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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

Lula não perde uma chance de mostrar que não entende nada de economia - Gazeta do Povo

Vozes - Alexandre Garcia

Ataques ao Banco Central


Enquanto a atual primeira-dama passou a segunda noite no Palácio do Alvorada, para onde ela e Lula se mudaram na noite de segunda-feira, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro publicou uma mensagem negando candidatura. Eu não sei a que grupo foi dirigida, se foi à oposição ao ex-presidente Bolsonaro ou se foi à oposição atual, porque ela diz o seguinte: “oposição, fiquem tranquilos, eu não tenho nenhuma intenção de vir candidata a nenhum cargo eletivo”.  
Digo que não ficou claro qual é a oposição a que ela se refere porque, se ela estiver falando da oposição atual, está se dirigindo aos seus correligionários, apoiadores do seu marido, que podem estar pensando que, se ela for candidata, vai tirar votos deles, e aí começaria a haver problemas dentro do próprio lado.

Sei que isso é complicado porque já passei por situações parecidas. Trabalhei aqui em Brasília para duas emissoras de tevê que tinham sede no Rio, então volta e meia eu tinha de deixar bem claro que não queria ir para o Rio, que não era concorrente de ninguém que estava no Rio, que podiam continuar me tratando normalmente, que eu não tiraria o lugar de ninguém. Talvez Michelle esteja dizendo isso para os seus próprios companheiros, apoiadores de seu marido. Acho até que seja o mais provável; vejo que ela escreveu com alguma emoção, na forma como redigiu a mensagem.

Ataques a empresários e à independência do BC mostram ignorância de Lula 
Estão pedindo para que os ministros de Lula o convençam a fechar mais a boca. Parece que eu já vi esse filme no governo anterior, porque gente me ligava dizendo que Bolsonaro tinha de calar a boca, estava falando demais... 
O atual presidente, no primeiro mês, já deixou todo mundo preocupado. 
É briga de um lado e de outro a cada vez que ele fala. Ainda ontem, insistiu em bater no Banco Central por causa dos juros; o BC é independente, e talvez ele queira acabar com a independência do BC ou fazer com que a atual diretoria desista, renuncie por não aguentar mais a cada vez que ele fala
Ontem ele deu entrevista para 41 órgãos da nova mídia e falou de novo sobre os juros de 13,75%.  
Mas se o Copom alterar isso vai ser uma calamidade, solta a inflação e desvaloriza o dinheiro que está no nosso bolso. 
Vamos chegar ao fim do mês e o dinheiro vai valer menos, o salário vai ficar menor.
 
Foi uma bênção termos o Banco Central independente. E isso só ocorreu no governo passado; a proposta existia havia 30 anos e nenhum presidente quis abrir mão de poder influenciar a taxa de juros.  
O principal objetivo do Banco Central é ser o guardião da moeda; se ninguém guardar o valor da moeda e vier a gastança desenfreada, os R$ 100 que estão no seu bolso no dia 1.º estarão valendo R$ 80 no fim do mês, você vai comprar só o equivalente a R$ 80. 
Esse é o problema da Argentina
E imagine só, querem fazer uma moeda única com a Argentina, que está com 100% de desvalorização anual do peso enquanto nós, aqui, temos inflação menor que a dos Estados Unidos e da Alemanha, com crescimento maior que o da China pela primeira vez em 42 anos.
 
E não é só isso; toda hora Lula fala mal dos empresários, dos ricos.  
O empresário rico constrói empresas que dão emprego, que pagam salários, que pagam impostos, e que são os que movimentam a economia de um país, todo mundo junto. 
Outro dia o presidente disse que os empreendedores não trabalham, que quem trabalha para eles são os empregados, e os empresários é que ganham. Lula já se esqueceu do que é formação de capital?
O sujeito, para começar, precisa ter trabalhado antes. Não existe almoço grátis, mas parece que o presidente voltou diferente do que era no seu primeiro mandato, quando a taxa Selic era o dobro da atual, de 26,5% no seu primeiro ano.

