Bruno Boghossian
Doria fica mal na foto e dá munição a opositores alucinados da vacina
Na semana passada, o showman João Doria anunciou que a Coronavac tinha "eficácia de 78% a 100%" contra a Covid-19. "Esse resultado significa que a vacina tem elevado grau de eficiência para proteger a vida dos brasileiros", derramou-se. Já nesta terça-feira (12), o governador João Doria não apareceu para explicar que a taxa global de eficácia do imunizante é de 50,38%.
Sedento pelos dividendos políticos da guerra de imunização travada com Jair Bolsonaro, o tucano decidiu maquiar os dados de uma boa vacina para que ela parecesse ainda melhor. Não funcionou: Doria ficou mal na foto e prestou um desserviço ao país ao dar munição para os alucinados opositores da vacina.
O Instituto Butantan tem um imunizante promissor. A Coronavac é segura, reduz pela metade a chance de desenvolvimento da doença, pode ser produzida em larga escala e tem características que permitem sua distribuição com facilidade. Deveria ser suficiente, mas a política parece ter falado mais alto.
Foi Doria quem criou a ilusão de que a eficácia de 50,38% –acima do sarrafo da Organização Mundial da Saúde– poderia ser considerada decepcionante. Quando apresentou o dado turbinado de 78%, ele mesmo escolheu dizer que "esse resultado" era sinal de que a vacina tinha "elevado grau de eficiência". Um número menor, portanto, corre o risco de ser observado com outros olhos.
O governador paulista deixou a ciência no gabinete no anúncio da semana passada. Contou só metade da história e escondeu uma parcela importante dos dados. Se Doria optou pela manobra ou se foi mal assessorado, a discussão se dará entre o Palácio dos Bandeirantes e o Instituto Butantan. De qualquer modo, a responsabilidade política é só dele.
Doria apostou alto na Coronavac e forçou o governo federal a correr atrás dos planos paulistas. O tucano fez festa em cada etapa do processo de desenvolvimento do imunizante, mas se omitiu no momento crucial de mostrar os detalhes da vacina. O showman engoliu o governador.
Bruno Boghossian, colunista - Folha de S. Paulo - UOL