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terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Segurança pública - Senado tem a obrigação de acabar de vez com a saidinha dos presos - Alexandre Garcia

Vozes - Gazeta do Povo

Arma de fogo

Arma de fogo
Foi preciso que PM mineiro fosse assassinado por bandido em saidinha de Natal para presidente do Senado se mexer.| Foto: Steve Buissinne/Pixabay

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, parece que ouviu o estampido cruel dos dois disparos que atingiram a cabeça do sargento Roger Dias, da PM de Minas Gerais, em Belo Horizonte. 
Pacheco afirmou que “o Congresso Nacional atuará para mudanças na lei penal e de execuções criminais, suprimindo direitos que, a pretexto de ressocializar, estão servindo como meio de mais e mais crimes”.  
Foi na saidinha de Natal que o bandido ganhou arma e munição do Papai Noel e atirou no sargento de 29 anos, pai de um recém-nascido. 
Seu cúmplice tinha dois homicídios e 15 crimes, e estava em liberdade condicional. 
O assassino tinha 18 registros de crimes. E estava solto, como se merecesse passar o Natal em casa, convivendo com a família. 
Houve uma reclamação muito grande, você também viu aqui, e parece que Pacheco finalmente ouviu o barulho dos tiros.

Em São Paulo descobriram que 1.566 condenados soltos para a saidinha de Natal não voltaram. 
Além desses, outros 81 outros foram flagrados ou traficando, ou roubando, ou furtando, ou agredindo, ou ameaçando. 
A Câmara aprovou a extinção da saidinha por 311 votos contra 91
O relatório na Comissão de Segurança Pública do Senado já está pronto, é do senador Flávio Bolsonaro, do Rio de Janeiro; está pronto para ir à Comissão de Constituição e Justiça e ser votado em plenário.

Superávit recorde é baseado em queda preocupante na importação
O governo está fazendo propaganda, dizendo que a balança comercial teve quase US$ 100 bilhões de superávit no ano passado. 
Bonito, muito bonito, muito mais que no ano anterior. 
Mas sabem o que aconteceu? As importações diminuíram muito
Quando se importa, é porque se acredita no futuro, é porque estão investindo, produzindo, criando emprego, comprando insumos para produzir aqui no Brasil. 
A importação não é só de material de consumo: são adubos, fertilizantes, máquinas, grandes máquinas, tecnologia. 
Mas a importação caiu quase 12%, baixando para US$ 240 bilhões. 
As exportações cresceram só 1,7%, foram de US$ 339 bilhões.  
[em português claro, que até petista entende: para um crescimento  sustentável as importações não podem cair, o SUPERAVIT tem que ser obtido exportando mais, de forma crescente, especialmente a indústria, gerando valor agregado  e não reduzindo importações de itens essenciais ao crescimento.]  
A agropecuária conseguiu exportar 9% a mais; os minérios tiveram 3,5% de aumento na exportação.  
Mas a indústria exportou ainda menos que no ano passado, queda de 2,3%.
Veja Também:



 
Líderes vão decidir o que fazer com MP da reoneração da folha
Pode ser que nesta terça-feira, em reunião com líderes do Congresso, Pacheco decida o que fazer com a medida provisória que veio para anular a vontade de 438 deputados e senadores que derrubaram o veto do presidente à prorrogação da desoneração da folha para 17 setores que mais empregam
A decisão pode ser a de devolver a MP, e isso pode ser feito, a derrubada ou acolhê-la, mas assim que o ano legislativo começar derrubá-la na comissão especial. Isso também pode acontecer. [é essencial que a medida seja devolvida, o que mostrará ao presidente Da Silva que é o Congresso quem tem a competência constitucional de legislar; o Congresso Nacional tem que ser claro, duro e mostrar ao atual presidente que sua manobra de derrubar, via MP,  a derrubada de vetos em questão é OFENSIVA ao PODER LEGISLATIVO e ao POVO = representado legitimamente pelo Congresso Nacional.
Além do mais, abre a porta para que o senhor Da Silva edite uma MP para revogar decisão do Congresso sobre o 'marco temporal' e qualquer outra matéria aprovada pelo Poder Legislativo que desagrade aos interesses daquele cidadão e do seu partido. ]

Acidente na Bahia chama atenção para descuido com segurança
Por fim, para o pessoal que anda de ônibus interestadual, um ônibus bateu de frente em um caminhão na cidade de São José do Jacuípe, na Bahia. Morreram 22 passageiros do ônibus, e eu pergunto: estão exigindo que todos os passageiros estejam com cinto de segurança?
 
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


sábado, 4 de novembro de 2023

Juro só não cai mais rapidamente porque o governo atrapalha - Alexandre Garcia

VOZES - Gazeta do Povo

Edifício-sede do Banco Central em Brasília: apesar de queda na Selic, Brasil ainda tem o maior juro real do mundo.

Edifício-sede do Banco Central em Brasília: apesar de queda na Selic, Brasil ainda tem o maior juro real do mundo.| Foto: Leonardo Sá/Agência Senado
 
Na quarta-feira o Conselho de Política Monetária do Banco Central baixou os juros. O BC é a instituição destinada a proteger a moeda e administrar o crédito para evitar que a moeda se desvalorize, evitar a inflação, que tira o dinheiro principalmente dos mais pobres, para remunerar o dinheiro dos mais ricos que estão investindo
A taxa básica de juros é aquela que serve para as transações interbancárias, e ao mesmo tempo um sinal do tamanho dos juros. A Selic estava em 12,75% e foi reduzida para 12,25%, ou seja, meio ponto porcentual de redução. [o fato é que QUEDA DE JUROS em uma ponta, significa ELEVAÇÃO DA INFLAÇÃO na outra - além de ser o que ocorre no Brasil real, as grandes potências econômicas estão se valendo da elevação dos juros para conter a elevação da inflação.
A política de  juros altos pode ser ruim para os mais pobres, mas bem pior é a inflação sem controle = processo que se inicia sempre que os juros começam a cair.] 
 
O ritmo de queda está lento porque o governo está gastando mais e arrecadando menos, e com isso o déficit público aumenta.  
Para manter tudo funcionando, o governo joga papel no mercado. 
 Tem de pagar a dívida, rolar a dívida e pagar o juro da dívida. 
E, para vender papel, o governo tem de oferecer bons juros
Então, o governo é um fator de juro alto, que acaba sendo cobrado de todo mundo, porque vai para o mercado, todos pagam juro alto.

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Governo demoniza quem tem armas, mas quer R$ 1 bilhão em impostos deles
Por falar em arrecadação caindo, vejam que paradoxo, ou que ironia. 
Em três anos, o governo quer cobrar R$ 1,1 bilhão dos atiradores, colecionadores e caçadores, segmento que a esquerda sempre criticou. Está aumentando o imposto sobre armas e munição, que era de 29,25% e passa para 55%, por um decreto do presidente da República, que tem poderes para mudar a alíquota de imposto. [foi devido a tal poder, de uso descontrolado, que o ''maligno' em 2007 compensou a queda da maldita CPMF aumentando o IOF e a 'engarrafadora de vento', aumentou de novo a CPMF, quando da suposta queda de juros inventada pelo 'amanteigado'- se você usar o limite do cheque especial por um dia que seja - mesmo nos bancos que alardeiam você para 0,38% logo na entrada mais, 0,0082% por cada dia, inclusive sobre o primeiro.]
O interessante e o que está implícito nisso: que o governo só vai ganhar se as pessoas comprarem armas e munição. 
Em outras palavras, na superfície o governo combate as armas, mas no fundo, no fundo, quer que as pessoas comprem armas para que ele receba R$ 1,1 bilhão em impostos...
 