Todo mundo esperando as coisas melhorarem, né? Nós não temos terremoto como na Turquia e na Síria, mas temos essas coisas.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Inclusão de Marisa Letícia em denúncia do MPF irrita Lula – vale o ditado: mulher de bandido, bandida é - Lava Jato vai levar a Moro primeiras denúncias contra Lula



O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu as primeiras notícias sobre a denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal nesta quarta-feira, 14, durante o almoço em um hotel na zona sul de São Paulo. Segundo pessoas que compartilharam a mesa, Lula ficou indignado com a inclusão da ex-primeira-dama Marisa Letícia na acusação, mas reagiu com naturalidade em relação ao seu próprio nome. Para aliados, a denúncia faz parte de uma perseguição cujo objetivo é impedir Lula de disputar a eleição de 2018.  “Eles (adversários do PT) foram derrotados quatro vezes (em eleições presidenciais). Como não querem sofrer uma nova derrota tentam barrar a candidatura do ex-presidente Lula”, disse o presidente nacional do PT, Rui Falcão. 

O ex-presidente participou de uma reunião do Conselho da Presidência do PT, formado por dirigentes, parlamentares e governadores petistas além de intelectuais sem vínculo formal com o partido. Ao final da reunião, quando se preparava para almoçar, um assessor mostrou, na tela do celular, as primeiras notícias sobre a denúncia do MPF referente ao apartamento tríplex no Guarujá. 

Nas redes sociais, Lula se comparou ao ex-presidente Juscelino Kubitschek. “Curiosidade histórica: JK foi acusado de ser dono de imóvel em nome de amigo.”  Antes mesmo de a denúncia ser noticiada, a ofensiva da Lava Jato em direção ao ex-presidente foi tema de algumas das falas dos participantes da reunião. “Venho dizendo desde o começo. Seria o cúmulo da ingenuidade supor que iriam fazer este carnaval que fizeram para depois deixar o Lula ganhar a eleição em 2018”, disse o escritor Fernando Morais, integrante do conselho.
Para a maioria dos participantes da reunião, a denúncia já era esperada. “Lula está tranquilo e triste como todos nós. Não é surpresa nenhuma. O objetivo do golpe não é só tirar a Dilma, é também o Lula”, disse o escritor Eric Nepomuceno.  O governador do Piauí, Wellington Dias (PT), defendeu a inocência do ex-presidente. “Não é a primeira vez que tem ações da Justiça contra o ex-presidente. Lula deve ser o brasileiro mais investigado da história”, afirmou. 

O PT e o Instituto Lula aguardavam o fim da entrevista dos procuradores da Lava Jato para se posicionarem oficialmente.
Os procuradores acusarão Lula de ser o verdadeiro dono do tríplex que estava em reforma – a defesa do petista nega taxativamente
O Ministério Público Federal (MPF) apresentará denúncia contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por corrupção e lavagem de dinheiro na reforma do tríplex do Condomínio Solaris, no Guarujá, litoral paulista. O petista é alvo de três investigações centrais na Operação Lava Jato, em Curitiba – sede do escândalo de cartel e corrupção na Petrobras. O presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, também será acusado criminalmente.

Lula teria recebido “benesses” da empreiteira OAS – uma das líderes do cartel que pagava propinas na Petrobras – em obras de reforma no apartamento 164-A do Edifício Solaris. O prédio foi construído pela Bancoop (cooperativa habitacional do sindicato dos bancários), que teve como presidente o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto – preso desde abril de 2015. O imóvel foi adquirido pela OAS e recebeu benfeitorias da empreiteira.  Os procuradores da Lava Jato acusarão na Justiça Lula de ser o verdadeiro dono do tríplex que estava em reforma – a defesa do petista nega taxativamente. No último mês, a Polícia Federal indiciou Lula, a ex-primeira dama Marisa Letícia, o ex-presidente da OAS José Aldemário Pinheiro, o Léo Pinheiro, e um engenheiro da empreiteira que participou da reforma do imóvel. No indiciamento, o delegado Márcio Adriano Anselmo, afirmou que “[Lula] recebeu vantagem indevida por parte de José Aldemário Pinheiro e Paulo Gordilho, presidente e engenheiro da OAS, consistente na realização de reformas no apartamento 174”. O imóvel recebeu obras avaliadas em 777.000 reais, móveis no total de 320.000 reais e eletrodomésticos no valor de 19.000 reaistotalizando 1,1 milhão de reais.

