Ranier Bragon
Escolhido por Bolsonaro após cortejá-lo, procurador-geral chega à sua hora decisiva
Augusto Aras foi alçado à chefia do Ministério Público desprezando o
apoio dos colegas e optando por algo que se mostrou bem mais eficaz, um
vergonhoso beija-mão. Agora, o procurador-geral da República chega ao
seu teste de fogo. Desenvolve-se em Brasília um teatro.
Jair Bolsonaro tenta emplacar a versão de que na reunião ministerial de 22 de abril não manifestou intenção de interferir na Polícia Federal para proteger a ninhada. Contra suas próprias palavras, ações, regras palacianas e a lógica em geral, fala que queria interferir era na sua segurança pessoal. Uma história que faz a Operação Uruguai de Collor, de quase 30 anos atrás, parecer ter sido bolada em Harvard.
Jair Bolsonaro tenta emplacar a versão de que na reunião ministerial de 22 de abril não manifestou intenção de interferir na Polícia Federal para proteger a ninhada. Contra suas próprias palavras, ações, regras palacianas e a lógica em geral, fala que queria interferir era na sua segurança pessoal. Uma história que faz a Operação Uruguai de Collor, de quase 30 anos atrás, parecer ter sido bolada em Harvard.
[atualizando: 'proteger a ninhada' do que? (na época da tão falada reunião ministerial NENHUM membro da família Bolsonaro estava sendo investigado pela Polícia Federal - a investigação existente naquela ocasião contra o senador Flávio Bolsonaro era, e continua sendo, realizada pela Polícia Civil do Rio e Ministério Público do mesmo estado.
Assim, inexiste razão comparar a situação de agora (suposta tentativa do presidente da República de interferir na PF - instituição integrante do Ministério da Justiça que, a exemplo de todo ministério, é subordinado ao presidente) com a que motivou a 'operação Uruguai' - que era destinada a lavar dinheiro.]
O teatro dos parlapatões é completado por generais — oriundos de uma
corporação que tanto preza a verdade e a honra — se prestando ao patético
papel de sustentar o que sabem ser uma mentira. E em prol de uma
família cuja palavra não vale absolutamente nada. Caberá a Augusto Aras decidir entre a denúncia e o arquivamento. Suas manifestações nos autos, até agora, são uma lástima. Superando até
os advogados do presidente, ele é a favor de que a maior parte da
reunião do dia 22 fique nas sombras. [o chefe da PGR, defende os interesses do Brasil e tem responsabilidade para não defender que os mesmos sejam divulgados - devido diversas implicações que nada tem a ver com o inquérito.] Defende, inclusive, interesses de
ministros que, ao que parece, pediram a volta de Torquemada para dar
cabo de STF, governadores e prefeitos. Para Aras, há ameaça de violação
da "justa expectativa" dessas doces almas de que proferiam barbaridades
só para um petit comité. Como se ali não estivessem reunidos ministros e
um presidente, mas apenas inocentes arruaceiros tratando da taberna que
iriam quebrar no dia seguinte.
Aras também manifestou preocupação de uso da reunião "como palanque
eleitoral precoce das eleições de 2022". O que cargas d'água ele tem a
ver com isso, eis aí um mistério. Petistas afirmam que Luiz Fux só foi
indicado ao STF porque prometeu matar no peito o mensalão, o que ele
nega e o que, na prática, não ocorreu. A bola foi lançada ao procurador.
Ranier Bragon, colunista - Folha de S. Paulo