Reforma tributária vai mal, e PT e Pacheco batem boca

Enquanto isso, vem a notícia de que vai mal, no Congresso, a tal reforma tributária, que para o governo pelo menos é o que diz a ministra do Planejamento, Simone Tebet seria a solução de tudo. 
A reforma vai mal, está muito enrolada, cheia de coisas que não estão sendo aceitas pelos representantes dos pagadores de impostos brasileiros. Ao mesmo tempo, a deputada Gleisi Hoffmann, presidente do PT, e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, têm uma altercação, um bate-boca, um acusando o outro. Isso terá reflexos nas votações no Senado.
Oposição quer endurecer penas, e esquerda quer transformar o Brasil em Califórnia
Aliás, na Câmara o governo foi derrotado na votação do projeto de lei que aumenta a pena para roubo, furto, latrocínio e receptação.  [só um exemplo: LATROCÍNIO é quando o bandido mata para roubar ou o roubo resulta em morte = o governo queria aliviar para os bandidos, felizmente, PERDEU...]

O governo votou contra, não quer, mas perdeu, mesmo com os votos do PT, do PSol e do PDT.  
O interessante é que o PSol tem até projeto de lei para descriminalizar os pequenos furtos, por insignificância ou por necessidade. 
Quer seguir a Califórnia, onde há saques, as pessoas entram em supermercados, farmácias, e vão levando, porque fizeram uma lei que limita o que é realmente furto. 
Ao contrário, o projeto de lei aprovado está aumentando as penas para restringir o crime
Temos 500 mil furtos registrados na delegacia por ano, mas eu acho que o número real é cinco vezes maior, porque as pessoas não se dão ao trabalho de registrar os pequenos furtos. 
Além de tudo, já existe no Brasil o “furto famélico”, em que a pessoa tem fome e rouba um pão; claro que o furto de uma garrafa de cachaça já é outra coisa, não é para matar a fome.
 
A tolerância zero de Nova York fez despencar o crime
Tolerar o crime, ao contrário, aumenta o crime. 
Aliás, vejo aqui que estão botando Exército, Marinha e Aeronáutica em dois aeroportos, Galeão (RJ) e Guarulhos (SP), e em dois portos, Santos (SP) e Itaguaí (RJ), para evitar a entrada de armas. [lembrando que os aeroportos já estão sob o controle da Força Aérea e os-sob controle da Marinha de Guerra.]  portos o Exército,
Mas, até onde eu ouço falar de amigos da Polícia Federal, as armas entram de caminhão, pela fronteira.
 
Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
 
Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Operação policial no Complexo da Penha tem dez mortos e quatro feridos - O Globo

Policial militar do Bope foi ferido no abdômen na ação; moradores relatam dia de pânico

 Porta-voz da PM diz que operação foi uma 'ação pontual'


Operação no Complexo da Penha

Operação no Complexo da Penha (Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo)

O porta-voz da Secretaria de Polícia Militar, coronel Marco Andrade, disse que o confronto de hoje foi "uma ação pontual" porque investigação apontava para uma reunião de traficantes naquele local. Segundo o coronel, os policiais foram recebidos a tiro e , por isso, o intenso confronto. Disse ainda que os criminosos vestiam roupas similares às das forças de segurança do estado.

Polícia apreende sete fuzis, granadas e munição no Complexo da Penha

Fuzis apreendidos durante operação policial no Complexo da Penha nesta quarta-feira

Fuzis apreendidos durante operação policial no Complexo da Penha nesta quarta-feira (Foto: Divulgação)

Sete fuzis foram apreendidos na operação desta quarta-feira realizada no Complexo da Penha pelas equipes do Comando de Operações Especiais da Polícia Militar e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), da Polícia Civil. Segundo a polícia, também foram encontradas granadas e munição, em quantidades ainda não contabilizadas. De acordo com informações do setor de inteligência, haveria uma reunião de traficantes no conjunto de favelas da Zona Norte carioca. Ao menos dez pessoas morreram na ação.

A operação policial que está acontecendo nessa manhã no Complexo da Penha mudou a rotina dos moradores das comunidades da região. Trabalhadores e estudantes foram prejudicados. [só a imprensa esquerdista para considerar que uma operação policial contra o tráfico de drogas, prejudica trabalhadores e estudantes.] A Secretaria Municipal de Educação informou que 16 unidades escolares da região foram impactadas pela ação policial, afetando 3.220 alunos.

PM diz que dois chefes do tráfico foram mortos: Fiel e Du Leme

Um blindado da polícia passar em frente a uma barricada incendiada no Complexo da Penha

Um blindado da polícia passar em frente a uma barricada incendiada no Complexo da Penha (Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo)

A Policia Militar informou que a operação no Complexo da Penha é feita por policiais do Comando de Operações Especiais (Bope, Choque, GAM e NAOE) e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), da Polícia Civil, para prender chefes do tráfico do Comando Vermelho
Segundo a nota, nove criminosos foram mortos, entre eles, Fiel e Du Leme, que comand[av]am o Morro do Juramento e da Chatuba, respectivamente. 
Barricadas estão sendo retiradas do local, e policiais do Choque reforçam o policiamento no entorno. 
A PM diz que a operação continua, e as ocorrências serão apresentadas na Delegacia de Homicídios.

LEIA MAIS: Rio - O Globo 

 

segunda-feira, 5 de junho de 2023

Guerra Híbrida STF – O crime no Rio de Janeiro na era pós-ADPF 635

 Barricadas vão desde as mais simples, e de caráter transitório (que podem constar de montes lixo aos quais se ateia fogo, com móveis e carros atravessados nas vias), até as mais complexas, com pedaços de trilhos firmemente chumbados no chão e também blocos de concreto.

Um bom tempo já se passou desde que entraram em vigor as restrições determinadas pelo Supremo Tribunal Federal em relação às operações das forças de segurança cariocas em comunidades a não ser em casos ditos “absolutamente excepcionais”. 
Ao longo desse tempo, o crime organizado aproveitou esse hiato para “respirar” e reforçar seu controle sobre essas áreas
Para quem não tem ideia da quantidade de comunidades existentes no Rio de Janeiro e da quantidade de habitantes que elas abrigam, os números surpreender: o censo realizado em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE indicou a existência de 793 favelas na cidade, onde vivia 22% da população, ou seja — na ocasião —cerca de 1.400.000 pessoas (sendo que, se considerada toda a região metropolitana, ou o chamado Grande Rio, esse total subiria para mais de 1.700.000 habitantes.

No entanto, um levantamento mais recente, de 2021, revelou uma significativa expansão na quantidade desse tipo de assentamento, indicando que o crime organizado atua em 1.413 comunidades no Rio (cerca de 12% do total de favelas existentes no país, sendo que, em números redondos, o tráfico domina 81% dessas áreas (a maior facção controla 828 favelas, a segunda atua em 238 e a terceira tem em suas mãos 69), ficando os restantes 19% na mão de milícias. Vale a pena ressaltar que muitas dessas favelas cresceram tanto que acabaram se unindo, formando os chamados “Complexos” (Alemão, Penha, Maré, Pedreira, Lins, etc.), compostos de várias comunidades. O Complexo do Alemão, por exemplo, é composto de 13 favelas, enquanto o da Penha — contíguo a ele — agrupa 15, e o da Maré engloba 17).

Esses números, porém, não devem ser considerados como definitivos, pois o “mapa” de quem domina quais áreas é por vezes submetido a mutações, em razão da disputa pelo controle de território. 
Sobre esse aspecto, é importante apontar que, para o crime organizado, a ação da polícia é diferenciada. 
Isso porque as forças de segurança realizam operações que não têm o objetivo de controlar territórios, ou seja: a polícia entra, cumpre sua missão (por exemplo: cumprir mandados de prisão) e sai. Via de Regra os criminosos resistem, mas há sempre a opção de retraírem caso se vejam em desvantagem, retornando ao local quando a polícia sair. 
 
Mas essas opções não existem quando se trata de incursões de outras facções ou da milícia, pois essas almejam expulsar seus adversários e assumir o controle físico de determinadas áreas, para aumentar sua presença, influência e lucro.  
A rivalidade entre esses grupos é extremamente exacerbada, e incluem pesados castigos a moradores que, por exemplo, se vistam com roupas que de alguma forma simbolizem grupos rivais, seja por suas cores ou estampas, ou sobre jovens que estejam de alguma forma se relacionando ou namorando com moradores de áreas consideradas como “inimigas”. Assim, esses confrontos, quando ocorrem, são de extrema violência.
 