Processos – Lula foi alvo de condução coercitiva, no dia 4 de março, quando foi deflagrada a 24ª fase da Lava Jato, batizada de Operação Aletheia. Na ocasião ele negou conhecer o engenheiro da OAS Paulo Gordilho, que teria participado da reforma da cozinha do tríplex e de outra propriedade que investigadores atribuem a Lula, o sítio de Atibaia (SP). Investigadores da força-tarefa, em Curitiba, reuniram elementos para apontar a participação de Lula no esquema de cartel e corrupção que vigorou de 2004 a 2014, na Petrobras – e teria sido espelhado em outras áreas do governo, como contratos do setor de energia, concessões de aeroportos e rodovias.

Com base em uma sistemático padrão de corrupção como “regra do jogo”, empreiteiras, em conluio com agentes públicos e políticos da base, PT, PMDB e PP, em especial, desviavam de 1% a 3% em contratos das estatais. Um rombo de pelo menos 6,2 bilhões de reais só na Petrobras. Lula teria recebido “benesses” das empreiteiras do cartel, como Odebrecht, OAS e outras. Executivos das duas empresas  negociam desde o início do ano acordos de delação premiada com o MPF – a da OAS foi encerrada pela Procuradoria Geral da República (PGR).

Nas mensagens encontradas nos celulares apreendidos do ex-presidente da OAS e do engenheiro do grupo há elementos, para a PF, de que o casal Lula orientou as reformas no apartamento do Guarujá. Os pagamentos da OAS também devem gerar outra denúncia sobre o custeio do armazenamento de bens do ex-presidente pela empresa Granero. Desde 2011, quando ele deixou a Presidência, a empreiteira teria pago cerca de 1,3 milhão de reais pela guarda do material.

Outro inquérito, em fase final, investiga a compra e reformas no sítio Santa Bárbara, em Atibaia, interior de São Paulo. O imóvel, para a Lava Jato, pertence a Lula e recebeu obras da OAS e da Odebrecht. O ex-presidente nega ser o proprietário do sítio. O terceiro inquérito da PF vasculha pagamentos e doações à LILS Palestras e Eventos e ao Instituto Lula. A PF suspeita que a LILS e o Instituto receberam valores de empreiteiras contratadas durante os dois mandatos de Lula (2003/2010).

Fonte: Estadão Conteúdo

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

A ex-primeira-dama que emudece com estranhos por perto terá de soltar a voz no depoimento sobre o triplex do Guarujá

Somados, não devem passar de 2 minutos os vídeos que mostram Marisa Letícia Lula da Silva falando alguma coisa

Certamente por falta do que dizer, sugerem os três momentos reunidos no vídeo abaixo. Todos foram gravados em 2010, quando um surpreendente surto de loquacidade animou-a a interromper a mudez em Jerusalém, em Brasília e em São Paulo. 

O Discurso no Muro das Lamentações, pronunciado em 19 de março, foi o mais extenso. “É segredo”, responde Marisa Letícia ao repórter interessado em saber o que havia escrito no pedaço de papel endereçado à Divina Providência. “Só Jesus vai vê meu bilhete”. O Discurso na Despedida da Seleção Brasileira, pronunciado no Palácio do Planalto, foi ainda mais conciso: “Boa sorte, Robinho”, diz ao jogador de partida para o fiasco na África do Sul.

A série encerrou-se em outubro, com o Discurso sobre Doações Eleitorais. Escoltada por Eduardo Suplicy e Aloizio Mercadante, a mulher de Lula destaca uma das facilidades oferecidas a quem quisesse dar dinheiro para o PT: “Não precisa nem saí de casa. Pode fazê em casa, isso”. Haja laconismo. Em conversas sem testemunhas perigosas nas cercanias, ela gasta a voz que economiza quando há jornalistas por perto.

A dona de casa Marisa Letícia faz questão de deixar claro que é a dona da casa. No Palácio da Alvorada ou no apartamento em São Bernardo, no triplex do Guarujá ou no sítio em Atibaia, foi sempre dela a última palavra em questões domésticas ─ das arrobas que os filhos obesos precisam perder aos luxos e benfeitorias que os imóveis do clã merecem ganhar. Um elevador privativo, por exemplo.

E tudo de graça, porque a ex-primeira-dama desconhece a existência de fronteiras entre o público e o privado, e faz de conta que ignora a diferença entre a demonstração de amizade e a sem-vergonhice interesseira. Meses depois de instalar-se no Alvorada, por exemplo, resolveu enfeitar o jardim com uma estrela vermelha do PT feita de sálvias. Diante das reações negativas, transferiu o monumento à jequice explícita para a Granja do Torto, outra propriedade da União.

