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quarta-feira, 30 de março de 2016

Falta penicilina, sobra sífilis



A pequena bactéria Treponema pallidum é uma espiroqueta, de forma alongada, espiralada como a de um saca-rolhas, e move-se por ondulações. Ela é responsável pela sífilis, cuja incidência está aumentando no Brasil, ao contrário do mundo desenvolvido. Pode ser transmitida durante o sexo sem proteção, por transfusão de sangue ou da mãe para o bebê e é um grave problema de saúde.

No caso da gestante, o tratamento dela e do parceiro deve ser feito com a penicilina benzatina, o único medicamento capaz de tratar mãe e feto com eficácia e rapidez. No Brasil, de 2005 a 2013, o número de gestantes com sífilis passou de 1,8 mil para 21 mil.

Em 2016 deverão ser 22 mil casos. Os casos de sífilis congênita ‒ passados de mãe para bebê ‒ duplicaram em incidência, e a taxa de mortalidade quadriplicou em comparação a 2009. A contaminação da gestante pode levar à contaminação do feto, e, assim, a aborto espontâneo, parto prematuro, feto com crescimento retardado ou natimorto ou bebê com danos cerebrais e deformações diversas.

O diagnóstico materno é simples, basta os exames do pré-natal realizados de forma e frequência adequadas. O tratamento em geral são apenas duas doses de penicilina benzatina, a um custo de menos de 22 reais, ou pelo ecologicamente questionável Big Mac Index de dois sanduíches. Um medicamento barato e eficaz.

A penicilina é ainda usada para tratar a febre reumática aguda, doença bacteriana que afeta coração, cérebro e articulações. Mas temos enorme dificuldade para encontrá-la. Segundo um documento interno do Ministério da Saúde, inexistia penicilina em 60% dos estados no fim de janeiro.

A Sociedade Brasileira de Infectologia há anos alerta o Ministério da Saúde para o problema; omisso, ele aceita passivamente a justificativa dos laboratórios farmacêuticos privados de que o produto não é produzido pela falta de matéria prima e pelo seu baixo atrativo econômico. Já os nossos laboratórios públicos, como o Farmanguinhos, de qualidade internacional, não recebem o apoio que precisam para fabricar esse fármaco descoberto em 1938. O instigante livro “A verdade sobre os laboratórios farmacêuticos” http://www.scielo.br/pdf/csp/v24n6/29.pdf  explica como somos enganados.

O que esperar de um ministério imóvel? Por exemplo, diante do caso da fosfoetolamina, poderia ter evitado o enorme imbróglio jurídico que se seguiu, se tivesse uma política de pesquisa ágil, na qual nossos pesquisadores, biólogos, epidemiologistas e médicos pudessem agir sobre as demandas constantes. A recente aprovação pela Câmara Federal de projeto-de-lei para permitir sua fabricação e uso independente de qualquer pesquisa realmente científica será mais uma atitude contra a saúde da nação. Abrirá um precedente amoral.

Espero que este texto se torne “viral”, não uma “espiroqueta”, e dessa forma contribua para reverter o excesso de sífilis e a falta de penicilina.

Por: Alfredo Guarischi Alfredo Guarischi, médico, cirurgião geral e oncológico, especialista em Fator Humano, Organizador do SAFETYMED e do GERHUS alfredoguarischi@yahoo.com.br