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sábado, 6 de outubro de 2018

Efeitos, não causas

Se tivesse escolhido Doria, PSDB talvez não desse a chance de Bolsonaro se apropriar do antipetismo que domina o país


Mais uma das esquisitices desta eleição é a evidência de que os dois candidatos que lideram as pesquisas eleitorais ou não representam a maioria dos seus apoiadores, como é o caso de Bolsonaro, ou são meros prepostos do verdadeiro líder, o caso de Fernando Haddad.  Nenhum deles estaria com um pé no Palácio do Planalto por méritos próprios, mas são consequência de uma situação política que não controlam.

Bolsonaro foi beneficiado pelo desmonte dos partidos políticos tradicionais, que deveriam ter canalizado o desencanto do brasileiro para apresentar soluções menos traumáticas.  Especialmente o PSDB, que perdeu a conexão com a sociedade ao se converter a um pragmatismo que o colocou no mesmo rol dos partidos fisiológicos.
Todo o mundo político sabia que o fisiologismo do MDB colocava em risco seus parceiros e, no limite, a democracia, mas o PT não se furtou a chamá-lo duas vezes para vice de Dilma, assim como o PSDB formou a base de apoio do novo governo.

Ao apoiar o impeachment da ex-presidente Dilma e, em consequência, a assunção de Temer ao poder, o PSDB estava atuando dentro da democracia, da mesma maneira que fez no governo Itamar. Mas quando Temer perdeu sua legitimidade, em consequência da revelação da conversa nada republicana com o empresário Joesley Batista, os tucanos deveriam ter debandado, colocando-se como oposição a um governo fisiológico, refém de um passado comprovadamente corrupto, que não se emendou.  Da mesma maneira que o PT, os tucanos passaram a mão na cabeça de seus membros envolvidos em escândalos de corrupção, e carregaram o peso das negociações secretas de seu ex-presidente Aécio Neves com o mesmo Joesley, ou com o presidente Temer nas noites do Palácio da Alvorada, ou ainda da condenação de outro ex-presidente do PSDB, o ex-deputado Eduardo Azeredo.

Se não tivesse se descredenciado como representante de uma parte ponderável da sociedade brasileira, inclusive com votações demagógicas, como quando apoiou o fim do fator previdenciário, o PSDB poderia ser o receptáculo dos votos de quem buscava soluções para nossas mazelas.  Sem uma alternativa viável, com projeto menos radicalizado que o de Bolsonaro, esse eleitor ficou sem opção para tentar impedir a voltado PT ao governo, ainda mais agora que o ex-ministro José Dirceu explicitou o plano de “tomar o poder ”, não apenas ganhar a eleição. Até mesmo a definição de Alckmin como candidato à Presidência da República demonstra uma miopia em relação ao momento político que vivemos.

Se tivesse escolhido o ex-prefeito João Doria, não por seus méritos ou defeitos, mas por seu perfil antilulista, mais coadunado coma exigência de uma batalha política radicalizada, talvez não tivesse dado a chance de Bolsonaro se apropriar do antipetismo que domina a sociedade brasileira.  Provavelmente, Bolsonaro ficaria confinado a ser um candidato nanico, representante do baixo clero, se grande parte do eleitorado que hoje vota nele tivesse outra opção, mais civilizada. Da mesma maneira, o PT errou ao escolher seu candidato de acordo com os caprichos e vontades de seu grande líder, o ex-presidente Lula, imaginando que ele, mesmo estando na cadeia, e com vários processos em andamento, comandaria as massas.

Comandou o partido, mantendo sua candidatura até a undécima hora, e designou Fernando Haddad para representá-lo nas urnas, imaginando que o simples fato de saberem que Haddad é Lula levaria a uma vitória retumbante.  Uma parte dos votos que supostamente Lula teria —chegou ater 39% nas pesquisas—foi para Haddad, mas, diante da rejeição maciça que o lulismo provoca, hoje não dá nem mesmo para afirmar que Lula, acossado por tantas denúncias, ganharia fácil a eleição.

É claro que não se deve subestimar o carisma do ex-presidente, e sua capacidade de comunicação, mas a rejeição a Haddad se deve a Lula. Provavelmente, o erro de Lula foi não ter apoiado Ciro Gomes como candidato, numa coalizão do PT como PDT. Ao não abrir mão de liderar a esquerda brasileira, sem dar espaço dentro do PT, nem em outras agremiações, para novas caras, Lula manteve sua liderança incontestada, sua hegemonia pessoal. Mas pode ter sido o responsável pela derrota da esquerda que se avizinha.
Se, numa reviravolta, conseguir eleger seu preposto, se consagra.
Se tivesse escolhido Doria, o PSDB talvez não desse a chance de Bolsonaro se apropriar do antipetismo que domina o país.


Merval Pereira - O Globo


quarta-feira, 20 de junho de 2018

Efeito anti-PT faz eleitores de Doria em SP preferirem Bolsonaro no lugar de Alckmin



Desempenho do presidenciável tucano em São Paulo é considerado chave

 Além do distanciamento político com o ex-prefeito João Doria (PSDB), um outro embaraço desponta com potencial de dificultar a situação do presidenciável tucano Geraldo Alckmin e seu palanque duplo em São Paulo. No maior colégio eleitoral do país começa a se desenhar o votoBolsodoria— eleitores que declaram voto no pré-candidato do PSDB ao governo paulista e, ao mesmo tempo, no pré-candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL).