A história da estrela de jardim tornou-se um quase nada depois das revelações sobre o sítio e o triplex remodelados pela OAS, pela Odebrecht e pelo amigão José Carlos Bumlai. Os dois casos de polícia decerto monopolizaram as conversas da Famiglia Lula durante o Carnaval. A montagem dos álibis que ainda não há anda exigindo mais imaginação do que a esbanjada pelos carnavalescos da Sapucaí.

Marisa Letícia também deve ter consumido algumas horas ensaiando o que dirá ao promotor  Cássio Conserino, do Ministério Público paulista,  no depoimento marcado para a próxima quarta-feira, 17 de fevereiro. 

Pela primeira vez, ela ouvirá perguntas constrangedoras formuladas por uma autoridade decidida a apurar o que houve no prédio do GuarujáComo as respostas não cabem em meia dúzia de palavras, Marisa Letícia terá de falar muito. O maridão que se cuide.

Fonte: Coluna do Augusto Nunes

 

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Rosane Malta, ex-Collor, conta em livro tudo que viveu com o ex-presidente

Em livro, Rosane conta sobre vida com Collor: do impeachment a ritual macabro com fetos humanos 

Ex-primeira-dama conta o que viu e viveu com ex-presidente da República

Cortejada pelo então prefeito de Maceió Fernando Collor de Mello, a menina que ainda usava uniforme escolar, aos 15 anos, e vivia sob ordens severas do pai não imaginava que seria a futura esposa do 32º presidente da República do Brasil. Envaidecida e animada com os elogios, ela levou adiante o flerte, consumado anos mais tarde, após um telefonema surpresa. O roteiro que poderia ser apenas de uma garota apaixonada esbarrou no destino atribulado de Rosane. Ela enfrentou, no centro do poder, crises de depressão, medo do suicídio do marido e “humilhações públicas”, segundo diz no livro lançado na quinta-feira, em Maceió. “Tudo o que vi e vivi” (R$ 39,90, editora LeYa) é a versão de Rosane Malta (agora com o nome de divorciada) sobre a sua relação com o ex-presidente apeado do poder.
— É uma história dolorosa e triste. Mas uma história bonita que poderia terminar da melhor forma possível. Eu aprendi desde criança a falar a verdade. Se não pudesse, não falava nada. Então, tudo o que digo no livro é verdade — afirma ela ao GLOBO.
 Rosane e Fernando Collor (Imagem: Sergio Marques / O Globo)
Mesmo vivenciando a conturbada rotina de primeira-dama, com muitas brigas conjugais, Rosane subiu a rampa do Palácio do Planalto após o impeachment, apertou a mão de Collor, e disse: “Levante a cabeça. Não abaixe, não. Seja forte”. Collor é, segundo ela, o maior amor e a maior decepção de sua vida. Em 288 páginas, Rosane relata intrigas familiares, os rituais macabros que eram realizados na Casa da Dinda, os esquemas do ex-tesoureiro de campanha de Collor, além da morte de PC Farias e do destino do dinheiro do esquema de corrupção.

Durante a Presidência da República, ela conta que Collor usava a Casa da Dinda para rituais que pudessem fortalecê-lo politicamente. O relato mais forte sobre as sessões realizadas pela Mãe Cecília, de confiança do ex-marido, envolveu fetos humanos.
“Cecília me contou que, certa vez, fez um trabalho para Fernando envolvendo fetos humanos. Ela pegou filhas de santo grávidas, fez com que abortassem e sacrificou os fetos para dar às entidades. Uma coisa terrível, da qual ela obviamente se arrepende. Quando eu soube disso, chorei copiosamente”.

Um dos primeiros “trabalhos” dos quais Rosane teve notícia ocorreu quando Collor ficou enfurecido com a decisão de Silvio Santos de se candidatar à Presidência em 1989. E ainda mais com o apoio de José Sarney, seu inimigo político. O dono do SBT havia dito a Collor que não concorreria ao cargo, mas descumpriu o acordo. O candidato do PRN, então, encomendou um “trabalho”. Pouco depois, a candidatura de Silvio foi impugnada pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Perguntada se tem medo da repercussão e de possíveis processos judiciais por conta das revelações do livro, Rosane responde de forma tranquila: — Estamos muito bem documentados. E não temos preocupação em relação isso. Tudo o que eu falei eu vi e vivi, como diz o título do livro. É realmente isso.

