O
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu as primeiras notícias sobre a
denúncia
apresentada pelo Ministério Público Federal nesta quarta-feira, 14, durante o
almoço em um hotel na zona sul de São Paulo. Segundo pessoas que compartilharam
a mesa, Lula
ficou indignado com a inclusão da ex-primeira-dama Marisa Letícia na acusação,
mas reagiu com naturalidade em relação ao seu próprio nome. Para aliados, a
denúncia faz parte de uma perseguição cujo objetivo é impedir Lula de disputar
a eleição de 2018. “Eles (adversários do PT) foram derrotados quatro vezes (em eleições
presidenciais). Como não querem sofrer uma nova derrota tentam barrar a
candidatura do ex-presidente Lula”, disse o presidente nacional do PT, Rui
Falcão.
O ex-presidente participou de uma
reunião do Conselho da Presidência do PT, formado por dirigentes, parlamentares e governadores
petistas além de intelectuais sem vínculo formal com o partido. Ao final da
reunião, quando se preparava para almoçar, um assessor
mostrou, na tela do celular, as primeiras notícias sobre a denúncia do MPF
referente ao apartamento tríplex no Guarujá.
Nas redes
sociais, Lula se comparou ao ex-presidente Juscelino Kubitschek. “Curiosidade histórica: JK foi acusado de
ser dono de imóvel em nome de amigo.” Antes mesmo de a denúncia ser noticiada, a
ofensiva da Lava Jato em direção ao ex-presidente foi tema de algumas das falas
dos participantes da reunião. “Venho
dizendo desde o começo. Seria o cúmulo da ingenuidade supor que iriam fazer
este carnaval que fizeram para depois deixar o Lula ganhar a eleição em 2018”,
disse o escritor Fernando Morais, integrante do conselho.
Para a
maioria dos participantes da reunião, a denúncia já era esperada. “Lula está tranquilo e triste como todos
nós. Não é surpresa nenhuma. O objetivo do golpe não é só tirar a Dilma, é
também o Lula”, disse o escritor Eric Nepomuceno. O governador do Piauí, Wellington Dias (PT),
defendeu a inocência do ex-presidente.
“Não é a primeira vez que tem ações da Justiça contra o ex-presidente. Lula
deve ser o brasileiro mais investigado da história”, afirmou.
O PT e o Instituto Lula
aguardavam o fim da entrevista dos procuradores da Lava Jato para se
posicionarem oficialmente.
Os
procuradores acusarão Lula de ser o verdadeiro dono do tríplex que estava em
reforma – a defesa do petista nega taxativamente
O
Ministério Público Federal (MPF) apresentará denúncia contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva por corrupção e lavagem de dinheiro
na reforma do tríplex do Condomínio Solaris, no Guarujá, litoral
paulista. O petista é alvo de três
investigações centrais na Operação Lava Jato, em Curitiba – sede do
escândalo de cartel e corrupção na Petrobras. O presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, também será acusado
criminalmente.
Lula
teria recebido “benesses” da
empreiteira OAS – uma das líderes do
cartel que pagava propinas na Petrobras – em obras de reforma no
apartamento 164-A do Edifício Solaris. O prédio foi construído pela Bancoop (cooperativa habitacional do sindicato dos
bancários), que teve como presidente o ex-tesoureiro do PT João Vaccari
Neto – preso desde abril de 2015. O
imóvel foi adquirido pela OAS e recebeu benfeitorias da empreiteira. Os procuradores
da Lava Jato acusarão na Justiça Lula de ser o verdadeiro dono do tríplex que
estava em reforma – a defesa do petista nega taxativamente. No último mês, a
Polícia Federal indiciou Lula, a ex-primeira
dama Marisa Letícia, o ex-presidente
da OAS José Aldemário Pinheiro, o Léo
Pinheiro, e um engenheiro da empreiteira que participou da reforma do
imóvel. No indiciamento, o delegado Márcio Adriano Anselmo, afirmou que “[Lula] recebeu vantagem indevida por
parte de José Aldemário Pinheiro e Paulo Gordilho, presidente e engenheiro da
OAS, consistente na realização de reformas no apartamento 174”. O imóvel
recebeu obras avaliadas em 777.000
reais, móveis no total de 320.000 reais
e eletrodomésticos no valor de 19.000
reais – totalizando
1,1 milhão de reais.
Processos
– Lula foi alvo de condução coercitiva, no dia 4 de março, quando foi deflagrada a 24ª
fase da Lava Jato, batizada de Operação Aletheia. Na ocasião ele negou conhecer
o engenheiro da OAS Paulo Gordilho, que teria participado da reforma da cozinha
do tríplex e de outra propriedade que investigadores atribuem a Lula, o sítio
de Atibaia (SP). Investigadores da força-tarefa, em Curitiba, reuniram
elementos para apontar a participação de Lula no esquema de cartel e corrupção
que vigorou de 2004 a 2014, na Petrobras – e teria sido espelhado em outras
áreas do governo, como contratos do setor de energia, concessões de aeroportos
e rodovias.
Com base
em uma sistemático padrão de corrupção como “regra
do jogo”, empreiteiras, em conluio com agentes públicos e políticos da
base, PT, PMDB e PP, em especial, desviavam de 1% a 3% em contratos das
estatais. Um rombo de pelo menos 6,2 bilhões de reais só na Petrobras. Lula
teria recebido “benesses” das
empreiteiras do cartel, como Odebrecht, OAS e outras. Executivos das duas
empresas negociam desde o início do ano acordos de delação premiada com o
MPF – a da OAS foi encerrada pela
Procuradoria Geral da República (PGR).
Nas
mensagens encontradas nos celulares apreendidos do ex-presidente da OAS e do
engenheiro do grupo há elementos, para a
PF, de que o casal Lula orientou as reformas no apartamento do Guarujá. Os
pagamentos da OAS também devem gerar outra denúncia sobre o custeio do
armazenamento de bens do ex-presidente pela empresa Granero. Desde 2011, quando
ele deixou a Presidência, a empreiteira teria pago cerca de 1,3 milhão de reais pela guarda do material.
Outro inquérito, em fase final,
investiga a compra e reformas no sítio Santa Bárbara, em Atibaia, interior de São
Paulo. O imóvel, para a Lava Jato, pertence a Lula e recebeu obras da OAS e da
Odebrecht. O ex-presidente nega ser o proprietário do sítio. O terceiro inquérito da PF vasculha pagamentos e doações à LILS
Palestras e Eventos e ao Instituto Lula. A PF
suspeita que a LILS e o Instituto receberam valores de empreiteiras contratadas
durante os dois mandatos de Lula (2003/2010).
Fonte:
Estadão Conteúdo