Outra diferença importante é que as forças de segurança atuam dentro de regras de engajamento bem definidas, com normas explicitando quando pode ou não abrir fogo, etc. A polícia toma todos os cuidados possíveis para evitar vitimizar os moradores. 
Os criminosos, por sua vez, utilizam seu armamento sem qualquer preocupação sobre onde os projéteis irão parar ou o que irão atingir. Muitas das vítimas são atingidas pelas chamadas “balas perdidas” mesmo estando em suas casas, confiando que as paredes serão proteção suficiente — o que nem sempre acontece, pois munições de 5,56mm e 7,62mm podem perfurá-las, principalmente se os tijolos não estiverem recobertos por revestimento, como é o caso na maioria das vezes.

Quando ao argumento de que a polícia nem sempre segue as regras de engajamento, pode-se dizer que esses casos se configuram como exceções, e não são tão numerosas quanto a mídia pretende mostrar. Para a imprensa, invariavelmente, sempre que um morador de comunidade é atingido por uma “bala perdida”, a culpa é jogada sobre as forças de segurança. Além disso, muitas vezes as baixas entre os criminosos são apontadas como resultado de “massacres” ou “chacinas”, mesmo que nem tenha havido tempo hábil para algum tipo de investigação.

O domínio dos criminosos sobre as comunidades é muito forte, sendo exercido com mão de ferro. Por exemplo: uma ambulância só tem acesso a uma comunidade dominada para recolher um doente, ou um rabecão para apanhar um cadáver, ou a concessionária de energia elétrica para efetuar algum reparo, se sua entrada for autorizada pela facção dominante
Hoje em dia, a presença das UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), que experimentaram um período positivo quando de sua implantação, é — na maioria das comunidades onde estão instaladas meramente “tolerada” pelos criminosos, desde que “não façam marola”, ou seja, não incomodem as suas atividades.
 
A proibição das incursões policiais tem também grandemente favorecido um tipo de crime diferente do tráfico de drogas: trata-se do roubo de cargas. 
Frequentemente caminhões são abordados em estradas ou já no perímetro urbano e seus motoristas obrigados a desviarem seu trajeto, entrando em comunidades, onde a carga é retirada e armazenada, e o veículo é abandonado. 
Para angariar a simpatia dos moradores, às vezes é permitido que os mesmos retirem para si parte das cargas transportadas (as que não são do interesse dos criminosos que efetuaram o roubo, por falta de espaço de armazenamento ou por sua baixa lucratividade).

Além de disporem de farta munição (tanto que frequentemente atiram no modo automático, e não no semiautomático), e de normalmente em função de muitas das favelas se encontrarem em terrenos acidentados — ocuparem posições mais altas do que as forças de segurança (topos de escadarias, lajes, etc.), os criminosos contam com armamento igual ou muitas vezes mais potente que o dos policiais (é inquietante a descoberta de fuzis antimaterial, de calibre 12,7mm, em poder de grupos criminosos), conhecimento inigualável do terreno, “apoio” de parte dos moradores (em função de parentesco, amizades, ou ameaças) e muitas vezes de um certo grau de “imunidade” quando se trata da imprensa.

Uma pergunta recorrente toda vez que se trata desse assunto é: “Mas como as armas chegam às mãos dos traficantes e milicianos?”. 
Em recente entrevista concedida a um canal do YouTube, o delegado Fabrício Oliveira, que chefia a Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE) da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, e que foi o primeiro titular da Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos – DESARME, criada em 2017, declarou que foi constatado que a imensa maioria dessas armas provém do mercado negro de outros países, principalmente dos Estados Unidos, utilizando rotas marítimas, aéreas e terrestres (nesse último caso, via Paraguai)
 
Disse ainda que a grande maioria dessas armas são capazes de tiro automático (leia-se: armas que possam disparar em rajadas), um tipo de armamento que não é vendido para CACs (Caçadores, Atiradores Desportivos e Colecionadores), o que põe por terra o mito de que esse conceito explicaria a origem dos fuzis do crime. 
Revelou também que por vezes essas armas são passadas por empréstimos a outros grupos de criminosos para que esses executem grandes roubos ou invasões de território de rivais. 
Segundo ele, um estudo da Departamento Geral de Polícia Especializada estimou que, no Rio de Janeiro, havia 60.000 criminosos em liberdade (em comparação, existem aproximadamente 8.000 policiais civis, e cerca de 45.000 policiais militares, dos quais apenas metade trabalha nas ruas), e se considerarmos que possivelmente metade deles utilizem fuzis, o total desse tipo de armas no Rio poderia chegar a 30.000 unidades, quantidade imensamente superior aos cerca de 500 fuzis apreendidos pelas forças de segurança a cada ano, como em 2022. 
E isso sem considerar que, no Estado, há cerca de 51.000 presos ligados a facções criminosas.

Em resumo, poderíamos relacionar alguns dos principais efeitos da proibição de operações policiais em comunidades, sob o ponto de vista do autor, a maioria deles estabelecidos através de experiência pessoal:

  1. Aproveitando o “afrouxamento, o crime organizado procurou reforçar seu domínio sobre as áreas que atua, o que se reflete, por exemplo, no crescimento do número e da efetividade de barricadas; Estes obstáculos físicos à progressão de viaturas impedem o acesso de viaturas policiais ou “canalizam” seu progresso por vias intensamente batidas pelo fogo dos fora-da-lei.  
  2. Os tipos de barricadas vão desde as mais simples, e de caráter transitório (que podem constar de montes lixo aos quais se ateia fogo, com móveis e carros atravessados nas vias), até as mais complexas, com pedaços de trilhos firmemente chumbados no chão e também blocos de concreto. A remoção desse segundo tipo é muito difícil, e frequentemente exige máquinas como retroescavadeiras, etc., e mesmo assim nem sempre é possível sua retirada. De qualquer forma, a tropa embarcada tem sempre que desembarcar (para progredir ou até mesmo remover barricadas simples, compostas de móveis ou veículos atravessados na rua), e seus integrantes se convertem em alvos convidativos para os criminosos.
  3. Crescimento expressivo do Comando Vermelho – CV, a maior facção criminosa do Rio de Janeiro — as outras duas são a AdA (Amigos dos Amigos) e o TCP (Terceiro Comando Puro).
  4. Como já mencionado, aumento quantitativo e qualitativo do armamento nas mãos da criminalidade
  5. Presença acentuada, dentro das áreas dominadas pelo tráfico, de criminosos oriundos de outros estados e que aqui se sentem protegidos para permanecerem fora do alcance da Lei ou para continuarem comandando as ações em suas respectivas áreas. A Polícia Civil alegadamente já identificou a presença no Rio de centenas de criminosos provenientes de onze estados.
  6. Diminuição da participação da Polícia Federal – PF e da Polícia Rodoviária Federal – PRF em ações conjuntas com as forças de segurança cariocas.
  7. Embora o número de operações policiais em comunidades tenha sido drasticamente reduzido, a violência dos enfrentamentos, quando ocorrem, aumentou. Com o crime organizado fortalecido e mais fortemente posicionado em suascidadelas”, o nível da resistência oposta às forças de segurança cresceu. O Comando Vermelho, por exemplo, instruiu seus militantes a não abandonarem suas armas ou suas posições quando confrontados pela polícia ou grupos rivais, sob pena de punição severa, que pode incluir a morte. Isso faz com que o risco dedanos colaterais”, impostos à população das áreas conflagradas, aumente exponencialmente.
  8. Redução da participação da população das áreas dominadas no auxílio ao combate ao crime organizado, o que era feito principalmente através do Disque Denúncia, reportando a localização de esconderijos de indivíduos foragidos, ou informando locais onde havia grande quantidade de drogas ou de armas escondidas.
A solução desse complexo problema não é fácil nem rápida, e exige inúmeras providências em diversos segmentos da administração pública. Mas de uma coisa não se tem dúvida: a solução demanda um endurecimento da legislação, trazendo penas mais duras, que realmente possam ter um efeito desencorajador sobre aqueles que pensam em seguir o caminho do crime
Muitas vezes, um criminoso que é ativo no tráfico, porta fuzil, atira contra policiais, põe fogo em ônibus e, enfim, causa um sem número de problemas, recebe uma pena relativamente leve em comparação aos seus delitos e, portanto, em pouco tempo poderá ser libertado e retornar ao crime.
 