COLLOR E A CUNHADA
“O grande problema de Fernando era com Pedro. E o meu, com Thereza, a mulher dele”. Rosane diz que o irmão caçula do ex-marido tinha ódio do ex-presidente. Segundo ela, Pedro sustentava que Fernando cantava Thereza. “Acredito na tese de que os dois tiveram algo antes do meu casamento e Thereza continuou apaixonada. Eu também não duvido que tenha sido por Thereza, por essa obsessão que ela tinha pelo cunhado, que Pedro resolveu destruir o próprio irmão”, diz ela.

Pedro Collor denunciou à revista “Veja”, em 1992, que PC Farias era testa de ferro do então presidente, e que o jornal Tribuna de Alagoas, que PC queria lançar em Maceió, na verdade pertenceria a seu irmão. No período mais agitado da República desde a redemocratização, ela diz que não tinha dúvidas de que Collor era inocente. “Eu era muito nova, pouco experiente e acreditava no meu marido. Eu achava normal que as pessoas ajudassem Fernando espontaneamente, como fazia PC Farias”. Depois, no entanto, mudou de opinião e relatou que “algumas dúvidas foram surgindo”.

Rosane descreve o deslumbramento da jovem que desfrutou o poder: a dedicação ao figurino e as palavras elogiosas que trocou com a princesa Diana, além da amizade com Cláudia Raia e outras pessoas famosas. Conta que foi elogiada por Fidel Castro:
“Esse presidente do Brasil é muito esperto. Arrumou uma esposa novinha e linda” teria dito o ditador cubano a Collor. Segundo Rosane, mesmo após o impeachment, Fidel continuou a enviar charutos da ilha caribenha ao ex-presidente.

AMIGA DE ROGER ABDELMASSIH
Em busca por tratamento para a gravidez, Rosane, que abortou naturalmente filhos de Collor, procurou Roger Abdelmassih, hoje condenado a 181 anos, 11 meses e 12 dias de reclusão por abusar sexualmente de pacientes. Ele era amigo do casal. “O doutor Roger era nosso amigo. Frequentávamos a casa dele, e ele, a nossa. Houve até um Natal em que assistimos a uma missa em sua casa antes de ir para a festa na residência de Patsy Scarpa (falecida em 2012,aos 82 anos), mãe do Chiquinho Scarpa, onde comemorei a data por três anos. (...) Fiquei muito assustada quando vieram à tona as histórias de mulheres que dizem ter sido abusadas por Roger durante as consultas”.

COLLOR NÃO TEM CARÁTER
Nos últimos oito anos, Rosane briga com Collor no tribunal para que seja reconhecido o direito de ser compensada pelo fato de ter deixado de lado a sua própria vida profissional para acompanhá-lo. Recentemente conseguiu que ele fosse condenado, mas o processo ainda não terminou. — Muitas coisas que aconteciam, como abandonar a carreira, não concordava, com certeza. Mas não ia largá-lo. A mesma dignidade que eu tive com ele, ele não teve comigo. Ele não teve caráter — diz ela, que acrescenta: — Eu amenizei muitas coisas que estão no livro, não passei ódio. Passei, sim, decepção. Eu não guardo ódio. Guardo decepção. Eu lutei para que a Justiça me desse os meus direitos.


Procurada pelo GLOBO sobre os assuntos descritos no livro, a assessoria de Fernando Collor ainda não retornou.

PRIMEIRA-DAMA EM APUROS
Enquanto o marido era presidente, Rosane estava à frente da Legião Brasileira de Assistência (LBA), um órgão assistencial público. À época, ela foi acusada de envolvimento na compra superfaturada de 1,6 milhão de quilos de leite em pó: cerca de 25% a mais pelo quilo do leite. Além disso uma cunhada sua, que ocupava uma superintendência do órgão, foi acusada de dirigir projetos que nunca saíram do papel.

No livro, ela diz que “sequer precisava assinar a autorização para esses projetos nos Estados. Cada superintendente estadual era indicado por uma liderança política da base aliada do governo”. Sobre o escândalo do leite, diz que “não tinha nada a ver com aquilo, como ficou comprovado depois na Justiça”. Ela relata que Collor ficava preocupado que o escândalo o atingisse.

