O
ambiente universitário brasileiro, a exemplo do jornalístico, é um
terreno no qual sempre proliferou a mentalidade esquerdista. O Partido
dos Trabalhadores, desde os anos 80, é o preferido de professores e
alunos, que ostentam sua militância abertamente e com orgulho. Na medida
em que o PT foi se tornando um partido de governo, partidos de esquerda
mais à margem do poder, como o PC do B, o PSTU e o PSOL, passaram a
dividir com os petistas a liderança do movimento estudantil, enquanto os
sindicatos docentes, especialmente das universidades públicas,
continuaram a ser dominados por petistas. O PT substituiu o antigo PCB, o
Partidão – do qual, em muitos aspectos, é um esbirro- na preferência da
intelligentsia universitária. Assim, não é novidade que sempre tenha
havido, por parte deste setor, uma adesão confessional aos padrões de
pensamento e organização marxistas.
A consequência de décadas desta hegemonia esquerdista é aquilo que chamo de espiral da mediocridade.
Para
todos os efeitos, estar vinculado ao PT ou, em segundo plano, aos
demais partidos da esquerda, aberta ou informalmente, significa, ainda
hoje, possuir uma carta de recomendação ideológica, sem a qual é muito
difícil abrir as portas para a participação em grupos que dominam a
política e movem a burocracia universitária. A credencial é responsável
pela ocupação de cargos diretivos e pela consequente ascensão na
carreira docente, sem falar na participação assídua em congressos
nacionais e internacionais e, principalmente, nas agências estatais de
fomento à pesquisa, que controlam a distribuição de bolsas de estudo
para alunos e verbas polpudas para professores . Para aqueles que não se
ajustam ao perfil ideológico dominante, que são independentes ou
não-alinhados ao ideário hegemônico, resta resignarem-se com um
autêntico exercício de sobrevivência profissional, em um contexto que,
não raras vezes, torna-se, até mesmo, hostil.
A
contraface deste esquerdismo que sequestrou a Universidade brasileira é
a inexistência de setores articulados mais identificados com
referências teóricas de direita. Entenda-se por direita, aqui, não o
espantalho reacionário que os petistas, ou a esquerda brasileira como um
todo, fabricou para justificar sua doutrinação. A direita que importa é
aquela dos conservadores e liberais, que defende os valores da
democracia republicana, da economia de mercado, da tradição e costumes
judaico-cristãos e da liberdade individual. Esta está praticamente
extinta na Universidade, muito por culpa de sua própria falta de
combatividade e de sua aceitação pacífica do expurgo ideológico a que
foi submetida pela esquerda.
Externamente, apenas para fins de propaganda, os esquerdistas que dominam os campi
sustentam que são democratas e que há, na universidade, um fluxo de
pensamento livre. Não há. Este fluxo é condicionado pela aceitação, por
parte da maioria esmagadora de professores e estudantes, de modo tácito
ou explícito, da mentalidade revolucionária marxista ou paramarxista e
de sua superioridade moral. Um professor, na área de Humanidades, por
exemplo, tem muita dificuldade operacional para expor as ideias
políticas de Hume, Burk ou Toqueville, ou a crítica ao socialismo de
Mises e Hayeck, num ambiente no qual Marx , Gramsci, Adorno e Dvorkin
são praticamente vistos como sublimes.
São
imperceptíveis, na Universidade brasileira, os registros do debate e da
abertura intelectual. Em seu lugar, há um compadrio doutrinário e a
consequência de décadas desta hegemonia esquerdista é aquilo que chamo
de espiral da mediocridade. Nas salas de aula e nos encontros de
pesquisadores repetem-se à exaustão as fórmulas surradas de pensadores
marxistas. Há muito espaço, também, para anarcomarxistas, como Foucault,
ou para pós-modernistas como Derrida, além de uma penca de autores de
expressão menor que seguem estas linhas. Tudo produzido de maneira
repetitiva para consumo da clientela acadêmica. Não há diferença entre
formação e doutrinação . A reflexão dá lugar ao automatismo e os modos
de expressão, na mesma medida em que a capacidade crítica é substituída
por uma adesão do sujeito a uma dogmática já existente, limitam-se a
propagar e a produzir cópias caricatas dos modelos que habitam o Olimpo
das ideias revolucionárias e desconstrutivistas.
É
a este quadro, em linhas gerais, que está reduzida a intelectualidade
na Universidade brasileira. É de se reconhecer, no entanto, que está
surgindo, devido à degradação política do PT, uma demanda por mais
inteligência na sociedade. Esta demanda reflete-se no meio acadêmico,
onde a situação confortável da esquerda passou a sofrer alguma
contestação, mesmo que ainda incipiente. Uma das defesas do esquerdismo,
digamos, corporativo da Universidade, é fazer com que suas práticas e
hábitos permaneçam opacas para essa mesma sociedade que a sustenta. A
vida intelectual e a burocracia universitárias ainda constituem uma
caixa-preta para o cidadão comum. É preciso urgentemente devassá-la.
Fonte: Luis Milman, professor de filosofia e jornalista - MSM