Ricardo Pereira

assuntosmilitares@assuntosmilitares.jor.br 
Especialista em Conflitos Urbanos
Especial para DefesaNet


domingo, 26 de fevereiro de 2023

Invasões do MST viram arma para estratégia da oposição no Congresso

Atos de grupo sem-terra motivou parlamentares a assinarem pedido de abertura de CPI que tem como um dos alvos o atual ministro da Justiça

A série de invasões promovidas pelo MST a propriedades rurais no oeste de São Paulo na semana passada virou não somente munição da bancada bolsonarista no Congresso como também deu um novo fôlego à estratégia de deputados de oposição ao governo Lula.

Conforme mostrou VEJA na edição que chega neste fim de semana às bancas e plataformas digitais, na Câmara, parlamentares aliados ao ex-presidente Jair Bolsonaro tentaram emplacar uma CPI voltada a fragilizar aliados de Lula por suposta omissão nos atos golpistas de 8 de janeiro. A ideia era centrar fogo na figura do ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB-MA). O plano até então não tinha vingado por falta de adesões, mas voltou a ganhar musculatura após os atos do MST em São Paulo.

A ideia seria incluir as invasões do MST no mesmo requerimento em que pediam a apuração das condutas do ministro da Justiça. A medida seria apenas a primeira dentre outras que os congressistas passaram a estudar, motivados pela criticada relação do MST com o PT, partido de Lula.

Esse movimento tem sido coordenado pelo deputado Evair de Mello (PP-ES), aliado de Bolsonaro. “Estamos organizando uma agenda legislativa da oposição e também um evento para os 100 dias de governo Lula”, disse o parlamentar. “Muitos que ainda estavam confiando no governo, após os últimos acontecimentos, estão aderindo”, completou, fazendo referência às invasões em SP.

Um dos deputados que ainda não tinha assinado o pedido de abertura da CPI até então, por exemplo, era David Soares (União-SP). Ele mudou de opinião quando soube dos atos do MST. “A partir do momento em que o MST faz essa ação coordenada, isso despertou raiva de muita gente, inclusive em mim. Porque isso afeta diretamente o agronegócio. Aí sabe-se lá o que vai acontecer”, afirmou.

LEIA TAMBÉM:  

 Governo e aliados intensificam ações para minar CPIs sobre o 8 de janeiro

A “traição” de Rodrigo Pacheco no caso da CPI dos atos golpistas

Para que haja o início do processo de instalação de uma CPI na Câmara, é preciso que o pedido tenha a adesão de, no mínimo, 171 deputados. Mello afirmou ter colhido 141 assinaturas até o momento.

 Política - Coluna na Revista VEJA


quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Campanha de Bolsonaro vai para cima de Moraes por gesto [de degola] no TSE

Um vídeo do ministro que comandava a sessão do TSE nesta terça virou munição para os apoiadores do presidente

Um vídeo do ministro Alexandre de Moraes, que comandava a sessão do TSE nesta terça, virou munição e tem sido compartilhado freneticamente por bolsonaristas incluindo integrantes da campanha do presidente — nesta quarta.

Nas imagens, Moraes faz um gesto com a mão no pescoço que remete ao ato de degolar alguém. Como o gesto do ministro ocorreu no momento em que o tribunal julgava uma ação contra Bolsonaro por uso do Palácio da Alvorada na campanha, vetado pelo TSE, os bolsonaristas estão usando as imagens para mostrar uma suposta parcialidade de Moraes.  “A ‘isenção’ do presidente do TSE. Alexandre de Moraes faz gesto de degolar a ministra Maria Cláudia Bucchianeri que votou contra a proibição do PR Bolsonaro fazer lives em sua residência oficial (Alvorada). Veja o gesto, DEGOLAR (MATAR) a ministra. AM tudo faz em favor da candidatura de Lula e tudo contra a de Bolsonaro. DIVULGUEM AO MÁXIMO”, diz uma mensagem que está sendo transmitida no WhatsApp.

Em tempo, o gesto do ministro, segundo fontes do TSE, não teve relação com o julgamento. Foi uma brincadeira de Moraes com um assessor que estava no plenário e demorou para trazer uma informação que ele havia pedido.

Confira o gesto aos 40 segundos - duração total do vídeo = apenas 58 segundos

 Radar - Coluna na Revista VEJA

 

 

domingo, 25 de setembro de 2022

Lula quer indenização por danos morais e prejuízos decorrentes de sua prisão

Lula diz que Estado terá que indenizá-lo, 'devolvendo' e lhe  'pagando prejuízos',  por sua prisão pela Lava Jato  - Folha de S. Paulo [declaração do jornalista William Bonner sustenta sua pretensão.]

Declaração do ex-presidente foi criticada e serviu como munição para ataques de bolsonaristas nas redes

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou em ato no Rio de Janeiro, neste domingo (25), que o Estado terá que "devolver" e lhe "pagar os prejuízos que eles causaram" em sua vida enquanto ele esteve preso.

As declarações foram dadas no momento em que Lula dizia que foi absolvido nos processos da Lava Jato em que respondia na Justiça.

O petista recordou declaração do jornalista William Bonner durante sabatina no Jornal Nacional, em agosto, em que ele relembrou os julgamentos do ex-presidente na Lava Jato e o fato de ele ter tido suas condenações anuladas.

"Achei honroso o William Bonner no dia que fui na entrevista da Globo, ele teve a grandeza de dizer: ‘Presidente, o senhor não deve mais nada à Justiça desse país’. E quem deve são eles a mim. Porque em algum momento o Estado vai ter que devolver e me pagar os prejuízos que eles causaram na minha vida", disse Lula em ato na quadra da Portela, no Rio de Janeiro.

RIO DE JANEIRO, RJ, BRASIL, 25-09-2022: O ex-presidente Lula, durante evento de sua campanha com o prefeito Eduardo Paes, na quadra da Portela, em Madureira, zona norte do Rio de Janeiro. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress)

O ex-presidente Lula (PT) durante ato no Rio de Janeiro neste domingo (25)
O ex-presidente Lula (PT) durante ato no Rio de Janeiro neste domingo (25) - Eduardo Anizelli/Folhapress

"Eles sabiam [que] eu não tinha nenhum problema de ficar lá, não tinha nenhum problema. Até porque eu já tinha sido preso em [na década de] 80 e fiquei 31 dias preso. Depois eu lembrei: por que estou preocupado de estar preso se o nosso querido Mandela ficou 27 anos e saiu para governar a África do Sul?", seguiu o petista.

No discurso, Lula também disse que é "culpado de ser inocente" e criticou o ex-juiz Sergio Moro e o presidenciável Ciro Gomes (PDT) por declarações em que eles afirmaram que o ex-presidente não havia sido absolvido nos processos. "O [Sergio] Moro fala que não [fui absolvido]. Ouvi o Ciro falando ‘não, você não foi absolvido’. Fui absolvido em 26 processos, duas vezes na ONU e pela Suprema Corte", disse Lula. [o ladrão não foi inocentado, continua culpado, sua 'descondenação' não o inocentou e é passível de anulação.]

A declaração do ex-presidente foi criticada e serviu como munição para ataques de bolsonaristas nas redes sociais.


O ladrão é sem vergonha mesmo! - Norton Mackinson

@NMackinson

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro (PL), compartilhou trecho do discurso de Lula e escreveu que essa fala é "para cuspir na cara de todos os brasileiros de bem". "O Brasil ainda está devendo ao ladrão? O raivoso Lula quer terminar o serviço", escreveu.

O assessor para assuntos internacionais da Presidência, Filipe Martins, também criticou a fala de Lula e disse no Twitter que o ex-presidente "deu com as línguas nos dentes".

"Entregou seu plano de tomar dos cofres públicos o dinheiro do povo brasileiro para ‘compensá-lo’ por ter sido preso e condenado como líder do maior esquema de corrupção do mundo", escreveu.

O ex-presidente ficou 580 dias preso na sede da Superintendência da Polícia Federal do Paraná, em Curitiba.

