O regime de Kim Jong-un realizou seu maior teste nuclear até o momento. Mas o que isso significa?
Na última sexta-feira, o regime norte-coreano anunciou a realização do quinto e maior teste nuclear de sua história. A explosão marcou as comemorações pelos 68 anos da fundação da Coreia do Norte e foi mais poderosa que a bomba detonada em Hiroshima, de acordo com estimativas do Ministério de Defesa da Coreia do Sul.
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A insistência de Kim Jong-un em dizer que já domina tecnologias nucleares avançadas tem aumentado cada vez mais a tensão e a instabilidade no continente asiático, além de provocar a condenação dos Estados Unidos e da Organização das Nações Unidas (ONU). Mas, apesar de todo o temor, os testes norte-coreanos também despertam muitas dúvidas e são cercados de contradições.
Pouco se sabe sobre a verdadeira potência das bombas desenvolvidas por Pyongyang ou sobre as matérias-primas utilizadas em sua construção, por exemplo. Listamos alguns dos fatos principais já conhecidos sobre o programa nuclear norte-coreano e algumas das maiores dúvidas que ainda pairam ao seu redor.
O primeiro teste com bombas nucleares da Coreia do Norte foi anunciado em outubro de 2006. Como todos os outros que viriam a seguir, foi feito em nível subterrâneo, e a principal matéria-prima utilizada nesse dispositivo foi o plutônio. A comunidade internacional acredita que a explosão gerou uma descarga de energia de cerca de 1 quiloton, menos de um décimo do tamanho da bomba lançada sobre Hiroshima em 1945.
O segundo teste aconteceu em maio de 2009 e sua explosão alcançou potência entre 2 e 8 quilotons. A experiência seguinte só foi registrada em fevereiro de 2013 e gerou uma série de especulações sobre a capacidade do regime de Kim Jong-un de enriquecer urânio.
Em janeiro deste ano, mais um teste foi anunciado. Desta vez, o regime de Kim assegurava se tratar de uma bomba de hidrogênio. Alguns meses depois, o ditador divulgou que seus cientistas foram capazes de desenvolver uma ogiva nuclear pequena o suficiente para caber em um míssil, notícia que a comunidade internacional recebeu com desconfiança.
O tamanho da explosão
A grande dúvida da comunidade internacional sobre o quinto teste nuclear realizado pela Coreia do Norte está no poder explosivo da nova bomba. As primeiras estimativas apontam que a explosão alcançou uma potência de 20 quilotons (um quiloton equivale à potência explosiva de mil quilos de TNT). As autoridades sul-coreanas, no entanto, afirmam que a explosão foi de 10 quilotons.
De qualquer forma, a explosão causada por esse teste foi muito maior do que as anteriores no regime de Kim Jong-un. O seu impacto foi tão forte que provocou um terremoto artificial de 5 graus na escala Richter no nordeste da Coreia do Norte, local do teste.
A Coreia do Norte tem, de fato, uma bomba nuclear?
Tecnicamente, sim. A Coreia do Norte realizou vários testes com bombas nucleares. No entanto, para lançar um ataque nuclear contra seus vizinhos é necessário fazer com que a ogiva nuclear seja pequena o suficiente para caber em um míssil. Kim Jong-un alega que seus cientistas conseguiram desenvolver essas ogivas em ‘miniatura’, mas o feito nunca foi comprovado, e muitos especialistas duvidam da reivindicação.
E uma bomba de hidrogênio?
A outra grande dúvida é se os dispositivos nucleares que estão sendo testados são bombas atômicas ou bombas de hidrogênio, que são muito mais poderosas. As bombas de hidrogênio usam a fusão de átomos para liberar enorme quantidade de energia, enquanto o dispositivo nuclear usa a fissão nuclear, ou a divisão de átomos.
Os testes de 2006, 2009 e 2013 foram todos testes com bombas atômicas. A Coreia do Norte alega que o teste de janeiro 2016 era de uma bomba de hidrogênio. Entretanto, especialistas questionam a informação, pois o tamanho da explosão registrado foi muito menor do que o estimado para uma bomba de hidrogênio.
Plutônio ou urânio?
Outra questão muito discutida pelos especialistas é a matéria prima utilizada na fabricação das bombas. A maioria acredita que os dois primeiros testes usaram plutônio, mas essa informação nunca pode ser confirmada.
O fato é que um teste bem sucedido com uma bomba desenvolvida com urânio marcaria um salto significativo no programa nuclear da Coreia do Norte. As reservas de plutônio no país são finitas, mas se os cientistas locais dominarem a técnica de enriquecimento de urânio, o país estaria muito próximo de construir um arsenal nuclear. Além disso, enriquecer plutônio exige grande maquinário e instalações, enquanto o enriquecimento de urânio é um processo muito mais discreto, que pode ser realizado em segredo.
As intenções de Kim Jong-un
Em 2016, além dos testes de armas nucleares, a Coreia do Norte realizou um lançamento de satélite, que a comunidade internacional suspeita ter se tratado de um teste de míssil balístico intercontinental. O país também lançou mais de 30 mísseis balísticos de 200 quilômetros de alcance – foram mais testes de mísseis neste ano do que em toda a história norte-coreana.
Por outro lado, é consenso no cenário internacional que Kim Jong-un usa as ameaças, os lançamentos de mísseis e os testes nucleares para desviar a atenção dos fracassos de seu governo e de sua fraca liderança. Ele busca assegurar seu apoio militar e impedir que seus ‘inimigos’ tomem qualquer ação contra seu regime.
O que a comunidade internacional está fazendo a respeito?
Estados Unidos, Rússia, China, Japão e Coreia do Sul já se engajaram em várias rodadas de negociações com a Coreia do Norte, mas nenhuma resultou em um acordo concreto de desarmamento. Em 2005, a Coreia do Norte concordou com um acordo histórico para desistir de suas ambições nucleares em troca de ajuda econômica e concessões políticas.
A implementação do acordo se revelou complicado e as negociações foram paralisadas em 2009. Outros pactos com os Estados Unidos também nunca alcançaram resultados práticos.
A China ainda é o principal parceiro comercial da Coreia do Norte, e seu único aliado. Pequim também se juntou ao coro de nações que condenaram os testes de 2016, mas não tem se mostrado muito ativa nas negociações para frear seu vizinho ameaçador.
Fonte: VEJA On Line