Análise Política
Hoje, a oposição ao governo do PT é contida pelos freios judiciais
impostos pelo empoderado Supremo e está em minoria no Legislativo. Então
interessa ao situacionismo continuar “jogando em casa”, e não repetir
junho de 2013, quando a confusão de rua começou beneficiando a esquerda
- e pelas mãos da esquerda -, mas acabou como uma festa da direita.
Há contraexemplos, como na Colômbia, mas uma diferença é óbvia. Ali, o
governo de esquerda de Gustavo Petro é novidade histórica, a direita
está acuada, a esquerda ainda desfruta uma imagem de pureza, e os
movimentos sociais autonomeados progressistas estão na ponta dos cascos.
Não é, definitivamente, o caso brasileiro.
A dúvida é por onde o governo deveria trabalhar para alterar a
correlação de forças, e parece nítido que isso só será possível se Lula
colocar o Brasil numa rota de crescimento econômico consistente, de
criação de empregos e geração e distribuição de renda. Talvez seja a
única forma de descongelar a persistente divisão social e política meio a
meio.
A aposta da equipe econômica desenha um ajuste fiscal baseado na
elevação da carga tributária, para aí permitir o afrouxamento da
política monetária e alavancar a economia com base na redução dos juros.
A dúvida é se retirar recursos do setor privado não vai desestimular o
investimento, sem que o governo tenha como compensar com investimento
público.
Até o momento, Lula mantém a fatia eleitoral do segundo turno, uns 39%
do estoque total de votos no país. No começo do governo, como mostraram
as pesquisas, metade dos que não tinham votado nele manifestava alguma
boa vontade. Mas isso parece estar se erodindo, ainda que lentamente. O
governo precisa da economia para reverter a tendência.
P.S.: No momento, a oposição e os “aliados” da direita ajudam Lula a
moderar a turma dele, o que em determinados pontos lhe é útil. Mas, se a
popularidade cair, o outro lado e os companheiros circunstanciais de
viagem vão crescer o olho.
Alon Feuerwerker, jornalista e analista politico