Rosane também conta que foi acusada pela imprensa de dar uma festa de aniversário para a amiga com dinheiro público. Ela sustenta, no entanto, que apenas convidou-a para um evento de embaixatrizes na mesma data de comemoração. Além dos fatos noticiados sobre a primeira-dama, Collor preocupava-se com irmão de Rosane, “Joãozinho”, que poderia atingir a imagem do presidente. Após saber que o prefeito Canapi, Mauro Fernandes da Costa, havia falado mal de Rosane, Joãozinho foi atrás dele em um bar, sacou um revólver, e atirou contra o prefeito. “Os Malta não levam desaforos para casa e, quando alguém provoca um parente, toda a família se sente atingida”, escreve Rosane.

PC FARIAS E CONTA SECRETA
No início das investigações contra o governo, abertas em 1992 para investigar o chamado esquema PC Farias, o secretário particular de Collor, Cláudio Vieira, afirmou que os gastos pessoais do presidente vinham de um empréstimo para a campanha de US$ 5 milhões feito no Uruguai. A versão foi desmentida após uma secretária relatar que o empréstimo ocorreu depois das eleições, apenas para encobrir o pagamento das contas da Casa da Dinda. "Quando eu ouvia de Fernando que os depósitos que recebíamos não eram fruto de negócios escusos, mas simplesmente de doações de empresas que não foram usadas na campanha, eu não tinha por que duvidar. Parecia normal para mim, talvez por inexperiência, ter recursos de campanha, e que usufruir disso não era errado", conta Rosane.

Sobre a conta no exterior dos restos de campanha, no montante de US$ 50 milhões, como admitiu Collor em 2009 à Globonews, Rosane diz que ouviu "algumas conversas de que essa bolada realmente existia". A versão não oficial era a de que seu irmão, Augusto, a movimentava.

Na segunda metade da década de 1990, Collor teria dito a Rosane que estava tendo dificuldade para acessar uma conta gerida pelo irmão. Ela sugere no texto que era a tal conta do escândalo. "Além do mais, eu conheci o suíço Gerard". Aos 50 anos, Rosane diz que ainda tem muito a contar. Outras histórias podem ficar para um segundo volume. — Quem sabe? Vamos ver como me saio com esse livro. Depois a gente vê.

Leia alguns trechos do livro cedidos pela editora LeYa:
“O grande problema de Fernando era com Pedro. E o meu, com Thereza, a mulher dele. Em seu livro cheio de rancor ‘Passando a Limpo – A Trajetória de um Farsante’, publicado em 1993, sobre a rivalidade entre ele e o irmão, Pedro defende a tese de que Fernando dava em cima da cunhada. Eu não acredito nisso. Acredito na tese de que os dois tiveram algo antes do meu casamento e Thereza continuou apaixonada. Eu também não duvido que tenha sido por Thereza, por essa obsessão que ela tinha pelo cunhado, que Pedro resolveu destruir o próprio irmão”.

“Logo depois de Fernando assumir a presidência, comecei a ser alvo de críticas porque meus gastos aumentaram. Isso é uma bobagem tremenda. É claro que eu estava gastando mais! Afinal, eu passei a ter certas obrigações que não tinha como primeira-dama do Estado ou como esposa de um deputado federal. Uma primeira-dama do país gasta mais do que todas as outras, é óbvio! Até mesmo as roupas do dia a dia têm que ser muito alinhadas. Não se pode, por exemplo, comparecer a uma entrevista com um traje simplesinho. Para cada um dos eventos, é preciso pensar em um figurino diferente. E tem ainda as viagens... Um país diferente requer roupas específicas. E eu sempre gostei de boas marcas”.

“Pela péssima execução daquilo que ficou conhecido como Plano Collor, Zélia, para mim, está associada ao primeiro grande erro de Fernando como presidente. Na minha opinião, ela não estava preparada para o cargo de ministra, apesar de ser uma mulher muito inteligente e de ter ajudado muito na elaboração do programa de governo. Ali eu acredito que o governo perdeu muita credibilidade e tornou-se uma vitrine muito frágil para todas as pedras que foram atiradas depois”.