Assim como ocorreu em 2006 em Minas Gerais, quando o fenômeno “Lulécio” — voto em Lula para presidente e Aécio Neves para governador ajudou a tirar Alckmin do páreo pela Presidência da República, surge na campanha alckmista a suspeita de que o voto “Bolsodoria” possa comprometer o empenho do PSDB paulista na campanha de Alckmin. O desempenho do presidenciável tucano em São Paulo é considerado chave para que ele alcance o segundo turno.

Alckmin está empatado com Bolsonaro em São Paulo com cerca de 15% das intenções de voto. No estado que governou por 13 anos, o tucano calcula que precisará obter 30%, no mínimo, no primeiro turno para ter chance de vitória.  O discurso anti-PT, marca registrada de Doria e Bolsonaro, é apontado como a maior razão para o fenômeno “Bolsodoria”. O ex-prefeito é disparado a preferência número 1 dos que declaram voto em Bolsonaro em São Paulo. Trechos não divulgados de uma pesquisa Datafolha feita em abril mostram que, em vários cenários, os apoiadores do presidenciável do PSL aparecem em maior quantidade entre o eleitorado de Doria do que os simpatizantes de Alckmin. A fatia dos bolsonaristas representa de 20% a 23% do eleitorado do tucano, enquanto a dos alckmistas, de 18% a 23%.

O fantasma do voto “Bolsodoria” soma-se a um quadro que já é de dificuldades para a pré-candidatura de Alckmin. Em sua própria casa, o presidenciável tem o palanque mais problemático. Na verdade, são dois. Alckmin se omitiu na disputa entre dois partidos de sua base, PSDB e PSB, e agora tem dois pré-candidatos ao governo paulista em guerra Doria e o governador e candidato à reeleição, Márcio França (PSB). 

O presidenciável fala pouco sobre a saia-justa paulista. Há na campanha dele quem defenda uma aproximação com a candidatura de Doria, líder nas pesquisas. Mas mesmo esses aliados se mostram descrentes que Alckmin tome partido no estado. Para eles, o tucano levará adiante o plano de permanecer distante da disputa estadual para não melindrar Doria nem França.  — Eu tentei unir os dois, mas o que posso fazer? Meu candidato é o João Doria, que é do PSDB. Agora, não vou brigar com Márcio França, que está indo bem — disse Alckmin ontem numa entrevista à rádio Jovem Pan.
Sobre o desempenho fraco nas pesquisas, Alckmin argumentou, na mesma entrevista, que os brasileiros não sabem quem ele é. Ao responder se não deveria partir de um patamar maior de intenções de voto, o tucano disse: — Eu não sou conhecido no Brasil.

Questionado se isso era possível, já que concorreu a presidente em 2006, Alckmin acrescentou:  — Mas o povo não sabe.
A questão que se coloca é se haverá espaço para neutralidade. Vinte anos atrás, o então presidente Fernando Henrique Cardoso teve que administrar um palanque duplo em São Paulo. Era 1998 e FH, candidato à reeleição, tinha por perto Mário Covas (PSDB) e Paulo Maluf (na época, no PPB). Tucanos pressionaram, e FH acabou declarando apoio a Covas e participando de alguns eventos com ele. Maluf, em reação, espalhou pelo estado outdoors com a foto dele e de FH. O PPB era da base do governo.  — A grande diferença agora é que essa confusão em São Paulo é resultado de escolhas erradas do próprio Geraldo. Foi ele quem escolheu um vice do PSB sabendo que queria ser candidato a presidente e deixaria o governo nas mãos de outro partido. Foi ele quem peitou o PSDB e elegeu Doria — avaliou um tucano que acompanha de longe a crise entre Alckmin e Doria.

Um integrante da campanha do presidenciável admite que o cenário é de risco. — Ficar neutro pode ter um preço. O palanque duplo pode se tornar nulo. Será uma escolha política — afirmou.
O distanciamento político entre Doria e Alckmin tem se tornado notório a cada dia. Não há interação entre as duas pré-candidaturas. Doria não apareceu entre os tucanos que gravaram depoimentos de apoio a Alckmin este mês. A equipe de Alckmin não o procurou, e Doria não se ofereceu.
Em suas redes sociais, Doria não postou uma foto com Alckmin nem há menções a ele desde que a pré-campanha começou. Por outro lado, o pré-candidato a governador divulgou imagens ao lado de outro presidenciável: Flávio Rocha (PRB), de quem é amigo. 

A última delas foi domingo passado na estreia do Brasil na Copa do Mundo. Doria assistiu à partida ao lado de Rocha, enquanto Alckmin se reuniu com tucanos mais próximos.
— Ele está distante — disse Alckmin a presentes no encontro, constatando o óbvio, em relação ao colega de partido.
João Doria nega ser omisso. — Eu falo do governador Geraldo Alckmin em todos os meus discursos. Ele é o meu candidato à Presidência — disse ao GLOBO.
Enquanto isso, França, dono do outro palanque de Alckmin e desconhecido da maior parte da população, procura justamente se vincular ao tucano. Ele, que assumiu o estado em abril após Alckmin ter se desincompatibilizado do cargo, arruma um jeito de se referir ao presidenciável mesmo em rápidos discursos.

Colaboraram Sérgio Roxo, Bruno Góes, Cristiane Jungblut e Maria Lima - O Globo