Planilha apreendida na Lava Jato indica
que o marqueteiro do PT e a sua mulher, Mônica Moura, receberam da empreiteira
R$ 4 milhões durante a campanha de Dilma Rousseff
Por Felipe Frazão, na VEJA.com:
A Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal pediram nesta sexta-feira que o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal em Curitiba, prorrogue por mais cinco dias a prisão temporária do marqueteiro do PT João Santana e de sua mulher, Mônica Moura.
A Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal pediram nesta sexta-feira que o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal em Curitiba, prorrogue por mais cinco dias a prisão temporária do marqueteiro do PT João Santana e de sua mulher, Mônica Moura.
Também foi
solicitado que a secretária do empreiteiro Marcelo Odebrecht, Maria Lúcia Tavares, suspeita de atuar na contabilidade paralela de
dinheiro do grupo, continue atrás das
grades.
O pedido tem por base novas provas apreendidas nas buscas realizadas nesta
semana, na 23ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Acarajé. Entre os
documentos apreendidos está uma planilha com indicação de que o casal recebeu da Odebrecht 4 milhões de reais no
Brasil durante a campanha eleitoral de 2014 – o que eles negaram em
depoimento à PF. Foram sete repasses, entre outubro e novembro daquele ano,
enquanto Santana
trabalhava na campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff.
A planilha também contém a anotação de
que a “negociação” total chegaria a 24
milhões de reais. O documento estava na casa de Maria Lúcia Tavares, funcionária da
Odebrecht, contra quem a PF também requisitou a prorrogação de prisão
temporária. Para os delegados, a origem dos recursos ainda não foi esclarecida,
mas eles estão “claramente à margem da
contabilidade oficial”. As datas revelam que o repasse teria sido feito
depois que a Lava Jato realizou buscas na sede da Odebrecht em São Paulo.
“Em se tratando de
investigação em que parte dos investigados ligados ao grupo Odebrecht se
encontra fora do país – ao nosso ver, em clara tentativa de obstruir a
investigação e dificultar a obtenção de provas -, entendemos imprescindível que
o aprofundamento das investigações, por meio da obtenção de esclarecimentos
adicionais pelos investigados e processamento do restante do material, dê-se
com manutenção da privação de liberdade de Mônica Moura, João Santana e Maria
Lúcia Tavares. A medida é necessária para garantir a investigação criminal, em
caráter cautelar”, afirmam os delegados Márcio Anselmo e Renata da Silva Rodrigues.
Maria
Lúcia Tavares é a responsável por elaborar a planilha de pagamentos de propina
da empreiteira. João Santana é vinculado ao codinome “Feira”. O
documento foi encontrado no e-mail de Fernando Migliaccio da Silva, controlador das
contas usadas pela Odebrecht para realizar pagamentos no exterior. A PF identifica Maria Lúcia Tavares como
uma das responsáveis por gerenciar “a
contabilidade paralela” e organizar também a entrega da propina – ou, conforme os
investigados diziam, “os acarajés quentinhos”. Em
uma agenda dela, a PF encontrou, associados à anotação “Feira”, os
nomes de Mônica Moura, de seu filho Daniel Requião e de João Santana, além de
telefones deles (uma linha internacional, de Nova
York) e o endereço de um flat em São
Paulo.
“Inegável
que a anotação vincula, em definitivo, ambos os investigados – João Santana e
Mônica Moura – às menções contidas na planilha encontrada no e-mail de Fernando
Migliaccio e, por conseguinte, aos pagamentos realizados a eles no exterior
pela Odebrecht, via Shellbill”, afirma o relatório da PF.
O advogado do casal
Santana, Fábio Tofic, pede a revogação da prisão. A PF rebateu, em
representação ao juiz, os argumentos da defesa. “Inicialmente, com relação às alegações da defesa cabe destacar que,
em que pese a alegação de que ‘tanto os recursos recebidos da Odebrecht como
aqueles doados por Zwi [Skornicki] são de campanhas realizadas no exterior,
onde foram feitas seis das nove campanhas presidenciais que comandaram’, não
foi apresentado qualquer indício que seja, por parte de seus defensores, que
corrobore tal afirmação”, afirmou a PF. “Curiosamente,
parte dos recursos foi atribuído à campanha de um ex-Presidente já falecido
(Hugo Chávez).”
“Ademais, em que pese
tenham os investigados autorizado o acesso à conta da Shellbill, mantida no
Banco Heritage, não foi apresentado um documento sequer da referida conta por
parte dos investigados, que já tinham conhecimento, há tempos, de que ao menos
os depósitos por parte de Klienfeld, offshore
ligada à Odebrecht, poderia vinculá-los às investigações da Operação Lava Jato.
Assim, a defesa reduz os inúmeros indícios expostos nos presentes autos a meras
especulações, mas até o presente momento nada apresentou que possa fazer prova
em contrário. Não há um contrato, uma invoice,
um registro ou mesmo uma troca de e-mails ou qualquer indício, por menor que
seja, apto a corroborar os fatos alegados pela de defesa de João Santana e
Mônica Moura.”
Os delegados também
destacaram que o sócio da maior empreiteira do país Marcelo Bahia
Odebrecht, preso em Curitiba, sinalizou que pretende colaborar e prestar
depoimento sobre os fatos investigados na 23ª fase da Lava Jato: “Espera-se que Marcelo Bahia Odebrecht possa
prestar esclarecimentos relevantes sobre sua rede de distribuição de ‘acarajés’
e sobre as menções ao codinome Feira espalhadas em seu celular e replicadas por
seus funcionários em planilhas e anotações”.
Fonte: Veja.com – Felipe Frazão