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quarta-feira, 20 de junho de 2018

Efeito anti-PT faz eleitores de Doria em SP preferirem Bolsonaro no lugar de Alckmin



Desempenho do presidenciável tucano em São Paulo é considerado chave

 Além do distanciamento político com o ex-prefeito João Doria (PSDB), um outro embaraço desponta com potencial de dificultar a situação do presidenciável tucano Geraldo Alckmin e seu palanque duplo em São Paulo. No maior colégio eleitoral do país começa a se desenhar o votoBolsodoria— eleitores que declaram voto no pré-candidato do PSDB ao governo paulista e, ao mesmo tempo, no pré-candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL).

Assim como ocorreu em 2006 em Minas Gerais, quando o fenômeno “Lulécio” — voto em Lula para presidente e Aécio Neves para governador ajudou a tirar Alckmin do páreo pela Presidência da República, surge na campanha alckmista a suspeita de que o voto “Bolsodoria” possa comprometer o empenho do PSDB paulista na campanha de Alckmin. O desempenho do presidenciável tucano em São Paulo é considerado chave para que ele alcance o segundo turno.

Alckmin está empatado com Bolsonaro em São Paulo com cerca de 15% das intenções de voto. No estado que governou por 13 anos, o tucano calcula que precisará obter 30%, no mínimo, no primeiro turno para ter chance de vitória.  O discurso anti-PT, marca registrada de Doria e Bolsonaro, é apontado como a maior razão para o fenômeno “Bolsodoria”. O ex-prefeito é disparado a preferência número 1 dos que declaram voto em Bolsonaro em São Paulo. Trechos não divulgados de uma pesquisa Datafolha feita em abril mostram que, em vários cenários, os apoiadores do presidenciável do PSL aparecem em maior quantidade entre o eleitorado de Doria do que os simpatizantes de Alckmin. A fatia dos bolsonaristas representa de 20% a 23% do eleitorado do tucano, enquanto a dos alckmistas, de 18% a 23%.

O fantasma do voto “Bolsodoria” soma-se a um quadro que já é de dificuldades para a pré-candidatura de Alckmin. Em sua própria casa, o presidenciável tem o palanque mais problemático. Na verdade, são dois. Alckmin se omitiu na disputa entre dois partidos de sua base, PSDB e PSB, e agora tem dois pré-candidatos ao governo paulista em guerra Doria e o governador e candidato à reeleição, Márcio França (PSB). 

O presidenciável fala pouco sobre a saia-justa paulista. Há na campanha dele quem defenda uma aproximação com a candidatura de Doria, líder nas pesquisas. Mas mesmo esses aliados se mostram descrentes que Alckmin tome partido no estado. Para eles, o tucano levará adiante o plano de permanecer distante da disputa estadual para não melindrar Doria nem França.  — Eu tentei unir os dois, mas o que posso fazer? Meu candidato é o João Doria, que é do PSDB. Agora, não vou brigar com Márcio França, que está indo bem — disse Alckmin ontem numa entrevista à rádio Jovem Pan.
Sobre o desempenho fraco nas pesquisas, Alckmin argumentou, na mesma entrevista, que os brasileiros não sabem quem ele é. Ao responder se não deveria partir de um patamar maior de intenções de voto, o tucano disse: — Eu não sou conhecido no Brasil.

Questionado se isso era possível, já que concorreu a presidente em 2006, Alckmin acrescentou:  — Mas o povo não sabe.
A questão que se coloca é se haverá espaço para neutralidade. Vinte anos atrás, o então presidente Fernando Henrique Cardoso teve que administrar um palanque duplo em São Paulo. Era 1998 e FH, candidato à reeleição, tinha por perto Mário Covas (PSDB) e Paulo Maluf (na época, no PPB). Tucanos pressionaram, e FH acabou declarando apoio a Covas e participando de alguns eventos com ele. Maluf, em reação, espalhou pelo estado outdoors com a foto dele e de FH. O PPB era da base do governo.  — A grande diferença agora é que essa confusão em São Paulo é resultado de escolhas erradas do próprio Geraldo. Foi ele quem escolheu um vice do PSB sabendo que queria ser candidato a presidente e deixaria o governo nas mãos de outro partido. Foi ele quem peitou o PSDB e elegeu Doria — avaliou um tucano que acompanha de longe a crise entre Alckmin e Doria.

Um integrante da campanha do presidenciável admite que o cenário é de risco. — Ficar neutro pode ter um preço. O palanque duplo pode se tornar nulo. Será uma escolha política — afirmou.
O distanciamento político entre Doria e Alckmin tem se tornado notório a cada dia. Não há interação entre as duas pré-candidaturas. Doria não apareceu entre os tucanos que gravaram depoimentos de apoio a Alckmin este mês. A equipe de Alckmin não o procurou, e Doria não se ofereceu.
Em suas redes sociais, Doria não postou uma foto com Alckmin nem há menções a ele desde que a pré-campanha começou. Por outro lado, o pré-candidato a governador divulgou imagens ao lado de outro presidenciável: Flávio Rocha (PRB), de quem é amigo. 

A última delas foi domingo passado na estreia do Brasil na Copa do Mundo. Doria assistiu à partida ao lado de Rocha, enquanto Alckmin se reuniu com tucanos mais próximos.
— Ele está distante — disse Alckmin a presentes no encontro, constatando o óbvio, em relação ao colega de partido.
João Doria nega ser omisso. — Eu falo do governador Geraldo Alckmin em todos os meus discursos. Ele é o meu candidato à Presidência — disse ao GLOBO.
Enquanto isso, França, dono do outro palanque de Alckmin e desconhecido da maior parte da população, procura justamente se vincular ao tucano. Ele, que assumiu o estado em abril após Alckmin ter se desincompatibilizado do cargo, arruma um jeito de se referir ao presidenciável mesmo em rápidos discursos.

Colaboraram Sérgio Roxo, Bruno Góes, Cristiane Jungblut e Maria Lima - O Globo