PT e PCdoB derrotam a presidente e aprovam
alternativa a fator previdenciário
O governo Dilma
sofreu uma derrota vexaminosa nesta quarta. E, desta feita, não houve
DEM ou PSB que pudessem salvar o Planalto da trairagem
do PCdoB e do próprio PT. O texto-base da Medida Provisória 664
foi aprovado por placar bastante folgado: 277
votos a 178, mas a surpresa desagradável estava reservada para uma emenda
que cria uma alternativa à regra hoje em vigência do fator previdenciário.
Proposta do deputado
Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) estabelece
a fórmula 85/95, vale dizer: as mulheres se aposentam quando idade e contribuição somarem 85 anos; e os homens, 95 — desde que elas tenham contribuído
por pelo menos 30 anos, e eles, por 35. Nos dois casos, os
trabalhadores poderiam ingressar no sistema, por exemplo, só aos 25 anos e se
aposentar, aos 60 e 55, respectivamente. Boa parte dos jovens, no entanto,
entra no mercado de trabalho por volta dos 17 anos. Pela fórmula, um homem poderia se aposentar aos 56 anos, e uma mulher,
aos 51.
Pois é. O governo
perdeu por 232 votos a 210 — uma diferença de apenas 22. E, então, cumpre fazer as contas:
nada menos de nove dos votos contrários à orientação do Planalto saíram do… PT, e outros 12, do PCdoB. Juntos, 21. Caso tivessem seguido a orientação
oficial, em vez de uma derrota por 232
votos a 210, teria havido uma vitória por 231 a 211. Em suma, petistas e comunistas do Brasil derrotaram Dilma.
Mais impressionante:
entre os petistas que votaram contra a
orientação oficial estão
o ex-presidente da Câmara Marco Maia (RS), o ex-líder da bancada Vicentinho (SP) e nada menos do que o
próprio relator da MP 664, Carlos Zarattini (SP). Isso dá conta da bagunça que é a base de apoio de Dilma. Ao longo do
dia, houve pressões para que Faria de Sá retirasse o texto ou para que o
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), fizesse alguma manobra para
impedir a votação. Ou por outra: os petistas não
conseguem se entender no próprio partido e querem transferir a terceiros a
responsabilidade por sua desordem.
O PDT voltou a votar
em massa contra o governo. Houve dissidências significativas também no PP e no
PSD. O Planalto havia ameaçado tirar dos pedetistas
o Ministério do Trabalho. Pergunta-se:
o PCdoB também deixará o de Ciência e
Tecnologia; o PP, o de Integração Nacional, e o PSD ao menos um dos dois:
Cidades ou Micro e Pequenas Empresas? Ah,
sim: qual será a punição para o PT
— que,
na prática, conta com 18 pastas, embora, oficialmente sejam apenas… 13?
A coordenação política está a cargo do
vice-presidente, Michel Temer, que já
havia detectado no PT um movimento em favor de uma alternativa para o fator
previdenciário e havia advertido Dilma.
Mas fazer o quê? Afinal, o líder do governo na Câmara é José Nobre (PT-CE), e o do partido, Sibá Machado (AC). Temer não pode fazer milagre. Eu estou
enganado ou, anteontem, a portas
fechadas, Lula
estava fazendo proselitismo em sindicato e criticando Dilma justamente em razão
das MPs do ajuste fiscal?
A emenda à MP 664 ainda tem de ser
votada no Senado. Os petistas Paulo Paim (RS) e Walter Pinheiro (BA) já
anunciaram que vão dizer “sim”. Ora, quando petistas dizem “sim”, por que peemedebistas ou
oposicionistas diriam “não”? Resta a Dilma o desgaste de vetar a mudança — veto que sempre pode ser derrubado por metade mais
um dos votos de cada Casa. Dilma está
no petismo sem cachorro.
Pior: além de não ter
cachorro, tem Lula, José Nobre [o capitão cueca.] e Sibá.
Aí já é o fim do mundo.
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo – Revista VEJA