Para a
Rede Globo e muitos políticos, Michel Temer já caiu: só falta avisá-lo
de que seu mandato acabou. Para grande parte da imprensa, mesmo que
Temer sobreviva a esta primeira denúncia, não resistirá à seguinte (e,
se sobreviver, ainda haverá uma terceira). Para o deputado Rodrigo Maia,
presidente da Câmara, primeiro na lista de sucessão, nem é preciso
esforçar-se para chegar ao Planalto: o poder cairá no seu colo.
Para
este colunista, a previsão (nome chique que o pessoal citado acima dá
ao palpite), é de que Temer tem boas probabilidades de resistir. A fonte
principal da coluna lembra que uma conceituada consultoria
internacional de análise de risco político, Eurasia Group, dá a Temer
maiores chances de terminar o mandato do que de cair: no dia 11, de 60% a
40%. Deve ser uma análise séria, já que os clientes da Eurasia a
utilizam em suas decisões de investimento. Mas a fonte do colunista acha
que a probabilidade de Temer sobreviver é maior do que a calculada pela
Eurasia. E lembra que, se o grupo contrário a Temer tivesse a certeza
de derrotá-lo, iria acelerar a votação, em vez de retardá-la com
depoimentos e recursos ao STJ.
Qual
é a fonte em quem tanto confia este colunista? A fonte é um bom
analista, César Maia. Mais do que bom analista, é pai do deputado
Rodrigo Maia. Se o pai prevê, publica e assina http://wp.me/p6GVg3-3BX que o filho não chega agora à Presidência, quem pode dizer o contrário?
A arma do presidente
Ao
menos neste momento, Temer tem o apoio do baixo clero, nome do grupo de
parlamentares que têm pouca importância política e que em geral são
ignorados pelos líderes políticos – mas cujo voto vale tanto quanto o
dos caciques. Temer foi três vezes presidente da Câmara e sabe conversar
com esses deputados, dando-lhes a importância que não têm; e,
presidente da República, tem condições de oferecer-lhes mais importância
e algo mais. Admitir o pedido de autorização para a abertura de
inquérito sobre Temer exige 342 votos. Se 172 deputados faltarem à
votação, ou votarem contra, o número mínimo não será atingido e a
autorização estará rejeitada.
Olha o nível!
Dia
de votar a reforma das leis trabalhistas no Senado. O PT é contra (bem
como sindicatos e centrais sindicais, que perdem a grande boquinha do
Imposto Sindical). Início da sessão: 11 horas. O presidente da Casa,
senador Eunício Oliveira, chega no horário e descobre que quatro
senadoras, três do PT e uma do PSB, estão ocupando a Mesa. Recusam-se a
sair de lá. Eunício encerra a sessão e manda apagar a luz. As senadoras
continuam no mesmo lugar. Na hora do almoço, chegam as marmitas para as
quatro. Mais tarde, vêm à Mesa mais duas senadoras. Perto da Mesa,
circulam outras parlamentares, como Benedita da Silva, PT, esquerdista
histórica, e Kátia Abreu, PMDB, que passou de líder ruralista a
militante de esquerda. E Lindbergh Farias fica ali, como camarada
orientador. Discutir o projeto para que? Fazer arruaça infanto-juvenil
rende mais tempo na TV.
A
Mesa foi desocupada às 18h45. Quem negociou com as senadoras? Um
peemedebista que tem bom diálogo com elas, Jader Barbalho, PMDB.
Os nomes, os nomes
As
primeiras ocupantes da Mesa foram Lídice da Mata (PSB), Gleisi Hoffmann
(presidente nacional do PT), Fátima Bezerra e Regina Souza, ambas do
PT. Juntou-se a elas, mais tarde, Vanessa Grazziotin (PCdoB).
Todos juntos
O
Imposto Sindical, um dia do ordenado de cada um dos assalariados do
país, estimula a criação de mais sindicatos, por ser uma bela fonte de
renda, e faz com que os sindicatos não precisem trabalhar, pois tenham
ou não associados sua receita está garantida. Resultado, temos mais de
17 mil sindicatos no país, que funcionam do jeito que se sabe. E é
importante lembrar que sindicatos patronais, que representam quase 1/3
deste número, também se beneficiam do Imposto Sindical e querem
mantê-lo. O setor empresarial tem ainda outro benefício: o Sistema S
(Sesc, Senac, Sesi, Senai) recebe dinheiro do Governo, via federações
patronais.
Dia quente
Hoje,
ao meio-dia, outra sessão movimentada: a sabatina de Raquel Dodge,
indicada pelo presidente Temer para procuradora-geral da República. No
foco, o que pretende Raquel Dodge fazer com a Lava Jato. Entende-se: em
público, todos querem que a Lava Jato seja prioritária. Mas querem mesmo
que a Lava Jato morra de inanição e que o juiz Sérgio Moro seja
promovido a desembargador.
Aí será mais um, não mais o único.
Rompendo o sigilo
Nesta
semana, notícias não faltarão: o BNDES deve apresentar o Livro Verde,
com as principais operações realizadas de 2001 a 2016. Por exemplo, o
caso JBS, de Joesley Batista.
Coluna Carlos Brickmann
Twitter: @CarlosBrickmann