Mohamed Ibrahim alegava perseguição política, mas o governo Bolsonaro se recusou a dar guarida a ele por suspeitar de ligações com organizações terroristas
O Comitê Nacional para os Refugiados (Conare) negou recurso do egípcio Mohamed Ahmed Elsayed Ahmed Ibrahim,
que alegava ser um perseguido político para tentar obter do governo
Bolsonaro o status de refugiado. Mesmo sem essa condição, ele não
precisa deixar o país, já que é casado com uma brasileira. Autoridades
consultadas por VEJA suspeitam que se trata de um casamento de fachada e
explicam que apenas a dissolução do vínculo matrimonial por suposta
fraude abriria caminho para que ele fosse deportado.
Ibrahim foi personagem
central de uma cooperação confidencial do governo brasileiro por figurar
como suspeito de atuar como “agente e facilitador” da organização
terrorista Al-Qaeda. Seu nome chegou a ser lançado no rol de procurados
da Interpol e os supostos vínculos que mantinha com a Al-Qaeda motivaram
a edição da controversa portaria 666, editada no final de julho – e
depois revogada – que previa a “deportação sumária de pessoa perigosa”.
Em maio, Ibrahim se disse
vítima de perseguição no Egito e pediu refúgio. O governo brasileiro
considerou verossímil a história contada pelo egípcio e o aprovou em um
dos critérios para a concessão de refúgio: o de indicadores internos de
credibilidade. Mas logo encontrou inconsistências na documentação
apresentada pelo egípcio e desconfiou. No Registro Nacional de
Estrangeiros, por exemplo, a data de entrada dele no Brasil é de
fevereiro de 2017, mas o próprio Ibrahim, em depoimento ao Ministério da
Justiça, relatou que entrou no país em março do ano seguinte após ter
conseguido um visto de entrada em Istambul. Às autoridades, ele não
soube explicar a diferença de datas.
Um informe confidencial da Polícia Federal
terminou por sepultar qualquer chance de Ibrahim ser acolhido como
refugiado político: bem antes de qualquer alerta público do FBI, a
Polícia Federal disse ao Ministério da Justiça, comandando pelo ministro
Sergio Moro, que o egípcio estava sendo investigado pela Divisão
Antiterrorismo por vinculação a organizações extremistas. A PF estava
sendo alimentada por informações confidenciais de órgãos de inteligência
estrangeiros.
As informações da Polícia
Federal foram cruciais para o Comitê Nacional para os Refugiados
(Conare) se negasse a dar guarida ao egípcio. Na primeira tentativa de
refúgio, o Conare disse que “não é possível falar em injusta perseguição
quando o requerente é ligado a organização terrorista”. No recurso
contra a negativa de refúgio, também rejeitado agora, o Ministério da
Justiça disse que “havendo fundada suspeita de ligação do interessado
com organização envolvida em atos terroristas, como amplamente divulgado
após a colocação do nome dele em lista de procurados para informação
pelo FBI norte-americano, não cabe a concessão de refúgio, uma vez que
tal ato implicaria risco à segurança pública”. Mohamed Ahmed Elsayed
Ahmed Ibrahim nega ter vinculações com organizações extremistas.