Foi
passando, foi passando, e já ficou tarde. Mas ainda acho que vale uma
reflexão, especialmente neste país fissurado na gritaria ôca da "defesa
da democracia".
Aiman
Al-Zawahiri, o segundo homem da Al-Qaeda abaixo de Osama Bin Laden de
quem foi o médico particular, era egípcio.
Em 1981 foi preso e solto por
falta de provas em conexão com o assassinato de Anwar Sadat, presidente
de seu país e Nobel da Paz por ter cessado a guerra multimilenar contra
os odiados judeus.
Entre as carnificinas a que está ligado estão a
primeira tentativa de derrubar o World Trade Center com um caminhão de
explosivos no subsolo em 1993, o assassinato a faca de 62 turistas em
Luxor em 1997, a explosão das embaixadas americanas do Quênia e da
Tanzania em 1998 com 213 mortos e mais de 5.500 feridos, o atentado
contra o USS Cole da marinha americana em 2000 com 17 mortos.
Estava no
desenho e na execução do 11 de setembro com 2.996 mortes. E também na do
massacre de 12 dos cartunistas e redatores do Charlie Hebdo em Paris em
2015.
Ao fim de
mais de 20 anos de espera e persistência os serviços secretos americanos
localizaram Al-Zawahiri na Cabul desocupada, Afeganistão, onde tinha o
hábito de ler por algumas horas todos os dias numa determinada varanda.
A justiça entrou pela janela (quebrada na foto).
A diferença
real entre democracia e anti-democracia, civilização e barbárie, está,
por exemplo, em gastar bilhões de dólares e anos de estudo para
desenvolver um "míssil" que não carrega explosivos capaz de matar um
celerado cirurgicamente, "a bisturi", a milhares de quilômetros de
distância num país inimigo, sem ferir, nem qualquer de seus parentes e
acompanhantes, nem mesmo os seus guarda-costas na casa em que se
escondia, ao fim de uma caçada que começou ainda antes do 11 de setembro
de 2001 para "bring to justice" o terrorista que atira Boeings lotados
contra edifícios de mais de 100 andares cheios de avós, de pais, de
mães, de filhos e de netos de gente que ele assassinou sem sequer saber
quem eram.
E tudo para
provar que o crime não compensa, que a Justiça tarda, mas não falha, e
que existe, sim, uma enorme diferença entre o ódio cego e coletivo e a
responsabilidade individual.
Um exemplo extremo, mas definidor e definitivo.
São
"sutilezas" como esta que não interessa ao Brasil Oficial, que ocupa as
telinhas a partir dos "jornais nacionais" do horário de quem dorme tarde
em diante e "narra" ou distribui ele mesmo navalhadas no escuro, pegue
em quem pegar, "em nome da democracia", destacar para o Brasil Real,
aquele dos programas do final da tarde que se dividem entre os
necrotérios sórdidos onde desfilam as mães ululantes dos assassinados
pelo descaso e pela impunidade no favelão nacional onde a vida não vale
nada e os pastores televisivos que vivem da desesperança absoluta de
haver justiça, um dia, onde não há democracia hoje.
Publicado originalmente em O Vespeiro - O autor é jornalista