“Aliado a PC Farias, Fernando começou a criar a Tribuna de Alagoas. Na época, ninguém sabia que se tratava de um jornal do presidente. O que se sabia era que PC e seus irmãos estavam montando um diário que, em teoria, concorreria com o jornal da família Collor. E que, por mais estranho que fosse, Fernando apoiava a iniciativa. Só isso. Mas Fernando estava, sim, envolvido no negócio. Tanto é que discutiu com Pedro diversas vezes por causa disso. Pedro temia que a Tribuna tomasse o mercado e os funcionários da Gazeta, e cobrava do irmão uma postura enérgica, pois sabia que PC era seu braço direito. Fernando se negou a fazer qualquer coisa, o que deixou Pedro furioso.”

“Lembro apenas que, depois de um tempo de governo, Fernando começou a se incomodar um pouco com Itamar. Segundo meu marido, seu vice era uma pessoa demasiadamente sensível, que tem um ego dependente de elogios, de afago. Por qualquer coisinha, Itamar se chateava e, para que isso não acontecesse, alguém precisava sempre elogiá-lo, valorizá-lo. Fernando odiava tal comportamento.”

“Dizem que Fernando ficou devendo meses de aluguel da Casa da Dinda para a mãe, dona Leda, quando era deputado. Não duvido. Ele gastava sem saber se tinha dinheiro para bancar e, depois, tinha que fazer essas maluquices para cobrir a conta.”

“Em 12 de outubro de 1992, um helicóptero que fazia um voo entre São Paulo e Angra dos Reis (RJ) caiu e desapareceu no mar. Dentro dele estavam o deputado Ulysses Guimarães e sua mulher, além de outros passageiros e, claro, o piloto. Apesar de todas as buscas, o seu corpo nunca foi encontrado. Era a primeira manifestação do que ficou conhecido como “a maldição do impeachment”, uma série de mortes estranhas e trágicas de pessoas ligadas a Fernando ou ao seu afastamento da presidência. Além do deputado Ulysses, também Pedro Collor, PC Farias e sua mulher, Elma, supostamente haviam sido atingidos por tal maldição. Todos eles morreram poucos anos depois do impeachment. Todos vítimas de magia negra? Eu não sei quem espalhou esse boato, só sei que ele faz algum sentido.”

“Íamos ao terreiro mais ou menos uma vez por mês, mas, sempre que queria algo, Fernando ligava para a mãe de santo e ela dizia o que precisava ser feito para atingir seus objetivos. Dali até a eleição para a presidência, Fernando não vivia sem as orientações daquela mulher. A Mãe Cecília também passou a frequentar o Palácio, aonde ia para receber as entidades (os espíritos) que falavam com o presidente. Anos depois, em uma entrevista, ela contou que, aos poucos, os santos foram se acostumando com o bom e o melhor. Só queriam champanhe e uísque importado e faziam questão de fumar charuto cubano. Fernando bancava tudo isso, para que os trabalhos espirituais tivessem efeito.”


“O fato é que Fernando foi meu grande amor e também minha grande decepção. Não só por tudo o que ele me fez até hoje, mas por não me deixar viver em paz depois da separação. É claro que só vou conseguir deixá-lo no passado quando essa situação se resolver e eu encontrar um outro amor verdadeiro. Já tive alguns namorados desde a separação, pessoas muito queridas, mas nenhum conseguiu ocupar esse lugar. Mesmo assim, sinto-me bem resolvida no campo do coração.”

“Em 2014, 22 anos depois do impeachment, ele foi absolvido pelo Supremo Tribunal Federal, por falta de provas, das acusações restantes referentes aos anos em que esteve na presidência do país (peculato, falsidade ideológica e corrupção). O que mais ele queria da vida? Por que nada disso lhe deu a tranquilidade para conseguir me deixar em paz, dando-me uma oportunidade para que eu também pudesse reconstruir minha vida? Ele não parecia querer me ver livre. Eu, pelo contrário, não vejo a hora de essa novela acabar. Também escrevi uma carta pedindo a ele, por favor, que parasse, refletisse, que eu aceitava a proposta irrisória só para ter um ponto final, mas não adiantou. Então não me sobrou outra opção a não ser seguir tentando, para ter o que é meu de direito.”

“Enquanto esse problema não se resolve, eu não quero parar minha vida. E este livro é a prova de que a fila anda. Há anos recebo convites para me candidatar à deputada, vereadora e outros cargos, mas não era a hora, ainda. Outros desafios podem surgir, e estou preparada para enfrentá-los. Já venci tantos problemas... Meu futuro promete!”

Clique aqui para mais detalhes sobre o livro e a vida em comum de Rosane x Collor