Em abril deste ano, o Comitê de Direitos Humanos da ONU concluiu que os procuradores da Lava Jato e Moro foram parciais em relação aos casos investigados contra o ex-presidente.

Naquele momento, o advogado Cristiano Zanin, que representa o petista, afirmou à imprensa que o governo brasileiro teria que comunicar a ONU, em um prazo de até 180 dias, quais medidas ele iria tomar para "reparar danos causados ao ex-presidente Lula" e para evitar que procedimentos identificados na Lava Jato possam ocorrer com outros brasileiros. [A ONU não tem nada a ver com a condenação e a soltura temporária do ladrão ;  esse advogado precisa entender que o Brasil é uma NAÇÃO SOBERANA e que a ONU deve se preocupar é com as sanções que   aplicou contra a Rússia e que agora se voltam contra os sancionadores, começando pela Suíça.]

Eleições 2022 - Folha de S. Paulo

 

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

O arriscadíssimo plano de ataque de Bolsonaro no Jornal Nacional

Apesar de estar sendo aconselhado a diminuir o tom em relação aos seus arroubos autoritários contra [sic]  a democracia – e até tentar uma versão paz e amor como Lula fez em 2002 -, Jair Bolsonaro deve partir para o ataque na entrevista ao Jornal Nacional nesta segunda-feira, 22.

É o que apurou a coluna com interlocutores do presidente da República.

Um deles afirmou que Jair Bolsonaro não aceita preparação, chamando-as de fakenews, e que “vai para o pau”. O movimento – de certa forma – levará, mais uma vez, a estratégia sanfona do presidente.

Recua, como fez neste final de semana, quando disse que vai respeitar o resultado das eleições presidenciais, mesmo que saia derrotado – “a gente está nessa empreitada buscando a reeleição, se for o entendimento. Caso contrário, a gente respeita”, disse Bolsonaro -, mas depois prepara nova munição.

Como se sabe, o presidente já fez inúmeras insinuações dizendo que pode haver fraude eleitoral. [ Frase do astrônomo Carl Sagan “Ausência de evidência não é evidência de ausência.” - que equivale a:  Não é porque não há provas de algo que esse algo não é verdade.]             Ou seja, é óbvio que ele recuou neste sábado, 20. Mas – não se surpreendam, leitores -, ele atacará de novo.

E de novo.

Aliás, a Globoe o palco do Jornal Nacionalé o local em que Bolsonaro gosta de atacar. Nesse tipo de ambiente que pode – e será hostil – a única forma dele reagir é atacando, como ele se “sente mais confortável”. [comentário: não podemos olvidar que desde sua eleição, ou até um pouco antes, a Globo tem atacado de forma contínua e implacável o presidente Bolsonaro. Entendemos que o presidente Bolsonaro não deveria ter ido, já que aceitou ir tem que ser implacável, impiedoso, como seus inimigos têm sido com ele.]

A esses interlocutores ouvidos pela coluna, o presidente afirmou que “vai lembrar o mensalão do PT e o Petrolão”. Mas as urnas serão temas de perguntas, e o pedido é para que o presidente baixe o tom.

Ocorrerá? Ao menos entre os auxiliares de Bolsonaro ouvidos pela coluna, não há muita esperança de que o pedido de fato será atendido. [Bolsonaro é o Presidente da República Federativa do Brasil, autoridade máxima da nação brasileira e  tem o direito de ter e expressar sua opinião sobre qualquer assunto - o presidente da República não pode ser pautado.]

Matheus Leitão - Blog em VEJA

 

domingo, 24 de julho de 2022

Coleção de gafes de Biden coloca idade do presidente dos EUA em discussão - Folha de S. Pauloo/UOL

 Nas últimas semanas, democrata caiu de bicicleta, errou leitura de teleprompter e disse ter câncer 

"É por isso que eu e muitas pessoas com quem cresci tem câncer", disse o presidente Joe Biden, no meio de um discurso sobre a crise climática, na quarta (20). Pouco depois, já havia questionamentos nas redes: o presidente admitiu que está com câncer? Foi um ato falho? Ou só mais uma confusão feita por ele? 
 A Casa Branca logo esclareceu que o democrata falava sobre o passado: ele teve câncer de pele há alguns anos, já curado, e não está mais com a doença. Mas a história viralizou e chegou aos programas de TV. "Joe Biden chocou o mundo ao anunciar, sem aviso algum, que tem uma doença potencialmente fatal", disse Tucker Carlson, no canal Fox News, na quinta (21). "Tem sido uma semana difícil. Na quarta, câncer. Na quinta, coronavírus. Amanhã será a varíola dos macacos", ironizou o apresentador conservador, misturando as informações reais --o presidente americano contraiu Covid-- com o falso alerta de câncer.

Desde a campanha de 2020, republicanos puxados por Donald Trump caracterizam Biden, 79, como senil e confuso, ou seja, inapto ao cargo. Assim, gafes e falhas do democrata viram munição para reforçar essa narrativa, num ambiente de desinformação no qual a distância entre fatos e distorções é cada vez menor.

Nas últimas semanas, Biden registrou escorregões em ao menos outras duas oportunidades. No dia 18 de junho, um sábado ensolarado, o presidente saiu para pedalar. Ao ver um grupo de pessoas, desacelerou e, ao tentar parar a bicicleta de vez para falar com elas, desequilibrou-se e caiu em frente às câmeras. A queda fez muitas pessoas postarem fotos e vídeos caindo de forma parecida, com a hashtag #Bidening.

Em 8 de julho, Biden fez um discurso na Casa Branca sobre o direito ao aborto. Ao ler um teleprompter, disse: "Fim da frase. Repita a linha", uma orientação que obviamente não era para ser dita em voz alta. 

Assim como no caso do câncer já curado, a Casa Branca teve de correr para corrigir declarações fortes do presidente, como quando foi à Polônia e disse que o líder russo, Vladimir Putin, "não pode continuar no poder". No Japão, prometeu uma resposta militar à China no caso de uma invasão à ilha de Taiwan.

Há também situações deturpadas. Em um vídeo, o presidente aparece, após um discurso, estendendo a mão para cumprimentar uma pessoa --mas não há alguém ali. A gravação, na verdade, é fruto de edição de um registro do democrata na Carolina do Norte, num palco com apoiadores. Vídeos de outros ângulos mostram Biden estendendo a mão para saudar a plateia --ele repetiu o gesto em outras direções.

Durante a viagem a Israel, há duas semanas, a situação se repetiu: ele termina o discurso e aponta para a cadeira onde iria se sentar, mas um corte rápido gera a impressão de que ele tenta cumprimentar o vazio.Em outro vídeo, nem edição há. Capturada a certa distância, a cena exibe Biden homenageando um veterano de guerra com a Medalha de Honra. Na narrativa falsa, em vez de o presidente colocar a láurea no peito do ex-militar, ele teria colocado ao contrário, nas costas. Fotos desmentem o suposto erro.

A oposição busca associar as falhas à idade de Biden, o presidente mais velho a assumir o país em um primeiro mandato. Ele fará 80 anos em novembro e não descarta concorrer à reeleição em 2024. Caso reeleito, pode terminar o segundo mandato aos 86. Pesquisa publicada no início de julho pelo New York Times com o Siena College mostra que, para 33% dos eleitores democratas, a idade é a principal razão para preferir um outro candidato daqui a dois anos. O desempenho no cargo vem em seguida, com 32%. 

 Pior: 94% dos democratas com menos de 30 anos dizem querer outro nome para disputar a Presidência, sinal de que a preocupação não está só no campo da saúde, mas abarca também a renovação do partido.

Defensores também lembram que ele foi gago quando jovem, o que o faz cometer alguns erros ao falar, e que, ao longo da carreira política, o líder americano ganhou fama de cometer gafes por dizer coisas sem pensar. Em um comício em 2008, por exemplo, pediu a um senador cadeirante que se levantasse.

