são os grandes inimigos do presidente e inventou-se essa extravagância de responder a uma estupidez qualquer em “48 horas”, ou “três dias”, ou seja lá o que for.

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No fim das contas, acaba sendo apenas mais uma trapaça do eixo esquerda-STF. Na hora de exigir as “explicações”, os senadorzinhos etc. aparecem no noticiário, junto com os parceiros do tribunal; fazem barulho e ganham mais 15 minutos de fama. Mas, como ninguém aí tem a mais remota intenção de levantar questões sérias, nem de informar o público sobre coisa nenhuma, acaba não acontecendo nada.

Querem só fazer a pergunta; estão pouco se lixando para a resposta. [um exemplo é que além da corja esquerdista-petista, tem um outro senador, o 'encrenqueiro' sem projeto, que está sempre pronto a pedir resposta para perguntas estúpidas ou questionar o governo. A última do estridente senador: o governo argentino, em uma manobra sem noção e midiática ofereceu ajuda de dez 'especialistas', os chamados 'capacetes brancos',  para ajudar na tragédia da Bahia. 
Óbvio que o presidente Bolsonaro declinou tão insignificante ajuda - o Brasil tem efetivo suficiente para atender todas as necessidades que poderiam  ser atendidas pela dezena de hermanos, ainda que multiplicadas por mil.  
Tal ajuda seria tão útil = inútil = quanto a prestada em Brumadinho por soldados de Israel. Com ou sem ajuda dos especialistas israelenses, as indenizações as vitimas de Brumadinho já alcançam  a quarta ou quinta geração dos desaparecidos.]   
O que importa é a gritaria. Feito um requerimento de “explicações”, estão armando o requerimento seguinte – e depois mais um, e assim por diante. O resultado é que ninguém, a começar pelos participantes desta fraude, tem a menor ideia sobre o que o governo “explicou”. Tanto é assim que nenhum dos ultimatos do STF resultou em qualquer providência conhecida.

É ilegal? Provavelmente. É uma farsa? Com certeza. Ou seja: é a cara desse STF que está aí.

J.R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES