Desempenho do presidenciável tucano em São Paulo é considerado chave
Além do
distanciamento político com o ex-prefeito João Doria (PSDB), um outro
embaraço desponta com potencial de dificultar a situação do presidenciável
tucano Geraldo Alckmin e seu palanque duplo em São Paulo. No maior
colégio eleitoral do país começa a se desenhar o voto “Bolsodoria” —
eleitores que declaram voto no pré-candidato do PSDB ao governo paulista e, ao
mesmo tempo, no pré-candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL).
Assim
como ocorreu em 2006 em Minas Gerais, quando o fenômeno “Lulécio” — voto em
Lula para presidente e Aécio Neves para governador — ajudou a tirar Alckmin do
páreo pela Presidência da República, surge na campanha alckmista a suspeita de
que o voto “Bolsodoria” possa comprometer o empenho do PSDB paulista na
campanha de Alckmin. O desempenho do presidenciável tucano em São Paulo é
considerado chave para que ele alcance o segundo turno.
Alckmin
está empatado com Bolsonaro em São Paulo com cerca de 15% das intenções de
voto. No estado que governou por 13 anos, o tucano calcula que precisará obter
30%, no mínimo, no primeiro turno para ter chance de vitória. O
discurso anti-PT, marca registrada de Doria e Bolsonaro, é apontado como a
maior razão para o fenômeno “Bolsodoria”. O ex-prefeito é disparado a
preferência número 1 dos que declaram voto em Bolsonaro em São Paulo. Trechos
não divulgados de uma pesquisa Datafolha feita em abril mostram que, em vários
cenários, os apoiadores do presidenciável do PSL aparecem em maior quantidade
entre o eleitorado de Doria do que os simpatizantes de Alckmin. A fatia dos
bolsonaristas representa de 20% a 23% do eleitorado do tucano, enquanto a dos
alckmistas, de 18% a 23%.
O
fantasma do voto “Bolsodoria” soma-se a um quadro que já é de dificuldades para
a pré-candidatura de Alckmin. Em sua própria casa, o presidenciável tem o
palanque mais problemático. Na verdade, são dois. Alckmin se omitiu na disputa
entre dois partidos de sua base, PSDB e PSB, e agora tem dois pré-candidatos ao
governo paulista em guerra — Doria e o governador e candidato à reeleição,
Márcio França (PSB).
O
presidenciável fala pouco sobre a saia-justa paulista. Há na campanha dele quem
defenda uma aproximação com a candidatura de Doria, líder nas pesquisas. Mas
mesmo esses aliados se mostram descrentes que Alckmin tome partido no estado.
Para eles, o tucano levará adiante o plano de permanecer distante da disputa
estadual para não melindrar Doria nem França. — Eu
tentei unir os dois, mas o que posso fazer? Meu candidato é o João Doria, que é
do PSDB. Agora, não vou brigar com Márcio França, que está indo bem — disse
Alckmin ontem numa entrevista à rádio Jovem Pan.
Sobre o
desempenho fraco nas pesquisas, Alckmin argumentou, na mesma entrevista, que os
brasileiros não sabem quem ele é. Ao responder se não deveria partir de um
patamar maior de intenções de voto, o tucano disse: — Eu não
sou conhecido no Brasil.
Questionado
se isso era possível, já que concorreu a presidente em 2006, Alckmin
acrescentou: — Mas o
povo não sabe.
A questão
que se coloca é se haverá espaço para neutralidade. Vinte anos atrás, o então
presidente Fernando Henrique Cardoso teve que administrar um palanque duplo em
São Paulo. Era 1998 e FH, candidato à reeleição, tinha por perto Mário Covas (PSDB)
e Paulo Maluf (na época, no PPB). Tucanos pressionaram, e FH acabou declarando
apoio a Covas e participando de alguns eventos com ele. Maluf, em reação,
espalhou pelo estado outdoors com a foto dele e de FH. O PPB era da base do
governo. — A
grande diferença agora é que essa confusão em São Paulo é resultado de escolhas
erradas do próprio Geraldo. Foi ele quem escolheu um vice do PSB sabendo que
queria ser candidato a presidente e deixaria o governo nas mãos de outro
partido. Foi ele quem peitou o PSDB e elegeu Doria — avaliou um tucano que
acompanha de longe a crise entre Alckmin e Doria.
Um
integrante da campanha do presidenciável admite que o cenário é de risco. — Ficar
neutro pode ter um preço. O palanque duplo pode se tornar nulo. Será uma
escolha política — afirmou.
O
distanciamento político entre Doria e Alckmin tem se tornado notório a cada
dia. Não há interação entre as duas pré-candidaturas. Doria não apareceu entre
os tucanos que gravaram depoimentos de apoio a Alckmin este mês. A equipe de Alckmin
não o procurou, e Doria não se ofereceu.
Em suas
redes sociais, Doria não postou uma foto com Alckmin nem há menções a ele desde
que a pré-campanha começou. Por outro lado, o pré-candidato a governador
divulgou imagens ao lado de outro presidenciável: Flávio Rocha (PRB), de quem é
amigo.
A última delas foi domingo passado na estreia do Brasil na Copa do
Mundo. Doria assistiu à partida ao lado de Rocha, enquanto Alckmin se reuniu
com tucanos mais próximos.
— Ele
está distante — disse Alckmin a presentes no encontro, constatando o óbvio, em
relação ao colega de partido.
João
Doria nega ser omisso. — Eu falo
do governador Geraldo Alckmin em todos os meus discursos. Ele é o meu candidato
à Presidência — disse ao GLOBO.
Enquanto
isso, França, dono do outro palanque de Alckmin e desconhecido da maior parte
da população, procura justamente se vincular ao tucano. Ele, que assumiu o
estado em abril após Alckmin ter se desincompatibilizado do cargo, arruma um
jeito de se referir ao presidenciável mesmo em rápidos discursos.
Colaboraram
Sérgio Roxo, Bruno Góes, Cristiane Jungblut e Maria Lima - O Globo
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