José Eduardo Pompeu, doutor em neurologia e professor da USP, lembra que a perda de agilidade e de capacidades físicas é natural conforme a pessoa envelhece. "Não há fórmula mágica para impedir essas perdas, mas elas podem ser reduzidas. E cada pessoa envelhece de um jeito. Tem idosos de 60 anos já muito debilitados, e outros perto dos cem que continuam bastante ativos", afirma. "Isso depende de muitos fatores: genética, alimentação e como a pessoa se comportou ao longo de toda a vida."

Ele explica que uma das formas de avaliar se a velhice está comprometendo as atividades é a ocorrência de problemas frequentes: caso as quedas, falhas de memória ou de fala se tornarem corriqueiras, é um sinal de alerta. "Também é importante analisar o contexto das falhas. Biden estava pedalando, algo que exige grande coordenação motora, e de repente parou para falar com as pessoas e responder perguntas. Isso pode ter gerado uma sobrecarga cognitiva naquele momento, que levou à queda", diz Pompeu. 

Embora a agenda cheia e o excesso de tarefas possam gerar estresse e mais falhas, as atividades da Presidência podem ajudar a retardar o envelhecimento. "A maior proteção contra as perdas relacionadas ao envelhecimento é o engajamento ativo com a vida, como o envolvimento social e a atividade física."

A Casa Branca divulga os resultados dos exames anuais do presidente. O último relatório, de novembro, aponta que o democrata "permanece apto para o dever, plenamente capaz de executar todas as suas responsabilidades sem qualquer exceção ou adaptação". O documento registra que Biden tem uma tosse seca corriqueira ao falar por longos períodos e que isso ocorre há anos e deve ser consequência de refluxo gástrico. O democrata faz tratamento para arritmia cardíaca, controle do colesterol, artrite e alergias. Segundo o documento, Biden não bebe nem fuma e se exercita ao menos cinco vezes por semana.

Seja como for, a coleção de gafes acaba imprimindo ao democrata a imagem de homem velho. Pesquisa de junho realizada pelo Centro de Estudos da Política Americana, ligado à Universidade Harvard, mostrou que 60% dos americanos têm dúvidas sobre a aptidão de Biden para o cargo. Na outra ponta, 40% afirmam acreditar que ele está mentalmente apto para servir como presidente dos EUA. Em maio, eram 48%.

Em outro tópico, 64% responderam que Biden está mostrando que é muito velho para ser presidente, contra 36% que o enxergam como apto para o cargo. Nos dois casos, cerca de um terço dos democratas entrevistados concorda com a opção desabonadora para Biden, prenunciando um caminho difícil para a reeleição e, mais urgente, o risco de que sua imagem seja um fardo nas eleições de novembro.

Para coroar a semana em que disse por engano ter câncer, Biden recebeu o diagnóstico de Covid na última quinta (21). Já vacinado com duas doses de reforço, o presidente teve apenas sintomas leves da doença e, no último boletim, neste domingo, apresentava dor de garganta como incômodo principal. 

Gafes recentes de Biden

18.jun
Queda de bicicleta
O presidente caiu de bicicleta ao tentar parar para falar com um grupo de pessoas. Mas seu pé ficou preso no pedal, e ele caiu para o lado junto. Não foi preciso ir ao médico depois da queda. 
 
8.jul
'Repita a linha'
Ao discursar sobre o direito ao aborto com ajuda de um teleprompter, Biden leu: "Fim da frase. Repita a linha", trecho que na verdade era uma orientação, não parte do texto para ser lido em voz alta. 
 
20.jul
Câncer
Em um discurso sobre a crise climática, Biden disse que cresceu em uma área onde havia poluição. "É por isso que eu e muitas pessoas com quem cresci tem câncer", afirmou. A Casa Branca disse depois que o comentário se referia a um câncer de pele ocorrido no passado e que o presidente não tem a doença hoje.
 

 Mundo - Folha de S. Paulo/UOL

 

sábado, 2 de julho de 2022

PEC Eleitoral anima campanha de Bolsonaro e vira armadilha para adversários - O Globo

Ajudado até pela oposição, presidente dribla leis para gastar R$ 343 bilhões na reeleição [aceitem, é o melhor para o Brasil, é legal e a reeleição de Bolsonaro é o melhor para o Brasil. Aceitem, vai doer menos. Os CONTRA,  são INIMIGOS do Povo Brasileiro.]

PEC Eleitoral anima campanha de Bolsonaro e vira armadilha para adversários

Verbas. Ao lado de João Roma, pré-candidato ao governo da Bahia, Bolsonaro participa de ato em Cruz das Almas (BA): governo acelerou abertura dos cofres Clauber Cleber Caetano/PR

Pressionado pela estagnação nas pesquisas de intenção de voto, o presidente Jair Bolsonaro (PL) acelerou o uso de recursos públicos em prol da reeleição, com ações que somam R$ 343 bilhões e incluem uma manobra [não é manobra é uma PEC aprovada em duas votações no Senado Federal e duas na Câmara dos Deputados. A Constituição está acima de qualquer lei, incluindo a Lei Eleitoral.] na Constituição para driblar proibições previstas na lei eleitoral justamente para inibir o uso da máquina e evitar desequilíbrios no pleito. Pesquisa: Datafolha aponta empate técnico de Castro e Freixo na disputa ao governo do Rio
Datafolha: Em MG, Zema lidera disputa com 48%; Kalil tem 21%

O movimento mais recente — uma emenda ao texto constitucional para instituir o estado de emergência e permitir a criação e ampliação de benefícios, a três meses do pleito — teve o impulso da oposição, que endossou a proposta no Senado. [a oposição em um momento de lucidez, entendeu que é o melhor para o Brasil; os que são contra, o establishment e os inimigos do presidente, parecem querer que milhões e milhões brasileiros passem mais fome do que a que já passam.] Criticado por juristas, o projeto foi a maneira encontrada pelo Palácio do Planalto de intensificar as benesses e escapar da legislação, que veda o aumento ou a elaboração de novos gastos do tipo em anos de campanha. Além de alargar a pressão fiscal sobre quem estiver à frente da Presidência em 2023, a iniciativa abre um precedente arriscado para as próximas disputas pelo comando do Executivo.

O “pacote de bondades” é visto como trunfo pela campanha de Bolsonaro, que aparece atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas — o levantamento mais recente aponta um placar de 47% a 28%. Além do aumento do Auxílio Brasil, que passará de R$ 400 para R$ 600,  há uma nova versão do vale-gás e recursos direcionados a caminhoneiros, entre outras medidas. 

“Agarrado” ao auxílio
O potencial de benefícios no curto prazo para eleitores de baixa renda, principais destinatários dos repasses, amarrou o discurso dos presidenciáveis, que se equilibraram entre o silêncio e críticas suaves — a senadora Simone Tebet (MS), nome do MDB ao Planalto, votou a favor da PEC Eleitoral, embora tenha reclamado da tramitação veloz, que ignorou a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Apenas José Serra (PSDB) foi contra. 

Aliados veem agora a oportunidade de Bolsonaro se associar ao Auxílio Brasil, programa de transferência de renda que substituiu o Bolsa Família, marca dos governos do PT. Mesmo com novo nome e valores maiores, pesquisas mostram que ele também está atrás de Lula entre os beneficiários da ação. A meta da campanha é aproveitar o incremento para fazer uma espécie de “relançamento”.

A ampliação do valor coincide com a chegada dos novos cartões, em outra vertente da busca por ganhos eleitorais. O titular do Palácio do Planalto foi orientado a reforçar a atuação do governo na criação e ampliação das benesses. A avaliação do núcleo político da reeleição é que o Planalto falhou até aqui na estratégia de comunicação.

Neste ambiente político, o PT avalia que o impulso pode beneficiar Bolsonaro eleitoralmente, [a corja do perda total, começando pelo descondenado,  não admite,   mas eles tentam encontrar um 'poste' para substituir o ex-presidiário e assim evitam que Luladrão encerre sua carreira perdendo para o candidato que o faz se borrar:JAIR MESSIAS BOLSONARO.] ainda que sem impacto capaz de modificar o quadro. Interlocutores dizem que a sigla não tinha como se posicionar contra a PEC, porque há necessidade de aumentar os repasses às camadas mais pobres e também para não entregar a Bolsonaro o discurso de que adversários votaram contra os pagamentos. Estrategistas do partido estimam que os R$ 600 mensais do Auxílio Brasil se tornarão definitivos, apesar do texto prevê o valor até dezembro. 
 
Ontem, o ex-presidente classificou a PEC de “projeto eleitoral” e “tentativa de comprar o povo”. Um dos emissários do petista na área econômica, o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) disse que o governo montou uma “operação boca de urna”. Para ele, o cenário dificulta a apresentação de um plano concreto para a área fiscal:  — Os construtores do teto de gastos do governo Temer não o detalharam antes de assumir o governo, só quando tinham as contas em mãos. [lembramos que o PT não tem nenhum plano concreto, seja para área fiscal, saúde, emprego. O que ele tem é um plano para destruir o Brasil - CONFIRA AQUI.]

O entorno de Ciro também avalia que Bolsonaro pode ter ganhos eleitorais, ainda que não na mesma proporção de quando lançou o Auxílio Emergencial, em abril de 2020, experimentando nos meses seguintes os índices mais altos de popularidade de gestão. Nas próximas etapas de tramitação, parlamentares da sigla pretendem propor ajustes ao texto, ponderando que não é viável se posicionar contra em um momento de aumento da fome no país.

Na pré-campanha de Tebet, estrategistas também sustentam que a escalada da miséria impossibilitou um voto contrário. Se fosse contra a medida, o entorno da senadora acha que ela daria munição aos rivais, que diriam que ela é contra benefícios aos mais pobres. Questionada pelo GLOBO se Tebet se preocupava com vantagens eleitorais que Bolsonaro teria com a PEC, a assessoria da senadora enviou vídeo em que ela diz que o país precisa “avançar rapidamente numa solução para quem não tem o que dar de comer aos filhos”.[Calma senadora, não precisa se afobar, se descontrolar, nosso presidente já está cuidando das medidas concretas para saciar a fome de milhões e milhões de brasileiros e o Brasil agradece sua colaboração.]
Política - O Globo
 

domingo, 6 de março de 2022

Devagar, malfeito e complicado - Revista Oeste

Vladimir Putin discursa na TV sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia, no dia 22 de fevereiro de 2022 | Foto: Rokas Tenys/Shutterstock
Vladimir Putin discursa na TV sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia, no dia 22 de fevereiro de 2022 -  Foto: Rokas Tenys/Shutterstock

Como não houve avanço militar decisivo por parte da Rússia, a ação passou a visar mais e mais os alvos civis, e de forma mais e mais pesada — com os custos políticos que isso sempre tem. É uma situação em que o país invadido não pode ganhar militarmente do invasor, nem fazer com que ele volte para o seu próprio território. Ao mesmo tempo, os invasores não conseguiram em nenhum momento assumir o controle real do território invadido. O resultado é uma guerra que arruína os dois lados. Mais de 50 anos atrás, Israel, um país do tamanho de Sergipe, precisou de apenas seis dias de guerra para derrotar todos os seus vizinhos árabes juntos. Os russos, na Ucrânia, ficaram muito longe disso.

A Ucrânia mostrou uma resistência muito maior do que a Rússia esperava

Além dos problemas na invasão em si, a Rússia sofreu, desde que disparou seu primeiro míssil contra a Ucrânia, a maior barragem de represálias econômicas jamais lançada contra um país em qualquer época. Do ponto de vista diplomático, está sendo punida, junto com o seu líder, Vladimir Putin, com uma condenação mundial inédita em sua extensão e em sua quase unanimidade; fora a China, que decidiu falar pouco no momento da invasão, e menos ainda quando ficou claro que a Ucrânia não se rendeu de imediato, quase todos os países se colocaram contra Moscou — ficaram a favor da invasão aqueles cujo apoio só atrapalha, como a Venezuela do ditador Nicolás Maduro. 

A paisagem do equilíbrio mundial, enfim, mudou da noite para o dia. A Rússia, depois de um longo período de progressiva normalidade em suas relações junto à comunidade internacional, com a dissolução da URSS comunista iniciada há pouco mais de 30 anos e o fim da “Guerra Fria”, voltou a ser o inimigo da Europa, dos Estados Unidos e dos países próximos a eles. A “segurança da Europa”, coisa considerada do passado, voltou a ser coisa do presente. O mundo, com a invasão da Ucrânia, está de novo rachado — e parece ter pela frente uma caminhada longa, incerta e complexa para retornar ao sossego que acreditava ter conseguido.

Passada a explosão inicial, e com a partida inteira pela frente, os fatos que ocorreram com certeza, até o momento, são os seguintes:

1 – A Ucrânia mostrou uma resistência muito maior do que a Rússia esperava. Os Estados Unidos, a Europa e o resto do mundo também foram surpreendidos; manifestaram apoio aos ucranianos desde o começo, mas não acreditavam na sua capacidade de continuar de pé após os primeiros bombardeios. Para a Rússia cumprir o objetivo imediato que tinha ao lançar a invasão — liquidar as Forças Armadas ucranianas, derrubar o governo do presidente Volodymyr Zelensky e colocar em seu lugar um regime que obedeça à sua orientação e aos seus interesses —, a operação teria de dar certo em 24 horas. Não aconteceu isso — e agora é duvidoso que um governo-fantoche, imposto sem eleições livres e sem que a Rússia tenha o efetivo controle do país, consiga funcionar de verdade. A cada momento, em consequência, foi se criando a necessidade do tipo de ação militar que menos interessa à Rússia — a escalada nos ataques, que deixa o comando sem opção a não ser aumentar cada vez mais a ofensiva, sem a perspectiva de uma data para terminar as operações. Colocar em “alerta” as forças nucleares russas não impressionou ninguém — nem a convocação de Putin para os ucranianos derrubarem o seu governo, com a promessa de se entender com eles logo em seguida. Cada dia sem solução é um dia a mais de baixas militares, de sanções econômicas, de entrada de armas europeias na Ucrânia e de custos cada vez mais pesados. Virou uma guerra de desgaste na qual, tipicamente, encontrar uma saída, e encontrar logo, passou a ser mais importante do que vencer.

2 – O presidente Zelensky mostrou ser um homem de coragem, coisa pouco comum, hoje em dia, na cena internacional. Ao contrário do que fariam nove em dez presidentes latino-americanos, a começar pelos do “campo progressista”, Zelensky não fugiu. (E o primeiro-ministro do Canadá, então? Esse ficou assustado com um movimento de motoristas de caminhão.) O presidente da Ucrânia não correu para Miami ou Havana ao ouvir o barulho da primeira vidraça quebrada, nem se refugiou na Embaixada dos Estados Unidos; não aceitou, nem mesmo, renunciar a seu cargo em favor de algum “governo de união nacional”. Quando os americanos lhe ofereceram transporte para deixar a Ucrânia, disse que não estava precisando de carona, e sim de armas. Até agora, continua onde estava antes da invasão começar.

3 – Oficialmente, como dizem os comunicados de Moscou, a invasão se destina a “desmilitarizar” a Ucrânia, ou seja, a zerar a sua capacidade de atacar ou se defender militarmente. A Ucrânia, obviamente, não ameaça a segurança da Rússia, ou de qualquer outro país — não se trata, portanto, de uma ação de defesa prévia, mas simplesmente uma tentativa de incluir o território ucraniano no perímetro de “segurança” que Putin considera adequado. Esse objetivo já tinha de estar cumprido. Até o momento, entretanto, a invasão tem sido uma série de operações que não decidiram nada de essencial do ponto de vista militar. A Ucrânia, com oito dias de guerra, mantinha controle parcial de seu espaço aéreo. O tráfego na maioria das rodovias foi interrompido por bombardeios, mas uma parte do sistema ferroviário continua a operar. A central de energia elétrica da capital, uma das primeiras coisas a ir para o espaço em qualquer invasão bem-sucedida, permanece em funcionamento há mais de uma semana. Nenhuma grande cidade foi ocupada de fato. O palácio presidencial ainda não foi destruído.

Os russos esperavam que a Europa iria protestar muito e fazer pouco

A performance militar dos russos no campo de batalha, nos dias iniciais da invasão, está sendo muito inferior ao que se esperava. As tropas parecem mal treinadas, mal comandadas, mal motivadas, com logística ruim, planejamento confuso e profissionalismo deficiente. Há perdas pesadas de material e baixas acima do previsto. Segundo o governo da Ucrânia, “9.000 soldados russos” já morreram — o que pode ser propaganda, mas com certeza revela problemas sérios no campo de batalha. A expectativa era de que a Rússia, depois do desmanche de suas Forças Armadas no começo dos anos 1990, teria passado por um processo de modernização em regra, tornando seus efetivos mais tecnológicos, eficazes e enxutos. Não se viu isso até o momento.

A Rússia enfrenta os conhecidos ônus de fazer uma guerra dentro de limites — não está claro o que os oficiais e soldados podem fazer, o que devem fazer e o que estão proibidos de fazer. O certo é que o invasor tem, todos os dias, de se segurar — destrói tudo aqui, não destrói nada ali, espera ordens contraditórias e assim por diante. Os ucranianos, militares e civis, mostraram capacidade de resistir a ataques e atacar de volta, o que não estava previsto. O resultado das incertezas e da resistência é uma multiplicação diária de dificuldades — e o ataque, cada vez mais, a alvos civis. Deveria, em suma, ter sido rápido, eficaz e simples. Está sendo devagar, malfeito e complicado.

4 – A Rússia cometeu um erro de cálculo sério ao subestimar a reação dos países da Europa. Confiantes na sua vantagem como fornecedores de 40% do gás europeu, sobretudo nestes momentos de inverno, os russos esperavam que a Europa iria protestar muito e fazer pouco. Foi o contrário. Alemanha, França e Inglaterra, mais o restante da União Europeia como um todo, responderam à invasão com união inédita, extrema rapidez e intensidade sem precedentes. Mais que os Estados Unidos, que tiveram a reação vacilante, desordenada e fraca que tem marcado as ações do governo do presidente Joseph Biden, a Europa cresceu na frente da Rússia. Junto com os norte-americanos, que vieram vindo no seu embalo, cortou parte dos bancos russos do Swift, o sistema internacional de pagamentos bancários indispensável para mover dinheiro através do mundo. Limitou a movimentação que a Rússia pode fazer dos seus US$ 650 bilhões em reservas de moeda forte. Fez o rublo desabar 40% e os juros na Rússia voarem para 20% ao ano. O alvo não foi só a economia. Fechou-se o espaço aéreo da Europa e dos Estados Unidos para qualquer avião russo — inclusive os jatinhos dos milionários amigos do presidente Vladimir Putin, e uma das suas mais fiéis fontes de apoio. A UE tem mandado armas, munição e equipamento militar para a Ucrânia todos os dias. A Alemanha, principalmente, que a Rússia imaginava numa posição de quase neutralidade por sua dependência energética, tornou-se a militante mais ativa da Europa em favor dos ucranianos. Nenhum líder político europeu mostrou simpatia, compreensão ou espírito de conciliação com a Rússia; a opinião pública, da qual todos dependem para sobreviver politicamente, também é na grande maioria pró-Ucrânia. As represálias europeias e norte-americanas, na verdade, vão muito além da hostilidade econômica em si — a cada dia, elas cortam mais e mais os laços da Rússia em suas conexões com o mundo. Da suspensão de grandes projetos industriais de empresas privadas até a colaboração em programas espaciais, tudo está passando pela tesoura.

5 – A Ucrânia, claramente, não foi demolida no primeiro tiro, mas é igualmente claro que não tem condições de aguentar pelo resto da vida o castigo que está recebendo. O pior aspecto da invasão é o custo para a população civil — ameaçada nas suas vidas, na sua propriedade e nos seus direitos mínimos. Há milhares de mortos e feridos — menos que a guerra-padrão de Terceiro Mundo, mas um choque para a Europa. Faltam alimentos. Famílias estão separadas. Estima-se até agora um total de 800.000 refugiados, que só tende a aumentar a cada dia. Até o momento, curiosamente, os dois países que mais receberam refugiados ucranianos foram a Polônia e a Hungria, justo os dois regimes mais à direita da Europa; os “globalistas” como Alemanha, França e países da Comunidade Europeia em geral adotaram represálias pesadas, mas até agora não começaram a distribuir vistos de entrada. O que existe é uma proposta da Comissão da União Europeia, a ser aprovada por cada um dos membros da comunidade, para conceder aos ucranianos moradia, plano médico, escola, permissão para trabalhar e assistência social durante um período de um ano — com a possibilidade de uma extensão para dois anos, ou três.

A Ucrânia não pode vencer a Rússia no campo de batalha, mas não ficou claro até agora como a Rússia pode ganhar

6 – A opinião majoritária sobre quais as razões centrais que a Rússia teve para invadir a Ucrânia é a decisão, por parte do presidente Putin, de devolver o seu país à situação de superpotência militar e política que exibia em público até os anos 1980. Este é, segundo a maioria das análises, o objetivo estratégico de Putin, que governa com um status de presidente vitalício: uma nova Rússia, equivalente à antiga União Soviética das “15 repúblicas” — na verdade, intendências governadas por Moscou e das quais a Ucrânia fazia parte até o regime começar a se desmanchar com a queda do Muro de Berlim, em 1989. Putin quer a Rússia que alegava ter o mesmo poder dos Estados Unidos, era capaz de impor sua política aos vizinhos da Europa e exercia uma voz de influência no resto do mundo, incluindo a China.

As realidades, até o momento, indicam que esses planos estão muito mais no terreno da imaginação do que de um programa político viável do ponto de vista prático. Voltar à URSS das “15 repúblicas” é mais ou menos como pretender que a Argélia volte a ser da França, ou que a Inglaterra volte a governar a Índia — não dá mais, simplesmente, em 2022. As complicações da invasão da Ucrânia, por outro lado, mostraram os limites dessas teorias geopolíticas grandiosas. A Ucrânia não pode vencer a Rússia no campo de batalha, mas não ficou claro até agora como a Rússia pode ganhar. Mesmo que Putin realize os seus objetivos declarados, a Ucrânia não vai ser anexada de volta ao território russo. Pode perder partes do seu território, mas não voltará a ser o que era — nem o próprio Putin, em qualquer uma de suas manifestações, disse algo assim. URSS, outra vez? No momento não está dando para ter de novo nem a Ucrânia; imagine-se, então, remontar o mapa inteiro. Também não se explicou o que adianta ser uma superpotência se não dá para ganhar no ato nem uma guerra com a Ucrânia — um país pouco maior que o Estado de Minas Gerais, e com um PIB dez vezes menor que o do Brasil. Se a Rússia tem trabalho com a Ucrânia, como seria com a Alemanha, por exemplo?

Fica em aberto, junto com essas dúvidas, uma outra questão objetiva: o que a Rússia vai efetivamente ganhar com essa guerra, mesmo com vitória oficial a curto ou médio prazos. Daqui um ano, por exemplo: a Rússia estará mais forte, mais segura ou mais rica do que hoje? 
Terá mais aliados? 
Tirar um pedaço do território da Ucrânia resolve alguma coisa? 
Para a população russa, especificamente: melhora o quê, na vida real? 
Os magnatas que controlam a economia russa e fornecem uma clara base de apoio para Putin, junto com as Forças Armadas e o seu partido político, vão ficar mais milionários do que já são? 
No momento não estão mais conseguindo nem ter um time de futebol na Premier League.

7 – Invasões armadas são coisas difíceis de fazer hoje em dia. Já foi o tempo em que a Rússia invadia a Hungria ou a Checoslováquia e tudo se resolvia com a passagem do primeiro tanque. Não mais. Antes de se desfazer como URSS, por sinal, a Rússia invadiu o Afeganistão, no começo dos anos 1980; ficou lá durante anos a fio e perdeu a guerra. Ainda agora, em 2014, invadiu a mesma Ucrânia. Não resolveu nada, já que oito anos depois está tendo de invadir de novo. Guerras que se podem fazer à vontade, em nosso tempo, são apenas nos fins do mundo que não incomodam ninguém. Em países da Europa não existe mais solução imediata.

Leia também “A Ucrânia resiste”

Revista Oeste - Edição 102